Capítulo 5 (rascunho)
Nobuntu levantou-se da poltrona de comando e sorriu para o superior, alegre.
– Este é Igor – apresentou-o Daniel. – Igor, o comandante da minha nave capitânia, a Atlântida, Coronel Nobuntu. Coronel, relatório
– Almirante, Igor – disse o gigantesco negro, mantendo o seu sorriso. – Estou feliz que estejam bem. Nós emergimos para reorientação e vocês desapareceram. Com o alerta da doutora Chang. Paramos imediatamente e retornamos para o ponto exato de emersão. Ainda estamos perdidos e sem contato com absolutamente nada. É como se todos os planetas com civilizações galáticas tivessem deixado de existir.
– Muito bem – disse Daniel, pensativo. – Continuem o que faziam sempre com a capacidade de retornarmos à origem de tudo. Eu e Igor vamos conversar e tentar desenvolver uma teoria para tudo isto. Qualquer coisa chamo.
– Engraçado – disse Nobuntu, pensativo. – O senhor não me é estranho, Igor.
– Estou certo de que nunca nos vimos, comandante – respondeu o jovem mago.
Daniel fez sinal ao passageiro e seguiu para a sala de reuniões, pensativo.
― ☼ ―
Uma vez na sala, Daniel apontou uma poltrona enquanto pegou dois chás na máquina de bebidas e deu um para Igor. Sentou-se e encarou o mago por alguns segundos. Deu um sorriso e disse:
– Sabes, tu és a primeira pessoa que eu vi que foi capaz de manter ao respeito um Dragão Branco por mais de dez segundos.
– Dragão Branco? – perguntou Igor, espantado.
– Deixa pra lá – disse Daniel, fazendo um gesto de pouco caso. Ele não sabia exatamente como começar a elucidar o caso. Depois, continuou. – A nave estava em uma velocidade milhões de vezes acima da luz quando um dos reatores entrou em pane porque alguma coisa nos atropelou e atingiu o duto de antimatéria quase destruindo tudo. Quando resolvemos os problemas no reator, deparamo-nos contigo em um estado muito próximo da morte. De alguma forma, Igor, tu atropelaste a nossa nave ou vice-versa e só estás vivo porque a minha esposa conseguiu te curar usando os dons dela. Eu gostaria de saber que tipo de pessoa tu és e como poderias estar no meio do nada sem uma nave, sem nem mesmo um mísero traje protetor, em especial depois de dizeres que és do século XXI.
– Eu sou um mago, Daniel, um tipo de pessoa que, pela simples vontade, pode criar onjetos do nada ou abrir portais para outros mundos, entre outras coisas. Nós magos usamos os portais há milhares de anos e nunca algo deste tipo aconteceu! As probabilidades estatísticas de eu ter aberto um portal para a tua nave em algo tão grande quanto a Via-Láctea, em especial se considerarmos todos os seus planos, é praticamente nula.
– Planos? – perguntou Daniel, espantado. – O que vem a ser isso?
– Ainda não aprenderam sobre os planos e o deslocamento interplanar?
– Com certeza que não!
– O Universo é formado por quinze planos sobrepostos, na verdade quatorze, pois o plano zero é um único corpo celeste e muito perigoso, como se houvesse mais treze mundos sobrepostos à Terra, mas que não são a Terra.
– Não acho os universos paralelos uma teoria útil, sem falar que jamais se conseguiu comprovar.
– Não se trata de universos paralelos – explicou Igor. – Não existe uma Terra paralela em outros planos. Conheço todos os mundos sobrepostos da Terra e são bem diferentes uns dos outros. Alguns nem mesmo têm vida.
– Certo, mas então o que pode ter acontecido? – perguntou Daniel.
– Eu estava no Mundo de Cristal – explicou Igor, abrindo os braços e fazendo a imagem de uma cidade deslumbrante surgir no ar e deixando Daniel impressionado. – Fica no décimo terceiro plano, a cerca de dez mil anos-luz da Terra, caso esta última não fosse do terceiro plano. É para esse mundo que a maioria de nós os magos emigrou. Nesse momento, eu dirigia-me a um mundo do plano cinco, o planeta Atlântida para avaliar rumores de insurgentes contra a paz.
