Capítulo 8 - Pochemuchka.
NA: Duas informações adicionais antes do início do capítulo: 1) DESCULPEM A DEMORA! Anyway, não é isso que eu vou dizer. É só para avisar que semana que vem o capítulo será postado no DOMINGO À NOITE, por motivos de: semana de prova. E 2) ESTAREI DANDO SPOILERS NOS COMENTÁRIOS!!! Mas como assim????? Simples! Assim que terminarem o capítulo, vão nos comentários e comentem quais são seus ships (máximo de 3 casais por pessoa para spoiler) que eu responderei com uma música que dará spoiler sobre o futuro dos casais! É só isso! Beijinhos!! E sim, o cap tá cheio de música da Avril Lavigne como trilha sonora!
Andar de moto me dava uma dualidade de emoções. Uma hora, era como se eu estivesse na borda do limite e tudo se tornasse possível, com o vento ao meu favor e a vibração de adrenalina que me preenchia, e eu simplesmente pudesse desligar tudo ao meu redor e me jogar no desconhecido. Mas, em outras ocasiões, quando o pânico preenchia meu estômago com uma sensação fria, tudo o que eu mais queria era me encolher contra James e reduzir toda a minha percepção do mundo à minha volta. Como se eu pudesse diminuir de tamanho e desaparecer na insignificância do momento. Esse contraste de sabores, essa alternação entre extremos, essa pequena parcela de opostos era o que espalhava uma eletricidade pelo meu corpo. Não importava se eu estava nadando na euforia ou afogada no medo, tudo o que me instigava era que eu estava, de alguma forma, vivendo tudo intensamente. James parecia apreciar essas minhas mudanças bruscas de comportamento, porque toda vez que eu me agarrava com ele por puro pânico, ou mesmo quando gritava para a noite em êxtase, ele soltava uma risada gostosa. Durante todo o caminho, eu senti sua palma quente contra a minha. Durante todo o caminho, eu me questionei sobre a forma que meu peito dava um solavanco sempre que sua mão descia sobre a minha e o que diabos estava acontecendo comigo.
Eu pensava que estávamos indo para casa, mas eu devia ter desconfiado dos sensos de cavalheirismo do Carter. À medida que a mata, que nos engolia vertiginosamente, pareceu adquirir um aspecto estranho e os caminhos tornaram-se muito turvos e esburacados, com a perda do asfalto da estrada à nossa volta, eu deveria ter percebido. Mas eu estava muito ocupada com o turbilhão de sentimentos que ricocheteava ao meu redor.
Agora, parada encarando o nada, entendo como fui negligente. James está saindo da moto, uma perna de cada vez, com a expressão neutra esperando alguma reação minha. Estou muito chocada pra esboçar resposta.
- Por que não estamos em casa, Carter? - pergunto com um filete de voz, ainda montada na moto.
- Eu quero te mostrar algo. - ele diz, simplesmente, como se estivesse dizendo "porque o céu é azul". Eu rolo meus olhos, saindo da moto.
- Eu não quero que você me mostre nada. Eu quero ir pra casa! E que tipo de resposta é essa? "Eu quero te mostrar algo". - cito fazendo uma imitação forçada da sua voz grossa. - Até agora eu não aprendi a adivinhar charadas, então você vai ter que me falar!
James apenas atravessa seu olhar até mim, sustentando minha expressão firme, e, então, como se estivesse se deleitando com tudo isso, ri.
- Você é estranha, Liviana Harper. - ele balança a cabeça e se vira para encarar a noite.
Nós estamos no meio do nada. Há uma mata densa a nossa frente, desafiando-nos a adentrá-la, mas o resto limita-se a barro e escuridão. Para minha surpresa, James não faz mais nenhuma menção; ele apenas limita-se a me lançar um olhar significativo, antes de entrar na bruma com um sorriso debochado.
- O que você quer dizer com isso? CARTER? Volta aqui, Carter! Onde você pensa que está indo? EU NÃO VOU ENTRAR NESSA MATA! Você está planejando me matar e esconder meu corpo aí? JAMES! - eu grito para o nada, sacudindo os braços enfaticamente.
Ele volta só para me dar uma careta desinteressada.
- Você vem ou não, bonita? - ele vira o corpo, ameaçando voltar. - Tudo bem, fique aí indefesa com todos esses assassinos do saco à espreita...
Que droga! Eu encaro minhas laterais, encarando o absoluto vazio, ouvindo os pios ocasionais de corujas e o farfalhar de folhas. Meu corpo treme com a possibilidade de ficar ali sozinha. Eu o sigo a contragosto, correndo, tentando não imaginar cenários horríveis para minha morte.
- Seu idiota. - eu o esmurro assim que o alcanço.
- Estamos aqui para enfrentar seus medos. - ele fala de forma didática. - E como o seu é ficar sozinha comigo...
