08 - O Desabrochar de um Lótus Branco
⚠️ ATENÇÃO ⚠️
🔞CONTÉM CENAS INADEQUADAS PARA MENORES DE 18 ANOS
⭐️⭐️⭐️
Kira
O tempo passa diferente quando a sua vida e tudo que você acredita cai por terra. Eu havia saído do Japão há algum tempo, eu nem sei ao certo, mas olhando a minha barriga de grávida (imensa como uma melancia) de 8 meses já dava para ter uma noção de quanto tempo. Eu não uis saber qual o sexo do bebê, isso para mim sempre foi irrelevante. Só sei que eu já o amava incondicionalmente.
Ele havia sido concebido com amor, pelo menos da minha parte. Alisei a barriga observando a vista do prédio onde estava. Viver em Seul era estranho no começo, mas depois fui me acostumando.
Haruki Hatori era o chefe da Komodo, mas eu ainda não o tinha visto. Ele nos deu um apartamento, para mim, Gyu e Hiei. Os dois passavam a maior parte do tempo na Organização lidando com variados problemas. A sociedade Jujutsu em Seul era mais discreta e se resumia a um pequeno grupo de voluntários.
Eu ficava horas sentada na sacada do prédio olhando a vista. Contando histórias para o meu bebê. Era uma vida boa, embora a saudade da escola e do Satoru me corroesse por dentro. Eu sentia como se minha alma estivesse em mil pedaços.
Gyu sabia das informações que vinham de Tóquio, mas eles não diziam nada para mim. Era para me poupar durante a gravidez. Gyu era gentil, como sempre. Ele às vezes parecia mesmo o pai. Comprou roupas, brinquedos e mais um monte de coisa que nem eu estava tão empolgada. Ele chegou mais cedo naquele dia cheio de sacolas. Ele se aproximou de mim e deu um beijo na minha barriga.
— E aí garota? Como está aí dentro. Mal vejo a hora de te conhecer.
— Como sabe que é uma garota? — Debochei dele gentilmente.
— Eu sinto. Eu comprei umas coisinhas para você. Logo você vai estar em trabalho de parto.
— É... já tá quase né?
— Eu disse que daria tudo certo.
— Obrigada por tudo Gyu. — Eu disse acariciando sua mão.
Logo depois Hiei chegou. Acabamos nos tornando uma grande família.
— E ai, meninos? E o bebê, Kira, tá quase?
— Só daqui uns 15 a 20 dias, tio.
— Tá eu vou fazer o jantar, vem me ajudar Gyu!
— Qual é tio?
— Vem logo sem reclamar!
Eu estava feliz de alguma forma. Mas, parecia que faltava alguma coisa. E faltava mesmo. Faltava o Satoru, dormir todos os dias abraçada a ele. Olhei para a mesinha ao lado da cadeira onde eu estava, minha água tinha acabado. Era o momento de fazer o enorme sacrifício de movimentar aquele corpo. Uma barriga que pesava tanto que eu sentia dificuldade até em respirar. Chamar um dos dois era abuso demais. E eu estava grávida, não doente.
Andei devagar até a cozinha segurando as costas que não parava de doer. Meus pés que a um bom tempo eu não os via estavam inchados como um sapo boi e latejavam absurdamente. Além dos enjoos matinais, azia, intestino preso, seios doloridos. Cheguei perto da cozinha e ouvi os dois cochichando, parei um pouco antes que me vissem, eles tinham informações que não me passavam.
— Tem certeza disso? — Gyu perguntou tenso.
— Sim. O Gojo matou o tal Toji Zenin e agora é considerado o feiticeiro mais forte de nossa era.
Toji Zenin? O homem que fugiu com minha mãe?
— Caramba... o desgraçado é bom mesmo. — Gyu disse com desdém.
— É. Temos que rezar para nunca topar com ele. A história que eu ouvi, é que ele jurou nós três de morte. Se pisarmos no Japão ele nos mata.
