Capítulo 9 - parte 6 (não revisado)
No bar, Jéssica e Cláudia sentam-se conversando.
– Cláudia, quem é Daniela e o que faz Daniel ser tão triste? E por que aquele imbecil do Geovâni chamou-o de amante de amarelas, que o deixou tão zangado que quase briga com o grandalhão, se arriscando a apanhar. Ele também falou de uma montagem no youtube.
Cláudia fica calada por um tempo olhando a garota e pensando se deve ou não contar. Jéssica respeita-lhe os pensamentos. Finalmente a moça decide falar, mas se Jessy for sincera.
– Por que queres saber disso, Jéssica? – Pergunta-lhe. – Isso é uma intimidade dele e não sei se devo.
– Olha, Cláudia, porque eu estou apaixonada por ele há meses. Sonho com ele desde Novembro e sou doida por ele. E também porque me importo e não quero que seja massacrado por aquele brutamontes.
– Muito bem – principia a amiga – vou confiar em ti. Daniela Chang era minha amiga e Paulo mais Daniel são muito amigos. O Daniel era um sujeito, a meu ver, esquisito. – Calmamente vai contando a vida do amigo desde a morte dos seus pais e sentindo lágrimas ao falar do fim da amiga. – Desde então ele está assim de novo. Quanto ao "amante de amarelas" é porque Dani era chinesa, o que foi um golpe baixo e caracteriza racismo que, aqui no Brasil, dá cadeia e é inafiançável. Já o youtube, onde aquele imbecil deve ter visto isso tudo, foi quando uns valentões tentaram agarrar a Daniela na frente dele. Dan é muito pacífico e odeia violência, mas sabe defender-se e quando os caras achavam que ele era um covarde fraco, levaram a mais poderosa e rápida sova que a vida jamais lhes rendeu. A luta durou cinco segundos e só Daniel ficou de pé. Então, não te preocupes que não há a mínima hipótese dele ser ferido por aquele monstro.
– Meu Deus, mas ele é tão calmo e pacífico!
– É sim, Jéssica, e não gosta de brigas. Olha, ele é o nosso melhor amigo e está muito fragilizado. Então, tem cuidado para não sofrer mais.
– Se depender de mim, será a pessoa mais feliz deste mundo. Eu já sonhava com ele, mas quando o vi... sei lá, parece que algo explodiu dentro de mim. Acho que vai ser difícil, mas por ele faço qualquer coisa.
Na volta para as aulas, o professor André aplica uma prova. Junto com a mesma, entrega para Daniel uma folha com uma equação extremamente complexa e um texto em francês. Jéssica, que se dá excepcionalmente bem em física, responde a prova rapidamente e depara-se com Daniel a resolver uma equação diferencial que ela nem tem ideia de por onde começar. No final, escreve uma mensagem em francês. Embora saiba esse idioma porque faz parte do currículo escolar nos Estados Unidos, ele escreveu rápido demais e levantou-se, entregando a prova e saindo para a rua. Ela, que não sabia que podia fazer isso, imediatamente entrega a sua e corre atrás do Daniel.
– Espera, Daniel – ela alcança-o – o que vais fazer à tarde?
– Eu vou trabalhar, Jessy. Por quê, querias alguma coisa?
– Porque eu... deixa pra lá. – Ela fica triste, mas Dan não nota.
– Eu estou com o meu carro. Queres que te leve?
– Claro. – Quando entram no veículo, ela diz. – Minha mãe acha estranho que tu possas dirigir sendo menor, mas não entendo porquê.
– No Brasil, só se pode tirar a habilitação aos dezoito anos. Eu tenho porque sou emancipado. Pronto, chegamos. Amanhã nos vemos de novo. Adeus. Ele sorri e pisca o olho.
– Adeus, Daniel, até amanhã. – "Meu gatinho." – Pensa.
Jéssica entra em casa, triste, e a mãe, que não está habituada a ver a filha de cara fechada, preocupa-se perguntando:
– Que foi, filhinha?
– Já sei tudo sobre ele e creio que vai ser muito difícil conquistá-lo. – Conta para a mãe o que a Cláudia disse.
