14 - Linguagem de Amor

Hiei decidiu que era melhor eles procurarem separados. Haviam 35 propriedades esparramadas pelos arredores de Tóquio. Hiei acreditava que Hanzo não iria tão longe até poder ficar livre 100% de Kira. O que deixava ele preocupado era o tempo. Se demorasse demais ele podia levar o garoto sem que eles percebessem.

Kira não podia tentar os meios legais já que ele poderia usar o menino como escudo. O que a deixava ainda mais preocupada. Satoru cumpriu o prometido mesmo que de certa forma ainda estivesse chateado. Ele não se conformava com o fato de terem escondido dele algo tão importante.

Mesmo assim ele foi em todos os pontos que pôde para encontrar o filho. A maioria ou estava vazia ou haviam alguns dos subordinados de Hanzo que se recusaram a dizer qualquer coisa sobre tortura, ou não sabiam.

Quanto a Gyu, ele não voltou para casa. Mesmo Kira ligando para ele, mandando mensagem. Ele estava magoado com o fato de Kira ter se rendido tão rápido a um homem que ele considerava não ter uma boa personalidade ou um bom caráter.

No fim todos sofriam.

Kira estava ficando cada vez mais abatida. Noites sem dormir, mal comia. Ela só pensava em Ren naquele momento e em Gyu. Seu melhor amigo a quem ela irresponsavelmente partiu o coração. 

Na sala casa em que estavam, Kira estava sentada no chão com as mãos na cabeça com o olhar distante, apoiando os cotovelos nos joelhos, Hiei fazia anotações enquanto analisava o mapa e Satou estava sentado numa das poltronas com braços e pernas cruzados. Estava irritado com a preocupação de Kira com Gyu.

— Não pode desanimar anjo. — Hiei disse para a sobrinha.

— Estamos ficando sem tempo Tio. Eu sinto que se eu não fizer algo logo eu ficarei sem o meu filho.

— E ainda estamos sem o Gyu.

— É. 

Satoru ouviu a conversa e se levantou da poltrona quando o nome de Gyu foi mencionado. Soltou um suspiro pesado, encolheu os ombros e colocou as mãos nos bolsos. Kira notou a inquietação de Satoru e se levantou devagar e caminhou atrás dele. Por mais que ela soubesse que talvez não adiantaria, precisava conversar com ele. Mas, antes que ele saísse, o mesmo virou sob os calcanhares, tirou a venda dos olhos e encarou Kira e Hiei com raiva.

— Sabe o que mais odeio em vocês? Que vocês tomaram uma decisão por mim e não me deram o direito de escolha!

— Satoru... — Kira começou a falar.

— Não! Um filho Kira? Não é como se estivesse me escondendo um cachorrinho ou um gato. É um filho! Uma criança sangue do meu sangue a quem você me privou de vê-lo crescer, falar, dar os primeiros passos. Mas, deixou o Gyu ser o pai por mim!

— Gojo, a nossa vida não foi fácil. — Hiei começou a dizer. — Acha isso agora, mas talvez naquela época seu pensamento era diferente. 

— Não, não era. Eu mudei sim, isso não nego, mas tem coisas que são de berço!

— Satoru, eu perguntei a você sobre isso e você disse que não queria!

— Claro Kira! É diferente você me perguntar sobre filhos tendo um filho na barriga você não acha?

— Você nunca era claro com nada!

— E nem você! Se tivesse me dito eu teria feito tudo por vocês! Não te faltaria nada! Mas, para você não era suficiente! Eu tinha que dizer te amo, dormindo com você todos os dias, se não não era amor, eu tinha que dizer que queria filhos sem saber que você já estava grávida quando me perguntou isso! Eu tenho que aceitar que você escondeu de mim uma criança porque tinha seus motivos. Tudo é sobre você! Você é egoísta pra caralho e eu dizer isso, o rei dos egoístas como muitos dizem já é preocupante você não acha?

— Eu nunca quis te magoar.

— Mas, magoou. E magoou muito! Vocês dois sabem o que é necessário para ser um nível especial? 

—...

— Não.