Jurados de Morte?
— Não deixe a Kira saber disso. Ela não vai reagir bem. — Gyu disse abaixando ainda mais o som da voz.
— Saber que a pessoa que ela tanto amava quer ver ela morta não é uma tarefa fácil.
O ar parecia ter abandonado meus pulmões. Então, ele sabia de tudo? De quem eu de fato era? Das coisas que fiz? Ele sabia? E me odiava? Não, isso não. Senti uma fincada na barriga e água escorrer pelas minhas pernas. Desesperada eu só gritei.
— GYU! A BOLSA ESTOUROU! MEU BEBE!
— Kira!
— Será que ela ouviu?
Eu me lembro de poucas coisas até chegar no hospital. A dor era insuportável e parecia que eu ia morrer. Ainda faltavam 15 dias para meu bebê nascer. E ele se apressou. Não, fui eu. Meu desespero em saber que Satoru me queria morta. Lembro das luzes do hospital, de Gyu e Hiei desesperados ao lado da maca. Eu só sei que todo esse sofrimento foi embora quando eu ouvi o choro dele.
A enfermeira algum tempo depois deitou ele do meu lado, ainda esbranquiçado, rostinho inchado e olhinhos fechados. Nasceu com os cabelos brancos como os dele.
— Senhora, é um menino.
Eu sorri e as lágrimas que saíram do meu rosto eram de uma felicidade indescritível. Meu filho. Meu amor mais puro e incondicional. Parte do meu ser. A quem eu sacrificaria tudo. Meu Ren.
(...)
Eu saí do hospital três dias depois. Trazendo meu bem mais precioso. Era tão fofo e tão delicado. A pele branquinha levemente rosada, dormindo profundamente. Entrei no apartamento com ele nos braços enrolado numa manta vermelha e fui recebida com festa por Gyu e Hiei.
— Olha só para ele, é tão lindo. — Hiei estava babando.
— Ei filho, esse aqui é o vovô Hiei.
— Vovô? Aí Kira, que lindo. — Hiei começou a chorar como uma criança.
— E esse é o seu tio Gyu.
— Olha só que lindo. É uma pena que saiu a cópia do pai. Até os cílios são brancos. Ele não devia ter nascido com os cabelos pretos?
— É a genética dos Gojo parece mais forte que a minha. — Ri fraco.
— E o nome, já escolheu?
— Já tio, é Ren.
— É um nome lindo.
Eu coloquei Ren no berço e depois caminhei com dificuldade até a poltrona e me sentei sendo apoiada por Gyu e respirei fundo.
— Agora que o Ren nasceu eu queria estabelecer algumas regras e pedidos.
— Pode dizer Kira. — Gyu disse receoso.
— Eu sei que fomos jurados de morte.
— Você ouviu? — Hiei disse cabisbaixo.
— Sim. E eu entendo. Embora isso me destrua por dentro. Mas, eu tenho um filho para criar. Tudo que eu fizer de agora em diante é por ele. O Ren nunca saberá de fato quem é o pai dele, mas eu nunca falarei mal dele, ou irei influenciá-lo de alguma forma.
— E o que dirá quando ele perguntar quem é o pai dele? — Gyu perguntou com certa raiva no olhar.
— Direi que é um homem forte, honrado e poderoso. E que se estamos aqui escondidos é para o nosso bem.
— Quer pintar aquele babaca de herói? Não acredito Kira!
— Gyu, eu não quero que ele odeie o pai como eu odiei o meu. Melhor ele acreditar numa meia mentira. Afinal, o Satoru não sabe sobre ele. E nunca vai saber.
— Eu não concordo. Devia dizer que o pai dele nunca quis um compromisso sério. E que apenas se aproveitou de você.
— Não sou nenhuma santa Gyu. Eu também aproveitei dele. Tanto que engravidei.
