، 𔘓◞ 𝟬𝟮 | 𝗯𝘁𝘀 𖥻 𝗌𝖾𝗃𝖾𝗈𝗇𝗀 & 𝗇𝖺𝗆𝗃𝗈𝗈𝗇

02. você e eu, o melhor momento ainda está por vir. em algum lugar, no fundo do seu coração, ainda vive uma criança.

Era por volta das sete horas da manhã quando Kim Sejeong acabou de se arrumar. Depois de acordar e tomar um banho quentinho, a garota trocou de roupa, vestindo uma calça jeans azul, um camiseta de lã e seu casaco que por dentro era acinzentado e por fora roxo. Seus planos eram ir até um dos orfanatos no qual ela não só era uma doadora, como uma fundadora do projeto cultural, que ajudava crianças e jovens a terem aulas de música, canto, teatro e dança.

Esse orfanato em específico, foi o primeiro lugar que ela conseguiu ajudar depois de ganhar seu próprio dinheiro. Depois de ter condições para fazer ações que ela sempre quis, mas que não podia. Ela ia lá ao menos uma vez no mês para passar o dia com as crianças. Dava aulas, conversava com eles, contava histórias, participava de gincanas e tentava fazer o dia deles um pouco melhor. Sejeong gostava muito disso. Gostava de ver o sorriso nos seus rostos e saber que poderia conforta-los naquela situação difícil.

Ela estava muito feliz que finalmente poderia tirar um dia na sua agenda corrida para cumprir sua promessa. Além disso queria aproveitar ao máximo, já que quando o BTS fosse fazer sua turnê, poderia passar de três há cinco meses.

Tudo já estava organizado. Na noite anterior, horas antes de ir dormir, Sejeong tirou um tempinho depois dos ensaios para organizar o que precisaria levar. Separou as caixas com doações na mala do carro, assim como presentes de ano novo que comprou para as crianças, seguindo uma lista que ela tinha de quantas e quais crianças haviam no orfanato. Ao todo eram 100, sendo 40 crianças (de 3 há 11 anos) e 60 adolescentes (de 12 há 19 anos).

A morena pegou sua mochila que preparou com suas coisas pessoais e saiu do quarto pronta para tomar o café da manhã antes de ir embora.

─ Namjoonie, você já está acordado! ─ Sejeong falou ao ver o Kim sentado na cadeira da mesa de jantar. Era muito cedo, até mesmo para aqueles que eram matutinos. ─ Bom dia!

Ela foi até ele e o abraçou por trás, deitando sua cabeça no ombro dele e sorrindo. Adorava dar abraços nos garotos e eles sempre devolviam. Namjoon sorriu de volta e abraçou os braços dela, fechando os olhinhos por se sentir muito confortável.

─ Bom dia, Jeong. ─ Respondeu calmo e sereno. Quando ela o soltou, Nam esfregou os próprios olhos. ─ Achei que você ia um pouco mais tarde.

Todos eles já sabiam para onde ela iria.

─ Resolvi acordar um pouco antes pra comer direito e matar a saudade deles. Vou ficar muito tempo sem ir lá, então quero aproveitar. ─ Disse se espreguiçando e jogando os braços para cima. Ainda estava um pouco cansada dos ensaios pesados de ontem. ─ Hm... acho que vou comer cereal.

─ Isso é "comer direito"? ─ Namjoon questionou. Normalmente ela comia bem e em uma quantidade considerável, então estranhou.

─ Hoje tô com preguiça de cozinhar, não me julgue, você sabe que eu como bem.  ─ Deu de ombros, sem se importar muito. ─ E cereal não é ruim, é fonte de fibras.

─ Vem, eu faço algo pra você. ─ Ele se levantou da cadeira, largando o jornal encima da mesa e caminhando até a cozinha. Era uma edição do 'The Chosun Ilbo', o jornal mais famoso da Coreia do Sul.

─ Acho melhor não. ─ Ela negou, sabendo exatamente como Namjoon era na cozinha: horrível. ─ Eu faço algo pra gente, só tenho que buscar algo no quarto.

─ Você não precisa me humilhar. ─ Ele disse fazendo um biquinho. Sabia que era mesmo ruim cozinhando.

Enquanto Namjoon se dirigia a cozinha, Sejeong andou rapidamente até seu quarto, pegou um livro que estava embrulhado em um papel de presentes encima de sua mesinha e voltou, caminhando até a cozinha.

─ Fecha os olhos e coloca as mãos na frente com a palma pra cima. ─ Ela escondeu o presente nas costas, esperando que ele fizesse o que ela pediu.

O Kim a olhou desconfiado, se mexendo um pouco para o lado e depois para o outro na intenção de ver o que ela estava escondendo, mas não conseguiu. Desistindo, fechou os olhos e fez o que ela pediu. Sejeong se aproximou da bancada e pousou o livro encima das mãos do amigo e se sentou no banquinho que ficava de frente a bancada da cozinha.

─ Pode olhar agora. ─ Disse apoiando os cotovelos na bancada e apoiando o rosto entre as mãos.

Namjoon abriu os olhos e olhou diretamente para suas mãos, percebendo logo de cara que era um livro. Ele sorriu com o presente, mesmo sem saber do que se tratava o tema. Ele amava livros e com certeza ganhar um, era um dos presentes mais legais para se dar a Kim Namjoon.

─ Eu li esse livro e resolvi comprar um pra você também. ─ Falou o observando analisar o livro 'o pequeno príncipe'. Sabia que ele nunca tinha lido. ─ Particularmente diz que a faixa etária é para crianças, mas adultos também deveriam ler. Você vai entender quando ler.

─ Ele é muito bonito visualmente e se você está recomendando, com certeza deve ser ótimo. ─ Rm a elogiou por saber que a mesma tinha um bom gosto. Não era o primeiro livro que ela comprava para ele. ─ Obrigada, Sejeong-ah. ─ Agradeceu, fazendo uma high-five com ela.

