Uma crônica natalina.
Era 1995 e, aos 10 anos, eu vivia em um mundo de esperas doces e promessas de dezembro. Os dias de novembro pareciam se arrastar, como se não entendessem minha pressa em vê-los partir. Havia algo de mágico naquela espera — não a impaciência moderna, mas uma espera que trazia consigo o cheiro de gengibre e o calor do forno da minha mãe.
Mamãe era uma alquimista, uma doceira de mão cheia. Ela transformava ingredientes simples em pequenos milagres natalinos. Eu assistia ao seu ritual, o jeito como suas mãos se moviam com precisão e afeto. Mas eu, nascida com dedos desajeitados, jamais herdei seus dons. Minha missão era outra: pintar os doces com cores vibrantes, bolinhas gosto e estrelas linda, dando vida a cada formato. E, claro, comer. Comer muitos, antes mesmo de estarem prontos.
O tempo passou. Agora, quem espera ansiosa é minha filha. Seus olhos brilham, carregando a mesma impaciência que os meus "Mamãe, faz o doce da vovó?" — ela pede, sem saber que seu pedido me joga de volta à cozinha da infância, onde mamãe, paciente, moldava mais do que doces: moldava memórias.
E eu? Tento. Tento recriar o sabor que não sei imitar, mas o amor, esse eu herdei inteiro. Talvez seja isso que ela sinta, ao mordiscar os pedaços de uma tradição que insisto em manter. Porque, no fundo, o gosto do Natal não está no doce perfeito, mas na tentativa de fazê-lo com o coração cheio.
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