Livro 1 - O Início - Capítulo 1 (não revisado)

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas."

Sun Tzu – A Arte da Guerra.


Daniel caminha sorrateiro pelo campo militar desconhecido em plena noite de verão de Nova York. Seus pés descalços deslisam por cima do gramado relativamente limpo, sentindo o contato agradável com a natureza, embora seja a concentração personificada. Tem intenção de terminar aquilo o quanto antes e retornar para Porto Alegre onde as coisas são mais seguras e tranquilas... por enquanto, pois sabe que tudo mudará ao término da sua empreitada e torce que seja para melhor. À sua direita e tão silenciosos quanto ele, segue um pequeno grupo dos fieis Dragões Vermelhos, dispostos a darem a vida pelo seu líder. Do outro lado e atrás, o agente Tanaka com alguns dos seus ninjas. Todos, exceto por ele, estão muito apreensivos e preocupados, pois sabem que a probabilidade de perecerem ali sem qualquer chance de socorro é demasiado alta, uma vez que nem mesmo aquele grupo de Dragões poderia enfrentar a quantidade de mercenários que ali há.

Ao saírem da sombra de um prédio, Daniel vê um ginásio a cerca de cem metros de campo aberto. Nota que é um único lugar iluminado e com barulho. Vira-se para o japonês e fala baixo, enquanto aponta com o dedo.

– Deve ser ali que se concentram e, pelo barulho, devem estar praticando artes marciais. – Informa. – Como tudo o resto está escuro e silencioso, exceto pelo hangar, presumo que estejam aí os mercenários e ninjas renegados restantes. Vamos até lá ver isso de perto.

– São demasiados para nós, senhor – insiste Tanaka – devíamos tentar obter alguma ajuda...

– Tolice – responde o jovem Dragão – estamos em Nova York, longe de tudo o que nos pode ajudar e sem tempo para protelar. Ou vai ou racha. Vocês vão cercar as entradas e eu pego esses demônios da escuridão.

– Mas são quase quatrocentos elementos, Daniel. Isso é suicídio completo e você vai ser morto em três tempos.

Enquanto Tanaka e seus ninjas estão cada vez mais nervosos, os Dragões Vermelhos avançam ao lado do seu líder, pois confiam cegamente nele. Ainda andando furtivamente em direção ao confronto, que será inevitável, Daniel responde:

– É um risco que tenho de correr, pois eles são demais para a sua equipe, provavelmente até para os meus Vermelhos. Isto precisa e vai acabar hoje, nem que eu tenha de matar todos eles. Vamos logo.

– Mas, Daniel, se são demais para os meus ninjas e seus Dragões, como acha que os poderá derrotar sozinho. Por acaso puseram alguma droga na sua água quando estava prisioneiro?

– Estou lúcido, meu amigo. – Daniel sorri, recomeçando a andar calmamente. – O senhor verá.

Após hesitarem por um par de segundos, os ninjas acompanham-nos até ao ginásio. Este é grande e tem apenas duas entradas, uma delas fechada. Daniel espreita e observa que o mesmo é grande e bastante alto, cabendo tranquilamente mais de mil pessoas nas arquibancadas.

– Esses sujeitos estão tão seguros de si que nem guardas têm... ou são malucos... – Daniel sorri novamente. Vai dizer algo, mas é interrompido pelo ninja.

– Olhe, só com esta entrada podemos dar combate facilmente, pois não podem passar mais de três por vez.

– É verdade, mas seria um combate demorado e arriscado. Vocês ficam controlando as saídas e eu vou lá dar cabo deles. Se algum desses diabos escapar e conseguir passar por mim, vocês pegam-no, entendido?

– A única coisa que entendo é que você é doido varrido.

– Claro que não – o jovem ri-se – acredite que é a melhor solução. Vamos lá, preparem-se que vou entrar.

Tomam a entrada do ginásio e Daniel entra no mesmo, andando uns dez metros. Lá estão todos os ninjas e cerca de cem mercenários militarizados, estes últimos aprendendo os rudimentos do ninjútsu. Curioso o jovem observa aqueles homens concentrados nos seus exercícios e sem darem conta dos invasores. Aproveita para perder alguns minutos estudando o local e avaliando as capacidades dos adversários. Para sua felicidade, não há armas ali, o que facilita muito as coisas.