Nam colocou o livro no canto da bancada para não sujar e esperou as ordens para tentar ajudar no café da manhã. A ideia de Sejeong foi fazer bibimbap, uma das comidas mais tradicionais da Coreia. Era uma mistura de arroz cozido, legumes como cenoura, abobrinha, cogumelo shitake, couve cozida, alho, molho shoyu, um pouco de saquê ou soju, pasta de pimenta, óleo de gergelim, ovo frito e pedaços de carne.

Ela com certeza faria a maioria das coisas, já que ele era péssimo cozinheiro, horrível cortando verduras e um desastre total, capaz de queimar tudo se estivesse sozinho. Sejeong até estava dando pequenas aulas para Namjoon, alegando que ele precisava aprender a cozinhar sozinho quando ninguém estivesse por perto. Ele já tinha quase trinta anos, então seria o cúmulo.

─ Que horas vai voltar? ─ Perguntou arrumando o óculos no rosto com o braço. Sua mão estava ocupada tentando cortar alguns pedaços de carne. ─ De noite temos que ir na HYBE para acabar de organizar algumas coisas da turnê.

─ Vou sair de lá umas cinco ou seis horas, então vou estar aqui por volta de seis e meia ou sete horas. ─ Falou depois que colocou o arroz na panela elétrica. Ela calculou o tempo, contando que a viagem durava por volta uma hora e meia. ─ Vou direto pra empresa.

─ Entendi. ─ Balançou a cabeça concordando. Nam finalmente conseguiu cortar a carne de porco em cubinhos e sorriu, feliz por ter conseguido. ─ Então, o orfanato, é em Paju-si não é?  ─ Perguntou, se recordando do nome da cidade. Ela concordou. ─ Nunca fui lá, mas já ouvi falar. Me lembro que você me contou algumas coisas.

─ Tem muita história, principalmente por ficar na divisão entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. ─ Sejeong havia começado a cortar as verduras frescas e observar as que estavam cozinhando para não passar do ponto. ─ O orfanato tem crianças sul coreanas da região e outras norte coreanas. A maioria delas perderam os pais por causa dos conflitos ou tentando atravessar pela floresta ou pelo mar.

Levando em conta que existia uma zona desmilitarizada da Coreia até hoje, não tinha como passar de uma Coreia para a outra facilmente. Paju-si era uma das cidades sul coreanas que tinham bases militares perto dessas zonas.

─ Isso é muito triste, mas também é bom que elas possam ter um recomeço. ─ Claro que perder os pais não era fácil, mas eles com certeza gostariam que seus filhos tivessem uma vida melhor. ─ É legal você ir lá e fazer tudo isso por eles. Devem te ver como uma inspiração.

─ Eu fico muito feliz de ir, sabe? Sempre volto com as energias renovadas. Gostaria de poder adotar todos e agarra-los para saberem que sempre estarei aqui por eles. ─ Falou com um sorriso no rosto. Sejeong habitualmente se sentia uma pessoa melhor e mais amada. ─ Acho que elas que são uma inspiração para mim. Mesmo com todas as dificuldades, elas não desistem. ─ A Kim sabia como era ser abandonada ou passar por dificuldades, mas diferente das crianças, ela teve apoio familiar para estar ao lado dela nesses momentos. Mesmo que Sejeong não quisesse preocupa-los e finge-se que estava tudo bem. ─ Você iria amar lá. É lindo, com uma ótima energia e com toda aquela natureza em volta.

Namjoon sorriu, encantando com o jeito que ela falava. Ele lhe conhecia há muito tempo e todas as vezes se surpreendia com essa maneira doce e cheia de detalhes que se expressava. Poderia não contar tanto dos seus próprios problemas para não preocupa-los, mas sabia como expressar seus sentimentos e visões mais assertivas sobre os outros ou sobre diversas situações.

Com a comida quase pronta, a panela elétrica apitou avisando que o arroz estava no ponto. Namjoon se afastou um pouco, destravou a panela e abriu. Esperando o vapor sair, Nam foi até o armário e com o maior cuidado do mundo pegou duas tigelas e duas colheres para eles comerem.

─ Pega também uma vasilha daquelas que tem compartimentos e outras duas normais. ─ Falou ao ver que eles estava mexendo no armário. ─ Vou separar para os meninos. Quando eles acordarem só precisam assar a carne, esquentar o arroz e assar os ovos.

Eles haviam tido a ideia de deixar pronto para os outros também. As verduras e carnes cortadas, além do arroz e das verduras cozidas. Já que estavam fazendo a mesma comida, não afetaria em nada adicionar mais coisas para deixar o bibimbap deles quase pronto.

O Kim colocou um pouco de arroz nas tigelas que separou e, com a ajuda de Sejeong, montou todo o prato com os legumes, molhos, óleo, a carne e por fim o ovo frio por cima. Depois de finalizar, ela colocou as tigelas pretas na frente dos bancos e deu a volta, se sentando para comer.

─ Então eu posso ir com você hoje? ─ Perguntou após se sentar. O Kim pegou sua colher e misturou tudo, como de costume dos coreanos. Era normal montar todo o prato de bibimbap, mesmo que depois fosse misturar. ─ Parece um bom lugar para se conhecer.

Sejeong não esperava que ele fosse se oferecer para ir com ela, pois achou que todos eles deveriam estar muito ocupados. Por isso, acabou não chamando, para não incomodar sobre uma responsabilidade dela. Possivelmente da próxima vez mudaria isso e talvez perguntaria aos garotos se eles gostariam de ir.

