11.Estabelecendo uma boa relação
-- Precisamos conversar. -- Ban afirmou conforme os lábios de Jericho pareciam selados.
Jericho sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto observava Ban pegar seus livros e sua bolsa. Ela sabia que essa conversa era inevitável, mas isso não tornava as coisas mais fáceis, engoliu em seco, tentando reunir a coragem que aparentemente foi embora enquanto seus olhos se encontravam com os de Ban.
-- Sim, precisamos -- ela finalmente respondeu, sua voz soando mais frágil do que gostaria.
Ban assentiu, parecendo notar a tensão que pairava entre eles. Ele respirou fundo antes de falar novamente, sentindo que parte dessa tensão se devia a ele e suas reações exasperadas quando estava extremamente bêbado.
-- Eu sei que não agi da melhor forma com você... -- ele começou, suas palavras saindo em um murmúrio. -- Mas se esse filho é meu, não dá pra ignorar a conversa.
-- As coisas estão tão confusas... Eu não sei o que fazer em relação a essa gravidez. -- Jericho admitiu, despida de suas inseguranças a respeito do bebê por pelo menos um minuto e então olhou a face de Ban, que soltou um suspiro, parecendo entender sua hesitação e já a encaminhando para o carro.
-- Eu entendo. Vamos conversar em um local apropriado, longe de tanta gente fofoqueira. -- O platinado notou alguns olhares sobre eles conforme caminhavam até o carro. -- Vamos para a minha casa.
A afirmação deixou a lilás sem saída, mas não se sentiu mal por isso.
O trajeto até a casa do platinado foi feito em silêncio, hora ou outra, Ban desviava o olhar para ela, notando como as bochechas estavam um pouco mais redondas, a pele mais bonita e o olhar distante na janela contemplando a paisagem usual. Ban estacionou na garagem interna e pegou os livros.
-- Quando começou a carregar esse peso? -- Ele abriu a porta, dando espaço para ela entrar.
-- Eu comecei a trabalhar na biblioteca recentemente. Inclusive foi o motivo da minha demora, peço desculpas por isso. -- Sussurrou desviando o olhar e largando a bolsa no sofá, e claro que ele não caiu nessa, mas não poderia simplesmente afirmar que sabia que ela estava mentindo ou fugindo.
-- Entendo, vamos comer e conversamos, pode ser? -- Ban seguiu até a cozinha e ela fez o mesmo, na verdade, conhecia bem o primeiro andar da casa, já que costumava transar com ele ali. Exceto na primeira vez que Ban estava um pouco alto pelo álcool, mas completamente sã e o que começou no sofá terminou na cama.
Jericho sentou no banquinho apoiando as mãos na bancada, observando os trejeitos dele, a forma como dobrava as mangas da camisa social, as mãos sendo lavadas calmamente antes de separar a tábua de madeira para os legumes crus e a faca afiada, depois a tábua para as carnes e por último os temperos, e mais uma vez a mente dela vagou.
Eu não sei nem fritar um ovo, como vou cuidar dessa criança? Eu sei me virar muito bem, mas não cozinho nada!
Ela espremeu os lábios conforme via aptidão de Ban na cozinha e, quando ele acabou de preparar a salada, serviu a ela.
-- Prova um pouco. Deve estar cheia de fome, para estar com a cara tão feia assim. -- As bochechas dela ficaram vermelhas.
-- Hei! -- Reclamou aceitando o garfo enquanto Ban se virou, indo em direção à bancada e claro que deu um sorrisinho.
-- Está do seu agrado? -- Ok, se a ideia dele era quebrar a lilás, estava conseguindo. Não que Ban seja um ogro, mas estava mais cuidadoso do que o normal e Jericho gostou dessa sensação, mesmo que quisesse a afastar, pois, no final, sempre acabava.
-- Hurun.
-- E está enjoando muito? -- Perguntou enquanto cortava a carne.
-- Bastante, mas é normal, pelo que li nos livros, as mudanças ainda nem começaram de fato.
Ele salteou a carne e depois colocou os legumes para cozer no vapor, assim como o arroz na panela elétrica, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água gelada, além de maçãs, ligou o processador e preparou o suco, dando um toque de acidez com meio limão, depois entregou a ela e pegou uma cerveja.
-- Está tudo muito gostoso. -- Ela sussurrou, limpando os lábios no lenço de papel.
-- É só a entrada, você precisa comer por dois e começar as consultas do pré-natal. -- Por um minuto, a cabeça dela divagou, como ele sabia sobre tudo isso? Ela balançou a cabeça, deixando esses pensamentos de lado.
-- Eu serei direto Jericho, esse filho é meu e eu o quero. -- Ela piscou diversas vezes e por um segundo bebeu o suco de uma vez.
-- Como... Por quê?
-- Você queria tirar? -- Respondeu à pergunta com outra sem se importar com a face confusa dela e o olhar estava mais julgador do que imaginou e só pela reação sabia que tinha razão.
-- Isso é pessoal. -- Ela respondeu.