Enquanto o grupo espera fora do ginásio fazendo tocaia na entrada, Tanaka e um dos Vermelhos entram e ficam junto à saída, observando. Daniel vira-se para eles, apontando os adversários e sorrindo da falta de cuidado que têm. Os orientais olham um para o outro e sorriem, sacudindo a cabeça.

Farto de os observar, Daniel avança em direção ao grupo e grita em japonês, usando toda a intensidade da força interior:

– Alto parem. – A sua voz parece um trovão e o efeito obtido é imediato. Espantados, viram-se para o rapaz que caminha na sua direção. Do grupo que está aglomerado, o mestre deles aparece, destacando-se e aproximando-se.

Para a dez metros do adversário, que também estaca, e diz, no mesmo idioma, com desprezo na voz:

– Como diabo entrou aqui, rapaz, e como sabe o nosso idioma com tanta perfeição?

– Isso faz alguma diferença? – Questiona o jovem. – Vocês estão recebendo um ultimato: rendam-se agora e pouparei as vossas vidas. Do contrário serão mortos em desgraça, sem nem mesmo terem direito ao sepuku.

– Sei – diz o mestre dos ninjas em meio às gargalhadas dos seus discípulos – e imagino que você fará exatamente isso. Olhe, rapazinho, eu sou um assassino de aluguel, mas não gosto de abater crianças. Vá-se daqui, enquanto ainda pode.

– Você desafia um Dragão Branco, imbecil? – Vocifera Daniel, muito irritado. – Tem exatos trinta segundos antes que o mate. Eu, o líder de todos os Dragões, declaro que vocês serão extintos.

– Rapazinho, você está matando os meus homens de rir. Os Dragões Brancos são uma lenda e de onde raio uma criança entrou em um local de segurança máxima. Por favor, suma-se daqui que não quero o seu sangue nas minhas mãos.

– Lenda, seu tolo? – Daniel ri. – Como acha que entrei aqui e como acha que todos os outros foram mortos?

Girando o corpo para apontar o vermelho ao lado do Tanaka, acrescenta:

– Ele é um Vermelho, pergunte-lhe. Nós matamos todos os que se meteram no caminho até chegarmos a este ginásio. Vocês são os próximos. Vocês são assassinos frios, mercenários a soldo de outros mercenários que vos mandam fazer o trabalho sujo pela pura ganância de ganhar mais à custa da vida de qualquer um. Isso vai acabar agora, pois vosso grupo será extinto da mesma forma que um bombeiro apaga um fósforo que ameaça um estopim de pólvora.

– Garoto, sinto muito – afirma o mestre dos renegados – mas você é daqueles que devem ser eliminados.

Tanaka observa o ninja avançar contra o jovem, mas não imagina o que o espera, pois Daniel não recua um milímetro. Ele, que aparenta ter um corpo atlético, mas comum, parece inchar quando retesa a sua musculatura, assustando qualquer um que não esteja acostumado com isso. Com uma pancada violenta no peito do chefe dos mercenários, o Daniel demonstra o seu objetivo, pois o adversário voa quase dez metros antes de cair no chão, morto. Nesse momento, todos os demais atacam-no, que se defende sem esforço.

– Caramba – exclama Tanaka ao ver aquilo, pois não sabia da real condição do seu contratante – esses caras acabaram de provocar o demônio em pessoa!

– Não – responde o Vermelho, sorrindo – mestre Daniel é apenas um Dragão Branco, o maior que jamais surgiu.

– Pensei que os Brancos fossem lendas – diz o japonês – e ele é tão novo!

– Os Brancos são demasiado raros, por isso desconhecidos. O último morreu há mais de mil anos, mas mestre Daniel é muito especial, o maior de todos os Brancos da história.