— Me poupe dos detalhes pelo amor de Deus. — Gyu disse isso vermelho como um pimentão.
— Respeitaremos sua vontade. — Hiei disse sério. Ele também não concordava.
— Tá, mudando de assunto, e os olhos dele? São como os do pai com aquele poder lá? — Gyu perguntou.
— São azuis, mas não são os 6 olhos. Só pode haver um por vez.
— Olha, Kira. Eu vou me esforçar para que vocês nunca sintam a falta daquele ridículo.
— E serei eternamente grata.
E o tempo passou...
Vimos as primeiras risadas, as primeiras papinhas, as primeiras falas, os primeiros passos. Quando ele fez dois anos, eu decidi entrar na organização, mesmo que a contragosto de Hiei. Mas, eu tinha que ocupar a minha mente.
Eu confesso que uma parte dessa época se esvaiu da minha memória. Foi quando eu usei a Naku Mibojin pela primeira vez. Eu tinha matado um certo traficante que estava dando trabalho aos Komodo. Hiei tinha saído para uma missão em Hong Kong e Gyu tinha ido ao mercado. Estávamos só eu e Ren no apartamento. Tinha acabado de colocar ele no berço quando ouvi ruídos vindos da cozinha, o filho do homem morto por mim havia ido atrás de vingança. Nós lutamos num combate corpo a corpo e depois eu o matei ali mesmo. Quando Gyu chegou pedi que ele ficasse com Ren, e liguei para o setor de "limpeza" da Komodo peguei a bolsa com a espada que por razões óbvias nunca tentamos vender e fui até o esconderijo dos homens que eu havia obrigado o outro a dizer antes de matá-lo.
Eu quebrei a porta com o pé e mais de cinquenta homens estavam lá de prontidão. A espada vibrava cada vez que minha raiva aumentava. E ouvi ela me chamar tão alto que no impulso tirei a espada da bolsa segurei firme, ela vibrava tanto que mal dava para segurar. Eu poderia morrer ali, ou sobreviver. Dependeria da Naku Mibojin. Eu desembainhei a espada e sua lâmina preta surgiu. Eu a ergui e foi como se nós duas fôssemos uma só. Eu sabia perfeitamente o que fazer como se ela sempre me pertencesse. Num movimento rápido o espectro de um dragão surgiu e saiu cortando um a um dos homens naquele galpão.
Eu derrubei 50 homens com um único golpe. Pode parecer exagerado, mas foi o que aconteceu. Naku Mibojin naquele momento passou a pertencer a mim. A minha fama percorreu por toda Seul e passei a ser conhecida como Dragão Fantasma.
Era eles ou eu. E a vida do meu filho foi posta em risco. Não podia deixar barato.
Os anos que vieram depois eu fui ficando cada vez mais temida e mais famosa. Uma mulher de cabelos pretos e longos vestindo um terno branco com uma espada de empunhadura preto e branco. Logo o líder dos Komodo me tornou seu braço direito e eu ganhei mais dinheiro do que podia imaginar. Comprei uma cobertura, num dos prédios mais caros de Seul. Meu filho frequentou as melhores escolas. Eu fiz tudo para que nunca faltasse nada a ele.
Quando ele tinha 5 anos, Hiei começou a treiná-lo. Afinal, ele era filho do feiticeiro mais poderoso da era moderna e ele não negou o sangue. Era um menino inteligente, rápido, forte e extremamente focado.
Com o passar dos anos notei que o temperamento também era igual ao do pai dele. Era tão marrento e arrogante quanto. Ren era como ter um mini Satoru correndo pela casa, com uma quantidade de energia absurda, como se tivesse ligado no 220v.
Ren e Gyu se tornaram grandes amigos. Gyu tinha paciência, era bondoso. E Ren viu nele uma figura paterna, assim como viu em Hiei um avô descolado e brincalhão. Nós vivemos muito felizes desde então.
E assim se passaram 10 anos.