– Insurgentes?
– Há alguns poucos anos, os Atlantes tentaram invadir a Terra e sequestraram a minha esposa e filha mais velha, além de alguns dos meus súbditos. Eu não gostei e entramos em guerra. Com ajuda dos Lemurianos, derrotamos os Atlantes e impusemos a paz, mas mantemos um guardião como mediador.
– Teus súbditos? – questionou Daniel. – Então és um líder desse mundo?
– Sim, eu sou, mas a nossa política é muito diferente da habitual. Eu não mando a verdadeira acepção da palavra, exceto se for para o bem comum.
– Bem, Igor – disse Daniel, olhando para as telas fora da sala de reuniões. – Para nós, os Atlantes foram os primeiros colonizadores da Terra há muitos milhares de anos e eles são descendentes dos Lemurianos, um povo originário de Andrômeda. Em outras palavras, isso não faz sentido com o que me disseste.
– De fato não faz... – Igor levantou-se, olhando para fora. – O que está acontecendo no espaço lá fora. Ele está diferente e não consigo sentir certos fluxos!
– O comandante mergulhou no espaço intermediário – explicou o imperador, encolhendo os ombros. – Estamos milhões de vezes mais rápido que a luz, em um campo de força que paira pela sexta dimensão.
– Sexta dimensão? – Igor arregalou os olhos e sentou-se, tremendo um pouco. Passou a mão nos cabelos e observou o voo. Impávido, Daniel aguardava uma resposta.
– Agora sei como recuperei a memória e acho que também sei o que aconteceu, mas é assustador.
Daniel observou o sujeito e continuou aguardando, impassível. Igor continuava observando o espaço e, devagar, virou-se para o almirante.
– Nos realmente colidimos – explicou. – Isso tem uma probabilidade de quase zero, mas aconteceu. Quando isso ocorreu, eu também estava na sexta dimensão e acho que estamos ambos muito encrencados.
– Por quê, Igor?
– Porque os nossos passados não batem – explicou Igor, assustado. Com um gesto, apontou para a nave em volta. – Isto aqui não é o meu futuro nem eu sou o vosso passado. Nós somos de fluxos temporais diferentes, como Universos diferentes. Isso sim, poderia ser o mais próximo de universos paralelos.
– Olha, Igor – disse Daniel, decidido. – Eu me considero um bom cientista, já que projetei a primeira nave de combate do Império com apenas quatorze anos; então, que tal me explicar com base científica adequada de forma a me dar condições de compreender o improvável.
– Daniel, se extrapolarmos o espaço-empo, podemos os deslocar em todas as direções temporais – explicou Igor, professoral. Usando os seus dons, projeto no ar algumas equações e diagramas, há medida que falava. – Imagina que, em vez de tu teres evitado usar toda a tua força, me tivesses morto, naquele planeta. Este universo onde estamos agora não existiria mais para nós, mas continuaria para os que não passaram por isso, com os que estão na tua nave. Tu estarias preso em um mundo estranho com um cadáver, eu, no caso. Quando não tomaste essa decisão, o nosso fluxo seguiu e estamos aqui, mas, em algum outro lugar acessível pela sexta dimensão, existe um outro Daniel que matou em combate o Mago Igor, ou outro em que o oposto acontece ou ainda outro onde nada do que estamos passando aconteceu. Isso é uma explicação simplificada para uma teoria do século XXI, na Terra, chamada Teoria M.
– Eu li sobre a Teoria M quando era criança, mas ela não pôde ser comprovada até hoje.
– Mas aqui estamos nós – explicou Igor. – E acredito que estamos no plano Cinco, que era para onde eu me dirigia. Confesso que não sei se o nome da nave tem a ver com o meu destino, mas estou certo de que não estamos nem no meu Universo, nem no teu. Além do mais, nós, só por sermos observadores externos, já interferimos com o ambiente de alguma forma.