- Pare de falar merda. O que estamos fazendo aqui? - eu exijo. - E eu não tenho medo de ficar sozinha com você! Eu tenho medo do que pode acontecer caso eu fique.
- Tipo não resistir ao meu charme característico?
- Tipo te matar.
- Ah, princesa, você acha que essas palavras me ferem, mas elas são apenas um combustível que me alimentam a te irritar. - ele responde diplomaticamente com um sorriso sacana. Mas, então, sua expressão torna-se branda.
A única iluminação que nos contorna é a luz bruxuleante da lua, que dá a ele um aspecto enigmático. Estamos andando lado a lado, encolhidos perante o negrume incessante da relva. James parece saber onde pisar e o que fazer, porque está sempre me apontando onde virar, o que é reconfortante.
- É aqui. - ele informa, segurando um galho para abrir caminho.
- É bom que não seja a minha cova. - eu comento quando passo por ele. Ele tem aquele sorriso cínico nos lábios que me tira do sério.
Assim que entramos na clareira, sinto a claridade lunar se expandir pela ausência do matagal dissipador. À minha frente, o reflexo da lua se espreguiça na superfície de um lago, clareando a noite escura com seu brilho. Há um caminho de passos marcados no solo arenoso, guiando o trajeto até uma casa abandonada na beira do lago. A estrutura do casebre é de uma madeira decrépita e carcomida, delatando a ação do tempo na textura do edifício. É uma construção simples: uma cabana descuidada com uma porta, duas janelas e uma varanda. A borda da casa é quase dentro do lago, deixando que a varanda toque na água límpida. James me ultrapassa e se encaminha até a varanda, sentando-se na escada com os pés virados para a água, me encarando numa indicação para que eu me aproxime. Eu contorno a cabana e me sento na outra extremidade, somando distância dele, o que o faz rir.
- Você é muito teimosa. Por que você tem essa necessidade de se provar diante de mim, mesmo com o menor gesto? - ele questiona, quebrando o silêncio.
- O que? É um horror tão grande uma garota não sentar no seu colo? - rebato com ironia.
- Nem um pouco, bonita. Eu sou fã das primeiras vezes. - ele responde, simplesmente. Seu tom está carregado de algo que eu não consigo decifrar. - Bom saber que coleciono algumas com você.
Ninguém deveria ter um poder tão grande com as palavras, mas, de certa forma, quando ele junta as sílabas numa sentença elaborada, James Carter consegue ministrar um sentido profundo para algo que não passa de uma oração solta ao acaso. Sua declaração me faz ficar muito ciente da sua presença, fazendo-me assistir de soslaio a forma como a brisa perpassa o ar e atinge suas madeixas pretas, sacodindo seus cachos e cobrindo sua expressão. Durante esse intervalo ínfimo de segundos entre uma fala e outra, ele exibe um sorriso de quem sabe muitas coisas, mas não as segreda para o mundo.
- O que viemos fazer aqui? - solto a pergunta mais uma vez, posicionando meu queixo contra o joelho.
- Você já vai ver.
Canso-me de buscar respostas que nunca chegam. Assim, farta e pensativa, movo minha cabeça para apreciar a vista lúgubre ao meu redor. A forma como a lua beija a água pálida do lago chega a ser uma reverência, cheia de cumplicidade e luxúria, e o contorno do horizonte captura minha atenção por um segundo.
- Converteu-se-me em noite o claro dia. - James proclama para o relento, declamando as palavras com fervor. Eu movo meus olhos na sua direção, perdendo-me no seu perfil. Ele está encarando a paisagem, com o cenho franzido de uma forma reflexiva, os lábios crispados num sorriso de apreciação e os olhos viajando pelo esboço daquela pintura viva. Então, pra continuação da fala, ele se vira na minha direção e nossos olhos se prendem: - E, se alguma esperança me ficou, será de maior mal, se for possível.
- Isso é...?
- Camões.
- Camões? - falamos em uníssono.
Eu dou uma risada irônica, tentando disfarçar meu embaraço pela intensidade do seu olhar.
- Nunca te imaginei como o tipo que recita Camões ao luar!
- Ah, então você me imagina como algum tipo? O tipo devastadoramente bonito? Misteriosamente impressionante? - ele ergue as sobrancelhas com divertimento. - Importa-se de elaborar?
- O tipo que é bilíngue na arte de garotas e bebida. - começo, provocando um sorriso exibicionista nos seus lábios, o que me obriga a continuar: - Mas que, por causa disso, tem algum defeito no cérebro que o impede de formar frases coerentes que não sejam cantadas baratas e comentários irredutíveis.
- Ah, então você acha que eu sou o tipo mulherengo?
- Se você quer atribuir rótulos, quem sou eu para impedir?
