Capítulo Cinco
Capítulo Cinco: Janeiro de 2009, São Paulo.
Por Rafael
Quando ela entrou no restaurante, fiquei sem acreditar. Era muita coincidência encontrá-la logo ali. São Paulo era enorme, pelo amor de Deus. Ainda não tinha me visto, então fiquei apenas observando. Não estava sozinha, sentados na mesa junto com ela estavam mais duas garotas e um rapaz conversando animadamente. Até que teve um momento em que ela ficou calada e meio introspectiva, os outros não chegaram a perceber, pois estavam muito distraídos, e em determinada hora se levantou dizendo algo a eles e foi em direção ao toalete.
Tinha ido até São Paulo para um congresso que abordava as novas técnicas utilizadas em projetos arquitetônicos autossustentáveis, e como Alam, meu pai e eu tínhamos acabado de abrir a CAVA, futuramente meu interesse era realizar projetos econômicos em todos os aspectos, tanto no valor da construção quanto na manutenção da estrutura, então não pude perder essa oportunidade. Um dos caras que estava comigo disse que esse era um dos melhores restaurantes da cidade, então todos nós fomos.
Ela estava demorando muito para voltar, não nos falávamos há quase cinco anos, desde a última briga que tivemos depois que minha mãe passou na cara dela que era uma assassina. Foi mais forte do que eu, disse para os rapazes que iria tomar um ar e já voltava, mas caminhei em direção aos toaletes.
Eu estava saindo com a Luiza, uma garota com quem havia tido uma ficada relâmpago na época da faculdade, mais ou menos um ano depois que Nanda e eu terminamos de vez e ela tinha vindo embora para São Paulo. Era uma garota legal e mexia comigo, às vezes quando estava com ela conseguia esquecer toda a merda que tinha acontecido, mas só às vezes. O que tínhamos não era nada sério, até porque falei para ela que relacionamento não era uma prioridade para mim, porém estávamos tentando.
Cheguei até o corredor onde ficavam os toaletes femininos e masculinos, quando estava de frente para a porta, minha ficha caiu e me perguntei o que estava fazendo aqui, o que tinha dado na minha cabeça? Essa garota abortou um filho meu. Eu só podia ter sido enfeitiçado ou algo do tipo. Quando estava me virando para ir embora, a porta se abriu e nossos olhares se cruzaram, os olhos dela estavam vermelhos e parecia que tinha andado chorando, ou isso ou estava com alergia à maquiagem. Sua expressão de surpresa foi impagável.
― Como vai, Fernanda? ― Não resisti e dei um meio sorriso.
― Rafa, o que está fazendo aqui? ― falou em um fio de voz.
― Não vim por sua causa, se é isso que quer saber, foi apenas coincidência. ― Droga, detestava ser grosso, principalmente com ela. Apesar de tudo, tivemos uma importância muito grande na vida um do outro, e esse tipo de sentimento não se apagava assim.
― Claro que não, isso nem passou pela minha cabeça. ― Pareceu que tinha recuperado a voz e a segurança. ― Mas também, se vai ser grosseiro comigo, não sou obrigada a ficar aqui escutando, então tenha uma ótima noite, com licença ― disse muito segura de si. A última vez que vi essa postura firme foi quando descobri sobre o aborto e brigamos feio. Segurei seu braço com firmeza.
― Vamos sair daqui, quero falar com você. ― O que eu estava fazendo? Devia ter bebido vinho demais. Não, não era isso, queria estar com ela e sabia disso, colocar culpa no vinho que quase não bebi, porque estou dirigindo, não ia justificar.
― O que você quer falar comigo Rafael? ― disse meio incrédula. ― Que eu me lembre, da última vez que quis falar comigo estava mais para um monólogo do que uma conversa, já que praticamente só você falou. ― disse cada palavra me encarando. Não desviei seu olhar do meu nem por um segundo.
― Quero falar com você, posso ou não? Vai ficar de charme ou vai vir comigo? Porque tem duas opções, ou você vem comigo ou saio te arrastando pelo restaurante. Então, o que vai ser? ― Ela bufou e começou a andar em direção à mesa onde os seus colegas estavam. Fui atrás dela, e quando chegamos, pegou a bolsa e se desculpou.
― Gente, desculpa, não vou poder ir com vocês para Villa Vicentina, acabei encontrando meu primo e vamos conversar um pouco, matar a saudade de casa, tudo bem?