– Meu Deus, pobre rapaz – afirma esta – não sei como ele não enlouqueceu.
– É, mãe. A propósito, não precisas te preocupar que ele é emancipado. Por isso tem habilitação. – Suspira fundo. – É possível que ele esteja gostando de outra pessoa.
– Bem, filha, nesse caso você nada pode fazer a não ser tentar conquistá-lo. Vamos, anime-se que não é o fim do mundo. Apenas um rapaz e há muitos outros por aí.
– Puxa vida, mãe, apenas o único rapaz de quem gostei. Eu sinto no meu coração que é ele. Nunca aconteceu antes!
– Venha, filha, vamos almoçar pois, se não se alimenta, ainda acaba doente.
– Ora mãe, quando foi que eu fiquei doente na vida?
– Uma vez, quando era bebê e você quase morreu. Foi o seu pai que a salvou, graças a um cientista que vivia em Hong Kong.
– Caramba, mãe. Eu não sabia disso.
– Não podia saber. Tinha apenas seis meses. Mas, realmente, depois disso jamais pegou alguma doença. O seu corpo é muito especial, mas acho melhor as pessoas não saberem disso conforme já conversamos a respeito.
Daniel vai para casa, troca-se e vai para a empresa. Nesse dia, decide visitar os vários departamentos de modo a ver como andam as coisas. Ao chegar ao departamento de Química Nuclear, depara-se com a doutora Janine, que está bastante atarefada.
– Boa tarde, doutora – diz em português – espero que a equação tenha ajudado.
– Olá, chefe – responde, simpática como sempre – muito obrigada. Eu estava com dificuldades naquela equação que é uma chave na minha pesquisa. Bem que André disse que você resolvia em poucos minutos.
– Sempre que precisar é só pedir. Como vai o seu português?
– Eu já falo melhor, para responder à sua pergunta. Otello tem-me ajudado, traduzindo as palavras que não entendo.
– Não sabia que ele fala francês!
– É descendente de franceses e italianos. Fala razoavelmente.
– Que bom. A senhora sente-se bem ou tem alguma necessidade?
– Está tudo ótimo.
– Que bom, até mais que vou visitar os outros departamentos.
Continua a sua ronda e nunca se esquece de ninguém, sendo estimado por isso. Quando volta para a administração, fica com uma boa noção de como estão as coisas em toda a companhia. Sobe até à sala da Suzana e Patricia indica que ela está livre. Entra e, para variar, Suzi não tira os olhos do que lê, mas fala:
– Entra, amor.
Dan dá-lhe um beijo na testa e senta-se em uma poltrona. Ela ergue a cabeça, sorri para ele e continua a trabalhar.
– Como vai o novo setor de biologia e genética, Su?
– O doutor Silverstone está organizando tudo e, em um mês, poderá começar a trabalhar. Na verdade, já estuda o trabalho do teu pai e sente-se completamente fascinado. – Para de falar e olha o amigo no rosto. – Estás estranho, Dan, e também apreensivo. O que te aflige?
Daniel permanece em silêncio por alguns segundos e ela adivinha tudo. Fica, porém, aguardando.
– O meu sonho apareceu – afirma, finalmente – isso preocupa-me demais.
– Por quê? – "Eu sei perfeitamente" – pensa ela – "fui eu quem ta deu." – Por acaso ficaste tímido?
– Sempre fui tímido, gatinha, mas não é isso.
– Deixa adivinhar: tens medo de amar novamente. Estás perdidamente apaixonado por ela e achas que isso vai apagar o teu amor pela Daniela ou por mim. Ora, meu anjo. Não penses assim. Isso é tolice!
– Eu sei que é. Talvez só precise de me habituar.
– É sim, mas não te esqueças que ninguém espera pra sempre.
– Eu sei, Suzi, eu sei. – Suspira. – Bianca disse a mesma coisa.
– Vamos ver o doutor Silverstone? – Suzana levanta-se. – Fiquei de lá ir.
– Vamos, também quero ver como andam as coisas.
Descem para a térreo e vão caminhando até ao prédio novo. Ainda se vê alguns pedreiros a fazerem acabamentos e caminhões descarregam diversos equipamentos. O par segue para o subsolo, nos níveis de segurança máxima, e encontra o cientista sentado na sua mesa a estudar o material que recebeu.