- Tudo bem, o título me serve. - ele assume uma posição conformada. James ri baixinho e, balançando a cabeça negativamente, aproxima-se de mim. - Você sabe que as coisas não são tão quadradas assim, né? Nem tudo no mundo é preto e branco, Liv. Às vezes, a vida se sai cinza. Um cara pode curtir mulheres e bebidas, e ainda assim apreciar literatura. Não é absurdo fugir do padrão.
- Eu sei. - eu solto uma risada amarga. - É que me pareceu mais fácil te julgar por algo superficial do que me dar a liberdade de te conhecer.
- E por que isso? - ele pergunta, sua voz morrendo com a nossa proximidade.
Eu quase não percebi, mas James diminuiu o nosso espaço com agilidade, ficando a um palmo de distância, deixando-me completamente alerta ao seu lado. Estamos tão próximos que consigo sentir seu hálito quente soprar contra minha bochecha, uma mescla de álcool com hortelã.
- O que? - pergunto de forma abestalhada, perdida na profundidade dos seus olhos cor-de-ébano.
- Por que te dar liberdade para me conhecer era difícil?
Porque te conhecer era um desafio que eu não sabia se estava disposta a encarar, penso. Mas, na verdade, digo:
- Porque a mera menção da sua existência me jogava num estado profundo, escuro e soterrado de irritação.
- Você fala essas coisas, mas minha mente traduz como "blábláblá não conseguia me permitir te conhecer porque temia que, assim que conhecesse, me apaixonaria alucinadamente".
- Aí está. Acho que estou sendo enviada novamente para o estado introspectivo de tédio profundo proporcionado pela sua presença. - pressiono o indicador contra as minhas têmporas, fingindo me desligar do seu diálogo infindável.
- Deixe-me presenteá-la com um rótulo, Srta. Meu-Sarcasmo-Me-Protege-Do-Mundo-Ao-Meu-Redor. - James me cutuca com o cotovelo, obrigando-me a encará-lo de volta. - Você é o que eu chamo de "Garota Ostra". Dura por fora, exibindo uma crosta que serve para resguardá-la dos problemas que abatem o mundo ao seu redor, e mole por dentro, revelando uma sensibilidade que é protegida à primeira impressão, tão escondida que apenas só os espectadores mais ávidos conseguem captar a essência.
- E desde quando você virou um observador tão experiente a meu respeito? - rebato, ligeiramente ofendida por ele ter conseguido me desfazer com tanta facilidade.
- Sempre quando você não está olhando. - ele me confidencia próximo do meu ouvido, com um sopro singelo que faz meu coração bater mais rápido.
Assim que seus lábios murmuram contra meu ouvido, eu tenho um ataque de nervosismo. E, para os leigos desinformados, toda vez que tenho uma explosão de nervos, eu me afogo em álcool e gel em busca de algum conforto. Com James Carter parado ali, me encarando como se eu fosse a única coisa que importasse, não havia álcool e gel no mundo que acalentasse meu temperamento. Mas, mesmo assim, saco o álcool e gel do meu bolso traseiro e espremo uma quantidade considerável nas minhas mãos, esfregando o conteúdo contra as duas palmas. James apenas me encara sem entender o que está acontecendo.
- O que você está fazendo? - ele questiona com o riso preso.
- Eu não sei que tipos de germes há em você! - rebato com força, corando ligeiramente pela mentira.
James não se sente ofendido. Na verdade, ele apenas ri abertamente.
- Você é realmente alguma coisa, bonita. - ele sussurra pro ar. - Só estou curioso para saber o que.
Suas palavras ambíguas me tiram do sério. Eu não sei se ele está flertando, refletindo ou tirando uma com a minha cara.
- Esse é o seu plano? - eu solto com raiva. - Você traz garotas pra cá, contando com o clima do ambiente, começa a rotulá-las e fica soltando essas frases expressivas sem sentido? Você nunca é direto na vida?
- Por quê? Está funcionando? - ele rebate com interesse. Eu bufo consternada. Ele não existe!
James se empertiga no batente, levantando-se num pulo para se posicionar na minha frente. Ele se ajoelha rente a mim, perscrutando minha expressão com aqueles olhos escuros que falam tanto, mas não dizem nada.
- Por incrível que pareça, Liv, nem todo movimento meu tem o intuito de entrar nas calças de uma garota. - ele fala sério. Sei que está levando a sobriedade do momento a sério pela forma que pronuncia meu nome. - E eu nunca trouxe ninguém aqui.
- O que? E por que eu estou aqui?
- Não sei exatamente. Por tudo o que você passou na Fogueira? Por Marien me dizer que você não está se adaptando? - ele solta as perguntas pro ar. - Você me dá essa vontade idiota de ser um cara legal que faz algo por alguém.
- Não estou entendendo, James.