― Tudo bem, deixa para uma próxima, Nanda. Estão de carro? ― disse uma garota ruiva muito bonita.
― Eu estou, não se preocupem que a levo em casa. A propósito, sou o Rafael, o primo ― falei, me apresentando, já que a Fernanda não fez. Ela ficava uma fera quando respondiam por ela. Estendi minha mão para cumprimentar cada um deles.
― Sou Daniela, prazer em conhecê-lo.
― O prazer é todo meu. ― Daniela abriu um sorriso sedutor para mim e percebi que foi mais por reflexo do que para me seduzir. Achava que Nanda tinha notado, porque cortou logo a conversa.
― Jade, você poderia levar meu carro, já que o Rafael vai fazer a delicadeza de me levar depois? ― perguntou à garota morena com traços orientais.
― Eu ia com o Ricardo, mas tudo bem, deixo o carro em casa. Você me acompanha depois de deixarmos a Dani em casa, Ri? De lá podemos ir para o seu apartamento.
― Claro, amor. ― Nitidamente os dois eram um casal. O tal do Ricardo tinha um aspecto de nerd, então provavelmente devia estudar medicina também.
― Obrigada. E, gente, desculpa de novo por não poder ir com vocês. Vamos, Rafael? ― Ela parecia querer ir muito para essa tal de Villa Vicentina.
― Espera, o que é Villa Vicentina? ― A Nanda me olhou com uma cara de incrédula do tipo "não acredito que vai querer sair com meus colegas da faculdade". Ela devia estar furiosa e estava começando a me divertir com isso, quem me respondeu foi a Jade, que pelo que entendi dividia o apartamento com a Nanda.
― É um barzinho e casa de show tipicamente nordestino. ― Ela parecia meio intrigada comigo.
― Legal, curto forro pé de serra. Podemos ir com vocês, afinal de contas não era minha intenção atrapalhar o programa. ― Era oficial, se a Fernanda tivesse visão a laser, me explodiria.
Por Fernanda
A Mel tinha me falado que o Rafa viria esse fim de semana para São Paulo por causa de um congresso que teria para sua área de atuação, só que a última coisa que esperava era encontrá-lo no mesmo restaurante onde eu estava jantando com um pessoal da faculdade.
Agora estávamos indo para a Villa Vicentina, onde já tinha ido algumas vezes, gostava muito do forro pé de serra, meu tio Joaquim tem raízes nordestinas e tinha ensinado todos nós a dançar forró. No meu carro fomos Rafael e eu, ele tinha deixado o carro com um amigo e achou melhor vir no meu, a Jade foi com o namorado e a Daniella. Durante todo o caminho até o barzinho fomos em silêncio, parecia uma eternidade.
Quando finalmente chegamos já havia passado das 21h30min e o show tinha acabado de começar. O barzinho era lindo e muito bem decorado com artesanato tipicamente nordestino, tinha uma divisão de duas áreas, uma era a do Bar e a outra o palco com um tamanho médio e a pista de dança. O ambiente era muito aconchegante e íntimo, adorava aquele lugar. Pegamos uma mesa e pedimos nossas bebidas, menos o Rafa e o Ricardo que seriam os motoristas da noite. Tinha que beber alguma coisa, só assim para passar por essa noite, não tinha outra forma. Ele tinha sido muito hostil assim que nos vimos, não estava entendendo por que ou o que ele queria falar comigo, e isso estava me deixando tensa e meio desesperada. Pedi uma caipirosca de limão e as meninas pediram o mesmo, não demorou muito e um carinha super lindo chamou a Dani para dançar, e logo a Jade e o Ricardo foram também, deixando Rafa e eu a sós.
― Então, o que quer falar comigo? Não foi por esse motivo que você fez esse circo todo? ― Falei mesmo, já não estava muito bem. Mayana adoeceu no início da semana, pegou uma virose e acabou sendo internada com 40° de febre, tinha acabado de falar com a Gabrielli, a mãe dela, uma das pessoas mais maravilhosas que já conheci, aí, quando saí do banheiro dei de cara logo com quem? Parecia até que tinha sido combinado, Deus me livre.
― Não armei circo nenhum, será que podemos ser civilizados pelo menos por essa noite, tipo uma trégua, pode ser? ― Eu não estava querendo parecer nervosa, mas meu coração dava cambalhotas dentro do peito.
