07 - Erro e Pecado
Kira
Desespero. Foi só isso que eu senti quando vi o positivo no teste de gravidez. Eu não sabia o que fazer. Saí do banheiro e voltei para o quarto escondendo a embalagem que depois coloquei na bolsa. Satoru acordou pouco tempo depois.
— Honey? Tá passando mal?
— Não, eu tô bem.
— Vem, deita aqui. — Ele me estendeu a mão e deitei sobre o peito dele. — Mãos geladas.
— Deve ser o ar.
— Eu vou aumentar um pouco a temperatura.
— Tá.
Ele aumentou o ar e eu fiquei pensando na pergunta que eu devia ter feito desde o início. Saber o que ela pensava sobre filhos. Eu podia simplesmente dizer que estava grávida. Mas, jogar essa bomba iria requerer mais tempo.
— Amor? Eu posso te fazer uma pergunta?
— Já tá fazendo.
— Bobo.
— Faz.
— O que você acha sobre casamentos?
— Uma perda de tempo. — Rápido e seco. Simples assim.
— Ah tá...
— Não me leve a mal gatinha, eu gosto muito da nossa vida juntos. Mas, eu não me imagino sendo pai de família, sendo fiel e essas coisas.
— Diz isso na minha cara?
— Estou sendo sincero e sempre fui com você. Eu te curto, mas é bom assim não? Não tem cobrança e nem nada.
— Claro... — Eu engoli seco tentando esconder a decepção. Embora eu já soubesse a resposta. — E... filhos?
— Tá brincando? — Ele perguntou com certo deboche. — Nem morto. Não consigo nem me imaginar tendo um filho!
E era isso. Eu estava sozinha. Depois disso eu tive certeza. Nosso fim de semana em Okinawa terminou assim. Shoko me perguntou discretamente sobre o resultado, mas eu menti e disse que tinha dado negativo. Era melhor enterrar esse segredo o máximo que podia. Pelo menos até ver o que podia fazer.
Quando chegamos em Tóquio, fomos para a casa dele. Mas, eu só peguei algumas coisas e decidi voltar para casa.
— Ué? Tá indo aonde? — Satoru me perguntou ao me ver me preparando para sair.
— Eu vou pra casa.
— Por que?
— Eu preciso ver meu pai.
— Ok, volta amanhã tá? — Ele disse me abraçando.
— Tá.
Eu me despedi com um nó na garganta querendo gritar para ele: "Hey, nós vamos ter um filho e agora?". Mas, eu engoli tudo calada. Voltei para casa desesperada. A única pessoa que poderia me ajudar era meu tio Hiei.
Quando eu disse, ele me abraçou e disse que daríamos um jeito. Depois disso Gyu apareceu na minha janela e eu chorei como criança abraçada com ele. Fiquei três dias sem ir à aula. Satoru me ligava e eu não atendia. Apenas mandei uma mensagem dizendo que estava tudo bem.
Eu tinha que tomar uma decisão na minha vida.
(...)
Meu pai estava no mesmo local de sempre olhando para aquele jardim. Ele abriu um sorriso largo ao me ver, uma raridade dentro daquela casa.
— Sente-se aqui minha filha! — Ele estar feliz me deixava mais assustada do que se estivesse bravo. Me aproximei devagar e me sentei ao seu lado.
— Pai.
— Eu devo confessar que se saiu melhor do que eu pensava! O líder do clã Gojo? Você usou tudo que eu ensinei.
Não pai, eu me apaixonei feito uma idiota.
— Não foi planejado pai...
— Então você é uma sortuda. Filha, preciso que dê um jeito de engravidar dele o mais rápido possível.
Você ouvir seu pai dizer a você para dar o golpe da barriga era a coisa mais nojenta que se podia ouvir. Eu engoli seco e abaixei a cabeça. Se eu discutir, ele certamente me puniria severamente e minha vida não era mais só minha.
— Ele não é do tipo que gosta de casamento e filhos.
— A Kaede vai te ensinar tudo que precisa saber. — A felicidade dele me enojava. — Já pensou se vier um menino? Eu vou ser o homem mais feliz do mundo! Um neto com sangue Gojo! Para ficar melhor, tem aquela outra coisa.
Ah. Ainda tinha isso.
— A missão da escola pai?
— Sim. Tem todas as informações de lá, entrada, saída, número de funcionários?
— Sim.