- Espere, você já vai ver. - James sussurra baixinho e se senta bem do meu lado. Sem espaço entre nós dessa vez. - Acho que você está muito apegada às coisas que você fazia na cidade grande, que não consegue enxergar todas as coisas que perdia lá.
Eu não falo nada. Estou meio que hipnotizada pela forma que sua voz rouca discursa. Talvez ele esteja certo. Talvez New York tenha me feito perder muitos momentos da vida. Talvez os momentos tenham deslizado para fora do meu alcance porque eu estava convicta demais em não enxergá-los.
- Como é morar aqui sua vida toda? Não tem nenhum lugar que você gostaria de ir? Quero dizer, você tem o mundo todo à sua espera lá fora.
Ele se surpreende pela minha pergunta.
- O pessoal daqui pode até não ter senso de privacidade, mas a cidade não é ruim. - ele fala. - Cada um tem sua definição de liberdade. Para você, é poder fazer o que você quiser sem que ninguém se intrometa. Para mim, é ter o poder de fazer o que eu quiser mesmo que alguém se intrometa. Em Leavenworth eu tenho isso. Eu sei que eu posso sair amanhã e fazer absolutamente qualquer coisa, e ninguém vai reclamar. Pra falar a verdade, alguém pode até querer fazer também. Por que você acha que temos tantas tradições? E eu me sentir bem em um canto, a ponto de chamá-lo de lar, não significa que eu não tenha vontade de explorar outros lugares.
- Entendo. - é tudo o que eu digo.
Fico ruminando suas palavras por um tempo, até perguntar:
- O que há de tão especial sobre esse lugar?
- Eu venho aqui para pensar. - ele joga o corpo para trás e deita contra o piso de madeira empoeirado.
- Então James Carter tem um lugar secreto? - eu dou uma risada debochada.
- Não é secreto, todo mundo vem aqui. - ele ri comigo. - Eu só uso para fins didáticos, quanto os outros...
- James! - eu o censuro, achando graça.
- Liv, olhe! - ele chama minha atenção.
Eu movo minha cabeça para acompanhar seu olhar, tentando entender seu súbito interesse num lugar qualquer. Meus olhos pousam em alguns pontos de luz, que cortam o ar com displicência, na beira do lago. Minhas sobrancelhas se cerram interrogativamente para a cena, mas minhas dúvidas são sanadas assim que mais alguns pontos brilhantes piscam no ar, numa sinfonia de bioluminescência.
- Vagalumes. - eu sussurro com um sopro, absorvendo a visão de forma silenciosa.
Aos poucos, mais pontos luminosos saltam como uma explosão, juntando-se aos demais de forma cadenciada. Eles perpassam a superfície do lago, nunca tocando e rompendo o equilíbrio estático da água, arrastando consigo um brilho fugaz que se permeia por um borrão de luz. Estou tão presa àquela cena, tão mergulhada na intimidade do momento, que só quando suspiro audivelmente é que percebo que estava prendendo meu ar.
- James... É tão... - eu solto as palavras desconexas, sem achar a única capaz de expressar todas as sensações que me abatem com o cenário. - Lindo.
Solto as duas sílabas que não conseguem untar o significado carregado do momento, mas que parecem apropriadas. James apenas ri da minha incapacidade verbal, remexendo-se ao meu lado.
- Interior um, Cidade Grande zero? - James pergunta com um tom de malícia na voz rouca, mas eu o ignoro.
Naquele momento, sinto-me tão conectada com a natureza circundante que mal esboço uma resposta repreensiva pela sua presunção. Pra falar a verdade, sei que minhas experiências com o interior resumem-se às lutas contra muriçocas e tentativas falhas de desviar de merda de cavalo, mas, de certa forma, estar ali, rodeada de nada além de mato, não parece de todo ruim. Sendo sincera, parece até aconchegante. É como se eu pudesse sentir tudo vibrando em vida e energia.
James se apoia no batente e se levanta, oferecendo-me a mão para me erguer. Eu a aceito, sendo puxada em sua direção. Nossos peitos batem um no outro, com a força que ele imprime ao me puxar, o que me obriga a erguer minha cabeça para encará-lo, mas James não parece nem um pouco arrependido pelo gesto. Por um milésimo de tempo, não me mexo. Estou tão petrificada pelo nosso contato que prolongo a situação por escassos segundos de atrito. Ele tem essa aura magnética que parece me impelir na sua direção, essa presença forte que me sufoca e me comprime, e é algo tão tangível que me surpreende. A influência de James Carter é tão poderosa que me tira para fora da minha guarda. Seu aperto no meu braço se afrouxa e ele desliza os dedos pelas minhas costas, numa carícia suave, o que me deixa sensível ao seu toque. Durante um bater do coração, sinto que ele vai me puxar pela cintura. Durante uma contração e outra, quase desejo que assim ele o fizesse. Mas, então, a realidade dissolve todos os "e se" à medida que seus dedos rompem a fricção das nossas peles e ele se afasta para longe. Um vazio de origem desconhecida me domina e me subjuga conforme James dá alguns passos para fora da varanda e para ereto de frente para o lago para encarar os vagalumes, totalmente indiferente pelo momento que transbordou para fora do nosso alcance. Eu ainda fico meio perturbada pelo o que acabou de acontecer, mas me empurro para fora do torpor dos meus pensamentos, obrigando-me a me direcionar para o seu lado. Posiciono-me de forma sorrateira na sua lateral, engolindo o silêncio que nos envolve. Sinto que a tensão está tão palpável que eu poderia cortá-la com uma faca.