Impressionado, Tanaka observa Daniel avançando contra quase quatrocentos homens. Seu movimentos são tão absurdamente rápidos e ele quase não consegue acompanhar. Mas vê dezenas de criminosos voando para todos os lados, mortos. O jovem mantém um círculo de dois metros onde se move para todos os lados, matando sem piedade. Tanaka nota o olhar de tristeza do Daniel, concluindo que ele não gosta nada de fazer o que faz, mas sabe que será a próxima vítima, se não agir. A sua musculatura comprimida é tão potente que nenhum golpe dos adversários o alcança, isso se conseguirem passar pelas suas defesas. Assustado, Tanaka afirma, puxando o Vermelho ao seu lado:

– Vamos ajudá-lo, pelo amor de Deus. Vão matá-lo... na verdade nem sei como ainda está vivo!

– Não – o monge shaolin solta-se e segura o japonês – se formos ali, só atrapalharemos. Em menos de um minuto estará acabado. Acalme-se.

– Mas são quase quatrocentas pessoas treinadas contra ele!

Tanaka nota que o chinês simplesmente observa, impassível, mas mantém-no sob observação.

― ☼ ―

Daniel avança, cansado de tanta violência e sabendo que vai provocar muito mais. No auge da sua força, pois agora não está ferido, move-se com tanta velocidade que não pode ser visto com clareza pelos adversários que caem como moscas. Decidido, apela para o poder da força interior, o poder do Dragão Branco, pois eles são assassinos confessos, decididos a acabar com a sua vida e isso derruba completamente seus escrúpulos morais.

Recua rapidamente e exala o ar com energia, enquanto as suas mãos desferem um golpe potente e sente o corpo vibrar intensamente. Embora não toque em ninguém, os adversários são projetados com violência para todos os lados, morrendo instantaneamente. Dos aproximadamente quatrocentos homens que ali estão quase trezentos morrem a maioria os órgãos internos esmagados e ossos rebentados.

O jovem avança novamente contra o grupo restante, que é apenas de ninjas. Ataca-os com velocidade e perfeição, tornando impossível aos japoneses acertarem-no, mas as pancadas que desfere usando toda a força da sua musculatura fenomenal são sempre fatais, pois são impactos de duas a três toneladas. Em pouco tempo não sobra mais ninguém.

Desolado, o rapaz baixa os braços e olha em volta, vendo corpos para todos os ladas, inclusive na estrutura do teto, a mais de vinte metros de altura...

Vira-se para o Vermelho e o Tanaka, notando que este último está com os olhos esbugalhados, como se tivesse acabado de ver o demônio em pessoa.

― ☼ ―

Muito assustado, Daniel acorda e levanta-se de um salto. Olha o relógio e vê que são quatro horas da manhã.

– "Meu Deus!" – Pensa, assustado. – "O que foi isto? Tenho a certeza que isto não foi um sonho e sim uma premonição, mas eu prometi a mim mesmo que jamais usaria este poder! Espero que nunca aconteça, só que tenho as minhas dúvidas."

Sem sono, sai da cama e veste uma calça de quimono, roupa que adora e usa sempre que pode. Desce para a sala e abre a porta do jardim, onde cinco belos cães aproximam-se, alegres. De frente para a piscina o jovem começa a praticar Tai-chi, fazendo isso por cerca de uma hora e meia. Ao parar, toma um banho frio. Apesar de ser inverno e estar gelado, não se importa nada com isso. Vestido e preparado para a escola come algo rapidamente enquanto pensa nos pais, sentindo uma grande tristeza pela ausência deles, embora o passado não possa ser mudado, infelizmente.

Na garagem tira da tomada o BMW, que está com as baterias recarregadas, e segue para a escola, dirigindo calmamente.

Lá, senta-se quase no fundo da aula e olha discretamente para a garota que tanto deseja e ama, um chinesa linda, impetuosa e sempre alegre, bem disposta. Ao fim de alguns segundos suspira e concentra-se na prova que tem à sua frente.

― ☼ ―

Discretamente, outra garota, também muito bela, observa o seu olhar de pura devoção para a sua amiga, enquanto pensa:

– "Caramba, será que a Daniela ainda não notou a paixão dele? Só pode ser cega, meu Deus! Esse guri está totalmente à mercê dela!" – Pensa, impressionada. – "Mas, do jeito que ela o trata, talvez seja mesmo melhor ela não saber. Só não entendo por que motivo faz isso com ele."

― ☼ ―


Sepuku – Suicídio ritual japonês para os perdedores ou para quem se desonrou. Similar ao harakiri.

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