Já era verão. E todos sabem como é o verão da Califórnia: praia+sol+sorvete+amigos/família= paraíso. Essa era a equação favorita de Victoria Lanson, a garota de vinte e um anos com cabelos vermelhos e um sorriso contagiante.

Claro, assim seria se elas não estivesse presa naquele manicômio chamado universidade e naquele maldito ar-condicionado que estava a congelando. Mesmo estando encolhida e abraçando-se com toda a força do mundo, Victoria sentia que estava no Polo Sul.

Aliás, pensou ela, como deve ser o Polo Sul? Como deve ser o frio de lá? Quais são as chances de eu me congelar num lugar daquele com um jeans e uma blusinha rosa? Será que é cem? Será que eu morro? E os animais de lá? Os pinguinzinhos fofinhos que aparecem na televisão se incomodam com o excesso de frio? Como deve ser que eles...

- Srta. Lanson! - gritou a professora Chang, uma japonesa ou chinesa (Victoria nunca soube a diferença) de um metro e cinquenta e pouco de altura e óculos redondos no rosto; interrompendo os comuns devaneios de Victoria. - Acredito que esteja achando a rua mais interessante que a aula.

É claro, professora, ela quis falar, todos acham que lá fora está muito mais interessante que a sua aula.

- Perdão. Eu...

- Já não é a primeira vez, Victoria. - a mulher interrompeu a moça.

- Sinto muito. - sussurrou Victoria, abaixando a cabeça.

- Pode sentir, sim. Espero que preste atenção agora, ou terá de deixar a minha aula. - dito isso, a mulher virou-se para o quadro e continuou a aula.

Affs, bufou Victoria na mente, essa mulher é a pessoa mais chata que existe. Ela reclama quando fico calada, quando olho pela janela e também quando converso. Eu nem sei o que essa mulher quer de mim!

Victoria sentiu uma necessidade extrema de dormir, seu corpo implorava por uma cama e seus olhos teimavam à fechar contra a vontade dela. Nem percebeu, mas encostou a cabeça na parede e cochilou até a professora acordá-la com um:

- Victoria! Acorde já! Você deve parar com esses seus devaneios, garota! Vamos, levante-se! Pegue as suas coisas e saia daqui. Se não veio para assistir a aula, antes não tivesse vindo. Vamos, adiante! - abriu a porta.

Tonta e ainda na ressaca do sono, Victoria pegou a mochila e cambaleou porta afora, sem nem tentar discutir com aquela professora que se achava a presidente dos Estados Unidos. Andou pelos corredores da faculdade e sentou-se num lugar qualquer. Tirou o seu caderno preto da mochila e abriu em uma página.

Escreveu sobre o Polo Sul e deixou claro todas as suas perguntas simples e, julgada pelos outros, estúpidas. Mas todas as suas palavras eram tudo, eram um tipo de chave e também um enigma. Só que para ser assim, precisa estar escrita no caderno, pois se algo do tipo sair pela sua boca, terá de conviver com as chacotas a chamando de infantil à todo momento.

Victoria entendia que era diferente das outras pessoas e que aquele caderno era tudo para ela. Ali tem tudo o que pensa e todas as suas metas para a vida. Claro, não passam de sonhos, mas são tudo para Victoria. Sempre foi, desde que tinha doze anos de idade.

- Oi, Vic. - alguém a cumprimentou, ao seu lado.

Victoria ergueu a cabeça
e reconheceu aquela pessoa à sua frente.

- Ah, oi, Jared. O que faz aqui? - quis saber a moça.

Jared sentou-se ao seu lado.

Ele era e sempre foi o seu admirador (mais conhecido como "Stalker" por Victoria) pessoal. Era apaixonado por ela desde o primeiro ano do Ensino Médio, o qual cursaram juntos. Era um bom amigo, mas não deixava de ser puxa saco e ás vezes, o fato de ele querer fazer milhões de sacrifícios por ela, a irritava muito. Não queria que ele virasse seu escravo, mas até amarrar o seu cadarço o garoto fazia.

- Eu tentei te defender e a maluca me tirou da sala também. - disse ele, como se fosse uma coisa normal.

- Não deveria fazer essas coisas por mim, Jared. - respondeu Victoria. - Deve cuidar de si mesmo antes de qualquer um.

- O que é isso? - tirou o caderno de debaixo da mão da garota, mudando de assunto.

- Nada. É só um pinguim que eu desenhei. - tomou-o das mãos de Jared.

O garoto ajeitou os óculos e riu de modo fraco.

- Você e seus sonhos, Victoria, um dia vão te levar longe...

- Assim espero. E que esse longe seja bem longe dessa professora chata. - bufou, revirando os olhos.

- Hm... Vai ser. - ele segurou uma mecha ondulada do seus ruivo. - Você vai voar bem longe, Victoria. Bem longe... - Jared se aproximou devagar, como se estivesse indo beijá-la.

Victoria entendeu a sua intenção e o impediu, empurrando-o pelo peito.

- Sinto muito, Jared. Tenho que ir. - levantou-se, guardou o seu caderno na mochila e a atravessou pelo corpo. - Boa tarde.

Saiu caminhando, e jurou ouvir um "Você ainda vai ser minha, Victoria!" ecoando pelos corredores. Como a sua melhor amiga Baker não havia ido à universidade naquele dia, teria que voltar sozinha de metrô.

Que maravilha!, pensou ela, vou ter que ir sozinha para casa e ainda passar a noite inteira sozinha. Pelo menos eu terei os meus loucos devaneios que nunca me deixam só. Pelo menos isso...

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