-- Eu sei que o corpo é seu, Jericho, mas esse filho é nosso. -- Ele respirou pesado. -- Olha, eu sei que não é o que você queria, mas não pense em abortar. -- Ban se aproximou mais, colocando a mão sobre a dela. -- Sei que não tem garantias nenhuma da minha parte e que eu não tenho direito de te pedir nada, mas eu quero consertar as coisas. Eu quero estar aqui por você, Jericho. Eu... Eu me importo... -- Os olhos dela brilharam e notou o desconforto no rosto de Ban, que logo complementou: -- Com esse bebê.
Jericho olhou para ele, vendo a sinceridade em seus olhos. Ela se sentiu boba por achar que se importaria com ela, quer dizer, Ban nunca tinha sido um babaca, exceto até aquela festa, mas agora tinham muita coisa em jogo e, no fundo, queria acreditar nele, queria acreditar que as coisas podiam se resolver com tanta facilidade e, ao mesmo tempo, estava com medo. Medo do desconhecido, medo do que ocorreria com o futuro que planejou.
E ainda assim, o olhar pesava toda vez que via uma grávida ou pensava em tirar e era surpreendida por alguém com um bebê. Jericho se sentia pressionada pelos meios e não por alguém, mas de fato a ideia de abortar havia sido deixada de lado há muito tempo, os ombros tensos e o olhar um pouco mais longínquo.
-- Eu também me importo, Ban -- ela disse, sua voz tremendo ligeiramente. -- Mas eu ainda tenho que resolver minha vida. Não vou interromper essa gravidez, terei o bebê.
As palavras dela foram tão secas que para o Lincourt em nada se parecia com a Jericho com a qual estava acostumado.
Ban alisou a própria nuca, procurando palavras mais calmas para lidar com a situação, pois, na mente dele, lembranças nada agradáveis perduravam e só a possibilidade e intenção de Jericho de querer tirar o filho, mesmo que seja no passado, eram o suficiente para trazer o que muitos chamam de gatilho à tona.
-- Acho que podemos tirar as manhãs vagas das suas aulas para fazer as consultas. Eu conheço uma médica boa. Muito boa, se não se importar, marcarei imediatamente.
Ela balançou a cabeça concordando, a conversa nem tinha saído da forma como imaginou ou tinham conversado de fato. Ele falou, ela concordou e fim.
-- Nesse caso, irei embora após a refeição. -- Jericho afirmou se levantando para pôr os utensílios na pia, porém, Ban a parou e tomou os itens da mão dela.
-- Vamos a Liones, Amabel é uma médica que balanceia a sua agenda por quinzena. Não vou esperar tanto assim.
-- Ban, eu tenho o meu trabalho e as aulas. -- Jericho afirmou, apesar de ser verdade, só queria evitar viajar com ele.
-- Jericho, eu não estou te pedindo pra faltar com os seus compromissos. Se saímos daqui em até três horas, estaremos de volta amanhã antes do almoço e sei que suas aulas são somente à tarde na véspera de fim de semana. -- Ela piscou diversas vezes.
-- Como você sabe disso?
O sorriso de Ban beirava a um cafajeste, não poderia deixar claro que sabia de tudo relacionado a ela que achava necessário graças a Gowther.
-- Digamos que eu tenho uma boa memória. -- Jericho o encarou envergonhada. Já achava estranho ele não ter exigido um teste de DNA, mesmo que se sentisse extremamente ofendida se ele o fizesse, mas a certeza dos pensamentos de Ban também eram desconcertantes.
-- Ok, super memória, eu tenho algumas coisas pra fazer. -- Mentiu e ele passou a mão nos fios claros, veja bem, além de ser um homem mais velho. Ban também tinha a experiência de seu relacionamento anterior, então sabia bem quando uma mulher estava fugindo.
As mãos agiram mais rápido que a consciência do platinado quando seguraram na cintura dela. Jericho travou e emudeceu pelo contato, nas únicas vezes que estiveram assim, o platinado estava minimamente alterado pelo álcool. Sempre à noite e quando transavam.
-- Jericho para de fugir. -- Se aproximou mais, notando que a reação dela foi continuar travada antes de soltar todo o ar dos pulmões e se afastar.
-- Eu preciso pegar roupas e...
-- Eu compro o que você quiser no caminho. Vai que desiste, não estou confiando muito na sua decisão.
A lilás revirou os olhos achando aquilo um absurdo.
-- Eu vou à minha casa buscar as minhas coisas e pronto! -- Apesar das palavras firmes, Jericho não possuía alteração de humor, pelo menos ainda não, Ban apenas concordou voltando pro fogão, não queria contrariar uma grávida e Jericho torcia para que ele continuasse com esse bom humor, afinal, Ban costumava ser peculiar com os poucos sorrisos e olhar afiado.
Olhar esse que a encantou ao ponto de se apaixonar profundamente, mas, infelizmente, não era correspondida... Pelo menos essa é a certeza da estudante, sem saber que, no momento, uma fina rachadura se formava nas muralhas que Ban ergueu em volta do próprio coração após perder o grande amor da sua vida.
_人人人人人人_
Notas finais: Até breve , quando acabar de escrever o próximo posto ♡
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