Estarrecido, Daniel, olhou para o interlocutor e sacudiu a cabeça. Suspirou fundo e disse, mudando de assunto:
– Vamos comer alguma coisa que eu não como desde sei lá quando e tu também não.
― ☼ ―
Ambos estavam na catina mais próxima. Na entrada, Daniel escolheu os pratos e as bebidas em uma máquina, falando para ela. Sentaram-se, aguardando o robô trazer os alimentos quando um homem entrou e viu o almirante. Aproximou-se e disse:
– Majestade, eu procurava o senhor, mas não desejava assustar ninguém; por isso procurei-o em pessoa.
– Pois não, doutor – respondeu Daniel, que, logo depois, notou o olhar de esguelha para o mago. – Pode falar. Ele também está a par dos problemas atuais.
– Senhor, esta galáxia é idêntica à nossa, mas não é ela – explicou, angustiado. – Nunca acharemos os nossos por aqui.
– Já descobrimos isso, doutor – disse Daniel, tentando tranquilizá-lo, sem sucesso. – Em breve, descobriremos mais detalhes.
– Sim, Alteza, obrigado.
– Pelo jeito – disse Igor, sorrindo quando o cientista saiu –, não sou o único líder aqui, Alteza.
– Sou o imperador, sim, mas espero que não por muito tempo.
– Daniel – disse Igor, pensativo. – Se eu mostrar um mapa com um determinado mundo, podemos rumar para ele e fixar uma base de pesquisa até sabermos como fazer para sair desta confusão?
– Posso saber o motivo?
– Sim – respondeu o mago. – Eu posso abrir portais por diversos planos e podemos ir a planetas que nos poderão ajudar, talvez até mesmo a Terra. Além do mais, sei deslocar-me livremente no tempo e na sexta dimensão, mas temo que seja potencialmente arriscado, pelo menos de início.
– A ideia não é nada má. Vamos comer e tratar disso depois.
― ☼ ―
Após Igor projetar um mapa de parte da galáxia usando as mãos, Daniel conseguiu apontar no computador de navegação o caminho para o planeta sugerido.
– Esse mundo tem algo de especial? – perguntou, curioso. – É habitado ou algo do gênero?
– Neste fluxo de tempo não sei – respondeu Igor, pensativo. Ergueu o olhar para o novo aliado. – No meu fluxo, este é o planeta Atlântida, para onde eu me deslocava. Acho que não os encontraremos, mas nada impede de ocorrer outras opções. De qualquer forma, o meu objetivo é parar em um lugar que eu sei localizar sem dificuldade.
A nave emergiu do espaço intermediário e o par saiu da sala de reuniões, olhando para as enormes telas que mostravam o planeta cerca de quinhentos quilômetros abaixo.
– Os sensores não detetaram ondas eletromagnéticas nem vestígios de civilizações modernas, senhor – disse um observador.
A nave pousou em uma savana enorme, bem à beira de um bosque. Igor apontou a floresta e desapareceu. Curioso, Daniel saltou atrás dele, observando o mago aproximar-se de uma árvore e parecendo se concentrar. Sentiu uma tensão leve no seu rosto, mas durou pouco. Minutos depois, abriu os olhos e sorriu para o almirante.
– Não existe vida inteligente. Nesta realidade, os Atlantes não fugiram da Terra no final da grande guerra com a Lemúria – explicou, tranquilo. – Acredito que é seguro operarmos a partir daqui.
– E qual é a tua ideia, Igor?
– Acho que, em primeiro lugar, devemos ir ao Mundo de Cristal e saber se há magos neste fluxo porque são pessoas poderosas que nos podem ajudar. Em segundo lugar, procuraremos o pessoal de Axt, uma civilização infinitamente mais avançada que a nossa ou podemos ir à Terra. Tenho bons amigos entre eles e estou certo de que nos ajudarão.