- É realmente bonito. - James atravessa nosso acordo silencioso, de forma imperiosa, com seu típico sorriso sacana formado nos lábios. - Há uns 5 anos atrás, quando eu tinha 17, eu costumava vir aqui como um garoto irreverente, achando tudo um grande gesto de poder juvenil, fingindo rebeldia para escapar dos problemas. Sabe, todo o complexo de Peter Pan e tal.
- E aqui estamos nós, cinco anos depois. - eu comento de forma provocativa. - Já parcialmente adulto, ainda irreverente e com o mesmo complexo de sempre.
- Ah, bonita, você me lê tão bem. - ele debocha. Então, quase que distraidamente, adiciona: - Você sabia que os vagalumes emitem essa luz para atraírem seus parceiros para o acasalamento?
Eu engasgo com seu comentário.
- Eu sabia! - eu grito como se estivesse no meu grande momento eureka. - Por que você sempre faz os grandes momentos terem alguma segunda intenção escondida?
- Do que você está falando? - James diz descaradamente, mas então ri da extensão da minha mente deturpada. - Bonita, a única criando duplo sentido nas coisas é você. Eu estou apenas soltando fatos interessantes com princípios educativos.
- É claro. - digo ironicamente, cruzando meus braços imperiosamente.
Os vagalumes à nossa volta parecem nos aproximar, enquanto circulam à paisana, empurrando-nos para mais perto um do outro. Estamos tão extasiados pela visão que esquecemos a implicância repentina de um contra o outro.
- Qual o plano agora? - viro-me em sua direção. - Aliás, qual o propósito disso tudo?
- Você sempre precisa de um motivo para fazer algo, Srta. Racionalidade?
- Bem... Não. - eu falo de forma evasiva, escapando dos seus olhos brincalhões.
Eu não consigo afastar a grande placa da minha cara, em vermelho berrante, que grita "eu racionalizo demais e estou ciente disso".
- Sei. - ele ri. - Eu não tenho um grande plano maquiavélico articulado para o seu sequestro. Achei que, talvez, se te mostrasse algum lado bom da cidade, você parasse de ser tão introspectiva e ranzinza.
- Certo, vagalumes e uma vista bonita. Grande coisa. - eu rolo meus olhos. - Esse é o seu melhor?
- Desculpe-me, a vossa majestade está entediada? - ele debocha, cruzando os braços para imitar minha posição. Parece ter se ofendido pelo meu descaso.
Eu solto um sorriso disfarçado, falhando ao tentar vestir minha melhor máscara impenetrável.
- O que você costumava fazer aos 17 anos aqui?
- O que? - James fica sem entender, o que me faz sorrir ainda mais.
- Você ouviu. O que você fazia quando tinha 17 anos?
- Sei lá... Roubava roupas no varal, corria de moto, pintava os duendes de jardim da senhora Taylor, aparava a plantação de milho... - ele divaga. - Por quê?
- Vamos embora. - eu caminho para a trilha de onde saímos. - Você vai me mostrar como é ter 17 anos em Leavenworth.
- O quê? - James grita por trás das minhas costas em completo choque.
- Vamos fazer tudo o que você fazia há cinco anos. - eu sorrio vitoriosa.
- Tudo bem. - ele concorda surpreendentemente, como se fosse algo simples, seguindo-me pela mata. - Mas eu tenho que saber alguns limites. Você está disposta a beijar quantas garotas?
É a minha vez de abrir a boca em incredulidade, o que faz James rir alto.
- Pensei que queria fazer tudo o que eu fazia aos dezessete. - ele provoca, o que me dá vontade de estapeá-lo. - Certo, talvez nem todas as coisas...
ʃ͋͋͏ ʃ͋͋͏ ʃ͋͋͏ ʃ͋͋͏
- Por que eu concordei em fazer isso mesmo? - eu sopro através do ar frio, esticando ambas as pernas com um estralo.
Estamos no quintal de uma casa qualquer, encolhidos contra o chão úmido numa tentativa ridícula de nos esconder da mira de algum expectador indesejado, engatinhando morosamente até um varal longínquo e de difícil acesso para minha persistência. A única coisa que nos esconde da percepção de alguém é a cerca alta e branca que nos cobre como um segredo.
