5. Tentando não surtar
Jericho saiu de fininho pegando um ônibus até o centro da cidade não queria fazer alarde e sabia que Gustaf provavelmente a veria pela hora do almoço, a garota foi até a biblioteca e depois de preencher o cadastro e selecionar os livros e revista se sentou em uma das poltronas, em sua mão haviam três: um revista com os homens mais cobiçados e ricos de Camelot, outra sobre aborto e por fim um livro com nome de crianças.
-- Meu deus o que eu estou fazendo? -- Se questionou roendo as unhas curtas e sem esmalte.
-- Não, eu não vim aqui para isso, eu não vou surtar. -- Selecionou outro livro dessa vez a respeito de esgrima e assim passou boa parte da tarde, na hora de os devolver viu os fios lilases atrás do balcão bem amarrados e sorriu levemente.
-- Jericho que surpresa vê-la aqui. -- Apesar da vergonha devido ao material de leitura o entregou rapidamente.
-- Olá Margaret. Não imaginava que viria aqui. -- Os olhos castanhos de Margareth passaram por cada um apenas para conferir a seção sem julgamentos.
-- Ah eu gosto muito, porém o trabalho de professora não me permite e em breve vou precisar arrumar alguém para trabalhar no meu lugar. -- Os orbes Âmbar brilharam, agora que estava grávida arrumar um emprego lhe parecia perfeito assim poderia finalmente se sustentar, não que lhe ocorresse que o salário de bibliotecária é alto.
-- Eu estou livre e adoraria trabalhar aqui. -- Foi direta, não que tivesse experiência, mas queria ocupar a mente ao máximo possível.
-- É mesmo? Eu vou providenciar tudinho. -- Margareth parecia feliz e Jericho não desperdiçaria uma chance dessas. -- Antes que me esqueça, o aniversário de Verônica será nesse fim de semana ia te convidar através de Guila, já que quase não te vejo, mas já que está aqui espero contar com você. -- A lilás estava sorridente e isso fez com que Jericho deixasse as preocupações de lado mesmo que fosse por um momento. Verônica é a irmã do meio do poderoso presidente do país, apesar disso ela escolheu transitar entre os mortais assim como Margareth a mãos velha e reservada que estava noiva do comissário adjunto Gilthunder, Verônica namora um policial de carreira com ascendência promissora conhecido como Griamor. Guila tinha mais contato com a futura aniversariante por ser amiga dela e a mesma também participava do time de esgrima.
-- Eu não costumo ir em festas. -- Jericho Respondeu rapidamente.
-- Vá nessa por-favor estamos chamando apenas os amigos próximos. -- O brilho no olhar de Margareth era tão puro que Jericho não conseguiu negar aceitando com um leve menear. -- Que bom, será no chapeau de sanglier. -- Jericho estranhou o nome.
-- É eu sei, Meliodas foi uma besta em colocar algo francês apenas para atrair os ricos, aposto que até o fim do mês o estabelecimento volta a ser Bar chapéu de Javali. -- Comentou levando Jericho a dar um leve sorriso, andava com a cabeça tão lotada que qualquer coisa mínima era o suficiente para lhe distrair.
-- Margareth pode não comentar sobre os livros que viu? -- A voz apesar de séria apresentava um olhar terno.
-- De que livros está falando? -- Tal resposta deixou a lilás muito satisfeita e após um tempo conversando retornou ao campus apenas para dar de cara com Gustaf esperando em sua porta.
-- Finalmente voltou! Escute vamos conversar agora, pegue seu casaco e te espero lá embaixo. -- Revirou os olhos.
-- Não sou mais criança irmão, podemos ir?
-- Então vamos, vou levá-la no melhor restaurante caseiro dessa cidade! -- Por um momento sorriu pensando que iria se distrair.
...
-- É sério Gustaf você não deve conhecer a comida daqui. -- A voz saiu descrente ao encarar o chapéu de Javali, o bar ao qual retornaria no fim de semana.
-- Eu já provei e posso afirmar que é uma delícia. -- Sorriu.
-- Há não isso é impossível! Todos que comeram aqui de alguma forma passaram mal. -- Jericho afirmou.
-- Mana o cozinheiro novo é muito bom prova primeiro. -- Mesmo receosa ela concordou, torcendo para não vomitar, não aguentava mais o enjoos e sabia que estava só no começo.
