4. Sentimentos confusos
-- Pelo visto ainda bem que vim devolver essa bolsa.
A face de Jericho petrificou, sentiu uma leve vertigem lhe invadir e permaneceu sentada na cama em um desespero completamente mudo e foi a voz de Guila que acabou com aquele clima que já de início tornava-se tenso:
-- Ban! Que bom que trouxe isso, Jericho não parava de reclamar acredita? -- A esgrimista saiu do quarto o empurrando para dentro. -- Olha quando o meu almoço chegar eu pego, ao melhor. -- Guila adentrou o quarto pegou um post it escreveu algo e colou do lado externo da porta. -- Vou deixá-los sozinhos, acho que precisam conversar, volto a noite ao melhor vou dormir fora. Aproveitem.
A discrição da morena foi terrível, agora o prateado se encontrava confuso encarando a garota sentada na cama que mal lhe dirigiu o olhar, a porta do quarto estava fechada.
-- A bolsa garota, ver se...
-- Ah quanto tempo estava lá fora? -- O interrompeu sem olhar nos olhos alheios deixando-o levemente intrigado.
-- O suficiente para saber que estavam discutindo. -- Ela sentiu tido o corpo se arrepiar.
-- Então escutou o que estávamos falando? - ele respirou pesado, não entendia tal comportamento e por que ainda estava ali diante da garota confusa e de fato sentia-se extremamente incomodado com a falta de olhares, para Ban, Jericho sempre será a garota que fala olhando em seus olhos mesmo que esteja morrendo de raiva seja por conta de uma provocação boba ou uma discussão banal.
-- Eu tenho cara de fofoqueiro por acaso? -- Ela respirou pesado chegando a sentir uma leve dor nas costas e na cabeça por conta de tanto nervosismo. -- Beleza a bolsa já está ai agora eu vou embora, foi em direção a porta e a garota se levantou segurando em sua camisa.
-- Nós precisamos conversar. -- A seriedade no olhar de quem lhe encarava debaixo o fez menear e se encostar na porta de madeira, mesmo que por um minuto tenha sentido um receio por parte dela.
-- Sou todo ouvidos. -- Jericho respirou mais uma vez, toda a preocupação voltava a sua cabeça quando imaginava a possível rejeição, não que se achasse incapaz de sobreviver, mas queria evitar qualquer tipo de sentimento que a deixasse abalada, sua cabeça tilintava que deveria focar nos estudos e na gravidez e não em si mesma.
-- Ban eu não sei como dizer isso mas. Nós... -- O olhar dele parecia penetrar a pele cada vez mais pálida e por um momento de fraqueza a garota correu para o banheiro, dando tempo apenas de levantar a tampa do vaso e por toda a comida para fora, passou um bom tempo abraçando o vaso e vomitando depois se levantou, escovou os dentes e lavou o rosto todo com sabonete, a sensação de que se continuasse a vomitar provavelmente colocaria a própria bílis pra fora rondava sua cabeça. -- Que droga preciso de um dramin. -- Sussurrou prendendo os cabelos e quando saiu Ban estava sentado em sua cama.
-- Achei que tivesse ido embora.
-- Com você praticamente morrendo no banheiro? -- O que quer tanto me contar? -- Foi direito e a garota respirou levemente.
-- Preciso passar na farmácia Primeiro, não sei se consigo falar alguma coisa sem voltar para o banheiro e vomitar de novo, se estiver com pressa pode ir embora e nós falamos depois.
-- Tá de brincadeira comigo né Jericho? -- O maior se levantou. -- Vamos logo. -- Puxou-a pelo braço, Ban não costuma ser delicado, pelo menos com ela. Na verdade o prateado só expressou tal forma uma única vez e foi para sua finada esposa.
A garota puxou o braço de volta e agora se olhavam de maneira intensa:
-- Eu sei andar sozinha. -- E assim passou na frente dele que mentalmente aprovou tal atitude, por fora manteve a mesma cara impassível de sempre e assim caminharam pelos corredores da república e pátio estudantil, atravessaram a praça até estar perto da enfermaria ao qual havia uma farmácia ao lado. -- Se importa de esperar aqui fora?
Ele deu deu ombros, entendia que ela deveria querer privacidade e não via problema nenhum nisso, Jericho adentrou o local indo direto para o balcão de medicamentos notou a mulher de cabelos trançados em um tom de marrom escuro belíssimo que mais se misturava ao vinho e seus grandes olhos verdes.