― Civilizados? Trégua? Quem foi que disse ainda a pouco "ou você vem comigo ou saio te arrastando pelo restaurante"? ― falei em uma imitação fraca. ― Mas tudo bem senhor dono da razão, se quer uma trégua, por mim tudo bem, não to com ânimo nem para discutir hoje.
― Está tudo bem? Estava chorando no banheiro quando nos encontramos, aconteceu algo? ― Pareceu preocupado de verdade, mas não diria o real motivo, não era da conta dele. Minha vida deixou de ser da sua conta há muito tempo.
― É apenas estresse, to na reta final concluindo meu TCC e estagiando. Falta só um ano e meio. To meio sobrecarregada, só isso.
― Sei. E você é uma péssima mentirosa, sabia? Tudo bem se não quer me contar, hoje resolvi levantar a bandeira branca. ― Aquele filho da mãe me conhecia muito bem. Escutei ao longe uma música linda, Espumas ao Vento, que se não me enganava, tinha sido composta por Dorgival Dantas.
― Quer dançar? ― Olhei para ele, dei um meio sorriso e falei que sim. Se levantou, estendeu a mão e segurei, caminhamos até a pista de dança e ele me puxou para perto. Ficamos colados um no outro e a impressão que dava era que ele queria que nos tornássemos um só. Depois de uns segundos ele começou a rir.
― O que foi? Aconteceu alguma coisa engraçada e eu perdi?
― Não exatamente, já prestou atenção na letra da música? ― Tinha ouvido antes, mas não tinha reparado nos detalhes.
"Sei que aí dentro ainda mora um pedacinho de mim
Um grande amor não se acaba assim
Feito espumas ao vento
Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa feito brincadeira
O amor deixa marcas que não dá pra apagar"
Comecei a rir também, a música contava detalhes sobre nós dois, que coisa mais estranha. Estávamos dançando ainda mais próximos agora. Ele dançava muito bem, nosso tio tinha ensinado direitinho. A forma como me segurava deixava minha pele quente, pegando fogo, e quando aproximou a boca do meu ouvido e começou a sussurrar o refrão da música, quase que me derreti nos braços dele.
"Sei que errei, tô aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo"
― Não faz isso Rafa, não é justo ― disse com a voz baixa.
― Sabe o que não é justo? Sentir sua falta depois de tudo o que fez, sentir saudades do seu cheiro, da suavidade da sua pele, de ter você assim tão perto de mim, como se fossemos um só, te querer mais que minha vida, isso não é justo. ― Depois que falou isso, tentei me afastar, mas ele não deixou, me segurando firme pelo quadril e pela nuca, esmagando meus lábios com os seus, invadindo minha boca com sua língua, me beijando como se nada mais no mundo tivesse importância. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço e nos perdemos um no outro não sabia por quanto tempo. Quando paramos um segundo para respirar, encostamos nossas testas uma na outra e ficamos esperando nossas respirações normalizarem.
― O que estamos fazendo, Rafa? ― Perguntei mais para mim do que para ele.
― Não sei, mas essa noite eu quero te amar e adorar cada centímetro do seu corpo. Seu apartamento fica longe? ― Sabia que iria me arrepender, mas naquele momento não estava me importando nem um pouco com as consequências.
― É uns vinte minutos de carro.
― Vamos. Quero você, preciso de você. ― Quem diria não a um pedido desse? Mesmo que viesse a me arrepender, faria valer a pena.
― Vamos. ― Nem terminei de dizer a palavra e ele já estava me puxando pela pista de dança, comecei a rir.
― Preciso avisar a Jade que estou indo. ― Quando falei isso, ele mudou de direção e encontramos a Jade, que estava no maior chamego com o Rodrigo, toquei no ombro dela, que se virou e inclinou a cabeça para que eu pudesse falar ao seu ouvido. ― Vou pra casa com o Rafa, então pode ir direto pra casa do Rodrigo. ― Ela só fez que sim com a cabeça, não questionou e nem perguntou nada. E mais uma vez me vi sendo arrastada pela pista, através do bar e pelo estacionamento até chegar ao meu carro.
― Você vai dizendo o caminho. ― Entrei no carro. Nunca vi alguém dirigir tão rápido.