— Está guardado lá, algo que nos pertence. Uma espada chama Naku Mibojin. Somos descendentes de Masakado Taira e aquela espada pertence à nossa família. Mas, devido ao seu valor inestimável, o clã Gojo mandou para a escola para uma maior proteção. E é aí que você entra.
— Quer que eu roube a Naku Mibojin?
— Exatamente. Com a sua técnica você pode entrar e sair sem ser vista. E eu até deixo você continuar na escola até arrumar um filho do Gojo.
Ele ainda era o mesmo escroto de sempre. Não estava nem aí para os meus sentimentos e nem nada do tipo. Só queria saber de seu benefício próprio.
— E quando?
— O mais rápido possível, antes que reforcem a segurança e mudem as portas de lugar. E depois que tivermos ela, te darei novas ordens. Por enquanto é só.
Eu saí da sala do meu pai com tanta raiva dele que não sabia o que fazer, ou o que pensar. Eu tinha uma missão, um filho valioso na barriga e um namoro que não era namoro. Que grande merda.
Eu fui atrás das duas únicas pessoas que poderiam me ajudar. Gyu e Hiei. Os dois sempre foram aquelas pessoas que me ajudariam a esconder um corpo. Já fizeram isso na verdade. Quando procurei Hiei naquela ocasião não foi diferente.
Nosso plano foi feito três dias antes dentro do centro de treinamento. Hiei pensou em inúmeras possibilidades.
— E se você disser ao pai da criança?
— Não, tio. Isso não.
— Por que? — Hiei perguntou indignado.
— Vai ser melhor assim.
— Tá. E a espada? — Gyu perguntou tenso.
— Se essa espada cair nas mãos do seu pai estamos perdidos. Embora eu acredite que ele não pode usá-la.
— Por que? — Perguntei curiosa
— A espada escolhe seu portador. E em todas as vezes escolheu um manipulador de fantasmas.
— Ou seja, é por isso que ele precisa de mim?
— Sim Kira. Eu acredito nisso.
— Não posso rejeitar a missão. Ele pode me castigar e não quero que nada aconteça com meu filho.
— Então, você terá de cumprir a missão. — Gyu disse cabisbaixo.
— E se a gente fugisse? — Perguntei me lembrando da minha mãe.
— Para onde? Ta maluca Kira?
— Não Gyu, ela tá certa. Se ela ficar aqui ela vai ser usada como moeda de troca. Se for um menino, Hanzo pode arrancar o filho dos braços dela e forçar ela a usar a espada. O único jeito realmente é fugir.
— E para onde?
— Tenho contatos fora daqui, mas quero que saiba que se decidir Kira, sua vida aqui vai ficar para trás.
— Tudo bem. — Respondi com um nó na garganta.
— Eu vou com vocês. — Gyu disse no impulso.
— Não é arriscado demais!
— Kira, eu não vou deixar você sozinha. Nunca. Somos família, lembra?
— Não quero que sacrifiquem sua vida por mim.
— Kira, eu vou dizer isso só uma vez: eu te amo. E você deve saber que não é como irmão. — Gyu me acertou em cheio sem nem precisar me bater. — Então não importa a porra que você quer fazer com a sua vida, eu vou estar com você.
— Obrigada por tudo. Mesmo que eu não mereça.
— Não merece mesmo. Mas, vamos resolver isso logo.
— Tá, eu conheço uma organização que pode nos aceitar. Se chama Komodo, não é tão diferente do que estamos acostumados. Mas, você em hipótese alguma pode falar a paternidade dessa criança. Nunca. — Hiei reforçou isso mais umas três vezes. Eu só entendi o peso dessas ressalvas depois.
— Entendi. Eu posso dizer que sou mãe solteira.
— Não, vai levantar suspeitas demais. — Hiei ficou pensativo.
— Então, eu sou o pai. — Gyu disse sem nem pestanejar. — Eu e você somos um casal fugindo do seu pai porque você engravidou e ele não nos aceita.
— Isso aí convence. Boa Gyu! — Hiei disse empolgado e já correu para fazer as ligações.
Eu me sentia um lixo. Queria que o mundo me engolisse. Queria desaparecer. Mas, como eu disse antes, minha vida não era mais só minha.
(...)
Eu tomei a decisão. Era o melhor a se fazer. Antes do dia, voltei à escola normalmente como se nada tivesse acontecido. Parei na mesma esquina de sempre e esperei por Satoru que me deu um abraço apertado.
— Eu estava preocupado. Você sumiu e não me atendeu. Seu pai fez algo com você?
