Capítulo 7 (rascunho)

Daniel olhava a passagem, cuja cor era púrpura e muito parecida quando a nave estava em voo no espaço intermediário. Assim que Igor entrou, ele seguiu-o, mais por preocupação do que por vontade própria. Ao contrário dos portais por que já havia passado, este parecia mais como um túnel. A cada passo que dava, Igor fazia um gesto e olhava através de uma janela que surgia de tempos em tempos. Nem cinco minutos depois, sorriu e fez o corredor mágico sair em um portal purpura. Daniel seguiu atrás dele e, quando se deu conta, até suspendeu a respiração em veneração àquela cidade deslumbrante.

– Bem-vindo à Cidadela, Daniel, não é a minha, mas é idêntica.

– Caramba, essa cidade supera até a Centúria! – exclamou, estasiado com tanta beleza. – Só perde para a minha Porto Alegre, a cidade-jardim, se é que perde!

– Não consigo conceber Porto Alegre mais bela que a Cidadela, meu amigo – disse Igor, debochado.

– Mas é sim, meu caro – argumentou Daniel. – Imagina o Guaíba límpido e transparente; a atmosfera pura e as casas, todas elas, cercadas de gigantescos parques, exceto em lugares especiais. Não só as casas têm parques porque há imensas praças e jardins espalhados por todos os lados. O povo não sabe o que é fome ou doença. Crimes são coisas que se fala nas aulas de história como algo triste do nosso passado. O povo é feliz e altivo. Essa é a chamada Cidade Jardim, a capital de um império estelar de mais de setenta mundos, Igor. Não temos prédios de cristal tão lindos quanto estes aqui, mas temos jardins enormes que invadem as nossas casas e nos dão uma grande harmonia.

Igor deu uma risada alegre e comentou:

– Isso é muito legal. Acho melhor irmos porque deve ter outro Igor por aqui e não desejo dar de cara comigo mesmo.

Segundos depois, abria a passagem para Axt e a cidade daquele povo surgiu a poucos quilômetros.

– Estamos com sorte, Daniel.

― ☼ ―

Mia estava concentrada com o computador central, ainda estudando o tempo. Apesar de o seu amigo de dois olhos lhe ter ensinado quase tudo, ela sempre procurava agregar conhecimento. O marido ainda demoraria no governo e ela estava um pouco ansiosa. Por conta disso, estudava.

Nesse momento, um alarme de invasão estrutural disparou e a cientista mandou ativar as câmeras robotizadas. Não demorou a ver Igor e um amigo dele. Segundos depois, ambos desapareceram, mas ela olhou pela janela do prédio piramidal e lá estavam ambos, aguardando. Feliz, correu para eles.

– Olá, Igor – disse, falando em celta. – Estou muito feliz em te ver.

– Oi, Mia – respondeu o amigo, em português. – Também estou muito contente de vos encontrar. Este é Daniel, um novo amigo e ele não fala celta.

– Agora falo – respondeu Daniel, sorridente. – Aprendi da mente dela. Oi, Mia, é um prazer te conhecer.

– Olá, Daniel – respondeu a moça alienígena. – Os seus dons são interessantes.

– Na verdade, eu não sou um mago.

– Mia – começou Igor, indo direto ao ponto –, eu e o Daniel estamos com um grande problema e precisamos muito de ajuda; tu terias um tempo para me ouvir?

– Claro que sim – disse ela, gentil. Apontou para a pirâmide e continuou. – Vamos, entrem.

― ☼ ―

– Mas essa sua teoria é muito inusitada – exclamou a cientista, um tanto quanto incrédula. – Sinceramente acho que ela não parece plausível.

– Concordo consigo – disse Daniel –, mas é a única resposta para o que acontece aqui.

– Isso quer dizer que não és o Igor que eu conheço? – perguntou a cientista.

– Exato. Eu conheci uma Mia em outro fluxo de tempo – concordou o mago. – Eu colidi com a espaçonave do Daniel e ambos fomos atirados para outro fluxo. Precisamos de criar uma situação capaz de inverter o processo.

– Como as vossas naves viajam no espaço?

– Eu inventei um novo método de deslocamento – disse Daniel explicando como funcionava o motor de mergulho.

– É até parecido com as nossas naves – comentou Mia. – E os deslocamentos planares, como fazem?