─ É claro que sim! ─ Espalmou em alegria, com o sorriso de orelha a orelha. ─ Eles vão amar você, tenho certeza! ─ Sejeong conhecia suas 'crias' e sabia que eles amavam o BTS. ─ É a primeira vez que vou lá como membro oficial do BTS e ainda mais com outro membro. Nossa, eles vão ficar animados! ─ Gargalhou só de pensar. ─ Mas fica tranquilo, eles não vão ficar no seu pé nem nada. Eles respeitam muito. Você vai se sentir muito bem.

Dá primeira vez que Kim Sejeong foi ao orfanato pela primeira vez como um membro do Gugudan ainda, eles foram a loucura. Nenhum idol ou famoso havia ido visitá-los e, como o grupo feminino estava bombando na época, as crianças e adolescentes ficaram muito encantados e não saiam de perto da moça. No entanto o tempo foi passando e as crianças se acostumando com a presença constante de Sejeong, a tratando como alguém de sua família. Chegou um tempo que ela até conversou com eles sobre isso, contando cómo se sentia. Como era bom que eles a tratavam como humana, não apenas como uma idol ou k-actor. Que sentiam e viam seu lado humano acima de tudo.

─ Tenho certeza que vai ser divertido com a tia Sejeong. ─ Brincou, a chamando como achava que as crianças deveriam se referir a ela.

─ E com o tio Namjoon. ─ Se referiu ao fato de que agora ele viraria o 'tio' das crianças também.

A garota misturou toda sua comida com a colher e comeu. O gostos estava divino, a comida quentinha e muito bem feita pelos dois ─ muito mais por ela do que por ele, mas olha, ele conseguiu cortar direitinho a carne de porco! Era um vitória para o 'Namjoon cozinheiro '.

Sua luta contra as cenouras e cebolas ainda estavam por vir.

Os dois comeram e conversaram durante vinte minutos. Depois que acabaram, lavaram os pratos rapidamente e Namjoon foi se trocar. Sejeong aproveitou esse momento para escrever um bilhete para os rapazes, avisando para onde eles tinham ido e que o bibimbap estava quase pronto, separado em vasilhas na geladeira para eles esquentarem quando acordarem. No final, colocou um coração e assinou.

Depois de mais dez minutos eles foram até o estacionamento e saíram do condomínio rumo a Paju. Sejeong que iria dirigir, já que Namjoon ainda não sabia. O rapaz falava que por ter mãos grandes e por ser desajeitado, tinha medo de acabar causando um acidente, portando tomou a decisão de não dirigir. Além disso, por ter um grau de 7,5 de astigmatismo, achava que era uma condição preocupante o suficiente.

A viagem, como já dito, demorou uma hora e meia. A cidade de Paju ficava na província de Gyeonggi, Sudogwon, na divisa entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. Eram 672,78 km² de uma cidade florida, rodeada de montanhas, rios como o Imjin e o Han e cheia de histórias para contar. De acordo com a última baixa populacional, eram aproximadamente 400.000 habitantes, revelando uma alta na migração do campo para a cidade. Possui bases sul-coreanas e norte-coreanas instaladas para proteção da capital Seul e uma estação ferroviária que liga Paju a uma parte mais afastada da cidade que só é possível entrar de trem, em Dorasan.

Essa com o Monte Dora, uma colina e observatório onde pode-se ver o território norte-coreano e a cidade de Kaesong.

O único orfanato de Paju ficava na vila de Majeong-ri, ao lado das aldeias Samok-ri e Jangsan-ri. Como a maioria das cidades do interior, todo mundo se conhecia. Tanto dentro da vila onde morava, quando nas vilas vizinhas, tendo até mesmo algumas competições de 'ego' entre os moradores das vilas. Perguntas como "Qual vila é a melhor?", "O filho de fulano foi para a universidade.", "Nossas frutas e verduras são mais gostosas". Esse tipo de competição nada saudável que sempre acabava em uma discussão entre idosos ou mães.

Um lugar calmo, seguro, de grande contato entre os moradores e rodeado de uma área verde. O orfanato ficava há um quilômetro do centro da vila, então era possível ver ainda mais montanhas, flores diversas e uma vista de tirar o fôlego. Se comparado, poderia ser classificado como uma fazenda.

Sejeong parou de frente ao portão de madeira do local e estacionou o carro. Ela apertou a buzina duas vezes para chamar atenção. Aquele horário às crianças já estavam acordada e todas as vezes que a Kim ia visitá-los, apertava a buzina do carro em um ritmo específico para avisar que era ela. Normalmente, as crianças saiam correndo.

─ Chegamos, Joonnie. ─ Disse desligando o carro e tirando o cinto. ─ Que tal você ficar aqui no carro? Pra quando eles vinherem a gente fazer uma surpresa.

Namjoon comcordou, também tirando o cinto.

Em menos de um minuto várias crianças saíram correndo de dentro da casa em direção ao carro. Entre crianças e adolescentes, eles sorriam e gritavam, sabendo quem havia chegado. Sejeong abriu a porta do carro e também sorriu, caminhando na direção deles. Ela sentiu um choque contra o próprio corpo quando as crianças esbarraram nela e lhe agarraram, dando um abraço em conjunto na pessoa preferida deles. A Kim falava com eles, dizendo 'oi' e perguntando como estavam. Mesmo que não desse para ouvir todos, as respostas embaralhadas eram como música para seu ouvido.

─ Vocês cresceram tanto. ─ Ela agachou no chão para pegar uma das crianças, uma garotinha chamada Dae-re de três anos e que sempre chorava para que a pegassem no braço. ─ Sentiram minha falta?

Todos gritaram 'sim' em uníssono. Era fato que ela não precisava manda-los fazer silêncio, pois geralmente que ela começavam a falar, eles paravam para prestas atenção ─ claro, que como crianças, isso nem sempre acontecia, mas de fato eles tinham muito respeito e admiração por ela.

─ Unnie, agora você é do BTS! ─ Uma outra adolescente por volta de 15 anos chamada Kang Na-bi falou. ─ Como isso aconteceu? É incrível!