– Certo – concordou Daniel. – Vamos voltar para a nave de modo a eu deixar instruções.
Antes mesmo de saltarem, a Daniela apareceu e o seu rosto estava muito sério. Curioso, Igor observava a beleza ímpar dessa mulher. Ela parecia um pouco diferente das chinesas do seu fluxo de tempo e concluiu que haveria mudanças provocadas pelos meios a que estavam submetidos.
– Dan – disse a esposa, falando um idioma que o mago desconhecia mas parecia ser mandarim. – Eu estou preocupada contigo.
– Não te preocupes, Dani – respondeu o marido, sorridente. Apontou Igor e continuou. – Eu estarei bem acompanhado e ele é muito competente.
– "Mas, se algo lhe acontece, fico sem ti, meu amor" – transmitiu, ainda mais preocupada. – "Nós não temos capacidade de nos deslocarmos desse jeito."
– "Temos que arriscar, minha princesa, ou jamais veremos os nossos de novo. Eu confio nele."
– "Tá bom, meu amor" – respondeu com um suspiro. – "Ficarei aqui, aguardando por ti."
Com um beijo ela desapareceu no ar e Igor perguntou:
– Todos vocês são telepatas?
– Vários de nós somos, sim – respondeu –, mas nem todos. Os nossos dons variam com o indivíduo. Aqui na nave, por exemplo, apenas eu e ela somos teleportadores.
– Mas eu sou telepata, apesar de fraco, e não consigo ouvir vocês, sem falar que vocês disseram que a minha mente é impenetrável!
– Acredito que tenhamos diferenças provocadas pela divergência da evolução entre os possíveis fluxos temporais, se isso for correto.
– Já cheguei a essa conclusão, mas não tenho certeza se é sempre assim. A sua esposa é de uma beleza que eu jamais vi em uma chinesa, mas notei que ela difere um pouco das chinesas tradicionais do meu fluxo, começando pela altura, muito acima da média.
– Bem – disse Daniel, encolhendo os ombros. – Não adianta esquentar a moleira com isso. Vamos para a nave e, depois seguimos com o plano. Na dúvida, quero pegar equipamento de proteção individual.
Ambos saltaram de volta para a nave e Daniel levou o novo amigo para o arsenal. Lá, pegou uma mochila e, a seguir, olhou as várias armas existentes. Pouco depois, desistiu de usar uma e virou-se para Igor.
– Queres uma mochila energética?
– Pra que serve isso?
– Proteção, invisibilidade e capacidade de viver no vácuo por algumas horas.
– Bem, Daniel, posso fazer isso com a minha vontade – respondeu o mago, dando de ombros. – Logo, não me parece necessário.
– Caramba – disse Daniel, rindo. – Todos se assustavam quando eu pegava apenas a mochila, sem armas e sem medo de ser atacado. Agora, encontro alguém que precisa ainda menos do que eu de proteção. Que engraçado!
Igor deu uma pequena risada e ambos foram para a superfície do planeta uma vez que ele jugava mais adequado operar a partir de lá, sem falar que estariam em um local conhecido, uma vez que reconheceu o logar onde a nava pousara como sendo onde estaria a capital da Atlântida.
― ☼ ―
Na ponte, Nobuntu e a doutora Chang observavam, apreensivos. Ela olhou para o comandante e disse:
– Nobuntu, Tenho a certeza que conheço esse sujeito de algum lugar, mas não sei de onde.
– Pior que sinto o mesmo, doutora...
Nessa hora, ambos olhavam para o ponto onde os dois desceram. Não muito depois, surgiu um arco de energia bem à sua frente e, do outro lado, apareceu a imagem de outro mundo.
– Meu Deus – berrou Nobuntu, muito alterado. – Esse cara não existe... é apenas um personagem de uma história... impeçam-nos, antes que seja tarde.
– Já é tarde faz tempo – disse a médica, virando o rosto para o comandante, após o portal desaparecer. – É impossível parar teleportadores. Explique-me, Nobuntu, qual o problema?