-- Boa tarde em que posso ajudar?
Jericho olhou para os lados como se fosse uma criminosa e depois Sussurrou:
-- Umremedioparaenjoodegravida.
-- Desculpa mas não entendi.
Respirou fundo se acalmando:
-- Eu preciso de um remédio para enjoo que mulheres grávidas possam tomar, não é para mim, mas minha amiga está vomitando muito no momento.
A atendente riu de leve.
-- Olha o ideal é ir ao obstetra ele irá receitar o remédio corretamente, mas como ela está nessa situação os únicos que pode comprar é dramin, meclin e o dramin b6, todas devem ser tomadas em dosagens mínimas. -- A lilás assentiu.
-- Nesse caso me ver o Dramin.
-- Certo, pode ir para o caixa que eu levo o remédio. -- Jericho colocou a mão nos bolsos e bateu na testa logo em seguida, na pressa de se livrar da conversa e do enjoo acabou esquecendo a carteira.
-- Droga eu já volto, preciso pegar minha carteira. -- Saiu da farmácia rapidinho dando de cara com o prateado conversando com uma mulher que insistia em o tocar.
-- Vai me dizer que não está livre sexta feira? Há Ban é só mais uma festa meu bem. -- A conversa soava tão íntima que a lilás se viu obrigada a recuar para escutar.
-- Sennet eu não sou um adolescente pra ficar indo a festinhas de final de curso. -- Desdenhou.
-- Ban deixa de ser babaca. Me formo em medicina daqui a meio período e você nunca reclamou quando me visto de médica pra você. -- Piscou. -- Vai ser em um Yateclub, apareça por lá e quem sabe aproveita a noite ao meu lado. -- Deixou um beijo na bochecha do prateado colocando um cartão dentro de seu bolso e os olhos de Jericho vacilaram, ela sabia que não tinham comprometimento algum, mas entre saber e ignorar os próprios sentimentos são duas situações completamente diferentes e agora encarava o prateado que simplesmente revirou os olhos antes de vê-la travada praticamente na porta da farmácia e só pela expressão feminina soube que a garota presenciou tudo.
-- Comprou o seu remédio? -- A voz fez com que a mesma balançasse a cabeça saindo dos pensamentos indevidos
-- Não, mas eu tenho que ir para a aula -- O prateado logo desconfiou olhando para a lilás que começou a andar.
-- Mas que porra de comportamento é esse?
-- Ban você é um empresário deve ser ocupado e não estar à toa para ficar de babá de universitária não é mesmo? -- E assim saiu o deixando sozinho, apesar de sempre discutirem nunca era com seriedade e Jericho aparentava estar triste e distante algo que ele realmente detestou.
A lilás voltou para o quarto e se trancou lá dentro suspirou antes de se deitar na cama e fechar os olhos, sabia que era errado esconder um assunto tão importante por se sentir magoada por um sentimento que pertencia somente a si, afinal de contas o Lincourt não era sequer obrigado a corresponder a tais sentimentos há não ser que os sinta e ainda assim estava ali na cama deitada suspirando e resmungando por sentir-se mal. Jericho não sabe quanto tempo levou e sequer parou para pensar, apenas pegou no sono tentando deixar os pensamentos distantes.
Enquanto isso a caminho da empresa Ban tentava refletir o que estava acontecendo, por que se importava tanto com a garota com quem mantinha relações sexuais casuais, estacionou na garagem privativa e foi em direção ao prédio que lhe pertencia ignorando não propositalmente seus funcionários já que não parava de pensar na lilás, no relógio de pulso viu que o horário consistia com a folga de Meliodas e que só teriam que tratar de negócios daqui há duas ou três horas e assim avançou até o escritório do sócio que quase nunca ficava na empresa, abriu a porta com força encontrando o loiro com seis latas diferentes de cerveja na mesa e seis copos
-- O que você está fazendo? -- Meliodas parou de encarar as latas para olhar o amigo encostado na porta.
-- Não é óbvio? Essas são as nossa principais concorrentes comprei uma cerveja de cada marca para ver quais são as chances delas serem tão boas quanto a nossa. -- Meliodas sorriu.
-- E a que conclusão chegou capitão?