— Ter energia e poder o bastante para dizimar um país. E eu tenho. Eu poderia simplesmente matar todo mundo e fazer tudo à minha maneira. Impor às pessoas a minha vontade. Mas, eu não faço isso. Por incrível que pareça eu sigo regras. Eu me controlo, saio por aí como se eu não pudesse fazer nada e eu simplesmente posso fazer tudo! Mas, eu tenho honra e princípios, por mais falho que possa parecer. Eu não saio por aí matando pessoas inocentes. Mas, eu ainda sou o mais forte. As pessoas olham para mim de dois jeitos, eu disse a você uma vez. Ou estão com medo ou estão me bajulando. Estou num lugar que ninguém pode me alcançar contemplando o absoluto vazio e a solidão. Não posso deixar de cumprir um dever que só eu posso cumprir. Proteger as pessoas, mesmo que não possa salvar quem não quer ser salvo. Eu tenho que estar lá do mesmo jeito. Eu sou um homem honrado. Mas, você esteve comigo, deitou-se comigo, chorou comigo e você achou que eu não assumiria um filho baseado numa única pergunta.

—... — Kira abaixou a cabeça enquanto as lágrimas molhavam seu rosto.

— Sabia que acabei sendo um pai.

— Teve... um filho... com outra? — Kira disse com tristeza na voz.

— Dói né? Não do jeito que pensa. Eu assumi a responsabilidade por um garoto, o filho do Toji Zenin. Foi o último desejo dele. Toji mudou muito a minha forma de pensar, ele foi a minha primeira derrota. Eu fui atrás do garoto que ia ser vendido para o clã Zenin. E eu fui seu benfeitor. Um tipo de pai se assim posso dizer. Pode não parecer muito, mas significou alguma coisa para ele. E eu cumpri com meu dever até onde consegui.

— Eu...

— E sabe Kira, você chorando pelo Gyu me deixa ainda mais ofendido. Porque você nunca se importou com os sentimentos dele.

— Você não sabe disso!

— É? Arrastou ele para outro país para criar o filho de outro cara, morando dentro da mesma casa, sabendo dos sentimentos dele. É Kira. O Gyu estava errado. Não somos iguais. Conseguiu ser pior que eu em egoísmo e insensibilidade. E olha que sou um mestre nisso.

— Eu nunca prometi nada a ele!

— E precisa? Olha Kira, eu vou achar o Ren. Saiba que provavelmente seu pai morrerá no processo. Mas, depois eu não posso fazer mais nada. Como tem ordem de execução farei vista grossa se você fugir, é o que faz de melhor. Mas, o Ren não vai com você.

— Não pode fazer isso comigo! Por favor! Ele é tudo para mim! Satoru! Por favor!

Satoru virou as costas e saiu andando deixando Kira implorando. A mulher chorava tanto que mal conseguia respirar. Em menos de uma semana, ela perdeu os três homens mais importantes da vida dela. 

— EU NÃO VOU A LUGAR NENHUM SEM ELE! SE QUISER ME MATAR PODE VIR, MAS NÃO VOU CAIR SEM LUTAR! — A expressão de Kira havia mudado. Os olhos se avermelharam como sangue, as veias do pescoço estavam saltadas. Satoru notou que a energia amaldiçoada dela havia dobrado de tamanho. A mulher tremia de raiva. Hiei foi se afastando como se soubesse o que viria a seguir. Satoru então firmou a postura. Pela raiva que ela estava ele tinha certeza que ela havia ficado fora de si.

— Então vem Kira. Se tiver coragem, vem.

Kira avançou para cima dele e começou uma luta que realmente o surpreendeu. Estava mais rápida, mais forte e parecia não ter um pingo de medo do perigo. Com a sua técnica ela não podia acertá-lo, porém ela começou a usar todo o arsenal que tinha de youkais e espíritos. Inclusive alguns que atrapalhavam a sua habilidade o que fez ele ficar mais atento. A mulher parecia não sentir dor, ele podia bater o quão forte que fosse que ela nem expressava reação. Ele teve que começar a forçar mais mesmo que não quisesse. E usou um dos seus feitiços, o vermelho, e a acertou em cheio no ombro que a atravessou, a mulher deu dois passos para trás e depois continuou avançando, o ombro já cicatrizava com a reversão de feitiço.