Dez anos desde que fugimos de Tóquio. E a saudade daquele homem nunca diminuía. Parecia que só aumentava com o passar dos anos. Eu também me lembrava sempre da minha irmãzinha. De como eu saí sem me despedir dela, como a minha mãe fez comigo.
Levantei cedo naquela manhã, preparei o café e depois fui para a difícil tarefa de tirar Ren da cama. Se Satoru dormia pouco, Ren dormia demais. Abri a porta do quarto e escancarei as cortinas.
— Ren! Hora de levantar.
— Mmmmm
— Chega de murmúrios. Levanta filho!
— Só mais cinco minutinhos. — Ele respondeu manhoso.
— Anda! Vamos! — Eu o puxei pelo pé.
— Mãe...
— Ren, tem 30 minutos para levantar, se arrumar, tomar café e irmos para a escola.
— Tá bom... Que chata!
— Olha a boca suja, hein garoto!
Teimoso, esquentadinho e levemente arrogante. Acho que eu só tive o trabalho de carregar. Os cabelos eram um pouco mais lisos que os do pai dele, mas tinha os mesmos traços. Os olhos eram um azul um pouco mais escuro. Mas, era igualzinho a ele. Até o gosto por doces.
Levei ele na escola e depois fui para a base dos Komodo. Um prédio gigante no centro de Seul que funcionava como uma empresa de fachada.
O edifício tinha vidraças por toda a sua extensão. Tinha um formato tipo onda. Havia uma quantidade absurda de salas e de funcionários. A sala onde a Komodo trabalhava era na cobertura dos 64 andares daquele prédio. Caminhei pelo corredor repleto de obras de arte que acho que a maioria eram do mercado ilegal.
— Bom dia. — Ouvi a voz de Shion se aproximando de mim. Era um dos colegas de trabalho. Ele também era de Tóquio e estava na Coreia há 15 anos. Vindo de uma família de não feiticeiros ele tinha como habilidade a força bruta e antecipação de golpes.
— Bom dia... — Era um homem bonito. Alto, forte, era sério, de cabelos claros tipo platinado. Eu sei, acabou virando um fetiche.
A gente se dava bem. Muito bem para falar a verdade, o depósito de arquivos que o diga. Eu estava segurando o pescoço dele com uma mão e a prateleira com a outra, eu fui suspensa por Shion e as pernas estavam entrelaçadas em seu quadril. Na maioria das vezes a gente não se dava nem ao trabalho de tirar toda a roupa ou de procurar um lugar mais adequado. Fazíamos em pé mesmo, tirando só as roupas de baixo.
— Kira, você acaba comigo desse jeito. — Shion dizia ofegante enquanto fazia seu trabalho muito bem feito.
— Mais forte Shion! — Eu sentia falta do Satoru, mas eu não era de ferro. Eu só não queria compromisso.
Quando terminamos, a gente se vestiu rapidamente e se ajeitou para parecer minimamente apresentável.
— Eu vou sair primeiro. — Eu disse abotoando a calça.
— A gente bem podia se encontrar fora daqui né?
— Eu tenho um filho de dez anos, Shion. Não posso deixá-lo sozinho e nem te levar para minha casa. — Era a desculpa perfeita.
— Kira, assim você me mata. Eu sou louco por você. — A fila é grande, querido. Sinto muito.
— Shion, quem sabe um dia. Eu preciso de um tempo para pensar.
— Mas, você gosta de mim? Como eu gosto de você?
— Claro, Shion. Mas, eu sou mãe solteira. Espero que entenda.
Sai do depósito primeiro que o Shion e despistei fazendo cara de séria. Fui até o chefe que já me aguardava em sua sala. Bati na porta de leve.
"Entra"
Abri a porta devagar, e caminhei até a frente da mesa de Haruki Hatori. O chefe era um homem mais velho, de cabelos pretos e olheiras fundas. Dizem que era um médico muito famoso no Japão, mas devido a problemas com seu clã, abandonou tudo e fundou a Komodo.