-- Que todas são uma merda. -- O loiro riu. -- A maioria é comum, apenas uma tem sabor e parece abacaxi o que não foi feito direito e tem cheiro de urina, ou seja, zero preocupação. Vamos lançar a cerveja de maçã verde e vamos estourar. -- Cruzou os braços, Ban respirou lentamente antes de ir até a mesa e pegar um dos copos e provar qualquer uma das bebidas sobre a mesa.
-- Hum, não são ruins, são comuns. -- Pegou a lata e bebeu direto o que chamou atenção do loiro, conhecia o amigo bem o suficiente para sabe que algo não estava bem já que ambos costumavam beber juntos, porém bebidas de qualidade e não cervejas que julgavam belas porcarias.
-- E qual é o seu problema?
Ban o olhou de canto antes de terminar a lata.
-- Sabe aquela garota que levei no restaurante do King? -- Ele assentiu. -- Ela é o problema.
-- Olha pra mim está mais para a sua solução. Vamos ser sinceros desde que a Elaine faleceu você nunca mais se relacionou com ninguém, se levou a garota para nos conhecer é por que está rolando alguma coisa. -- Meliodas arqueou a sobrancelha diversas vezes com sua face maliciosa.
-- Não viaja capitão é só sexo. -- Aqui o loiro riu achando que seu amigo contava a maior das piadas.
-- Beleza se você diz, não sou eu quem vou contrariar, só acho que se essa garota fosse só sexo você não estaria preocupado e muito menos aqui na minha sala para falar sobre ela. -- Ban não disse mais nada apenas pegou outra lata e bebeu no gargalo antes de sentar na cadeira. -- E ai vai chamá-la para o aniversário de casamento do King?
-- Não diga besteiras. E já que estou aqui vamos adianta logo essa reunião. -- No fundo o prateado só queria deixar esse assunto de lado e se concentrar em entender o que realmente estava acontecendo e o motivo de tanto desconforto em relação aos atos de Jericho, já que em sua cabeça era impossível se importar ou se preocupar com outra pessoa no sentido que Meliodas sugeriu se ela não fosse sua amada e doce Elaine.
...
Jericho acordou depois de ouvir inúmeras batidas na porta, percebendo que lá fora já estava escuro e por um curto momento se perguntou o quanto dormiu antes de ir até a porta destrancando-a.
-- Nossa pela demora achei que estava com o Lincourt. -- Guila sussurrou.
-- Hum? Não ele foi embora há muito tempo. -- Esfregou os olhos.
-- E a conversa como foi? Contou que ele vai ser pai, que está pensando abortar? Fala de uma vez Jericho. -- Guila se descontrolou levemente, algo que além de raro dizia muito sobre sua personalidade.
-- Nós não conversamos. -- A lilás foi até o pequeno frigobar que havia no quarto pegando uma garrafa d'água, depois de beber se sentou na cadeira próxima a mesinha de estudo. -- Até tentei mais comecei a passar tão mal e depois o vi ocupado com outra e desisti. -- Falou simplista.
-- Pera aí Jericho, explica esse assunto direito. -- A morena exigiu e sem muito animo ela contou, Guila entendia os sentimentos da amiga, mas sabia que ela estava errada em não contar, que não deveria misturar os sentimentos próprios com o bem estar da criança que estava carregando por mais difícil que fosse separa a razão da emoção, era assim que deveria agir.
-- Você sabe que não deve omitir. Até mesmo por que se resolver gerar essa criança, não vai demorar muito pra ele se ligar. -- A lilás suspirou, no fundo queria apenas se preocupar com a faculdade, mas estava tão confusa e seus sonhos pareciam tão distantes...
-- Amanhã teremos o dia inteiro de folga por conta da manutenção do ar condicionado de todas as salas, por que você não aproveita para descansar e pensar no que realmente quer fazer? -- Sugeriu e a amiga sorriu antes de abraça-la com carinho.
-- Talvez quando acorde amanhã eu já tenha saído. -- Informou deixando a amiga confusa, mas os próprios pensamentos insistiam em ditar as regras de maneira impulsiva.
-- O que você vai fazer Jericho? -- Guila a olhava de maneira desconfiada ganhando da lilás um sorriso aberto antes da mesma se levantar.
-- No momento tomarei um banho, pois estou precisando. -- E assim foi em direção ao banheiro deixando Guila cismada, mesmo que não precisasse se preocupar, afinal Jericho não faria nada que pudesse se prejudicar.
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