– Boa tarde, como vão? – Ele levanta-se, estendendo a mão.
– Tudo bem, doutor Silverstone? – Daniel sorri. – Que tal as instalações? Forneceram-lhe todo o material de que precisa?
– Estas instalações são excelentes, simplesmente uma maravilha e o trabalho do seu pai é fenomenal. Está pelo menos cinco anos à minha frente, senão bem mais!
– O senhor precisa de algo?
– Bem, preciso de alguns assistentes e de um computador.
– Computador!? – Pergunta Daniel, muito espantado. – O atual não lhe serve?
– Atual? – Pergunta, achando que o patrão tem um parafuso a menos. – Onde está ele?
– Não o ensinaram a usar o equipamento?
– Não!
– Computer: show a demo of your use to doctor Silverstone, in english. Thank you. (Computador: apresenta uma demonstração do teu uso para o doutor Silverstone, em inglês. Obrigado.)
Diante dos olhos do atônito cientista, um telão ilumina-se na parede e o computador começa a fazer uma demonstração de si mesmo. Ao terminar, o homem olha impressionado aquela criação maravilhosa.
– Meu Deus, que sistema fenomenal! Quantos anos levou para fazê-lo?
– Pouco mais de um ano e é um dos nossos maiores segredos. Ele consegue aprender sozinho e vai-se adaptar ao seu modo de trabalhar. Suzi, querida, providencia um técnico do suporte para ajudar o doutor Silverstone. E ele não tem portátil por quê? O senhor mora aqui ou no condomínio dos cientistas?
– Eu preferi ficar na cidade, por causa da minha esposa e filha. Quando preciso, durmo aqui mesmo. Afinal, temos acomodações excelentes, mas a minha família precisa de ficar mais perto da cidade.
Suzana respira fundo por ele não ter revelado o nome da filha.
– Como achar melhor. Su, manda trazerem um portátil e liga para aquele rapaz que te falei que seria um bom auxiliar. O nome dele é João Martins e diz que a vaga surgiu antes de Maio. Aqui está o número.
– Sim, chefe. – Suzana anota o telefone.
– Doutor, andei estudando um pouco de biologia para tentar entender o vosso trabalho e fiquei fascinado. Mas achei estranho que as técnicas de clonagem que o meu pai usava diferem das tradicionais. Temo que a abordagem que ele adotou possa trazer resultados negativos. Claro que é apenas uma opinião.
– Na verdade, a sugestão da técnica dele não chegou a ser comprovada e era experimental. – O cientista fica impressionado pelo fato do jovem ter identificado uma diferença tão sutil. – Começou a estudar biologia quando? Para saber isso, já deveria estar em um nível muito avançado, no mínimo um doutorado.
– Comecei em Janeiro.
– Janeiro agora? – O cientista fica incrédulo. – Isso não é possível!
– É sim, doutor – diz Suzana, rindo – ele aprendeu a falar italiano em três dias!
– Fascinante!
– Bem, doutor. Eu vou para o departamento de Física Nuclear. Se precisar de mim é só falar. A propósito, quando acha que podemos ter resultados?
– Dentro de alguns anos, eu creio.
– Eu quero resultados o mais rápido possível. Dinheiro e recursos não são problema.
– Claro, Daniel. Conte comigo.
O jovem não encontra André, que não viera para o trabalho e vai ver Hans. As pesquisas andam devagar, pois eles dependem da trabalho da Janine para criarem um dispositivo de segurança.
Volta para a sua sala pensando que as coisas estão muito lentas, mas não quer pressionar ninguém. No final do dia, vai para casa, onde pratica Tai-Chi-Chuan.
Na manhã seguinte, quando vê a Jéssica, o seu mundo começa a brilhar novamente. Inconscientemente, dá-lhe um sorriso muito grande, que é retribuído.
– "Tenho de parar com isso e assumir logo. Su e Bianca têm razão: estou sendo tonto e ela não vai esperar para sempre."
– Jessy, queres passear hoje à tarde?
– Não precisas de trabalhar?
