Capítulo 8 (rascunho)
– Nobuntu – pediu Daniel, olhando direto para si. – Eu acho melhor começarmos por sair deste mundo, já que temos que voltar para o ponto zero. Decolem em meia hora, enquanto eu e os cientistas vamos preparando o planejamento.
– Claro, Almirante – disse o comandante, levantando-se. Saiu da sala e, pouco depois, a sua voz soou em toda a nave. – "Atenção à tripulação, preparar decolagem. T menos trinta minutos."
– Igor. – Mia virou-se para ele. – Temos como retornar para o nosso fluxo?
– Sim, Mia – respondeu, tranquilizador. – Mesmo que eu fosse para outro local poderia encontrar o vosso caminho. Só perdi o meu porque acabei me ferindo bastante e perdi a consciência.
– Isso deixa-nos aliviados – disse ela. – O nosso piloto gostaria de ver como vocês operam a nave.
– Fique à vontade, meu caro – respondeu Daniel, apontando a ponte através das janelas enormes da sala. – Bem, alguém quer dizer algo?
– Precisamos de proteger os reatores – disse o engenheiro chefe, preocupado. – Da última vez tivemos muita sorte.
– É verdade, senhor Kami – concordou Daniel, com um sorriso gentil. – Recomendo que pegue um par de engenheiros e construam um pequeno campo de super-carga em volta da sala e dos tanques de antimatéria.
O engenheiro levantou-se e saiu. Após, Daniela falou:
– Eu não sou necessária aqui, então vou ver se o prisioneiro melhorou. – Abanou a cabeça e continuou. – É tão diferente de um ser humano que nem sei se o salvaremos.
– Tá bom, amor – disse o marido. – Qualquer coisa estarei aqui ou na engenharia.
– Alteza – disse a física chefe. – Já tenho bastantes informações e vou descer para os laboratórios começar os meus cálculos.
– Claro, doutora Russel – respondeu Daniel. – Em breve estaremos lá.
Mia e outro cientista de Axt falavam, enquanto mais físico solariano desenhava diagramas na tela gigante do computador, orientado pelo par e Igor. Já Mog e o piloto observavam a atividade na ponte. Eles notaram que todas as mesas da ponte estavam guarnecidas e não mais pareciam vazias porque inúmeras projeções holográficas mostravam instrumentos e controles.
― ☼ ―
Na hora marcada, a gigantesca esfera ergueu-se devagar. Dentro, nada era sentido e a única coisa que mostrava o movimento era a imagem do solo diminuindo devagar.
– Dez mil metros – disse o navegador.
– Mil g – ordenou o comandante.
O piloto fez um gesto com a mão esquerda e o planeta encolheu a olhos vistos, mostrando aos convidados a capacidade absurda de aceleração.
– Espaço – disse o navegador.
– Empuxo total – ordenou Nobuntu. – Preparar mergulho em dez minutos.
– Jato-propulsores ligados a cem por cento – disse o piloto, compenetrado –, c em seis segundos...
Nesse momento os alarmes dispararam e o piloto cortou a aceleração, virando o rosto para as telas.
– Abalos estruturais a trinta horas-luz, senhor – comentou o oficial. – São no mesmo lugar que a primeira frota surgiu.
– Contagem?
– Pelos ecos, cerca de quinhentas unidades, senhor, mas as emanações energéticas em onda penta são bem maiores.
– Piloto, manter aceleração sem mergulhar. Alerta amarelo.
Daniel apareceu ao lado do comandante e sentou-se na cadeira do almirante.
– Vamos ver isso – ordenou. – Alerta para os destroyers. Artilharia deve ficar em prontidão. Vamos ver quem são esses cavalheiros, Nobuntu.
– Vocês ouviram o almirante. Preparem um salto para perto deles. Um minutos-luz. Preparar para frenagem de emergência assim que os rastrearmos. Campos de supercarga a plena potência.
– Confirmado, senhor.
– O que acha, Coronel?
– Bam, Almirante, a primeira forta não enviou qualquer sinal de rádio e nenhuma nave fugiu. Ou são o mesmo povo procurando os seus desaparecidos ou outra coisa qualquer.
– Fico com a outra coisa, qualquer – resmungou Daniel.
– Posso saber o motivo, senhor, e que coisa seria essa?