– Desde que o vi a primeira vez tive esse déjà vu. – Nobuntu olhou para a oficial médica. – Eu sentia algo familiar nele, mas claro que já se passaram mais de trezentos anos desde que li o livro, quando adolescente. Um sujeito escreveu um livro que se chamava "O Mago".
– Sim, agora lembro de ter lido algo a respeito em Terranova, antes de conhecer o Daniel – disse Daniela, pensativa. – Era uma série de aventuras, não era?
– Sim, e muito legal – respondeu Nobuntu, pensativo. Ergueu a voz e continuou. – Computador, procurar os dados históricos sobre uma série de aventuras chamada "O Mago".
– Eu li esses livros, senhor – disse o navegador, curioso.
– "Informações localizadas," – disse o computador. – "A série em questão foi escrita na segunda década do século XXI por um escritor chamado Nuno Figueiredo. Em 2025, fizeram um filme e a série foi relançada em 2505. A última edição é de 2810."
O computador projetou uma capa do livro e ele era muito parecido com o passageiro clandestino.
– O nome é o mesmo que o almirante me apresentou – disse Nobuntu, ainda espantado com tudo. – Só não posso imaginar como um personagem de um livro de fantasia se materializou na minha nave.
– Daniel me contou que Igor tem uma teoria sobre fluxos temporais que seguem pela sexta dimensão – disse a doutora Chang, abanando a cabeça. – Mas mesmo assim, é complicado explicar um personagem de uma história de ficção existir.
― ☼ ―
Do outro lado do portal, apareceu um mundo de beleza única. Daniel notou, contudo, que Igor ficou decepcionado. Quando atravessaram, ele disse:
– Gente como eu não deve existir neste fluxo. A Cidadela não foi construída. – Ergueu as mãos e projetou a imagem da cidade do seu tempo, deixando Daniel extasiado mais uma vez. – Nada se iguala a esta cidade. Bem, vamos a Axt.
Igor não esperou resposta do companheiro e abriu a passagem para o plano quatorze. Na dúvida, optou por abrir fora da cidade, uma vez que não sabia como seria recebido. Assim que passaram par ao outro lado, depararam-se com aquele vale lindo, mas a cidade não existia.
– Acho que podemos estar com problemas, meu caro – disse Igor, preocupado.
– O que foi? – perguntou Daniel curioso.
– No meu fluxo, aqui fica o povo mais avançado que eu conheço. Confesso que tinha esperança de obter ajuda porque eles possuem naves que atravessam planos – explicou Igor. – Podemos ir ao o mundo de origem deles e ver se ainda vivem por lá.
– Nesse caso, vamos – concordou Daniel.
― ☼ ―
A passagem para o planeta avermelhado abriu-se e mostrou uma paisagem que não diferia muito do que Igor já conhecia: desolado, vazio e curioso.
– Isso aqui parece Marte com atmosfera e vegetação – comentou Daniel, depois que atravessaram. À frente deles ficava um pequeno rio e ele pegou um pouco de água com as mãos em concha e bebeu.
– Disse algo parecido quando conheci este mundo pela primeira vez – disse Igor, rindo. Apontou uma montanha enorme que ficava a alguns quilômetros deles. – Vamos para o alto daquela montanha para vermos se há alguma cidade. Se não encontrarmos nada, vamos para uma das cidades interiores.
Ambos teleportaram para o pico e Daniel viu uma floresta enorme. O planeta era muito silencioso. Não se ouvia nada além do vento. Nem animais, nem pássaros. Era um mundo no fim da vida. Igor pegou o braço do companheiro que se virou para trás e viu a cidade. Era gigantesca e uma ruína enorme. Mesmo àquela distância, dava para ver o estado de destruição e Daniel lembrou-se do primeiro mundo dos Centurianos na Galáxia.
– Acho que aconteceu uma catástrofe – comentou o solariano.