— Não, amor, eu tô bem.
E eu repeti essa mesma mentira inúmeras vezes. Talvez se eu repetisse ela sem parar ela se tornaria verdade. Eu tive aula normal, me diverti com meus amigos. Foi um dia incrível.
Depois voltei para casa com Satoru. O tempo que passamos separados naquela semana parecia uma eternidade. Mesmo que eu ainda estivesse magoada. Eu o amava intensamente. Eu olhei cada canto daquele quarto por um bom tempo, gravando em minha memória cada momento para que eu nunca me esquecesse do quanto eu fui feliz.
— Eu tô te achando tão... distante... — Satoru me disse tocando de leve em meu ombro. Eu queria ter dito para ele, queria mesmo. Mas, acho que eu não queria me decepcionar ainda mais.
— Eu tô bem... só quero aproveitar cada momento com você.
— Desse jeito você me deixa sem graça. Mas, é que eu quero que saiba que eu estou aqui caso precise de alguma coisa.
— Eu sei. — Ele só não podia me assumir e ter um relacionamento de verdade. Abaixei a cabeça e fiquei pensando como dar adeus aquele momento. Aquele amor. Aquela seria nossa última vez juntos. E eu não conseguia nem ter uma frase para finalizar. — Eu... sei que vai parecer estranho para você, mas... eu... gosto de você, de verdade. Muito mesmo e... cada momento com você valeu muito a pena. Eu não me arrependo de nada.
— Eu também não me arrependo. E também gosto de você
Não, eu o amava. Amava de todo meu coração, de todo o meu corpo e minha alma. Mas, aquilo foi o máximo que consegui dizer.
— Eu quero você e saiba que não importa quanto tempo passe eu serei sempre sua.
Ele ficou um tempo me olhando assustado e sem graça e depois ele disse a frase que mais me deixou mal. Se ele tivesse dito outra coisa eu simplesmente seguiria em frente, mas não. Ele tocou meu rosto e disse olhando intensamente em meus olhos.
— E eu serei seu.
E eu acreditei. Podia ser mentira, mas ele me olhou com tanta ternura que eu acreditei. Eu o beijei de forma intensa enquanto eu tirava as roupas dele com urgência e o joguei na cama, e tirei minhas próprias roupas. Fiquei por cima de seu corpo e comecei a me movimentar sobre ele. Quando começou a se intensificar ele segurou firme em meus quadris e se virou sobre mim ficando sobre meu corpo, ele segurou minhas mãos sobre a minha cabeça e continuou a me amar com toda a intensidade. Ele parecia sentir que ali era nossa despedida. Que depois daquela noite não haveria um depois. Quando ele soltou meus braços entrelaçou seus dedos nos meus e ficou segurando a minha mão com força, depois eu agarrei seu pescoço e o abracei forte. Não queria me soltar dele, nem dizer adeus. Por que isso era tão difícil? Por que a gente não podia ser um casal normal? Porquês e mais porquês. Não havia mais nada a fazer. Chegamos ao clímax juntos, nossos corpos suados, nossos rostos quentes. Eu ainda fiquei lá abraçada a ele por um bom tempo. Eu estava chorando nos braços dele. Seria a nossa despedida e não pude dizer nada. Eu queria que ele fosse mais maduro, que quando eu disse a ele sobre filhos ele não respondesse daquela maneira. Tudo teria sido diferente. Eu não teria feito nada disso. Mas, ele não iria ficar feliz quando dissesse, não oficializaria ou daria um nome para o que nós tínhamos e isso me aterrorizava. Ser uma mãe solteira é algo aterrorizante, você sente que está sozinha e numa sociedade cheia de regras em que vivíamos isso era algo ultrajante. Mulher não tem muitas oportunidades de se defender. Provavelmente interesseira e golpista seriam os adjetivos mais bonitos que eu iria receber.
— Que foi amor? — Ele disse preocupado. — Te machuquei?
— Não. Eu só estava com saudades de você.
— Meu amor... foi pouco tempo. — Ele me abraçou e me cobriu de beijos. Toda vez que penso nisso meu coração parece que vai despedaçar. Eu fiquei dias e noites pensando se ele me amava como eu o amava ou se tudo aquilo não passou de ilusão. Dele só aproveitando do sexo fácil. Isso me corroía por dentro.