— Kira, que prazer te ver tão cedo.
— Igualmente, senhor.
— Sente-se Kira.
Eu obedeci e sentei-me diante do Hatori. Ele parou de digitar em seu celular e me encarou sério.
— Kira, eu vou ser objetivo.
— Claro, senhor.
— Parece que tem uma certa pessoa tentando atrapalhar nossos negócios e queria que você desse um jeito nele.
— Sim.
— Eu vou mandar as informações para o seu celular.
— Ok, eu vou aguardar. Mais alguma coisa?
— Não, era só isso mesmo. — Agradeci ao chefe e me levantei indo em direção à porta. Ele me chamou. — Kira?
— Sim?
— Seu marido está disponível hoje?
— Sim. Eu vou falar para ele te procurar.
— Ok.
Também tinha isso. Todos pensavam que Gyu era meu marido e que nós dois tínhamos um filho. Mesmo que a gente nem falasse sobre isso. Desde que o Gyu se declarou para mim eu nunca mais toquei no assunto. Eu sei que isso o magoava, mas era melhor assim. Eu não podia usar ele para cobrir a falta que o Satoru me fazia.
Eu me perguntava se era isso que todos pensavam, que eu tinha fugido com o Gyu porque éramos um casal ou algo do tipo. Mas, isso também não importava mais.
A tarefa dada a mim por Hatori era a mesma de sempre: se infiltrar e matar. O local era no porto de Seul. Um homem que trabalhava nas docas. Antes eu nunca me importei com os alvos. Meu pai me ensinou que eu não precisava saber de nada. Apenas cumprir ordens. Mas, quando o Ren nasceu eu passei a entender que nem sempre a gente faz as coisas porque gosta e sim porque precisa. Eu precisava. Não ia ficar o resto da vida às custas do Gyu e do Hiei. Já haviam sacrificado demais por mim.
E eu não gostava de matar. O homem coreano era um pai de família, tinha três filhos. Trabalhou para a Komodo porque a esposa ficou doente e ele não tinha como pagar os remédios com o dinheiro que ganhava. Então entrou para a organização, mas quando decidiu ir embora, Hatori o colocou na lista do Ninho. A forma como ele chamava aqueles jurados de morte pela organização. E eu, Dragão Fantasma fui a escolhida para a função.
Esperei o homem num local escondido atrás de um dos containers. Cobri o rosto com a máscara de Dragão e o aguardei naquele local. Ele quando me viu se desesperou.
— Por favor! Eu ainda não me despedi. Meus filhos, minha esposa. Tenho tanto a dizer para eles. Dragão Fantasma, me dê mais um tempo.
— Eu sinto muito Yejun. Você não tem mais tempo.
Matar um homem desesperado e em pratos era pior do que lutar com eles. Num movimento rápido da espada, eu cortei a garganta dele. A expressão dele imersa naquela poça de sangue me dava náuseas. E eu ainda tinha que cortar os dois polegares. Um recado aos desavisados que o Ninho guarda rancor.
Eu cheguei em casa ainda sentindo o cheiro de peixe e sangue. Entrei para o banheiro e abri o chuveiro e deixei a água cair sobre mim de roupa e tudo. O sangue deixa as mãos grudentas e você lava, mas parece que não vai limpar nunca. Assim como a podridão da minha alma.
Depois tinha que fingir que não aconteceu nada. Vestir uma roupa limpa e ir buscar meu filho na escola. Ele tinha brigado, de novo. Algo que eu não conseguia controlar: o seu temperamento.
A diretora me deu um sermão de quarenta minutos do quanto eu deveria instruir mais o meu filho. A diretora estava na meia idade e era extremamente rígida. E tinha o péssimo hábito de falar cuspindo.
— Você tem que cuidar melhor desse garoto! O pai dele deve te dar bons modos. Ele deu um soco no coleguinha! Um soco!