-- Agora me diga irmão, o que você quer conversar? -- Sempre direta a lilás observou o cardápio pequeno esperando por alguma pergunta a respeito de sua vida pessoal ou até mesmo uma sugestão de que ambos deveriam ficar juntos, mas o que vejo foi uma tremenda surpresa:
-- Eu conheci alguém há alguns meses e quero levar a relação a sério.
Jericho baixou o cardápio, Piscou diversas vezes tentando compreender o que estava acontecendo, seu irmão. Seu adorável, prestativo, ranzinza e zeloso irmão estava... Apaixonado?
-- Diga alguma coisa Jericho, parece que seu cérebro congelou.
Ela balançou a cabeça
-- Desculpa, não é todo dia que recebemos um milagre como esse. -- Brincou enquanto Gustaf revirava os olhos. -- Olha se está me pedindo permissão para namorar fique a vontade. -- Continuou ironizando, talvez tenha passado tempo demais com um certo prateado de olhos vermelhos e beleza inigualável.
-- Francamente Jericho! Isso aqui é sério. -- Até mesmo o semblante mudou. -- Eu estou falando sério. -- Gustaf mexeu nos bolsos do casaco social que vestia, revirando cada um até encontrar o que tanto queria e depois suspirou, a caixa de courino turquesa foi posta na mesa e empurrada com os dedos até ela, Jericho ficou descrente. Não é que não queira vê-lo feliz, mas para que Gustaf tomasse um passo tão grande as coisas devem ter fluído absurdamente bem.
-- A mamãe deixou para você e eu não poderia pedir outra pessoa em casamento antes de ter a sua aprovação, afinal foi guardado para quando o seu momento chegasse.
A seriedade dele rapidamente a alcançou e discretamente baixou os olhos dourados em direção a caixa, com delicadeza sentiu o tecido em contato com os dedos antes de abrir e notar o anel delicado com uma única pedra no centro, uma lágrima verteu pela face tranquila e um rápido sentimento de solidão a invadiu, imaginando que nunca sentiria na pele o que é ser tão importante para alguém ao ponto de desejar compartilhar uma vida.
-- Je... -- A canhota de Gustaf deslizou pela bochecha recolhendo a lágrima e ela fungou, amaldiçoando todos os hormônios que tinha. -- Se isso te deixa tão mal me perdoe, eu não queria...
-- Não é esse o motivo. Na verdade eu estou muito feliz por você irmão e se precisa do meu consentimento saiba que o tem. Só por favor, que ela realmente te valorize, do contrário vou atravessar meu florete nas entranhas dela. -- O semblante mantinha-se sério e tedioso só para deixar claro que não estava brincando e Gustaf cruzou os braços.
-- Se não é esse o motivo, espero que me conte por que estava chorando.
-- Não é nada demais, agora eu preciso fazer xixi. -- Se levantou com tudo fugindo do assunto e indo até o banheiro, se aliviou e lavou as mãos além de arrumar os cabelos em um coque, ao retornar para o restaurante viu que os pratos já estavam na mesa e que Gustaf conversava com alguém de estatura mediana e fios rosas, o respirar pesou ao se dar conta de quem se tratava.
-- Jericho, não sabia que viria comer aqui. -- Ela o encarou com roupas de garçonete.
-- E eu não sabia que trabalhava aqui. -- Ficou seria.
-- Ah hoje é uma data especial, quer dizer amanhã então estamos em peso na cozinha, só o Ban e o Meliodas que não estão aqui ainda, mas se quiser esperar.
Ela sorriu ameno querendo calar a boca do rosado na base do soco.
-- Gowther não tenho motivos para isso agora preciso comer. -- Arregalava os olhos e os desviava para o irmão.
-- Ah entendo, boa refeição para vocês -- Passou por eles se aproximando da lilás. -- Só para você saber, ele gostou muito de você.
Um súbito rubor tomou conta do rosto dela enquanto rindo de leve Gowther se afastava, Jericho se sentou a mesa feito um robô, pegou o garfo e levou a comida a boca, mastigando lentamente e repetindo o processo enquanto era analisada pelo irmão.
-- E aí o que achou? -- Ele questionou.
-- Bem boa. -- Limitou-se a comer.
-- Escuta Je, o que você tem com aquele cara esquisito que ficou te esperando na porta da enfermaria? -- Jericho quase cuspiu a comida, as vezes esquecia que Gustaf além de ser tão direto quanto ela, era perceptivo. -- Vai devagar ela não vai fugir irmã. -- Ironizou ganhando um olhar mortal.