Ficamos abraçados ali por um longo tempo. Ele me disse algumas coisas fofas e eu me agarrei aqueles últimos momentos. Olhando seus olhos azuis intensos e claros como um céu num dia ensolarado. Mas, eu tinha um trabalho a fazer. Eu também nunca fui muito sincera. Nunca disse a ele o que de fato eu fazia e certamente se ele soubesse ele não me perdoaria.
Esperei ele dormir e voltei para casa no meio da madrugada para minha sorte sem ele perceber. Peguei todos os itens que precisava: um mala, que nada mais é que um rosário budista, uma wakisashi e alguns selos prontos previamente.
Hiei me levou de carro até o local mais próximo possível. Se alguém não autorizado pisasse dentro do terreno da escola, o ser que cuidava daquele lugar iria me bloquear: Mestre Tengen. Para usar a minha técnica eu teria que usar um ritual antigo conhecido pela minha família. Usando o mala como amuleto.
Cheguei no topo da escada, respirei fundo e comecei.
— Kage, Tamashi, Keiyaku, obake. Com este amuleto eu protejo os youkais que servem a família Yosano. Por meu antepassado Masakado Taira.
Uma técnica sigilosa. Fantasmas e maldições tinham diferença. Para uma alma ser amaldiçoada e se tornar um espírito rancoroso eram necessários muitos sentimentos dos seres humanos. O que Geto fazia era absorver as maldições para dentro do seu corpo e usar a seu bel prazer. Eu conjurava pactos através de trocas. Bobos ou nem tanto. Eu não comia pimenta, não usava verde aos sábados, não usava esmaltes brancos. Entre outras coisas. Quanto mais poderoso o espírito mais alto era o sacrifício. Um arsenal que você vai juntando ao longo dos anos através de uma negociação e exorcismo. O que fazia de mim uma bruxa, uma médium ou uma feiticeira. Quem sabia ao certo?
Eu mudei o selo de mãos e invoquei Tomei. Um feiticeiro mediano que tinha o dom de ficar invisível e atravessar paredes. Seu sacrifício, não gostava da cor púrpura. Eu passei pelos funcionários com facilidade, eles não podiam me ver, não podiam me sentir. Era como se eu não estivesse ali.
Depois chamei Torakka. Um homem honrado, traído por seus amigos durante a era edo. Sua habilidade: rastreamento. Seu sacrifício: Ele não gostava de mel. Foi jogado num caixote cheio de abelhas.
Gostaria de dizer que foi difícil invadir. Mas, não foi. Eles deviam ter remanejado a espada a muitos meses. Mas, um membro do alto escalão pediu que aguardassem. Torakka me levou até um depósito simples nos arredores da escola. Atravessei a porta com o poder de Tomei e depois usei Torakka para localizar a espada dentre as inúmeras daquele galpão. Uma espada velha e gasta de empunhadura em branco e preto.
Quando levei a mão a espada senti a espada vibrar antes mesmo de encostar nela e em seguida ela murmurou meu nome. Dei um salto para trás e fiquei um tempo pensando no que fazer. Não tinha como voltar atrás. Eu já tinha ido até ali. Respirei fundo e peguei na espada de uma vez. A pressão que vinha dela era impressionante. E ela estava na bainha. Fiquei pensando em como seria se ela não estivesse.
Sai apressada do local usando o poder de Tomei e corri o mais rápido que pude. Minhas pernas pareciam tão amortecidas que era como se não tocassem no chão. Eu desci as escadarias correndo e fui até onde o carro estava escondido. Entrei no carro ofegante e olhei para o motorista.
— Vamos, Tio Hiei.
Hiei acelerou o máximo que podia e fomos até o aeroporto. Um jatinho previamente pronto estava nos aguardando. Do lado de fora, Gyu me aguardava com uma bolsa. Tirei o moletom e enrolei a espada, desci do carro e coloquei na bolsa. Depois entramos os três no jatinho particular.
Nosso destino: Coreia do Sul.
Deixei tudo para trás. Eu não tinha outra opção. Eu jamais cogitei abortar meu filho, também não queria causar um conflito entre clãs. Com um pai interesseiro e um pai desinteressado. Não me despedi de ninguém, não avisei nada. Traí meu pai, Satoru, a escola e toda comunidade Jujutsu. Roubando uma espada de valor inestimável e levando no meu ventre um filho valioso de um clã poderoso de um homem só.
— Está pronta Kira? — Hiei me perguntou ansioso.
— Sim.
— Vai dar tudo certo. — Gyu me abraçou forte.