– Até há pouco tempo eu nem sabia da existência desses planos, Mia. Na verdade, dominamos as viagens espaciais há não mais de oitocentos anos. – Daniel deu de ombros. – Ainda somos demasiado jovens nessa área.

Mia ficou calada por alguns minutos e Igor disse, baixinho:

– Está falando como computador.

– Sim – concordou Daniel. – Estou escutando a conversa. Máquina impressionante.

Finalmente Mia parou e virou-se para eles.

– O computador acredita que se pode reverter o processo criando uma situação idêntica com vetores opostos. Se os níveis energéticos forem iguais, podem voltar para os fluxos de vocês.

– Eu quase perdi a vida com isso – disse Igor, preocupado.

Mia voltou a ficar calada por alguns minutos. A seguir disse:

– Podem usar um robô de mesma massa com um campo planar.

– O problema é esse campo planar – disse Daniel, pensativo.

– Eu posso ajudar a construírem um – respondeu Mia. – Igor, tem como eu e uma pequena equipe irmos com uma nave pequena até onde estão?

– Claro, mas terão que ir por um portal porque estamos fora do fluxo onde aconteceu. Lá, vocês foram destruídos pela criatura do plano zero.

– Isso deixa-me triste – comentou ela, baixo. – Já requisitei uma nave simples e Mog quer nos acompanhar. Deveremos estar prontos em cerca de umas poucas horas.

― ☼ ―

A Daniela não desejava demonstrar, mas sentia-se demasiado preocupada e apreensiva por causa do marido. Para não deixar as tensões entre os tripulantes ainda mais fortes, fazia papel de otimista, só que não enganava o coronel Nobuntu.

Em uma das suas passagens pela ponte para obter informações novas, o comandante colocou a mão no seu ombro e olhou-a direto nos olhos.

– Ele voltará, Tenente. O nosso Almirante jamais fracassou e...

Nesse momento foram interrompidos pelo alarme e Nobuntu correu para a poltrona do comandante. Antes mesmo de sentar, as informações já chegavam.

– Uma erupção energética forte surgiu a seiscentos quilômetros, no espaço – disse a equipe de rastreamento. – Senhor, uma nave pequena aproxima-se.

– Ativar campo de força e preparar uma decolagem de emergência – ordenou Nobuntu. – Artilharia: prontidão máxima mas apenas defendam-se.

― ☼ ―

Na nave de Axt, Daniel disse:

– Precisamos contatar a Atlântida. Eles podem se assustar e achar que somos invasores. Acreditem em mim quando digo que não gostariam de a enfrentar.

– Não se preocupe, Daniel – disse o comandante. – A nossa nave é bastante forte. Não é qualquer arma que a destruiria.

– Acredite em mim, comandante que essa nave pode nos volatizar em menos de um segundo. É a nave mais poderosa da minha galáxia.

– Que tamanho tem a sua nave? – perguntou Mog, curioso.

– É uma esfera de dois mil e seiscentos metros – respondeu Daniel, olhando as telas. – Foi desenhada para proteger o império de invasores e, até agora, sempre conseguimos.

– O canal de rádio está aberto – disse o piloto. – Olhem, as emanações energéticas que estão ocorrendo lá embaixo são assustadoras, então é melhor serem rápidos porque não temos defesa para aquilo.

– Atenção, Atlântida – disse Daniel, aproximando-se. – Aqui é o vosso almirante a bordo de uma nave de amigos que vieram nos ajudar. Suspendam o alarme e abram o hangar para pousarmos.

– "Confirmado, Almirante, hangar sendo aberto e alerta levantado. Estamos felizes com a sua volta, senhor" – disse o operador de plantão.

– Podem entrar em aproximação. Um pouco acima do anel equatorial verão uma comporta aberta. Entrem e pousem.

– Que colosso, Daniel – disse o comandante de Axt, quando a Atlântida se tornou visível. – Agora acredito no que disse.

Quando saíram da nave, uma pessoa surgiu do nada e abraçou o almirante, beijando-o, feliz.

– Amigos, esta é a minha esposa e médica chefe da nave, Daniela Chang.

– Olá – disse a Mia, sorrindo, seguida dos demais companheiros.

– Vamos para a sala de reuniões da ponte – pediu o Almirante, apontando o caminho. – Usemos o transmissor que é mais rápido.

Seguido dos demais, o almirante aproximou-se de um pedestal com um pequeno console, no fundo do hangar. Ao lado, havia duas colunas de três metros de altura e afastadas uns seis metros. Ele disse para o console:

– Transmissor: Daniel Moreira Terceiro, destino ponte.