─ Ela disse que já eram amigos, não lembra? ─ Kang Jun-huyk, o irmão mais velho que tinha 16 anos, respondeu Nabi. Os dois costumavam implicar um com o outro. ─ Eles que ganharam, você é ótima em tudo que faz, noona. Jjang! ─ Disse utilizando no final a expressão “boa!” ou “você é a melhor!”.

─ Falando nisso, eu tenho uma surpresa pra vocês! ─ Falou sorrindo como uma criança travessa. Sabia que eles iriam adorar. ─ Eu trouxe um amigo pra vocês conhecerem.

Sejeong apontou para o carro e olhou para Namjoon, acenando para ele e pedindo que o mesmo saísse do automóvel.

Assim que o Kim abriu a porta do carro, escutou uma gritaria imensa, principalmente vinda dos mais velhos que sabiam exatamente quem ele era. Tímidos, ansiosos e chocados, eles começaram a pular e a gritar um com os outros em comemoração, desacreditados que Kim Namjoon estava ali junto deles.

O mais velho se aproximou dos jovens e os cumprimentou inclinando-se para frente. Também estava com um pouco de vergonha, mas por estar com Sejeong do seu lado e depois de saber de tudo sobre eles, não se sentia desconfortável. Apenas tímido.

─ Oi crianças, como estão? ─ Namjoon acenou para elas, ficando ao lado de Sejeong. ─ Eu sou o Kim Namjoon e hoje vim aqui com minha amiga Sejeong-ah para passar o dia com vocês.

─ Você vai ficar o dia todo? ─ Uma menina perguntou.

─ Não acredito que você está aqui. ─ Falou um rapaz mais velho.

─ A tia Sejeong falou muito de vocês. ─ Mais uma falou no meio de toda aquela confusão.

─ Vocês são só amigos mesmo? Ela nunca trouxe ninguém aqui. ─ Outro garoto questionou, cutucando o braço do Kim.

─ Crianças, deixem ele falar! ─ A diretora do orfanato disse surgindo atrás deles. Estava acompanhada dos outros voluntários do orfanato.

Ao todo eram 20 voluntários que cuidavam das crianças e se dividiam entre as tarefas diárias.

─ Sejeong-shi, é muito bom ver você novamente! ─ A senhora Park Sun-bi disse lhe abraçando. Ela tinha por volta dos 60 anos. ─ E vejo que trouxe um amigo! É um prazer conhecer você, rapaz. Obrigada por vir nos visitar. ─ Sun-bi também se aproximou dele e o abraçou. Namjoon se inclinou bastante para frente, já que ela era bem baixinha.

─ Ahjumma Park, eu que estou muito feliz de vir aqui. ─ Sejeong deu um beijo na bochecha da senhora, como de costume. ─ Além disso a senhora sabe que vou passar um tempo longe por causa do trabalho. Então quis vir o mais cedo possível pra ver vocês!

─ Porquê vai ficar longe, tia Sejeong? ─ Um garotinho de cinco anos perguntou. ─ Não pode mais ver a gente, noona?

─ Hm... eu vou trabalhar viajando para outros lugares durante uns meses, Seo-ho, é por isso que não vou poder vir aqui. ─ Ela deu a garotinha que estava nos seus braços para um dos voluntários e se agachou na altura do menino para falar. ─ Mas prometo que assim que eu puder, eu venho ver vocês de novo.

Sejeong abraçou o garotinho e depositou um beijo na bochecha dele, sentindo uma lágrima de Seo-ho descer pela bochecha.

─ Eu nunca vou deixar vocês, ok? ─ A Kim limpou as lágrimas no rosto do garotinho e sorriu para ele. ─ Nem mesmo quando você for adotado. Vou sempre ser sua tia, tudo bem?

Seo-ho concordou, passando as costas das mãos na própria bochecha e se agarrando no pescoço de Sejeong. Como sabia que ele não soltaria naquele momento, o segurou no braço.

─ Unnie, vocês vão fazer um show em próximo mês, estão animados? ─ Uma dos adolescentes perguntou, batendo palminhas.

─ Muito! Queria que pudessem ir também. ─ Sejeong respondeu para a garota. ─ Vou fazer de tudo para vocês irem em algum deles.

Como não podia prometer nada, preferia não confirmar. Diferente de outros shows que as crianças puderam ir, já que eram shows solos dela e que Sejeong poderia realizar essa promessa, ela não queria fazer o mesmo na HYBE. Não gostava de ficar pedindo coisas, independentemente se trabalhasse lá.

─ Nenhum de vocês foi em um show nosso? ─ Eles negaram. ─ Que tal ir agora? ─ Perguntou, os deixando eufóricos. ─ A tia Sejeong-ah estava guardando essa surpresa de vocês, mas agora pode falar, não é?  ─ Ele olhou para a Kim. Sejeong arqueou a sobrancelha, sem entender. Para ela também era uma surpresa. ─ Vocês todos estão convidados para o nosso primeiro show em Seul!

A gritaria foi certa depois daquelas palavras do líder. Eles foram a loucura. A maioria deles, incluindo crianças, gostavam muito do grupo e tinham suas músicas tocadas todos os dias nas aulas práticas ou em seus fomos de ouvido.

─ Você por acaso falou com a HYBE e não me disse nada? ─ Sejeong perguntou confusa com a resposta inesperada vinda do Kim.

─ Não, mas a gente resolve isso depois.

Namjoon não era do tipo que tomava decisões precipitadas, mas quis fazer algo doce para as crianças e adolescentes, percebendo o quão animados eles estavam para a volta do grupo.

─ Uau, você é muito fofo, sabia? ─ Sejeong sorriu para Namjoon e o abraçou lateralmente. Rm ficou tímido, mas gostou do elogio. ─ Tá vendo, Seo-ho, a gente vai se ver de novo! ─ Ela falou com o garotinho nos braços, dando uns pulinhos. ─ Agradece ao tio Namjoon.

