Capítulo 5

P. O. V. Bill

Solidão. Tão nostálgica e cegante quanto o perecer das estrelas, porém mais doloroso e pesaroso do que a perda daquele brilho todo, do que a vibração gélida, semelhante a um soluço agoniado, que se estende até alcançar as fronteiras do vazio e apossar-se da imensidão do cósmos.

Observei o local ao qual chamo de "morada" e, mesmo que seja de difícil percepção, o ambiente traz consigo muita quietude e frieza, não tendo luz própria ou capacidade de trazer aconchego ou familiaridade. Mas felizmente ele possui o dom de tomar calor para si, assim servindo de "satélite natural", apenas usufruindo da quentura do astro que lhe ilumina sempre que próximo a ele. E o que acontece quando o astro se vai? A solidão vem, e logo comparamos a mesma com o perecer de estrelas e a tristeza que tal ocorrido nos traz. Tudo fica muito quieto e frio; morto demais.

Como lidar com o medo de perder o que mais preza? Lidar com a rejeição da única pessoa à qual a opinião realmente importa? Ficar debaixo de uma árvore, sofrendo silenciosamente e se partindo aos poucos é uma forma de lidar com isso?

Talvez, mas, de qualquer maneira, não deixa de ser a forma mais covarde e ridícula de se encarar essa situação. Possivelmente ele tenha decidido não vir aqui esta noite, ou quem sabe algo tenha lhe tomado o sono; apenas espero que essa tenha sido a primeira e última vez que isso haverá de acontecer.

Decerto sua linha de raciocínio acabou alterando-se por eu estar confuso, cansado e chateado demais. Consigo até imaginar como ele deve estar a se sentir; isso por conta da fortíssima ligação que há entre nós. Eu entendo que ele precisa de espaço, de tempo. Porém não suporto a ideia de ter que ficar sem ele aqui, comigo. Durante a maior parte do meu dia fico imaginando como será no momento em que o pequeno moreno chegar, e o mundo parece exaustivamente lento enquanto isso não acontece, e quando noite, assim que este chega, o tempo passa o mais rápido possível. O Pines sabe como superar todas as minhas expectativas, e nosso momento se torna único e imprevisível.

Mas por que isso está acontecendo justamente agora?

Esta é somente uma das perguntas que não abandonam minha mente, outra das quais não tenho como responder.

Mas resolver isso não deixa de ser simples para mim, pois basta apenas eu agir da forma que devo agir, como eu sempre ajo.

P. O. V. Dipper

Acordei com frio.

Abri os olhos lentamente e esporadicamente, percebendo que ontem, antes de dormir, esqueci-me de fechar as janelas do meu quarto.

Sem a mínima vontade de levantar para fazer qualquer tipo coisa, apenas puxei meu edredom, me cobrindo e encolhendo na cama, perdendo-me nos meus fantasiosos pensamentos. Foi então que me dei conta.

Eu não sonhei com o Will. Mas, por quê?

São tantas as hipóteses que pairam dentro da minha cabeça.

Estou confuso por não entender o que está acontecendo.

Cansado de não conseguir pensar em outra coisa ou pessoa que não seja ele.

E chateado por estar confuso e cansado.

Minha cabeça está uma verdadeira bagunça e só tem uma solução para tudo isso. Mas eu não quero admiti-la. Não agora. Tão pouco para mim mesmo.

Olho para meu relógio digital e vejo que está de manhã, então substituo o cansaço pós-sono pela familiar melancolia. Tracei o caminho até a principal escrivaninha do quarto, sendo esta a maior e mais desarrumada. Nela deveria estar os rascunhos que fiz das minhas muitas teorias sobre os últimos acontecimentos da minha peculiar vida, o caderno onde havia transcrito a mensagem que habita o grosso livro, além do próprio diário misterioso. Mas, para o meu espanto e descontentamento, não encontrei nenhum dos objetos sobre o móvel de madeira rústica, muito menos o sangue no assoalho que já deveria estar seco, porém ainda ali.

Um sonho? Possivelmente.. e isso graças ao meu desespero para entender o que está se passando neste último mês, que passou incrivelmente rápido. Minha cabeça à latejar me obrigou a voltar para cama, que se encontra meio fria demais, e demasiadamente grande.

E o sono veio novamente, mas lutei contra o mesmo por honrosos três minutos, sendo essa uma batalha árdua com minhas pálpebras que ameaçavam cair e nunca mais levantar, e posso dizer com orgulho que me opus até o fim e não me permiti ceder; mas perdi, e tão breve quanto dormi meus músculos tensos relaxaram, trazendo paz ao meu corpo e apenas ao meu corpo.

~~Billdip~~

O quão estúpido eu posso ser? Sinceramente, já nem sei dizer.

Me encontro na floresta já tão trilhada por mim, trajado do uniforme do colégio e meias de tricô, querendo esmurrar minha face como se não houvesse amanhã.

Estava andando rumo a pequena cabana frente ao lago, onde mora o rapaz que eu fracassei miseravelmente em evitar. A falta de luz natural me deixa tranquilo com facilidade na maior parte do tempo, mas, nesse momento, serviu apenas para me deixar ainda mais ansioso e culpado.

Quando aproximei-me do local onde fica a moradia do loiro de tez bronzeada, me veio a mente uma possibilidade, e caso a situação for se desenrolar da forma que estou pensando, acredito que irei por a ideia em prática.

E, no exato momento em que cheguei lá, eu o vi, assim como ele também me fitou. O primeiro passo foi dado por Will, fazendo com que eu me assustasse. Me encolhi e desviei meus olhos dos seus, sentia meus batimentos cardíacos em um ritmo surreal, minhas pernas bambas e trêmulas, mãos suadas e gélidas por puro nervosismo latente em meu ser.

- Pines, Pines, Pines.. - Sussurrou com sua voz extremamente rouca e sádica, trazendo-me um arrepio conhecido, porém distante.

Minha face foi levantada com força exagerada, e o desconforto não tardou em chegar. Fui forçado a encarar suas orbes rasgadas brilhando em um ouro amarelado único, apaixonante como o dono. O rosto do jovem estava completamente diferente do qual estou habituado, mais selvagem, travesso, malicioso..

Desci os olhos lentamente para o nariz fino do rapaz, percebendo leves sardas no mesmo, continuei o caminho até chegar no meu sonho de consumo. Os lábios rosados, desenhados, carnudos e levantados em um sorriso repleto de luxúria se aproximaram dos meus aos poucos. Só me dei conta do que estava acontecendo quando sua língua deslizou pelos meus lábios, como se ele estivesse os saboreando de uma forma incrivelmente pervertida.

Fiquei maravilhado com seus toques quentes e úmidos, ainda mais quando senti sua mão livre adentrar minha blusa e apertar minha cintura fortemente, me fazendo suspirar. Aproveitando-se deste meu ato, ele invadiu minha boca sem cuidado algum, envolvendo minha língua com a sua, a sugando e massageando, enrroscando-as deliciosamente. Nos afastamos pela falta de ar, mas, antes de nos separarmos totalmente, ele mordeu meu lábio inferior com brutalidade, tomando o pouco fôlego que me restava. As borboletas que deviam pairar em meu estômago estavam transbordando do mesmo.

- Senti sua falta, pequeno..

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top