Tinha que dar certo. Eu não tinha outra opção.
(...)
Narrador
Satoru acordou assustado. Estava tendo um pesadelo, eles eram incomuns para ele, mas de vez em quando acontecia. Procurou por Kira ao seu lado, mas não a encontrou. Havia levado tudo que era dela. Deixou apenas a camiseta da primeira vez que ficaram juntos. Ele ficou sem entender o que estava acontecendo.
Ele já havia notado que ela estava estranha, que algo a chateou. Pensou no que poderia ter feito, mas não se lembrava de nada. Ele caminhou até a esquina e tentou ligar para ela. Nada. Esperou por uns quinze minutos, mas ela não apareceu. Ele sempre teve além dos seis olhos, que praticamente via energia amaldiçoada minuciosamente, também tinha uma boa intuição. E naquela manhã ele sentiu que algo estava muito errado.
A manhã estava cinzenta e triste. Ele foi até a escola sozinho e depois encontrou-se com Suguru, o melhor amigo que sempre esteve ali com ele e o mesmo de cara percebeu que havia algo errado.
— Tá tudo bem Satoru?
— Tô sim. Acho que dormi mal a noite.
— E a Kira?
— Acho que ela foi para casa. — Satoru respondeu cabisbaixo.
— Ela estava meio estranha né? Distante, pensativa.
— Sim. Deve estar cansada.
— Talvez seja hora de a assumir de verdade, não? Dar uma aliança para ela, falar com o pai dela. É o mais honrado de sua parte, não acha?
— Tô fora! Rotina? Casamento? Isso não é para mim.
— Mas, talvez seja para ela.
Satoru ficou pensando nas palavras de Suguru. Talvez ele tivesse razão. Ele nunca se importou com esses detalhes e pensou que isso também não era importante para ela.
Os dois chegaram à escola e já estranharam a movimentação. Feiticeiros e funcionários de um lado para o outro fazendo ligações, procurando no meio da floresta. Yaga correu até Satoru quando o viu e mal o cumprimentou.
— Que bom que chegou! Preciso que faça uma coisa!
— Bom dia pra você também sensei.
— Sem gracinhas, isso é muito importante!
— O que aconteceu? — Suguru perguntou sem entender nada.
— O inacreditável.
Os dois acompanharam o professor até até sala dele. Yaga abriu o notebook e começou a procurar pelo vídeo das câmeras de segurança.
— Hoje de manhã, quando foram verificar o inventário das armas amaldiçoadas eles tiveram uma surpresa nada agradável. Naku Mibojin desapareceu do depósito de armas.
— Como assim? — Suguru perguntou surpreso. — Um invasor entrou aqui sem o mestre Tengen detectar?
— E não é só isso. A porta não foi arrombada, não há rastros de energia amaldiçoada em lugar nenhum. Como se...
— Um fantasma tivesse a roubado? — Satoru completou a frase pensativo.
— Isso. Não há nada nas câmeras de segurança. Já revisamos as imagens umas mil vezes. Nada. Nem em câmera lenta. Mas, acredito que você possa ver.
Yaga virou o notebook para Satoru e deu play. O jovem tirou os óculos e olhou atentamente as imagens e de repente ele viu o que ele nunca imaginou ver. Kira atravessando a porta envolta por uma energia fantasmagórica.
— Manipulação Espiritual...
— O que? Como a minha habilidade? — Geto perguntou.
— Não. Espiritual mesmo. Tipo fantasmas. Feito através de pactos. Ela estava envolta em uma aura de algum feiticeiro que tinha a habilidade de se esconder e atravessar objetos.
— Ela? — Yaga perguntou curioso.
Satoru encostou na cadeira e naquele momento ele percebeu que eles haviam sido manipulados e traídos. Que os sentimentos dela eram tudo uma mentira e que ele foi usado da maneira mais sórdida possível.
— É a Kira...
— O que?! — Suguru e Yaga exclamaram juntos.
— Isso aí... senhores, nós fomos traídos.
— Mas, desde quando ela tem essa técnica? Ela nunca falou nada!
— Desde sempre Suguru.
— Malditos Yosanos! Sabia que o pai dela mandar ela aqui não era a toa. Vou mandar eles agora atrás deles!
Satoru ficou lá sentado olhando a imagem paralisada da mulher e sua expressão. Como ela pode o enganar daquele jeito? A ele?
— Você está bem Satoru?