─ Obrigada, tio hyung. ─ O garotinho disse tropeçando nas palavras. Ele sorria de orelha a orelha e esticou-se para abraça-lo.

O mais velho relutou momentaneamente em pegar na criança. Tinha medo de acabar machucando por não saber muito bem como cuidar de uma. No entanto, com a insistência do menor em ir para os braços de Namjoon e agradece-lo, ele acabou aceitando e segurando Seoho, que agarrou no seu pescoço e deitou a cabeça no ombro dele.

─ Ok, temos uma última surpresa! ─ Sejeong bateu palmas, chamando atenção dos jovens. ─ Quem quer os presentes de ano novo?

Uníssono, gritaram 'eu', pulando no chão e correndo atrás da Kim para ganhar seus presentes.

Sejeong foi até a mala do carro e começou a chamar seus nomes. Namjoon, ainda com Seo-ho no colo, foi até a mais nova para ajuda-la no que fosse necessário. Estava uma bagunça gostava de se ver. Não foram apenas distribuídos presentes, como também abraços e beijos vindo das crianças e dos adolescentes tão agradecidos por ter alguém que se importava tanto com eles. Certamente, nunca esqueceriam do amor, cuidado e pela maneira como ela se importava com eles. Sendo com presentes, ou melhor, com a presença e apoio.

Todos eles estavam muito felizes ─ incluindo os próprios voluntários que também acabaram ganhando presentes por seu trabalho árduo e muito bonito.

Quando os adolescentes mais velhos receberam seus presentes, a Kim preparou uma última surpresa para dois deles.

─ Yu-na e Jae-son, venham cá. ─ Ela chamou os dois adolescentes de 18 anos. Ainda não havia dado os presentes deles. O rapaz e a garota se aproximaram dela. ─ Tenho algo pra vocês.

Sesang tirou duas malas para carregar as espadas de esgrima e os entregou. Os dois praticavam o esporte e competiam há quase 5 anos, desde que ganharam uma bolsa em uma cidade vizinha para praticar. Por saber que ambos tinham seus sabre de esgrima muito antigos e eles estavam próximo de uma final nacional no país, resolveu dar de presente.

─ Sei que as suas já estão velhas e como sei que vocês nunca vão me pedir outra, comprei. ─ Sejeong entregou aos dois, dando um abraço em cada um deles. Ela entendia a reclusa que eles tinham em pedi, por isso sempre perguntava ao orfanato se eles precisavam de algo. Mesmo que a diretora negasse e dissesse que ela já fazia muito por eles, Sejeong insistia em ajudar. ─ Ah, e tem isso aqui também.

A mulher tirou dois envelopes dos bolsos da calça e deu para eles.

─ Soube que ficou difícil de conseguir ajuda para se hospedarem em Seul, então já resolvi isso e o transporte. ─ Não era fácil conseguir patrocínio, principalmente quando a escola de esgrima que eles participavam era pouco conhecida. ─ Vocês merecem. Sabe o que é estar na final nacional? É muito! Tenho certeza que vocês vão ganhar... mas se não alcançarem isso agora também não tem problema. Tudo vem no tempo certo e vocês são muito talentosos.

Yuna e Jaeson estavam sem palavras. A única coisa que conseguiram fazer nesse momento foi abraça-la e agradecer por tudo que estava fazendo. Os dois já haviam dito diversas vezes quanto amavam a esgrima e que imaginavam sendo grandes atletas no futuro. Por estarem tão próximos da maior idade ─ que na Coreia do Sul é de 19 anos, logo não poderiam mais morar no orfanato e teriam que desenvolver suas vidas adultas.

─ A única coisa que vocês são obrigados a fazer por mim é conseguir um ingresso. ─ Ela soltou uma risada, confortando os jovens. Suas mãos passavam lentamente pelas costas deles, acariciando. ─ Vou fazer de tudo para ir.

─ Muito obrigado, noona. ─ Jaeson agradeceu, enxugando as lágrimas com a palma das mãos. Ele não era do tipo que chorava na frente de ninguém. Normalmente o conheciam por ser muito forte e reservado, quase raramente demonstrando seus sentimentos. ─ Vamos ganhar por todo esforço que fez por nós.

─ Sim, unnie, muito obrigada! ─ Yuna sorriu, fazendo o mesmo que ele e enxugando as próprias lágrimas. ─ E é claro que vamos pegar um ingresso pra você! É nossa convidada vip! Quando ganharmos vamos dedicar o prêmio pra você.

A diretora pediu para que os garotos entrassem que as gincanas e atividades iriam começar daqui há uma hora. Sejeong e Namjoon, com a ajuda de outros dois voluntário, tiraram as doações da mala do carro e carregaram até a casa.

O espaço interno era lindo e muito colorido. Além das paredes serem pintadas com cores mais vivas e alegres, haviam desenhos espalhados por todas elas. Alguns desenhos na própria parede, quadros e outros em papéis pendurados em alguns varais ─ todas essas artes feitas pelas próprias crianças. A casa em si não era uma mansão que pudesse abrigar sem problemas tantas crianças, mas tinha seu espaço e elas dormiam em camas confortáveis.

Foram feitas reformas com o dinheiro das poucas doações do estado e privadas. A maioria do dinheiro era gasto com comida, medicamentos e outras necessidades básicas. Eles sempre faziam campanha de adoção, mas infelizmente no mesmo ano a casa continuava em sua lotação máxima.

De fato, todos que trabalhavam ali era com muito amor e cuidado pelas crianças. Cuidando, educando e transformando.