– Acho que são inimigos deles que os caçavam. Quando apareceram aqui, encontraram a nossa nave e pensaram que fossemos o inimigo e atracaram – explicou, professoral. – Esses aí, devem estar à procura dos fugitivos.
– Por que motivo acha isso? – perguntou Nobuntu, incrédulo.
– Simples, a assinatura energética é bem maior, mas veremos em breve...
– Raciocínio preciso, Daniel – disse Mia. – Concordo com o...
– Mergulho em dez segundos – interrompeu o piloto. – Tempo estimado três segundos... atenção... mergulho... três, dois, um, espaço...
Foi tão rápido que os convidados nem conseguiram aproveitar grande coisa. Logo estavam de volta e Nobuntu disse:
– Alerta vermelho.
Sem transição a gigantesca esfera tornou-se uma coisa estanque formada por milhares de compartimentos. Mesmo que fossem atingidos e o casco sofresse danos estruturais, a vida ainda seria preservada na sua maioria. A seguir, o painel principal mostrou os pontos. Segundos depois, as naves surgiram ampliadas. Eram esferas, a maior delas com duzentos metros e alguns discos.
– O senhor estava certo, Almirante – disse Nobuntu. – Devem ter nos rastreado porque começaram a parar. Comunicações?
– Ainda nada, senhor – respondeu. – Estou tentando em todas as frequências e o tradutor simultâneo está ativado. Consegui contato. Estão nos saudando.
– Se tiver imagens ponha na tela.
O painel principal iluminou-se e surgiu a imagem da ponte de uma das naves. Logo viram os sujeitos que eram humanoides. Possuíam uma cabeça mais esférica que a humana e o nariz era um furo. O que mais os diferenciava, era o fato de terem quatro braços. O alienígena começou a falar e a tradutora dizia uns sons desconexos. Pouco depois, algumas palavras formaram-se e Daniel arriscou um cumprimento.
– Estamos em paz, meus amigos estrangeiros – disse ele.
A rsposte veio a seguir.
– A paz é o nosso objetivo, irmão de outro mundo.
– Vocês procuram alguma coisa?
– Sim, irmão de outro mundo – respondeu o comandante da outra nave. – Existe um povo que ama a guerra e pretendia atacar um mundo inocente. Nós os combatemos, mas muitos fugiram para este setor. Procuramos por eles.
– Há pouco tempo fomos atacados por cerca de trezentas naves em forma de fuso – explicou Daniel. – Pelo que fala, acho que eles pensaram que eramos do seu povo e devem ter atacado por isso.
– Oh, não pode ser porque as nossas naves são dez vezes menores, irmão.
– Mandamos um das nossas naves de combate interceptá-los e ela tem metade do tamanho da sua maior nave, amigo – explicou Daniel. – Quando atacaram, revidamos, mas eles não desistiram e foram destruídos. Pegamos um prisioneiro, mas está muito ferido.
– Seria possível levarmos o seu prisioneiro, irmão de outro mundo?
– Claro. Vou abrir um hangar para nos encontrarem. Esperarei vocês lá.
– Obrigado, Irmão de outro mundo, estou indo para a nave auxiliar.
– Aguardo. – Daniel virou-se para o comandante. – Nobuntu, desligue o campo de supercarga e aguarde a aproximação antes de abrir o hangar. Almirante para doutora Chang, preparar o prisioneiro para transporte.
Daniel olhou para Igor e os restantes convidados, continuando:
– Querem me acompanhar? – perguntou. Ao ver que o acompanhavam, dirigiu-se para o transmissor de matéria em vez de teleportar.
– "Comandante para Almirante" – disse o relógio. Daniel ergueu-o.
– Daniel – disse, lacônico. Isso ativou a comunicação e a imagem do comandante apareceu no ar.
– "Uma pequena nave disco aproxima-se. Vou abrir a comporta." – Nobuntu olhou para o lado e ordenou. – "Pode abrir."
– Obrigado.
A imagem sumiu e a comporta de cem metros de diâmetro começou a se abrir. Assustado, o comandante Axt quase berrou:
– Estamos sem trajes de proteção, cancele isso.
– Acalme-se, amigo – disse Daniel –, nós temos campos de contenção do ar.
Acalmados, viram a nave aproximar-se e romper o campo energético protetor, entrando no hangar. O pequeno disco de vinte metros de diâmetro pairou devagar e pousou ao lado da nave de Axt.