– Hoje não, além do mais, se precisarem de mim ligam-me. A empresa é minha mesmo! Queres?
– Claro que quero, Daniel, vai ser maravilhoso. – Fica tão satisfeita que quer abraçá-lo, mas acha melhor ser prudente. – Podemos tomar sorrevete.
– Sorvete. – Corrige, sorrindo.
– Sorvete – ela ri – obrigada.
– Na sexta-feira tenho uma coisa muito importante para fazer durante a tarde, mas gostaria da tua ajuda. Podes ir comigo?
– Claro que posso. O que é?
– Surpresa – Jéssica volta a sorrir, cada vez mais contente – tá bom, eu digo: trata-se do aniversário de um garotinho muito especial.
A aula é de física e André entra com a cara meio zangada.
– Xi – comenta Paulo, baixinho – as provas...
– Péssimas provas – afirma André – como é que vocês querem ir para a universidade com estas notas?
Pega em duas folhas e olha atravessado para Daniel:
– Daniel, tu passaste o resultado para Jéssica? – Mostra ambas as provas, apenas com os resultados escritos e valores idênticos.
– Não passei não, professor.
– Então a senhorita copiou as respostas do Daniel?
– De jeito nenhum prrofésseur. – Quando ela fica nervosa fala tudo errado. – Não vejo motivo para isso.
– As respostas são idênticas, sem desenvolvimento. Espera que eu acredite?
– Epa, irmãozinho – acrescenta Paulo, baixinho – já vi esse filme ano passado.
– Professor – Jéssica fica empertigada – eu nunca menti em toda a minha vida e tenho muito orgulho disso. Adoro física, que é o curso que desejo fazer. Jamais precisei copiar uma prova.
– De novo – geme o professor – tudo bem, vou dar um voto de confiança.
As provas não estão boas, mas também não são o desastre que ele disse e o restante da aula corre tranquila. Jéssica levanta-se para ir ao sanitário, demora um pouco e Daniel fica com uma sensação de perigo alertado pelo seu sexto sentido. Pede licença e levanta-se, indo em direção aos banheiros a tempo de ver Geovâni cercando a moça. Bem no momento em que a pega pelo braço, Daniel entrepõe-se entre ambos.
– Outra vez, tchê? – Com uma mão, afasta Jéssica para as suas costas. – Cara por que não aprendes? Deixa a garota em paz. Assim, só as vais fazer fugirem de ti. Tenta algo mais construtivo, de preferência com outra que não esta.
– Escuta aqui, seu amante de amarelas, sai do caminho senão te arrebento os cornos.
– Geovâni, um dia vais morder um osso grande demais e morres sufocado. Eu não vou sair daqui, cara. – Daniel prepara-se para o enfrentar. – Deixa-nos em paz.
– Senhor Geovâni – o diretor aparece do nada – algum problema?
– Não, senhor – diz este, afastando-se – só uma conversa.
– Tudo bem, meu filho?
– Sim, senhor José. Tentava explicar para o colega que ele deve ser mais construtivo. Porém, parece que tem dificuldade em entender. Deve ser falta de proteína.
– Deixa que eu falo com ele. Podem voltar para a aula.
– Obrigado pela intervenção, senhor, eu não gostaria de ver a cena do ano passado repetida.
– Claro, meu rapaz. Ninguém aqui quer aquilo de novo. Felizmente tu tens bastante bom senso.
– Obrigado. Vamos retornar para a aula, Jessy. – Delicadamente, pega na mão dela e uma descarga elétrica percorre ambos.
– Obrigada, Daniel. Ele me assusta muito. – Num impulso, ela dá-lhe um beijo no rosto o jovem fica sem jeito, com o rosto vermelho, sentindo-se um adolescente no primeiro encontro. Sorri-lhe e leva-a sem soltar a sua mão, sentindo o toque simplesmente maravilhoso.
O diretor chama Geovâni para a sua sala:
– Escute, meu filho – principia este – somos uma escola liberal, com uma filosofia de educar os nossos jovens com responsabilidade e não cerceamos a liberdade de ninguém, mas exigimos respeito uns pelos outros. Você está violando esta regra fundamental.