As horas se passaram e Sejeong e Namjoon participaram de muitas atividades. A primeira do dia foi o começo de uma gincana que duraria metade do dia. Foram feitos quatro grupo de 25 cada, misturado entre crianças e adolescentes após um sorteio ─ assim como também foi feita a divisão dos voluntários. Os grupos A e C eram liderados por Sejeong na primeira rodada de gincanas, já os grupos, B e D eram liderados por Namjoon.

Os quatro grupos enfrentaram uns aos outros, ganhando pontos acumulados para conseguirem passar para a segunda e última fase. As únicas vezes que Sejeong e Namjoon não gritaram demasiadamente, foi quando seus próprios grupos se enfrentarem entre eles, fazendo com que os dois ficassem caladinhos e esperando para que saísse o resultado. Uma vez parabenizando um grupo, e na outra consolando o que perdeu.

Depois de passarem por quatro gincanas diferentes ─ mugunghwa kkochi pieosseumnida (batatinha frita 1,2,3), gaegichagi (não deixar a peteca cair no chão), museon maim (mímica sem fio) e juldaligi (cabo de guerra), os dois grupos que ficaram em primeiro e segundo lugar, passando para a segunda e última rodada, foram o A e o D.

Os líderes dos grupos pareciam ainda mais eufóricos que as crianças. Torcendo como ninguém, o duo Kim gritava, pulava e comemorava a cada passo e vitória do seu próprio grupo. Se divertiam como se ainda fossem crianças e deixavam suas responsabilidades e problemas para fora daquele muro. RM nunca havia se divertido tanto como agora. Nem que fosse apenas por algumas horas, ele sentiu que poderia ser criança de novo.

No fim da manhã, o grupo vencedor foi o de Kim Sejeong. Namjoon contestou diversas vezes por causa do seu grupo, mas aceitou que parecia impossível vencer sua parceira, mesmo que ela nem estivesse jogando efetivamente.

Era por volta das 13:04 quando eles puderam parar para descansar antes de continuam o dia mega divertido. Estava na hora do almoço e as crianças e adolescentes foram levados para o refeitório. Agora, às 13:46, depois de almoçarem muito bem e experimentarem a sobremesa do dia, os amigos Sejeong e Namjoon foram descansar do lado de fora da casa.

Haviam alguns banquinho no meio do campinho de futebol improvisado. A vista dali para as montanhas era muito bonita e o silêncio era avassalador quando as crianças estavam dentro da casa. Algumas flores, mesmo no inverno, ainda floresciam ─ especificamente uma chamada áster. Com diversas cores, a espécie de margarida que tem uma haste longa e fina, florescendo anualmente em todas as estações do ano, era o tipo de flor que estava sempre presente nos campos do orfanato.

Namjoon, enquanto esperava Sejeong voltar com seus chocolates quente que prometeu fazer, procurou pela flor para fazer um buquê para a garota. Ele estava muito agradecido por ter um dia tão especial e significativo para ele, então queria devolver esse agradecimento não apenas com palavras, mas também com um presente. Por não achar que seria tão criativo e bom em fazer ele mesmo outro presente, achou mais legal usar as flores do campo.

O Kim procurou tirar as flores com as raízes e folhas para que ela pudesse ─ e se quisesse, planta-las novamente em um pote ou algo assim. Usou a própria haste longa de duas flores para enrolar todo o buquê, para que não se soltasse. Quebrando algumas deles nessa sua tentativa de fazer algo legal.

─ Olha, não é porquê foi eu que fiz, mas está perfeito! ─ Sejeong gritou saindo da porta dos fundos da casa. Havia aprendido a fazer aquele chocolate com Jhope.

O mais velho acabou de dar um nó e colocou as mãos para trás, fingindo que não tinha nada. Ele caminhou até ela e sorriu, aceitando o copo de chocolate quente oferecido. Deu um gole, fechando os olhinhos por alguns segundos para saborear aquele gostinho doce.

─ Não gostei. ─ Disse depois de engolir. Sejeong, chateada, deu um tapa no ombro dele e se sentou no banquinho com a cara fechada. ─ Não ficou bom.

─ Então não toma! ─ Ela olhou para os próprios pés, balançando eles no ar já que eles não alcançavam o chão pelo banco ser muito mais alto. ─ Me dá aqui!

Ela tentou tirar o copo da mão dele, mas o Kim colocou o braço para trás, impedindo que ela tomasse da mão dele.

─ Você não gostou, então me devolve! ─ Falou mais alto, insistindo em tentar pegar o copo. ─ Kim Nam-joon!

Namjoon deu uma gargalhada, provocando ainda mais e indo para trás. Sejeong olhou com uma cara de deboche para ele e se virou, o ignorando. Foi nessa hora que o Kim tirou o buquê escondido e pôs na frente do rosto da mais nova.

─ É brincadeira, tá gostoso. ─ O rapaz arrumou-se no banco, sem conseguir parar de sorrir. ─ Toma, é pra você.

Sejeong se controlou bastante para não demonstrar que gostou muito daquele presente. Ela achou extremamente fofo e cuidadoso da parte dele fazer essa supresa, e se não quisesse fazer um drama como ele fez segundos atrás, teria dado um abraço nele instantemente. Ao contrário disso, acabou desferindo um tapa no ombro de Namjoon.

─ Ai! ─ Continuou com o drama, passando a mão encima do ombro. ─ Eu sou mais velho que você, não pode me bater!

Resmungar não adiantou de nada, já que ela fez menção a bater nele mais uma vez. Sejeong não faria isso, mas foi engraçado vê-lo colocando o braço na frente apenas por precaução. Claramente não havia machucado e nem mesmo batido ao ponto de lhe causar dor, mas se os dois resolveram bancar os atores, ambos queriam fazer seu show.

─ Tá bom, já entendi. ─ Se rendeu, colocando as mãos para cima. ─ Gostou?

Na cabeça dele, a aprovação era necessária e a resposta tinha que ser, no mínimo, um "é claro, foi perfeito, você é incrível Joonnie, amo você" ─ até porque esse era exatamente o tipo de resposta que ela daria para um dos garotos.