– Sim, talvez a criatura tenha vencido, aqui – resmungou o mago, preocupado. – Daniel, se alguma criatura preta e meio disforme aparecer, não permitas que ela te toque e não deixes qualquer emoção sair porque esse ser alimenta-se disso. Se ele te tocar, absorve a tua essência e tu morres.
– Sem problema – respondeu Daniel. – Sou capaz de manter as emoções sob rígido controle e usarei o campo de força ativo. A cidade não é longe e acredito que devemos ir andando para avaliar o cenário.
– São alguns quilômetros – comentou Igor. – Sugiro saltarmos para aquela clareira na floresta. Ela está a menos de dois mil metros, eu acho.
– Boa ideia – concordou o almirante, que se teleportou para lá, seguido do amigo.
Em silêncio foram andando e, vinte minutos depois, encontraram as primeiras casas. Como tinham visto, não passavam de ruínas.
– Isto aconteceu há milhares de anos – disse Daniel. – Se o clima deste mundo fosse como a Terra, não existiria mais absolutamente nada, mas, aqui, até o vento é tímido!
Igor riu e apontou uma casa que parecia menos destruída que as vizinhas. Aproximaram-se e entraram. Logo na soleira viram um corpo. Estava mumificado, mas intacto. Abanando a cabeça, o mago disse:
– Foi mesmo aquele demônio do plano zero. – Olhou em volta, apreensivo e continuou. – Mas onde será que ele se meteu depois que matou todos eles?
– Se isso aconteceu há tanto tempo – murmurou Daniel –, esse sujeito já deve ter morrido há muito.
– Ele é imortal, Daniel – explicou Igor, contando a sua própria experiência com ele. Finalizou, dizendo. – Eu não serei capaz de o matar e devolver a vida destas pessoas sem morrer junto. Vamos ver se encontramos algum das cidades internas.
Como uma delas era um tanto perto dali, Igor guiou o novo amigo, andando pela floresta tão silenciosa. Quase duas horas depois, encontraram a caverna que dava entrada para lá e foram andando. Logo encontraram as primeiras casas, mas, ao contrário da outra cidade, estava tudo perfeito. Entretanto, sem um único ser vivo.
– Acho que não há nada neste mundo que possa nos ajudar e não me parece vantajoso encontrar e perder tempo combatendo a criatura – comentou Igor.
– Estou de pleno acordo – aquiesceu Daniel. – Voltemos para a nave de forma a comermos algo e pensarmos outra solução possível. Andei pensando em umas opções.
Sem perder tempo, Igor abriu a passagem e viram a nave do outro lado, atravessando a passagem e fechando o portal. Depois, caminharam para a Atlântida e subiram para os níveis superiores, parando direto na cantina. Ambos comeram em silêncio e, a seguir, foram para a sala de reuniões. Lá, Daniela e o comandante aguardavam.
― ☼ ―
– Sentem-se – disse a médica, séria.
– Oi, amor. – Igor deu-lhe um beijo. – Afinal o que é tão importante?
Daniela virou-se para o comandante que se levantou e olhou para o mago.
– Seu nome é Igor Montenegro e o senhor é casado com uma certa Eduarda Vargas Montenegro. Teve com ela uma filha chamada Ailin, mas também tem uma filha mil e seiscentos anos mais velha que se chama Morgana e foi uma grande sacerdotisa celta, não estou correto?
Daniel ergueu uma sobrancelha, espantado, enquanto o mago olhava para o comandante.
– Sim, está muito correto – disse Igor, impressionado, embora já tivesse uma ideia dos fatos. – Como sabe tanto a meu respeito?
Daniela estendeu um computador de mão com uma capa de um livro. Igor pegou-o e observou a capa e ergueu os olhos para o trio. Ao fim alguns segundos, disse:
– Eu não esperava isso. No início achei que eu estava maluco e tentei ignorar isso, mas, agora, vocês mostram a mesma coisa de outra forma.
– Como assim? – perguntou a Daniela.
– Vocês também são parte de uma história no meu fluxo temporal...
― ☼ ―
Veja a história dessa criatura em "O Mago". N.A.
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