- Correção: por que você inventou isso mesmo? - James retruca, passando na minha frente e galgando o espaço restante, puxando da linha estreita uma blusa qualquer, que jazia pendurada pela segurança de alguns pregadores.
- Eu pensei que seria divertido. - resmungo, puxando a camisa das suas mãos. - O que eu faço com isso?
James ri baixinho enquanto eu solto uma careta de reprovação para a camisa XG que seguro firmemente entre os dedos. Ele me puxa rapidamente e envolve o tecido nos meus cabelos, prendendo-o atrás pela nuca como se fosse uma bandana qualquer. Eu o encaro descrente, franzindo o nariz para exprimir meu desgosto, o que apenas o faz rir.
- Você usa a sua conquista. - ele instrui como se estivesse informando um discípulo.
Eu me ajoelho, espiando o movimento ao nosso redor. De certo modo, alguma adrenalina juvenil parece atacar meu corpo, abafando todo o meu senso comum com um baque. É errado, mas soa tão tentador.
- Você era um delinquente aos dezessete. - eu o repreendo, virando a cara para procurar por alguma testemunha ocular.
James gargalha audivelmente, mas parece engasgar momentaneamente.
- Liv. - ele me alerta com o tom urgente. Eu viro para encarar seus olhos apavorados.
- O que?
- Corre. - ele sussurra.
Eu movo minha atenção para o local que ele encara, mas me arrependo amargamente. Um cachorro grande e raivoso nos encara com desconfiança, medindo-nos de cima abaixo como se estivesse avaliando os atributos de suas novas presas. Eu não espero um segundo comando. Assim que James pula ao meu lado, eu corro em disparada no seu encalço, passando pelos fios do varal e roubando uma calçola íntima, tentando somar distância do animal descontrolado que nos persegue. James está me esperando no muro, já posicionado para me ajudar a subir. Eu me impulsiono através das suas mãos e me jogo para o outro lado, arranhando a perna no processo, e o aguardo atravessar a cerca todo esbaforido. Estou caída no chão, esperando que o pulsar frenético do meu peito assuma um ritmo mais compassado, o que soa humilhante para o meu orgulho. James está jogado contra o chão, tentando com muito esforço neutralizar sua respiração pesada, o que me faz rir mais ainda.
- Eu. Vou. Te. Matar. - eu rio enquanto murmuro pausadamente.
- Você só pode estar brincando comigo! - James bafora com grandes tragadas de ar. - Isso foi fichinha. Vamos, nós temos mais o que fazer.
Ele se ergue num salto, encaminhando-se na direção da moto. Eu corro em sua direção, enveredando na sua frente, impedindo que ele prossiga.
- Espera! - eu ergo os braços no alto. - Você não está usando sua conquista.
Ele junta as sobrancelhas numa expressão de interrogação, o que alastra meu sorriso debochado. Eu puxo o tecido fino que consegui roubar durante minha maratona e o estendo pela sua cabeça, vestindo-o como se fosse uma touca. Ele tateia a calcinha sem compreender, então ri alto.
- Tudo bem, nada mais justo. - ele se inclina numa reverência fingida e segue até a moto.
Eu não reluto dessa vez ao montar na máquina e me enroscar no seu tronco.
Acho que talvez eu esteja perdendo os trilhos da minha sanidade, escondendo-me através de algumas horas de diversão ininterrupta como se pudesse embarcar numa pequena bolha própria, apagando os rastros do mundo ao meu redor. Estou anestesiada para qualquer negatividade que possa tentar me abater. Enquanto fecho os olhos e embarco na escuridão, conforme James dirige, quase consigo apagar a imagem do contorno de New York impressa nas minhas pálpebras saudosas. É essa dormência que implica o desligamento da minha mente, quase como se os problemas pudessem se desconectar do meu corpo. Eu estou num estado sólido de indiferença e isso não poderia ser melhor.
- Liv. - James me acorda do meu estado entorpecente, sua fala quase se perdendo contra o vento. - Liv? Escutou o que eu disse?
- O que?! - eu grito sobre a agitação do ar cortante.
- Eu disse que nós vamos roubar uma galinha do galinheiro do Harold! - James grita de volta, o que me faz apertar seus ombros pelo pânico.
- Você ficou louco?! - eu solto um berro que é propagado conforme ele freia em frente a uma construção de madeira.
James salta para fora da moto e se apoia contra mim com um sorriso irônico.
- O quê? A consciência pesou? - James provoca.
Eu ergo a sobrancelha em desafio.
- Não, eu só...
- Ótimo. Vem. - ele gesticula com a cabeça, obrigando-me a segui-lo.
Não é como se eu pudesse ir para a cadeia por isso, certo? Certo?