─ Eu não. ─ Deu de ombros, fingindo indiferença. Seus olhos não paravam de olhar para o buquê de áster e seus lábios eram minimamente controlados para não sorrir muito. Apenas o necessário para mostrar que ela gostou sim, mas estava fingindo que não.

─ Então me devolve. ─ Disse entrando em uma nova discussão. Parecia até uma implicância rotineira entre Sejeong e Seokjin. ─ Você disse que não gostou.

─ É que não se devolve um presente. É feio. ─ Ela fez uma careta fofa, desviando seu olhar para o horizonte.

─ Só por isso? ─ Questionou, mostrando a decepção.

─ Claro que sim. ─ Concordou balançando a cabeça.

Ele disse um "ok" apenas por dizer, mas sabia que sua expressão e trejeitos demonstravam gratidão. Era isso que importava afinal. Namjoon esperaria tranquilamente o momento em que eles não estivessem implicando um com o outro para escutar as palavras bonitas.

─ Hoje está sendo muito legal, obrigado, Jeong. ─ Mudou de assunto. Queria muito expressar quão grato estava. ─ Faz tempo que não me divirto assim e esqueço de tudo. Aqui é incrível. Essas crianças são incríveis... você é incrível. ─ Elogiou, com um sorriso no rosto. Nam levou o copo de chocolate até a boca e tomou. ─ Você é tão madura pra sua idade. Tem uma responsabilidade enorme nas suas costas... Eu te admiro muito.

Namjoon ficou ainda mais admirado quando percebeu quão dedicada e responsável ela era com aquelas crianças e adolescentes. Ela não precisava disso. Não precisava carregar um peso tão grande na sua idade, mas mesmo assim ela fez. Cuidava deles como fosse sua família e se dedicava além das suas próprias responsabilidades para que eles se sentissem amados. Para que tivessem um futuro.

─ Quando vim pra cá, senti que eles também faziam parte de mim... que eu precisava ter essa responsabilidade. ─ Não foi uma obrigação, mas um amor bilateral que ambos os lados criaram logo na primeira vez que se encontraram. ─ Sabia que teria que dar exemplo. Sabia que eles poderiam criar expectativas em mim... ─ Sejeong também tomou um pouco de chocolate, dando uma pausa para continuar falando logo depois. ─ Não vou mentir, é muito difícil ter pessoas que se inspiram e que tem expectativas muito altas sobre você... mas também é gratificante ver que eles podem contar comigo se precisarem.

─ Isso é nobre. ─ Nam falou olhando para ela. Tinha muito orgulho de ver que aquela garotinha de 17 anos, se tornou uma mulher ainda mais forte e madura. ─ Você nunca fala abertamente sobre seus fardos, achando que eles podem ser um problema para nós, e no final, ainda nos aconselha e nos dar amor... ─ Mesmo que fosse difícil, o Kim sentiu que precisava se preocupar mais com essa questão. Não como líder, mas como amigo. ─ Me entristece ver você tentando passar por momentos difíceis sozinha e escondendo o quanto está lutando, então você não precisa. Não mais.

O rapaz passou a mão direita por trás das costas de Sejeong e acariciou o local, dando alguns tapinhas leves de conforto para que ela soubesse que ele estava ali por ela.

─ Eu sei que tenho amigos, mas me senti sozinha por um tempo. ─ Admitiu, agora olhando para ele. ─ Não havia percebido o quão cansada e desgastada estava me sentindo... Até que eu pude passar mais tempo com vocês. ─ A maior aproximação dela com meninos e os encontros diários a fez se sentir melhor. ─ A maioria pessoas que me vêem são crianças, adolescentes e jovens adultos. Elas me observam e sonham sonhos felizes... Quero que elas também possam realizar seus sonhos. ─ Falou, voltando a olhar para as flores que segurava. ─ Às vezes é um pouco complicado pra mim deixar de lado esse senso de responsabilidade.

Sejeong nunca soube muito bem a quem recorrer quando era mais nova, pois as coisas estavam muito difíceis para sua mãe ou até seu irmão mais velho. Portanto, ela preferia ser forte o suficiente para carregar os fardos sozinha e não ser infantil ou agir como uma criança perto dela. Por isso nunca reclamava sobre seus problemas.

─ Eu sei, é perceptível como você se preocupa com todo mundo. ─ Disse enfatizando a palavra 'todo mundo'. Ela riu, sabendo que era verdade. ─ Mas também precisa ser um pouco egoísta pensar mais em você. Você pode... Ignorar tudo de vez em quando! ─ Dessa vez foi Namjoon que riu. ─ Só não muito, porque você, o Jungkook, Taehyung e Jimin já me preocupam o suficiente.

Brincou, tirando uma gargalhada da moça. Uau, quando aqueles quatro se juntavam, era como se todos os divertidamente entrassem em um curto circuito e formasse um caos na sala de controle. Pegadinhas, correria, brincadeiras malucas e respostas reveladoras: esses são momentos públicos que os fãs podiam ver da maknae line.

─ Ah, você ainda está chateado porque o Taehyung-ah resetou seu celular? ─ Sejeong perguntou, se segurando muito para não rir. ─ Não foi culpa minha! Eu disse que você ficaria bravo e até tentei tirar dele. ─ Ela fez um biquinho, tentando explicar o que aconteceu. ─ Pensa pelo lado bom... as coisas estavam salvas.

Namjoon balançou na cabeça, insatisfeito.

─ Não seja um crianção!

Sejeong abraçou o Kim de lado e o apertou. Namjoon não expressou nenhuma reação, ficando parado ali mesmo como uma estátua. Os braços presos ao corpo, o rosto virado para frente e a respiração pesada. Ela o apertou ainda mais e olhou para cima, o encarando até que ele a encarasse de volta. RM olhou para baixo e a encarou, perguntando um "o que foi?" e recebendo um olhar matador de Sejeong.