– "Confirmado" – respondeu a máquina. A seguir, do topo das colunas formou-se um arco de energia cujo centro ia até ao chão, formando um semicírculo. Através dele, via-se a ponte de comando.

– Isso é um transmissor de matéria? – perguntou Mia, muito curiosa.

– É sim, Mia – respondeu o almirante. – É uma invenção recente mas usamos nas naves muito grandes quando há pressa por algum motivo. Existe um em cada hangar e mais alguns em pontos estratégicos. Vamos?

– Um por um, os seres de Axt atravessaram aquilo, maravilhados. Do outro lado, viram uma sala bem grande e espaçosa. Pela vista das enormes janelas, estavam no topo da esfera. Diversas mesas em forma de meia lua mostravam ser os setores de controle, mas quase não se viam aparelhos e comandos. Algumas delas tinham operadores sentados em poltronas que corriam sobre trilhos. Mais para o lado, Mia viu uma das mesas, provavelmente do rastreamento, pois uma tela holográfica em três dimensões apresentava as proximidades da nave e outra parecia um mapa das adjacências no espaço. Nesse momento, descobriu que os controles eram todos virtuais e os computadores respondiam aos movimentos das mãos e até olhos. Apesar de os solarianos não terem a tecnologia de deslocamento planar, Mia viu que eram muito mais avançados que Axt e concluiu que o desenvolvimento dos seres humanos era espantosamente rápido, dezenas de vezes mais veloz do que eles.

Daniel apresentou-os aos oficiais mais importantes e mandou chamar o engenheiro chefe e um dos físicos do setor de pesquisas para a sala. A seguir, também chamou Nobuntu. Como os novos amigos aprenderam português antes de virem, não havia dificuldades na comunicação.

― ☼ ―

Estavam todos sentados na sala e servidos de café ou chá. O almirante ia dizer algo quando o alarme disparou.

Daniel e Nobuntu levantaram-se de um salto e correram para fora ao mesmo tempo que o rastreamento começou a falar:

– "Pré alarme na nave. Abalo estrutural muito violento a trinta horas-luz. Deve ser uma frota de respeito."

– Na tela principal – ordenou Nobuntu, enquanto Daniel sentia o resto dos presentes aproximarem-se atrás dele.

– São muitos hiperecos, senhor, mais de duzentos.

Nobuntu olhou para o almirante e Daniel fez um aceno positivo com a cabeça.

Atlântida DI, decolar e investigar. Manter contato permanente conosco. Vão com campos de supercarga ativados, na dúvida. Alerta vermelho. Preparar para decolagem de emergência e prontidão rigorosa de combate. Acho muito estranho um lugar sem emanações de super-onda por mais de cem mil anos-luz e, de repente, surge uma frota enorme nas proximidades.

Todas as vigias foram fechando com placas de um material quase indestrutível enquanto telas as substituíam, mostrando a área externa. Pouco depois uma esfera de cem metros, minúscula, se comparada à nave-mãe, passou por eles em aceleração crescente. Pouco depois, ouviram no rádio:

– "Estamos no espaço, Coronel, atingindo c em seis, cinco, quatro, três, dois, um, c. Mergulho preparado em cinco. Programado para surgir a um minuto luz deles."

Uma tela mostrava o destroyer. Segundos depois, ele mergulhou e desapareceu.

– Ativar imagens da DI – ordenou o Almirante. A tela mostrava agora o interior da nave e menos de dez segundos depois, estavam de novo no espaço.

– "Rastreamento" – ordenou o comandante da pequena nave.

– "São trezentos e dez ecos, senhor." – contato visual em dez segundos.

– "Parar a nave e aguardar."

Ao fim de dez segundos viram as naves. Eram em forma de fuso e tinham cerca de duzentos metros. As assinaturas energéticas eram elevadas. Os estranhos só viram a pequena esfera quase vinte segundos depois e viraram na direção dela.

– "Senhor" – disse o rastreamento. – "Eles têm uns paus de fogo bem potentes e sinto um aumento de energia perigoso."

– "Artilharia" – disse o comandante. – "Fiquem preparados mas não atirem. Estou certo que o campo de supercarga aguenta isso. Comunicações, tentem algum contato."

– "Sem resposta..."

Nesse momento, a nave foi atingida por mais de trezentos raios térmicos e os alarmes dispararam.