Quando a mulher parou de falar, sai puxando Ren pelo braço. Estava com o rosto inteiro intacto, o que significa que ele bateu e não apanhou. O que me deixava ainda mais preocupada. Ele entrou no carro com a cara fechada e cruzou os braços.
— Em casa vamos conversar.
— Que seja. — Ele disse desviando o olhar para a janela do carro.
— Francamente.
Chegamos no apartamento já pronta para ler o sermão habitual: "não pode fazer isso", "você sabe que é mais forte que os outros" entre outras coisas. Ren tinha 10 anos, mas já tinha a altura de um garoto de 13 anos.
— Ren, quantas vezes eu vou ter que pedir para não brigar na escola? Já é a terceira vez este mês! Desse jeito você vai ser expulso!
— A culpa não é minha mãe! A culpa é do babaca do Kwan!
— E o que ele pode ter feito para você bater nele? — Ren abaixou a cabeça. — O que meu filho?
— Que eu não tinha pai. Que ele não quis saber de mim. — Ren começou a chorar. O que partia meu coração.
— Nós já conversamos sobre isso. Foi uma decisão nossa.
— Mas, ele nunca ligou, mandou mensagem e nem te visita! Ele não quer saber da gente, né?
— Não é isso meu filho...
— Nem o nome dele você me diz! Não me mostra uma foto que seja!
— ... — Eu não tinha respostas. Não podia dizer nada a ele.
— Eu te odeio mãe! — Ele saiu correndo para o quarto e bateu a porta. Eu soltei meu corpo no sofá e levei as mãos a cabeça e depois ouvi Gyu chegar.
— Que foi Kira? Ouvi choro e gritaria.
— Ren brigou na escola.
— De novo?
— Sim... um dos colegas falou do pai dele. Que ele não liga para nós. Ele está bravo comigo.
— Eu vou lá falar com ele.
Gyu era meu apoio nessas horas. Não havia pontes para nós dois quando o assunto era a identidade do pai dele. Havia apenas muros. Alguns bons minutos depois, Ren chegou cabisbaixo e ficou em pé diante de mim.. Gyu era muito bom nisso.
— Mãe... me desculpa. Eu não te odeio. Eu te amo.
— Vem aqui meu branquinho. — Dei um abraço forte nele e dei vários beijos no alto de sua cabeça.
— Tá bom mãe, tá me sufocando.
— É que eu te amo muito! Agora vai lá fazer sua lição.
Gyu sentou-se ao meu lado e me deu um abraço meio tímido. Ele havia ficado um homem alto, forte, os cabelos mais curtos. E seu amor por mim parecia não ter fim. Assim como o meu por ele. Só que eram amores diferentes.
— Eu não sei o que seria de mim sem você. — Eu disse emotiva.
— Estarei aqui mesmo que ache que não precisa. — Ele me deu um beijo na testa e se levantou. — Tenho que ir. Chefe precisa de mim.
— Vai lá.
Peguei o celular e comecei a navegar à toa. A Internet era a coisa mais ingrata que o ser humano inventou. Eu não tinha uma rede social, não gostava e não podia ter. Afinal eu era uma criminosa. Mas, Hatori instruiu que fizéssemos perfil fake para ficar de olho nos nossos alvos. O meu era de uma estudante de medicina, que tinha uma vida normal como qualquer outra. Navegava rolando o feed para cima olhando atentamente cada detalhe de como seria se eu tivesse uma vida normal e isso me deixava com muita raiva. Eu não vou negar, procurei por um certo alguém muitas vezes. Satoru também não tinha redes sociais. Mas, rolando as fotos vi algo que me chamou atenção, uma foto de uma moça loira muito bonita abraçada a ele. Eu segurei o choro, como podia ainda me machucar tanto? Ele seguiu em frente.
Peguei o celular, e procurei nos contatos.
— Shion? A gente pode se ver?
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