─ Você é muito confiante se acha que vou acreditar. ─ Ele falou sem tirar os olhos dela. Sejeong estreitou os olhos e bufou, fazendo um biquinho raivoso.

A Kim esticou um dos braços na direção das covinhas do rapaz e apertou. Estava engraçado vê-la fazer uma careta brava, enquanto pressionava as covinhas dele como uma criança. Nam sorriu involuntariamente e fechou os olhos, percebendo que ela havia vencido.

─ Isso, ganhei! ─ Sejeong o soltou e fez um high-five com ela mesma, comemorando. ─ Tá três a zero.

─ Quem ganhou da última vez foi eu! ─ Respondeu indignado. ─ Eu não ri, você riu primeiro do que eu.

─ Eu não lembro disso.

Claro que não lembra, porque não aconteceu. Namjoon havia perdido novamente na brincadeira rotineira que os dois tinham de "vem quem ri primeiro". Ele sempre acabava fraquejando quando ela mexia com as covinhas dele.

─ Unnie! ─ Uma garotinha de cabelo preto, curto e franjinha, correu na direção dos dois. Tinha por volta dos quatro anos de idade. Ela se jogou no colo de Sejeong e se sentou de lado. ─ Nós vamos jogar! Você pode ser do meu time dessa vez?

─ Youn-min, você não gostou de ser do meu time?  ─ Namjoon perguntou fazendo uma carinha triste. A garotinha negou balançando a cabeça e segurou o mão dele. ─ Então porque não quer ser mais do meu time?

─ Oppa, nós agora vamos jogar garotas contra garotos... ─ Ela explicou, passando a mãozinha por cima da dele. Nam olhou para as mãos dela e sorriu. ─ Você não é uma garota... Por isso agora quero que a unnie seja do meu time.

Sejeong e Namjoon riram, achando engraçado.

─ Tudo bem, mas vou ficar com saudades de você. ─ Disse passando a outra mão livre na cabeça de Youn-min.

─ Vai mesmo sentir saudades? ─ ela perguntou arregalando os olhinhos. ─ A tia Sejeong é a única que fala isso pra mim... porque você também vai sentir saudades de mim? ─ Questionou ao mais velho. ─ Nós acabamos de nós conhecer.

─ Você é uma menina muito boazinha, gostei muito de você, Youn-min. ─ Nam lhe respondeu, sorrindo para a garotinha. ─ Agora você vai ter dia pessoas que sentem saudades de você.

─ Oba! ─ Ela gritou, ficando em pé no colo dos dois e abrindo os braços para abraça-los. ─ Agora tenho dois tios! ─ Comemorou, balançando Sejeong e Namjoon o tanto que conseguia. ─ Eu nunca tive tios, mas meus papais disseram que teria um dia... Só não queria que eles tivessem morrido.

Youn-min era uma daquelas crianças norte-coreanas que, sem muitos detalhes, havia perdido os pais e até o irmão mais velho tentando atravessar da Coreia do Sul até a Coreia do Norte.

─ Por isso que nós estamos aqui, para te ajudar a encontrar outra família. ─ Sejeong deu um beijinho na bochecha dela e sorriu. ─ O que a titia disse? Que eles queriam muito que você fosse feliz, não é? ─ Falou ao tentar lembra-la das primeiras conversas que tiveram. ─ O papai e a mamãe vão continuar sendo seus papais, mas...

─ Eu também posso ter papais adotivos, pois eles vão cuidar de mim para meus papais biológicos. ─ Youn-min completou a frase, entretida com os pelinhos do casaco dos dois. ─ Tudo bem titia, pelo menos tenho vocês enquanto não encontro papais pra cuidar de mim.

A criança abraçou os dois mais uma vez e sorriu para eles. Ela desceu do colo de Sejeong e segurou tanto na mão da unnie, quanto do Namjoon.

─ Agora vamos jogar! ─ Ela gritou animada, puxando os dois

─ Tive uma ideia melhor! ─ Sejeong disse para eles. A mais velha se agachou para falar apenas com Youn-min e sussurrou no seu ouvido. ─ Que tal a gente correr e chegar primeiro que ele?

A garotinha sorriu sapeca e concordou.

Youn-min subiu nas costas de Sejeong e agarrou no pescoço de sua unnie, escorrendo o rosto no seu ombro. A Kim pegou as flores no banquinho e segurou com a mão direita, para não perder o presente.

Namjoon não entendeu, sendo pego de surpresa quando sua amiga tocou nele e saiu correndo.

─ Quem chegar por último é o mais chato! ─ Sejeong gritou já um pouco longe, correndo pelo campo de futebol com Youn-min nas costas e o buquê de flores na mão.

─ Eu não quero ser o tio mais chato. ─ Disse para si mesmo. Ele tomou o resto do chocolate quente do copo, jogou no lixo e correu atrás das duas. ─ Volta aqui! Você trapaceou!

─ A tia Sejeong acabou de dizer que o mundo é dos espertos, tio Namjoon! ─ Younmin gritou, avisando para ele o que a Kim pediu para ela falar.

─ Sejeong-ah você é inteligente, não precisa ficar mentindo! ─ Nam gritou de volta, tentando alcançar as duas. Sejeong era muito mais rápida e ágil que ele.

Os dois ficaram uns três minutos correndo pelos campos, apenas para divertir Younmin que gargalhava até doer a barriga ao vê-los conversando enquanto corriam. Sejeong e Namjoon curtiram o resto da tarde, deram aulas de dança, de canto, fizeram pinturas e até mesmo dois quadros bem bonitos que ficariam pendurados no corredor. Quando o dia acabou, os idols se despediram das crianças, recendo muitos abraços e beijos e voltaram para Seul, prontos para mais uma noite de trabalho.

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