- Claro que não. - James ri me assegurando, fazendo-me perceber que eu verbalizei meus pensamentos. - Até porque sua avó é a força policial daqui...
- Eu não quero abusar do poder... - começo, mas ele me interrompe.
- E ela também adoraria provocar Harold. - ele completa, o que me faz rir alto.
- Qual o problema desses dois, afinal? - solto a pergunta no ar, acompanhando-o para dentro do galinheiro. Tento não me encolher ao seu lado com a visão demoníaca das galinhas.
- Resumidamente, meu tio fez merda anos atrás e agora quer reparar o estrago. - James murmura enquanto investiga o espaço em busca de alguma vítima. - O resto é história.
Sua fala é cortada por um carcarejo repentino, que acaba nos assustando para fora da nossa conversa como se nos despertasse para a realidade. Então eu encaro, através da iluminação parcial da lua, o bico afiado da galinha. Ela parece me encarar de volta, presa num embate entre nossos olhos, avaliando-me com uma postura maníaca. James, ao contrário de mim, parece totalmente alheio à perversidade clara da pequena criatura diante de nós. Ele ignora meus protestos abafados, afastando minhas mãos apelativas da sua jaqueta de couro, e apanha a galinha com os braços fortes, tentando controlar o frenesi da ave ao debater-se para longe do seu aperto.
- Quer segurar? - ele me pergunta divertido.
- Tire essa arma mortífera para longe de mim!
- Você está falando do bico? - ele questiona, apontando a galinha na minha direção.
Eu saio correndo para fora do galinheiro, afastando a sensação claustrofóbica que me invade. James ainda tem um sorriso sacana nos lábios, divertindo-se à custa do meu pavor agudo.
- Não me diga que você tem medo de galinha.
- Medo é uma palavra muito forte. Eu diria aversão... - pronuncio, desconversando. - Vem cá, o que faremos com isso?
Aponto com o queixo para a galinha, que cacareja sem pudor nos seus braços, despertando um sorriso misterioso nos seus lábios finos. James apenas me dá uma piscadela e atravessa a rua, jogando a pergunta no ar. Eu paro por um momento, pesando se é sensato segui-lo, mas descarto qualquer insegurança e cruzo a pista vazia, parando rente a um casebre vizinho. Logo na frente da casa, um carro está estacionado languidamente na calçada, totalmente alheio às ideias absurdas que passam na mente de James. Ele está perto do banco frontal, com as portas arreganhadas, enquanto ele joga a pobre galinha dentro do veículo sem hesitação, parando apenas para abrir minimamente o vidro. Assim que ele fecha a porta e trava o carro, vira-se para mim com uma expressão sigilosa.
- De quem é esse carro? - falo sem entender a situação.
- Gonzalez. - James responde num tom brando, como se estivesse relatando um fato qualquer. Como se todo dia ele jogasse uma galinha dentro do carro do melhor amigo!
Eu tento me manter imparcial, mas a risada escapa pelos meus lábios de forma quase irrefreável. Chego a procurar ar de tão vermelha que fico dando pequenas lufadas para capturar o oxigênio que me falta. James parece estar tendo a mesma dificuldade que eu para respirar, porque sua risada é muda como se ele tivesse perdido a voz pela falta de fôlego. Tento inspirar profundamente, para adquirir a cadência plana da minha fala, antes de prosseguir:
- Ele vai matar você. - declaro.
James dá de ombros e se encaminha na direção da moto novamente.
- Ele vai entender o recado. - ele murmura enigmaticamente, passando pela pista para chegar até à moto.
Antes de montar novamente nela, pergunto:
- Para onde estamos indo agora?
- Você faz perguntas demais, sabia? - James comenta, mas não parece irritado. - Acho que há uma palavra russa sobre pessoas como você... - ele finge pensar. - Pochemuchka! Você é uma pochemuchka!
- O que? - murmuro sem entender, enquanto passo meus braços envoltos no seu tórax, apertando-o. - Você tá me xingando?
- Significa algo com pessoas que perguntam demais. - ele explica, rindo para a noite conforme acelera a moto.
Dessa vez, o passeio é curto. Mal consigo sentir a brisa cálida contra minha face, pela maneira vertiginosa que James ultrapassa de um local para o outro, quando paramos contra uma árvore familiar. Um pouco mais longe, afastada do limite do celeiro, está a fazenda. James deve ter contornado a propriedade para estacionar ali, distante da visão da casa. A única coisa que faço é descansar contra a moto, apoiando-me nela, enquanto James sai para buscar algo. Ele retorna momentos depois com um cortador de grama empunhado nas mãos ágeis.