-- É sério Jericho, a Guila me enrolou feito uma múmia e não disse nada, o que você tem com ele, por acaso são namorados?
"Não ele é só o cara com quem eu transo." -- Pensou.
-- Não seja louco irmão. Ele é só um conhecido que me socorreu e quis ficar para saber se eu estava bem. -- Nem ela mesmo comprava aquela mentira, Gustaf estava longe de ser burro, porém, não insistiria do contrário poderia estragar o bom almoço que estavam tendo.
-- Se você diz, agora me conte sobre seus meses e eu te conto sobre o meu, pode ser? -- Ela concordou. Aquele foi um trato firmado de muitos anos, jamais esqueceriam um do outro por só terem a si como família e pelo restante da tarde conversaram a respeito dos meses em que estavam distante, não viram como o tempo passou rápido e por volta das quinze horas Jericho regressou ao alojamento, Gustaf deixou um beijo sobre os fios tão coloridos quanto os seus e se despediu afirmando que traria a escolhida para conhecê-la antes do noivado, Jericho estava realmente feliz por ele e de certa forma sentia-se em paz, por esse motivo decidiu que passaria a tarde no parque, afinal seria melhor para ler os livros e ter uma melhor compreensão sobre o possível aborto, mesmo que pesquisar no Google fosse mais fácil, a lilás preferia os livros.
O parque não estava tão silencioso quanto imaginava, algumas crianças brincavam ao redor e algumas grávidas conversavam a respeito de seus respectivos bebês e isso deixava a lilás absorta.
"Por que toda vez que algo acontece com a gente, vemos mais do mesmo?" -- Se questionou mentalmente fazendo beicinho e agora sentia vergonha de ler um livro sobre aborto com mulheres de barriga por perto, se sentindo derrotada pela péssima escolha de lugar a garota se levantou do banquinho passando pela calçada e se afastando apenas para ver a pick up em tom vinho estacionada um pouco a frente.
-- Ai que merda... -- Sussurrou fazendo meia volta, não queria ser vista ou sequer conversar com o prateado, já bastava todas as emoções que teve ao longo do dia.
-- Ei Jericho né? Ban a sua garota está aqui. -- A voz do loiro ecoou e um famigerado tesc foi ouvido.
-- Não diga besteiras capitão. -- Jericho continuou se afastando lentamente e os olhos de Ban correram pelas costas dela, a roupa que usava deixava bonita e não conseguiu deixar de lado o fato do quadril da lilás está um pouco maior.
-- Deixa de babar, bom eu vou pegar o restante das caixas no depósito, vê se, se anima. -- Meliodas sorriu de lado enquanto Ban o achava um verdadeiro cretino praticamente o empurrando sobre a mulher com conotações sexuais.
-- Não quero atrapalhar seu trabalho, fora que estou atrasada para a faculdade, nos vemos depois. -- O Lincourt arqueou a sobrancelha sério, ela estava o evitando? Quando foi que Jericho passou a tratá-lo de maneira tão... Comum? Ambas as perguntas estavam na mente dele e detestou cada uma delas tanto quanto a sensação que percorreu seu corpo, porém, era cabeça dura o suficiente para não ir atrás da mulher, mesmo se corroendo. A lilás arrastou os pés lentamente pela calçada e pode ouvir a conversa perfeitamente:
-- Que mulher difícil que você arrumou hein Ban, o que foi que você fez para ela ficar assim? Será que não foi uma boa noite?
-- Vê se me erra capitão!
-- Eu vou te passa umas dicas.
-- Olha vai se foder, volta sozinho nessa porra!
A lilás apressou o passo, estava vermelha feito um morango por te ouvido algo tão indiscreto, respirou fundo apertando os livros no peito e olhou para o céu.
-- Pelo visto meu dia está longe se ser calmo, parece que hoje vou ter que forçar três vezes mais o meu cérebro. -- Com a pequena constatação seguiu para a universidade achando mais seguro estar em seu quarto quando fosse ler ou até mesmo relaxar, mesmo sabendo que passaria o restante do dia encucada com o fato de Ban não ter repreendido seu amigo, detestava se sentir confusa e nunca foi uma mulher de meias palavras, mas, com Ban, ás vezes é tão difícil ir direto ao ponto.
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