— Tô sim. — Ele respondeu com um sorriso falso no rosto. Obviamente ele não estava bem. Mas, jamais deixaria que percebessem.
O Colégio acionou os três clãs, todos os feiticeiros disponíveis e fizeram uma busca por todo o país. Quando foram a mansão Yosano, Hanzo quase caiu para trás.
— O que estão dizendo? Vem até minha casa me proferir ofensas? — Hanzo disse a Yaga extremamente ofendido. Satoru e Suguru o acompanharam e ficaram do lado de fora da residência dos Yosano's.
— Sua filha invadiu a escola e roubou a Naku Mibojin.
— Procurem a minha filha! Traga aquela vagabunda ingrata aqui agora!
Os funcionários procuraram por cada canto e em cada casa da propriedade. Hanzo percebeu naquele instante que a filha havia sido mais esperta.
Enquanto isso, Mayumi chorava copiosamente no colo da mãe ao descobrir que Gyu havia fugido com Kira. Depois de tudo que fizeram.
Kaede se aproximou do marido já temendo sua fúria.
— Marido... ela não está em lugar nenhum, nem ela, nem Gyu e nem Hiei.
— MALDITA! QUEM ELA PENSA QUE É?
Yaga e seus dois alunos viram o homem destruir a sala de sua casa completamente enfurecido. Suguru pensou em intervir, mas Yaga pediu que deixasse o pai se expressar.
— Eu vou encontrar aquela fedelha e trazer ela aqui e fazer ela pagar! Nem que seja no inferno! Ela fugiu como a mãe dela! Maldita seja você também Kameria!
Satoru assistia tudo parecendo que estava anestesiado. Ela traiu a escola, o seu clã, ela o traiu e traiu toda a comunidade Jujutsu. Como ele, que enxerga tanto, pode ser tão cego?
Quando retornaram a escola de mãos vazias, a investigação sobre os três já havia ficado pronta. Yaga pegou a documentação e se virou para os dois. Satoru não dizia uma única palavra.
— Você quer saber, Satoru?
— Quero. Por que não? — Sempre com sorriso no rosto. Como se nada daquilo o afetasse.
— Assassina treinada pelo clã Yosano, há registros de pelo menos 100 mortes misteriosas. As testemunhas alegam a mesma coisa, uma pessoa se espreitando nas sombras cercada de fantasmas. Temida por todo lugar que vá. O braço direito de Hanzo Yosano. O homem que a treinou foi Hiei Yosano, um ex-militar que atuava também no submundo. E o garoto, não tem energia amaldiçoada, mas é um atirador sem igual. Todos eles servindo nas sombras enquanto Hanzo desfrutava da riqueza e poder.
— A Kira...? Matou mais de 100 pessoas? — Suguru estava incrédulo com o que ouvia.
— Então ela é apenas uma criminosa? — Satoru disse com mágoa na voz. — Que comédia.
— Eles fugiram do país, num jatinho particular. Provavelmente em direção a Coreia do Sul.
— Então temos que ir lá! — Suguru estava chateado pelo amigo.
— Não é nossa jurisdição. Além do mais, pelas informações que tivemos eles agora estão sob proteção do Ninho. A organização Komodo de Haruki Hatori. Uma assassina perigosa com uma espada de valor inestimável que pode causar um estrago.
— Então, se ela fosse avaliada com seu real poder ela seria de nível especial não é sensei? — Satoru disse sério.
— Sim. Ela seria. Não, ela é.
— Então, como mestre de maldição procurada, se ela pisar aqui, eu posso matá-la não posso?
Yaga e Suguru ficaram surpresos com a pergunta de Satoru. Dito de uma forma fria pelo feiticeiro. Yaga engoliu seco e disse:
— Sim. A ordem é de execução para qualquer um dos três. Por enquanto é só.
Satoru saiu da sala do professor ainda em silêncio acompanhado de Suguru. Quando chegaram lá fora, Suguru disse com tristeza.
— Satoru, pode desabafar comigo. Eu sei que o que ela fez foi horrível e te magoou.
— Não Suguru, me deixou com muita raiva. Não importa quanto tempo passe, pode ser em um ano, cinco, dez ou até vinte, eu vou esperar ansiosamente por ela aqui e eu mesmo vou esmagar o coração daquela mentirosa traidora. Ela vai aprender que mexeu com a pessoa errada.
E o amor que havia começado com tanta intensidade, acabou virando também um ódio intenso. Kira estava jurada de morte pelo feiticeiro mais forte da era moderna.
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