― Se continuar assim, sofreremos um acidente antes de você adorar cada centímetro do meu corpo, então vai com calma, ok? ― Ele deu um meio sorriso e diminuiu um pouco a velocidade, estacionou o carro em uma das vagas disponíveis, abriu a porta e me puxou, começando a me beijar de novo, como eu estava de vestido, ficou com livre acesso as minhas pernas e ao resto do meu corpo. ― Vamos acabar presos por atentado ao pudor, sabia? E eu moro aqui ― falei quando desviou sua boca da minha e começou a beijar meu pescoço.
― Não me importaria de ser preso, mas já que seria um problema para você, então vamos logo. Quero me perder dentro de você. ― Dessa vez ele me colocou na frente e fui subindo as escadas, meu apartamento ficava no segundo andar de um edifício modesto onde só moravam estudantes.
Ele colocou as mãos no meu quadril e fomos subindo. Fiquei tentando abrir a porta, só que era complicado com ele beijando meu pescoço e se esfregando em mim. Finalmente consegui, ele nem me esperou trancar a porta e me empurrou contra a parede, pegando na barra do meu vestido e puxando, me deixando apenas de calcinha. Ajudei-o a se livrar da camisa e da calça.
Ele me empurrou novamente contra a parede e começou a beijar meu pescoço e colo, acariciando meus mamilos com as mãos enquanto sua boca ia se aproximando, sugou meus seios e suas mãos desceram até meu ventre. Não sei como fez, mas conseguiu estourar as laterais da minha calcinha, me deixando completamente nua. Tirou a cueca boxe, deixando meu corpo por alguns segundos, e quando voltou sua atenção para mim, começou a me devorar, mordiscando, lambendo e chupando cada parte do meu corpo, me deixando completamente louca. Sua urgência era tão intensa quanto a minha e tudo parecia estar acontecendo rápido demais e muito intensamente.
Não demorei muito até gozar, estava muito sensível, mas claro que não ia deixá-lo se divertir sozinho, agora era minha vez. Estava morrendo de saudades do corpo dele, das mãos sobre mim, parecia um vício. Fui guiando-o até o sofá e o empurrei, quando já estava sentado, fiquei entre as pernas dele e comecei a fazer o mesmo que fez comigo, mordi, chupei e lambi cada centímetro do seu corpo.
― Nanda, se você continuar, vou acabar gozando. ― Que bom, porque esse era o objetivo. Dei uma última chupada em seu pênis e subi para seu colo.
― Camisinha ― disse com a voz rouca.
― Eu uso implante hormonal no quadril direito, não tem perigo ― falei sussurrando, enquanto beijava e lambia seu peitoral, que por sinal estava muito gostoso, muito mais do que há alguns anos. Sentei, o encaixando dentro de mim, sentindo todo o seu tamanho e grossura, comecei a me mexer bem lentamente para torturar mesmo, ele tentou mudar a posição, mas não deixei e continuei.
― Você está querendo me matar, só pode, me deixa meter em você? Faço bem gostoso.
― E não está gostoso? ― falei quase sem fôlego. Comecei a acelerar quando estava perto de gozar, senti minhas pernas ficarem dormentes, só com ele que ficava assim durante o orgasmo, com nenhum outro era igual. Sentia falta dessa sensação, era muito gostosa. Depois do meu segundo orgasmo, ele me virou, mudando nossa posição no sofá e me colocando de quatro.
― Agora é minha vez. ― me penetrou como nunca antes. Ardeu e doeu um pouco, mas foi muito gostoso. Ele colocou uma mão na minha vagina, estimulando meu clitóris, e a outra segurou meu pescoço, me sufocando. A primeira coisa que veio na minha cabeça: ele está fazendo muito gostoso e eu to quase perdendo minha razão outra vez. Ele começou a dar estocadas cada vez mais rápidas e profundas e estava quase tendo outro orgasmo. ― Vai amor, quero mais uma gozada. ― Quando disse isso, a barreira dentro de mim se rompeu e gozei mais uma vez. Ele torceu meu clitóris bem na hora, o que fez com que meu orgasmo fosse ainda mais intenso. Dando uma última estocada bem forte, ele chegou ao orgasmo também e caiu em cima de mim. Não permanecemos assim por muito tempo, ele era muito pesado. Ficamos no sofá esperando nossa respiração voltar ao normal.
― Aprendeu coisas novas, gostei ― falei, me virando e ficando de frente para ele.
― Pois é, temos que evoluir ― disse com um sorriso que não chegou até seus olhos. Ele se levantou e pegou a cueca que estava jogada. Encolhi minhas pernas a as segurei com os braços, contra meu corpo.