O sujeito desceu, junto com mais dois companheiros e era difícil identificar quem era quem. Eram mais baixos que a média, cerca de um metro e sessenta e cinco e pareciam simpáticos, apesar das diferenças tão marcantes com um ser humano. Daniel entrou na mente dele e aprendeu o seu idioma. Notou, também, que não havia qualquer tipo de hostilidade, ficando mais relaxado.
– Bem-vindos à Atlântida – disse ele, falando no idioma nativo dos recém-chegados. A caixa do tradutor simultâneo que carregava ao pescoço, traduziu para português.
– Obrigado, irmão de outra estrela – respondeu a criatura, erguendo ambas as mãos superiores em um gesto paz. – Vejo que aprendeu o nosso idioma.
– Tenho o dom de entrar na mente de alguém e aprender com a pessoa – respondeu Daniel.
– Nós nunca nos deparamos com seres como vocês.
– Somos de outra galáxia e estamos apenas de passagem.
– Foi bom terem encontrado esses criminosos – disse o alienígena, inclinando a cabeça para o lado esquerdo. – Eles são um povo inimigo da paz. Nós policiamos a galáxia e protegemos os mundos que ainda não atingiram a maturidade. Eles são esclavagistas.
– Então fico mais leve em saber que o que fizemos ajudou a salvar outros povos, irmão.
– E nós ficamos satisfeitos em saber que fizemos novos amigos amantes da paz, irmão de outra galáxia. Poderíamos pegar o prisioneiro e levá-lo?
– Claro – respondeu Daniel. – Ele está muito ferido e não sabemos como tratar. Vamos ao hospital da nave.
Com um gesto apontou o caminho para o transmissor e segui na frente. Após dar a ordem vocal ao computador, surgiu a imagem do centro médico. Atravessaram e viram o sobrevivente deitado em uma maca gravitacional. Ao lado, estava a Daniela e um marine, por segurança. Ela sorriu-lhes.
O líder alienígena olhou para o prisioneiro e disse:
– Podemos curá-lo. Assim poderá ir a julgamento e não escapará da justiça.
– Gostaria de convidar os irmãos a passar um tempo conosco, mas precisamos retornar para a nossa galáxia – disse Daniel, sempre gentil.
– Seria um convite apreciado, irmão, mas temos urgência. Quem sabe em outra ocasião.
– Ficaremos muito satisfeitos.
– Nós também. Se nos permitir, gostaríamos de retornar para a nossa nave.
Daniel sorriu e piscou para a esposa. Enquanto o marine trazia a maca, o almirante abriu a passagem para o hangar. Colocaram o prisioneiro na nave disco e despediram-se. Daniel e Igor, lado a lado, olhavam o patrulheiros da galáxia afastando-se.
– Simpáticos – disse o mago, pensativo –, mas a tarefa a que se propõem é hercúlia, dado o tamanho da galáxia.
– Concordo – comentou Daniel. – Acho que setorizaram a coisa e é mais fácil ficar de olho no criminoso do que na vítima. Voltemos para a ponte.
Enquanto a frota se deslocava para um lado, a Atlântida tomou o seu rumo.
― ☼ ―
Na engenharia, o chefe mostrava o campo de força que protegia os reatores mais os tanques. Igor e Mia analisaram os cálculos de energia e concordaram com o resultado.
Já nas unidades de pesquisa, um nível abaixo, Daniel e alguns cientistas preparavam o robô que se chocaria com a nave. Ele foi apetrechado com um pequeno motor de mergulho junto com um gerador planar. Dois cientistas de Axt, ajudavam a criar o gerador planar para a Atlântida, levando a que quase todo o setor fabril da gigantesca esfera fosse mobilizado. O esforço conjunto deu os seus frutos e, dois dias depois, estava tudo pronto e testado.
― ☼ ―
Na sala de reuniões, Igor, Daniel, Mia e a sua equipe olhavam os cálculos efetuados. Mia era tão versátil que já estava em um completo à vontade com os supercomputadores da nave. Sem pressa, corrigiu alguns valores e virou-se para os amigos.
– O que acham? – perguntou. – Isso aumenta as margens de segurança.
– Porém exigirá um esforço maior dos propulsores – disse Igor, olhando as contas. – Não seria ariscado?