- Eu era a maior dor de cabeça da sua avó quando era menor. - James me confidencia com um sorriso deslumbrante. - Eu costumava cortar a grama dela por alguns trocados. - ele liga a máquina. - E acabava marcando um J.C. no gramado do quintal. - ele imita o gesto e curva uma marca na grama rala, imprimindo as letras maiúsculas como uma brincadeira. - É claro que ela sempre foi um pouco religiosa... Então, na primeira tentativa, ela acreditou que Jesus Cristo tinha deixado uma mensagem gratificante para homenagear sua fé. Na primeira vez, quase a enganei. Nas outras, tudo o que consegui eram alguns dias de castigo por marcar minhas iniciais no seu quintal.
Eu gargalho baixinho, ciente de como Marien costuma descontar sua fúria. Assim que ele termina sua arte abstrata, pulo para fora da moto e começo a caminhar até o balanço, apoiando-me com ajuda da corda desgastada.
- Espero que essas pequenas infrações tenham melhorado seu humor. - James se aproxima, ajoelhando-se de frente para mim.
Eu encaro sua expressão ridícula moldada com a calcinha pendurada na cabeça, soltando uma risada frouxa pela imagem. Meus dedos caminham involuntariamente para retirar o tecido, puxando a calçola para soltar seus cachos rebeldes. Ele balança as madeixas cor-de-azeviche em liberdade, livrando-se do aperto da calcinha, o que faz sua franja cair sob a face pálida, encobrindo parcialmente o brilho sagaz dos seus olhos. Ele rodeia meu corpo com seus braços firmes, passando as mãos pela minha nuca para afrouxar o nó da bandana improvisada feita por ele, o que me deixa embasbacada pelo seu toque. Ficamos parados por um momento, congelados pela ameaça muda que passeia pelos nossos olhos como uma chama lânguida, absorvendo a respiração entrecortada um do outro. Pouco a pouco, um sorriso cúmplice ataca nossos lábios, dizendo muito mais do que as palavras podem passar através de sentenças.
- Eu tenho que levar essas roupas para os donos. - James sussurra próximo ao meu nariz, soprando contra minhas bochechas. - Não quero ter que lidar com uma denúncia de calcinhas roubadas amanhã de manhã.
- Tudo bem, Carter. - eu sorrio minimamente. - Mas esse seria o caso da década.
Nós ficamos em silêncio, tentando decifrar a carga intensa de emoções que nos embalam. Seus olhos escuros parecem exigir algo, qualquer coisa, embora eu não saiba dizer o que é. Com muito esforço, eu impulsiono um pouco o balanço, olhando para o chão para evitar ser engolida pelos sentimentos que dançam nos seus olhos perigosos.
- Eu sei que você acha que eu sou anti-Leavenworth em todas as fibras do meu corpo. - começo, sem saber como continuar. - Mas acho que não sou mais assim. Obrigada por hoje, Carter. Eu realmente precisava disso.
Ele apenas me dá um sorriso vitorioso, curvando os lábios para cima e espremendo os olhos com um brilho distinto. Acho que isso é uma despedida, mesmo que estendida nas entrelinhas vagas dos nossos olhares sustentados, o que faz meu peito dar uma soterrada triste. Antes que eu possa esboçar um tchau amargo para me desvencilhar do seu toque, James remexe na sua jaqueta de couro e retira um embrulho. Ele me entrega o pacote sem me olhar nos olhos, afastando-se de imediato para me dar as costas e partir na direção da sua moto, numa tentativa frustrada de deixar para trás essas emoções conflituosas que carregam o ambiente.
- Você me disse que eu te devia um caderno. - James comenta vagamente, montando na moto. Antes que ele possa dar partida, respondo-o com um sorriso afável.
- Você é um cara legal, James Carter. - sussurro, relembrando sua confissão anterior no lago enquanto tateio o papel amassado que envolve o caderno, mas minhas palavras são engolidas pelo ronco do motor. Assim que pronuncio a fala, James acena com a mão destra e dobra para fazer seu retorno para a estrada.
No francês, existe uma palavra específica para exprimir a emoção de deslocamento que você sente quando acha que não combina com determinado país, cidade ou cultura. É quase bonita a forma como a língua se desdobra para atribuir todos os significados do mundo na sua extensão. Na língua francesa, quando você se sente um imigrante em qualquer lugar, como se nenhuma familiaridade pudesse ser extraída do convívio, a palavra-chave que engloba essa sensação é dépaysement. Desde que cheguei à cidade, achei que a palavra encaixava-se como uma luva na minha situação. Mas, agora, enquanto vejo o contorno de James Carter desaparecer pela noite, atrevo-me a pensar que não precisarei caçar significados em outros idiomas para suprir meus sentimentos. Porque, de certo modo, eu já não me sinto mais assim. Uma única palavra me basta: pertencer. E o sentimento é tão genuíno que me assusta. Não pela solidez da sensação, mas pela veracidade intrínseca de tudo. Pela primeira vez, permito-me sentir, permito-me fluir, permito-me deixar o molde secar. Porque é permitindo-me que poderei pertencer-me.
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