― Você já vai? ― Era a pergunta que não queria calar.
― Essa noite não, a não ser que queira ― disse, virando-se em minha direção. Caminhou até onde estava, se sentou e me colocou no seu colo. ― Vamos viver esse momento, está bem? Amanhã conversaremos.
Passamos a noite toda nos amando e conversando, mas não sobre o passado, apenas amenidades. Falei um pouco sobre a faculdade e ele me contou um pouco sobre o escritório que abriu com o Alam e o tio Carlos, tomamos um banho bem gostoso e relaxante juntos, fizemos amor e dormimos.
Quando despertei no outro dia, senti um cheiro delicioso de café e encontrei uma xícara no criado mudo, estava muito bom. Olhei ao redor e percebi que o Rafa não estava, então reparei que a porta que separava meu quarto da pequena sacada estava entreaberta. Vesti meu robe e fui até lá, o encontrei vestido apenas com a calça jeans, tomando café e olhando para o tempo, perdido em seus pensamentos. O dia estava cinzento e nublado.
― Tão pensativo ― disse, me aproximando. ― Obrigada pelo café.― De nada, estava dormindo tão profundamente que não quis te acordar ― falou com um tom meio melancólico e se virou em minha direção. ― Eu só queria entender porque fez o aborto. Entendo que fiz merda e que nossa família estava em meio a discussões por causa da gente, por serem contra nosso relacionamento, sei que ficou com medo e assustada, que era imatura e inexperiente, e que depois da cena que viu quando chegou lá no apartamento, ficou com ódio de mim, tudo isso consigo entender tudo isso. O que não entra na minha cabeça é como a garota com quem cresci, que amei a minha vida toda, que admirava e com quem pretendia construir uma vida pôde ser capaz de realizar um aborto sem nem me contar que estava grávida de um filho meu, é isso que não entra na minha cabeça.
Enquanto falava, segurei minha respiração sem nem perceber, devia ter sido reflexo. O que ele queria que eu dissesse? Não podia falar a verdade, ele nunca me perdoaria, nem ódio sentiria por mim. Essa história envolvia outras pessoas também, então mais uma vez por medo resolvi me calar.
― Não tenho as respostas que você quer. Como disse, eu era imatura, tinha outras prioridades mais importantes, minha faculdade era uma delas, e naquela noite em que fui até seu apartamento, queria te contar, mas graças às armações da Susana não foi possível ― disse, olhando para ele. Já que enchia a boca pra dizer que eu era uma péssima mentirosa, tinha que fazer de tudo para que acreditasse no que estava falando.
― Está me dizendo que tirou meu filho por causa da sua faculdade, é isso?
― Não, estou falando que as coisas não são tão simples como está dizendo, e tão pouco preto no branco como tem pintado, às vezes tornam-se cinzas. Fiz muitas escolhas das quais me arrependo, mas cada uma delas foi necessária.
― Sei que não está sendo cem por cento honesta comigo, vejo isso em seus olhos. Sei que esconde algo de mim, só queria que me falasse a verdade. ― Ele parecia incrédulo por eu me recusar a contar a verdade. Como sabia? Rafael conseguia me ler melhor do que qualquer pessoa, até do que minha própria mãe.
― Acho melhor você ir. ― Encostei na grade da sacada. ― A única coisa que fez foi me julgar desde o momento em que viu aquelas malditas fotos, agora vem me falar em honestidade. Sou honesta com quem merece que eu seja.
― Inacreditável, você é inacreditável ― falou com um tom que me assustou, mas sem alterar a voz. ― Como pode dizer uma coisa dessas? Sabe que foi aquela cretina que me drogou e me levou até o apartamento. Como pode abrir a boca pra dizer que não mereço sua honestidade? Quer saber, Nanda, para mim chega. Fiquei me torturando e me culpando durante anos por causa de um erro que foi cometido por você. ― Ele entrou e fui atrás, pegou sua camisa e a vestiu. Não consegui falar mais nada e apenas o observei enquanto ele colocava os sapatos. Antes de sair, se virou. ― Um dia vou saber que tantas meias verdades são essas que esconde às sete chaves. Quando esse dia chegar, quero que se lembre de hoje, que te dei uma oportunidade de me contar tudo e que mais uma vez você optou pelo silêncio. ― Se virou e foi embora.
Fiquei sozinha, me deitei na cama, encolhi como uma bola e chorei como há muito tempo não tinha feito.
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