– Aquele amante de amarelas veio queixar-se! Que fresco.
– Olhe, rapaz. Eu não vou tolerar comentários raciais na minha escola. Mais um desses e você pega uma semana de suspensão. Não se esqueça que já tem quase vinte anos e racismo é crime inafiançável. E tem mais uma coisa: Daniel não precisa de mim para se defender. Infelizmente, o histórico disso foi parar no youtube. Se você tivesse juízo, não se meteria a bater nele.
– O senhor acha que vou acreditar naquela montagem absurda?
– Acredite no que quiser, mas eu vi isso acontecer. E vou lhe dizer mais: Daniela Chang foi muito estimada por todos aqui nesta escola e a sua menor nota era nove. Então, considerando o seu péssimo desempenho, acho que o inútil aqui é o senhor. Se você pretende atingir Daniel com esses comentários, vai comprar uma briga com meia escola ou mais. Finalmente, vou ser direto. Se eu o apanho brigando, será expulso. Levando em conta o seu histórico, nem o seu pai irá salvá-lo. Agora saia e pense no assunto.
Frustrado e furioso, Geovâni sai da sala desejando surrar Daniel. Este, porém, está junto com a garota dos seus sonhos assistindo aula de física, ou tentando assistir, pois sente-se cada vez mais consciente da sua presença. No intervalo, André pede para falar com ele e Cláudia convida a nova amiga para ir à piscina.
– Jéssica, sábado nós vamos fazer um churrasco na casa do Paulo. Queres ir? – Cláudia pisca o olho para o namorado.
– O que é churrasco?
– Xi! Como será churrasco em inglês?
– Eu sei – afirma Paulo – é barbe qualquer coisa.
– Ah – Jéssica sorri – barbecue. Churrasco. Claro que eu quero. Como eu chego lá?
– Nós te pegamos. Dá-nos o teu endereço. Traz biquíni pois o tempo está bom para piscina e gostamos de jogar polo.
– Combinado, a que horas?
– Nove e meia da manhã está bom? Daí podemos nos divertir na piscina antes do almoço.
– Ok, toma o endereço.
À tarde, Daniel busca Jessy na casa dela e vão passear no parque, à beira do rio, com ela radiante. Ao saírem do carro, caminha o mais próximo possível dele e, quando as mãos de ambos se tocam, inconscientemente ele pega na dela. Na sorveteria, sentam-se bem juntos, cada um está louco para se atirar aos braços do outro, mas cada qual tm seus motivos para ser cauteloso.
– Como é o teu trabalho – ela pergunta – é agradável?
– É sim. Desenvolvemos alta tecnologia e acho uma boa forma de ajudar as pessoas. Sempre me dediquei a isso.
– Disseste que a empresa é tua, mostras-me um dia?
– Claro. É um lugar muito gostoso. Vamos passear no parque?
Lado a lado e de mãos dadas, caminham ao acaso, muito felizes de estarem perto um do outro. Passam praticamente toda a tarde andando, sempre muito juntos.
– Não tens medo daquele monstro?
– Quem, Geovâni? – Ele sorri. – Definitivamente não. Eu não gosto de brigas, nem um pouco e odeio qualquer forma de violência, mas seria um erro fugir dele. Ir-me-ia perseguir pelo resto da vida e já passei por isso quando tinha oito anos. Aprendi a lição.
– Mas é tão grande! – Questiona, ainda preocupada. – Assusta, e também emana maldade.
Daniel dá uma risada alegre.
– Não te preocupes que, enquanto eu estiver por perto, ele jamais te fará mal. Eu não gosto de violência, mas isso não significa que não esteja preparado para ela.
– Ficas mais bonito alegre. – Daniel fecha o semblante por uns segundos, até que diz:
– Jessy – vira-se para ela e os olhares cruzam-se. – Há pouco mais de um ano e meio, os meus pais morreram em um acidente que, para mim, foi arrumado. Tenho motivos para achar que foi assassinato e isso deixou-me muito, muito triste. Depois, reencontrei uma paixão de criança, a Daniela Chang, uma moça chinesa que estudava aqui. Por isso o imbecil chamou-me de amante de amarelas. Eu amava-a demais e ficamos noivos, mas ela morreu no acidente aéreo em Novembro e fiquei muito arrasado. Por isso, não me alegro a toda a hora. Me desculpa.