Satoru olhou para Hiei e viu que o tio se mantinha longe da sobrinha que estava casa vez mais furiosa. Quando ele acertou mais forte ela voou para longe, mas ainda estava determinada. Os olhos dele finalmente viram. Uma técnica secreta, não usava selos de mãos, e nem encanamentos. Movida apenas pela raiva. O usuário aumentava a força, mas não tinha controle nenhum e só pararia quando um dos dois morresse. Ele percebeu que só havia uma coisa a fazer: usar a sua expansão de domínio. O ápice das batalhas, porém nela ele usou apenas alguns segundos. A técnica dele era basicamente sobrecarregar a mente do oponente de informação, fazendo-o entrar em transe. Foi o que aconteceu. Ela parou e depois de alguns segundos caiu para trás.

Satoru se aproximou da mulher, certificou-se que ela estava respirando e a pegou no colo e a levou para dentro. Depois a deitou no sofá e ficou lá ao lado dela. Hiei se aproximou desconfiado e ficou observando ele delicadamente limpar seus ferimentos que aos poucos iam cicatrizando.

— Você sabia? — Satoru perguntou sem olhar para Hiei.

— Sim... Se chama Berserkir.

— Ela sabe?

— Não pode saber. Os nossos antepassados criaram um pacto com um espírito rancoroso. Só que tinha condições. Ele é movido por sentimento de raiva e ódio extremo, só que se o usuário saber o pacto é quebrado.

— ...

— O pai dela usou essa técnica muitas vezes. Basicamente torturava ela por uma semana antes. A técnica se ativa sozinha, sem selos, sem encantamentos. Apenas com a raiva pura e sem medida.

— A família de vocês é doentia. 

— Sim...

— Ele não cogitava a hipótese dela morrer?

— Cogitava, mas acho que isso nunca o importou.

— Bando de babacas. A Komodo? Foi ela?

— Foi... um banho de sangue.

—... ok.

Ele ficou ao lado de Kira até ela acordar. Queria se certificar que ela não teve nenhum dano. Se fosse uma humana comum ela levaria meses para se recuperar, mas por ser uma feiticeira isso não iria acontecer. Ela abriu os olhos devagar e ficou olhando para cima, depois virou o rosto para o lado onde Satoru estava e lágrimas brotaram de seus olhos. 

— Onde eu tô? Meu corpo tá doendo. — Era como se a mente se apagasse durante o Berserkir.

— Está na sala. Você... passou mal.

— Meu filho...

— Hiei ainda está pesquisando.

Kira sentou-se no sofá e abraçou as próprias pernas e começou a chorar apertando os braços.

— Eu não aguento mais... — Ela chorava copiosamente e a voz saiu abafada. A mudança de humor deixou ele intrigado. — Eu não tenho mais forças, e eu sou uma grande decepção. Eu entendo seus sentimentos, como pode gostar de alguém como eu? Eu menti... deveria ter confiado em você que era a melhor coisa que tinha me acontecido. E meu filho que tanto quis proteger, escapou entre os meus dedos. E além de tudo magoei meu melhor amigo! E eu não tenho a menor ideia do que vou fazer.

Ela apenas sentiu ele a envolver num abraço apertado e depois apoiou a cabeça dela em seu peito, afundando o nariz em seus cabelos. Kira o abraçou forte, sentindo-se acolhida pela primeira vez em muito tempo.

— Tá tudo bem, eu tô aqui com você.

— Me perdoe, por favor. Eu não fiz por mal, nunca quis te magoar. Mas, eu fiquei com tanto medo! Eu... — Satoru a fez ficar em silêncio com um beijo suave nos lábios dela e depois repetiu mais alguns beijos.

— Tá melhor agora? Dizem que um beijinho cura tudo, né? — Ele disse sorrindo. Kira deu um sorriso em meio às lágrimas e depois o beijou novamente. 

— Eu amo você. Amo tanto que chega doer.

Ele se aproximou do ouvido de Kira e sussurrou algo que ela não imaginou ouvir. O homem que sempre foi insensível, alheio a qualquer sentimento e qualquer mulher.

— Eu amo muito você. Eu fui claro o suficiente agora?

— S-sim. 

— Mas, ainda estou bravo com você.

— Eu sei.

— Vai ter que ralar muito para eu te perdoar!