– "Campo a trinta por cento!" – exclamou o artilheiro principal. – "Senhor, eles são perigosos."

– "Tentem contato. Artilharia, disparo de aviso."

Um raio passou raspando a nave da frente e eles redobraram os ataques.

– "Campo a sessenta por cento!" – disse o artilheiro. – "Senhor, precisamos revidar."

Nobuntu olhou para o almirante, preocupado. Daniel fez um positivo e disse:

– Aqui é o almirante. Estão autorizados a usar força letal, mas tentem aprisionar pelo menos uma nave.

– "Confirmado, Almirante. Artilharia, fogo à vontade. Suspender ataque no caso de eles pararem."

Quarenta raios de quinze metros de diâmetro saíram e acertaram o inimigo. Quarenta naves deixaram de existir e o fogo deles ficou mais fácil de suportar. Como os ataques continuavam, o destroyer avançou sobre eles e passou a disparar também com os canhões de impulso, fazendo algumas das naves explodirem sem ter sido disparado um tiro. Quando só havia uma nave, ela parou de atirar e tentou dar meia volta, mas o artilheiro acertou um tiro de desintegrador bem nos propulsores.

– "Marines, preparem-se para a abordagem" – ordenou o comandante da nave. – "Coronel, podem suspender o alerta. Infelizmente, eles quiseram nos destruir até ao fim."

– Confirmado, Major – disse Nobuntu. – Veja se conseguem trazer alguns elementos vivos para sabermos por que motivo nos atacaram.

– Voltemos para a reunião, Coronel – disse Daniel, preocupado com o ocorrido. Virou-se e deu de cara com os novos amigos de olhos arregalados. – Sentem-se, amigos. Peço desculpas pela interrupção.

– Solange – disse Nobuntu para a segunda em comando –, assuma a Atlântica.

― ☼ ―

– Se aquela pequena nave fez aquilo – disse Mog –, o que este monstro aqui poderia fazer?

– O poder de fogo desta nave é pouco mais do dobro do Destroyer. Esta nave carrega trinta daquelas naves de combate – explicou o imperador. – Infelizmente o império foi atacado por inimigos poderosos. Para terem uma ideia, há seis anos nem tínhamos armas nas naves.

– Bem – disse Mia –, podemos recriar a situação que inverta o que aconteceu com vocês, mas é necessário anular os riscos, em especial contra a vida.

– É certo que Igor não pode ir porque a probabilidade de morte pe elevada – disse Daniel, preocupado. – Só que, nesse caso, como ele retornaria para o fluxo dele em segurança?

– É verdade – concordou Daniela. – Não é justo condená-lo a ficar longe dos seus.

– Confesso que não tinha pensado nisso – Comentou Mia, virando-se para o casal. – Nós precisamos de uma solução para Igor.

– O computador de vocês disse que se usarmos um robô de mesma massa poderíamos reproduzir o ocorrido no sentido inverso – comentou Daniel. – Nesse caso, o robô não poderia emitir um sinal intenso capaz de nos alcançar?

– Não é impossível – respondeu Mia. – Mas que tipo de sinal mandaríamos?

– Precisaria de ser algo dentro da sexta dimensão e que gerasse um distúrbio intenso, semelhante a um deslocamento planar. Eu sentiria facilmente de qualquer lugar do Universo porque estaríamos perto, mas em outro fluxo.

– Isso pode ser feito – comentou o almirante, decidido. – Temos os campos de mergulho e Mia tem o deslocamento interplanar.

– Preciso de aprender como funcionam esses campos – disse a cientista apreensiva –, e temo que leve bastante tempo.

– Mia, olha para mim e relaxa – pediu o imperador. – Solta a tua barreira mental.

A cientista obedeceu e logo sentiu uma avalanche de novos conhecimentos entrando na sua cabeça, ficando maravilhada. Quando Daniel terminou, ela sorriu e suspirou.

– Vocês, em alguns setores superaram a nossa civilização que tem mais de um milhão de anos. Impressionante, Daniel, e estou muito satisfeita. O teu motor estelar é uma obra de arte.

– Obrigado, Mia – respondeu ele. – Só não sei se temos como reproduzir um deslocamento planar com a nossa ciência.

– Sim, o deslocamento planar é fácil, bem mais fácil que o motor de mergulho – respondeu. – Vamos conseguir resolver isso em pouco tempo.

― ☼ ―

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top