Todos olharam para o Daniel, que disse:
– Isso não significa nem três por cento a mais na demanda dos reatores. Podemos fazer sem medo.
– Três por cento? – gemeu o piloto de axt. – A nossa nave não aguentaria nem metade disso!
– Temos bons barcos, meu amigo – disse Daniel, bonachão.
– Vamos agir agora? – perguntou Mog.
– Não – disse Daniel, preocupado. – Vamos descansar oito horas porque tem gente aqui que não dorme direito há dias. Alguns de nós podem ficar uma quinzena sem dormir e eu bem mais que isso, mas as tensões reinantes podem afetar o desempenho. Oito horas de descanso e agiremos com uma tripulação preparada para qualquer eventualidade.
– Acredito que tenha razão, Daniel – disse Mia. – Confesso que estou muito cansada porque nós não temos a vossa tenacidade.
― ☼ ―
– Aceleração a dez por cento – ordenou Nobuntu. – Comandante para a tripulação. Em vinte minutos poderemos sofrer um abalo muito forte na nave. Estejam preparados para qualquer problema. Obrigado e boa sorte para todos nós.
– Robô está pronto, senhor – disse a oficial de comunicações, virando-se para trás. – Atlântida A VI retornando.
– Começar a contagem de tempo – disse Igor. – Sincronizar com a nave auxiliar. Cinco minutos para ancoragem na nave mãe.
– Tudo na mais perfeita ordem – disse o navegador. – Precisão de dois milissegundos.
– Tempo – pediu Nobuntu.
– Quatro e quarenta senhor. Nave auxiliar ao alcance visual. Abrindo hangar trinta e sete.
– Ancoragem em cinco, quatro, três, dois, um, agora.
– Vinte segundos para mergulho – disse Daniel, concentrado nos instrumentos. – Ativar campo de deslocamento planar e programar ativação automática para o plano três no ato da colisão.
Nobuntu liberou a trava do motor e no tempo preciso a nave entrou no espaço intermediário.
– Rastreamento...
– Robô nas telas, senhor. Campo de deslocamento planar ligado e preparado. A análise do computador indica necessidade de um ajuste.
– Prossiga.
Quanto mais perto do momento zero, mais tensão Daniel sentia no ambiente. Daniela, preocupada, apareceu na ponte com o filho no colo. Sentou-se em uma poltrona nos fundos e preparou-se para o impacto.
– Status – pediu o almirante.
– Noventa segundos para o ponto de não retorno, senhor. Noventa e dois segundos para o empuxo adicional. Robô em perfeitas condições e transmitindo todas as informações.
Daniel virou o rosto para Igor e Mia. Notou logo o olhar de medo dela, mandando um sorriso encorajador; o mago, entretanto, estava tranquilo e confiante. Virou-se para a frente e o piloto começou.
– Dez segundos para empuxo de quarenta por cento... sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um, empuxo.
Os reatores, repentinamente solicitados, emitiram uma leve vibração que se estabilizou cinco segundos depois.
– Colisão em dez segundos – disse o piloto, contando –, dois, um, impacto.
A nave sofrem um abalo forte e alguns alarmes dispararam, arrancando-a do mergulho.
– Atenção – disse o rastreamento. – Acabamos de passar no meio de uma frota respeitável de belonaves do tamanho de couraçados e quase abalroamos uma... senhor, são nossas naves, é a Dani.
A gritaria na ponte foi grande, mas Daniel olhou para o novo amigo e fez um ar interrogador.
– Sim, Daniel, eu encontrei o caminho de casa – disse Igor, aliviado e feliz. Virou-se para Mia e continuou. – Mia somos ambos do mesmo fluxo. Por coincidência, encontrei o caminho de casa enquanto procurava vocês.
– Senhor, contato do coronel João na Dani.
– Na tela – pediu o imperador, feliz. – Oi, irmãozinho.
O primo surgiu na frente dele em holograma de realidade ampliada.
– Bebê, estávamos quase desistindo – disse o primo. – Quem são esses? O sujeito de branco até me lembra um livo que li quando garoto.
– Uma longa história, João – respondeu o almirante. – Vamos para casa que lá eu conto, mas já te adianto que é mesmo o sujeito do livro.
― ☼ ―
Quando a Atlântida alcançou a órbita da Terra, Daniel disse para os amigos:
– Bem-vindos à Terra, o planeta mais belo do Império do Sol.
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