— Eu não posso sair um minuto que vocês estão se pegando? — O momento levemente descontraído em meio ao caos foi interrompido.

— Gyu? — Kira se levantou rapidamente e foi na direção do amigo e deu um abraço nele. — Eu fiquei tão preocupada!

— Eu vi mesmo. — Gyu disse irritado.

— Onde você estava?

— Diferente do casalzinho que mais parecem dois cachorros no cio, eu estava procurando ajuda.

— Eu não tenho culpa se você não transa! — Satoru disse irônico.

— Fica na sua aí! — Gyu respondeu irritado.

— Com quem? — Kira disse cortando a discussão.

Gyu deu um suspiro pesado tirando as mãos de Kira dele e olhou para a porta.

— Pode entrar.

Kira ficou surpresa ao ver a pessoa que entrava na porta. De todas as pessoas ela provavelmente era a última que ela imaginou estar ali. A mulher olhou para Kira com certo desdém e disse com a voz baixa.

— Mayu? 

— Oi Kira. 

— Ela...? — Kira ficou sem reação.

— A Mayu trabalha para o seu pai. E ela sabe onde ele está e concordou em nos ajudar.

— Que notícia boa! Eu não sei nem como te agradecer! E onde ele está?

— Eu não faço isso por você e muito menos pelo Gyu. Faço pelo menino. – Mayu disse de forma ríspida.

— Mayu... eu já tive minha dose de sermões por hoje.

— Não Kira, tudo bem, eu deixo para lá o fato de vocês dois terem me excluído do momento mais importante da sua vida.

— Chega. — Hiei disse interrompendo antes que as coisas piorassem — Vocês três resolvem isso mais tarde. Onde está o garoto?

— Nas montanhas, em Hokkaido.

— Hokkaido??? — Kira ficou pensativa. — Droga. Eu tinha esquecido desse lugar.

— O que quer dizer? — Satoru perguntou ao notar a inquietação de Kira.

— A casa nas montanhas era da minha mãe. Ele usava para se isolar quando algo dava errado. Ele ainda tem direito a casa já que minha mãe deu no pé. É óbvio... por que não pensei nisso antes?

— Temos que ir logo para lá então! — Hiei disse apressando o grupo.

— Não é bem assim não. — Satoru disse pensativo. — Tem um porém não tem, Mayu?

— A mansão tem uma barreira poderosa. Para quebrar não é fácil nem mesmo para você, Gojo. 

— Quais as condições da barreira? — Gojo perguntou analisando a situação.

— Somente sangue Yosano e autorizados previamente.

— Ou seja, nossa maior arma não vai poder entrar junto com a gente. — Kira disse desanimada.

— Não deve ser uma barreira difícil de quebrar, eu vou com vocês. Chegando lá vocês entram e eu entro assim que quebrar a barreira. — Satoru disse pensativo

— Ok.

Hiei arquitetou um plano para que eles pudessem se aproximar com mais facilidade da mansão nas montanhas da família Yosano. Um local que trazia muitas lembranças para Kira. O local era de difícil acesso. E dava para chegar somente a pé. Kira, Satoru, Gyu e Hiei seguiram pela enorme escadaria até a mansão, Mayu ficou no pé da montanha de olho em tudo que acontecesse. Quando chegaram na metade das escadas a barreira apareceu. Os Yosanos passaram da barreira e Satoru ficou para trás. Kira parou por um instante. Aquela poderia ser a última vez que o veria. Ela poderia morrer antes mesmo que Satoru quebrasse a barreira. Kira desceu as escadas correndo, atravessou a barreira e se jogou nos braços do amado entrelaçando as pernas em volta de seu corpo e o abraçou fortemente.

— Relaxa honey, a gente vai tirar isso de letra. Eu tô aqui. — Satoru disse calmamente.

— Eu sei. Só quero que saiba... que você foi a luz no meu mundo imerso em escuridão. — Ela disse chorosa enquanto ele afundava o rosto em seu pescoço. 

— Vai dar tudo certo Honey.

Kira desceu dos braços do amado e voltou para a barreira. A mulher subiu correndo as escadas com o coração apertado. Ela iria tirar o filho dela daquele lugar, nem que precisasse matar todo mundo ali dentro.

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