Jéssica abraça-o com força.
– Não precisas pedir desculpa. Deve ter sido horrível perder tanta gente amada em tão pouco tempo.
– É bem ruim sim – ele adora aquele abraço – mas falemos de outra coisa. Eu só queria que soubesses a verdade.
Ela não quis revelar que já sabia disso e voltam a caminhar com a garota permanecendo abraçada. O telefone toca e Daniel pede licença, atendendo meio chateado por separar-se dela.
– Sim... Sim senhor, eu aviso-o... Obrigado, mestre Lee.
Desliga e liga para Paulo.
– Paulo. Mestre Lee pediu para te avisar que hoje não haverá aula pois tem um feriado chinês... claro, com prazer, a que horas? ... Tá certo, estarei lá.
Olha para Jéssica, que ficou frustrada com a separação ao vê-lo atender o telefone, sorri e puxa-a de volta, enlaçando-lhe a cintura, continuando a andar. Ela encosta a cabeça no ombro dele, deliciada com o contato.
– E agora, tu não tens ninguém em mente? – Pergunta, – Não te interessas por ninguém?
– Como eu disse uma vez – responde, misterioso – "o coração tem razões que a própria razão desconhece."
Jéssica não entende o que ele quer dizer e continua com uma dúvida, sentindo que não devia ter lido a mente da Bianca.
– E tu, Jéssica, não tinhas nenhum namorado nos Estados Unidos?
– Não, sempre achei os garotos da minha idade meio infantis. Tu e Paulo são os primeiros que conheço que são diferentes. Sei que deve haver mais por aí, mas nunca vi.
– Bem – diz, meio a brincar – então talvez eu tenha uma chance contigo.
Ela não responde, mas aperta um pouco o abraço, encostando-se mais ao Dan. Ele vira o rosto para a bela garota, que não tira os olhos de si. Para de caminhar e puxa-a para a sua frente, sentindo o coração bater forte, um pouco ofegante, tal e qual Jéssica, que aproxima o rosto do dele, desejando ardentemente beijá-lo. Quando isso está prestes a acontecer, o telefone toca novamente, quebrando o encanto. Após uns segundos de indecisão, afasta-se para atender. Fala com Suzana por alguns minutos e desliga. Meio triste, olha para Jessy, dizendo:
– Infelizmente, o meu senso de tempo diz que está na hora de voltarmos.
– Claro, Daniel, vamos. – Confirma, muito frustrada mas alegre por saber que se iam beijar.
Devagar, vão caminhando para o carro onde entram e ela olha para ele:
– Daniel... – Está ofegante.
– Sim?
– Nada. Deixa pra lá.
Este sorri e dirige calmamente para a escola, onde alguns colegas já aquecem. Bianca está sentada na arquibancada, sozinha e aguardando. Ele senta-se ao lado dela e faz-lhe um carinho na cabeça, esfregando delicadamente os seus cabelos encaracolados.
– Olá – está sorridente e a garota nota a diferença – atrasei-me né?
– Oi – Afirma, vendo a Jéssica junto – eu compreendo. Vamos aquecer?
Os três começam a correr lado a lado, pois mais ninguém na escola é capaz de suportar aquele ritmo. Após quatro quilômetros, param e o treinador, que entretanto chegou, põe cada um nas suas tarefas. Manda as garotas fazerem séries de cem, duzentos e quatrocentos metros. Deseja ardentemente achar mais duas moças iguais àquela dupla que acabara de se formar, mas as demais meninas são muito normais. Daniel vai treinar corrida de fundo, junto com mais uma dúzia e Geovâni ele põe a fazer mira com os dardos no extremo oposto do campo, onde o garoto novo treina arremesso de peso.
Geovâni sente-se ultrajado com a tarefa que lhe é atribuída e não compreende a importância do treino. Ao fim de meia hora, provoca o desastre. Com raiva, pega um dardo e arremessa com toda a força. Como é muito forte, o objeto inevitavelmente atravessa o campo.
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