Capítulo 9 - parte 4 (não revisado)

Daniel vai para casa. Apesar do que aconteceu, sente-se só e deseja que garota do seu sonho esteja presente. Domingo é o seu aniversário, mas não sente vontade de fazer nada. Em casa, senta-se para meditar. Tem andado com dificuldade em fazer isso, pois seu espírito não está em paz e, mais uma vez, não consegue. Desesperado, tenta dormir.

― ☼ ―

Jéssica ajuda a mãe a arrumar as coisas para a mudança. Não se sente normal. A mãe acha que é da mudança, mas questiona a filha, que dá um suspiro e confessa:

– Ai, mãe, eu estou total, completa e irremediavelmente apaixonada. – Isso pega-a totalmente de surpresa.

– Mas, filha, agora você diz isso!

– Não, mãe – afirma acalmando-a, embora apenas piore as coisas para a mãe – não é por ninguém daqui. Já lhe disse que os garotos da minha idade são muito imaturos para mim. É pelo rapaz do meu sonho. Eu sonho todos os dias com ele, que é bem real, mas não sei quem é. Sei que vai aparecer para mim na hora certa e acho que é lá do Brasil. Só que sinto aqui dentro que é o meu escolhido, mas ele está tão triste!

– Filha – a mãe está muito preocupada – acho que precisa de um psicólogo.

– Mãe, eu sei o que digo, acredite em mim que não estou maluca. Eu falo isto porque nunca lhe escondi nada nem jamais menti na vida. Não me faça começar a esconder as coisas, principalmente o que eu sinto. Mãe, eu amo um sonho como jamais pensei ser possível amar alguém!

– Tá bom, filhinha, desculpe. Afinal, se ele for realmente do Brasil como você pensa, ir-se-ão encontrar, embora o Brasil seja um país gigante. Olhe, pequena, já é domingo! Feliz aniversário.

– Obrigada, mãe. – As duas abraçam-se.

― ☼ ―

– Feliz aniversário, super-Dan – Cláudia entra na sua casa e abraça o amigo que aprendeu a amar e respeitar.

– Daí, irmãozinho, feliz aniversário. – Acrescenta Paulo. – Vamos que eu trouxe a carne, pois tinha certeza que não te ias ligar no lance.

– Eu devia ter ido para o meu retiro – comenta Daniel, rindo para o casal – mas valeu. Eu amo vocês...

Suzana aparece, tímida.

– Oi, amor, feliz aniversário. – Diz, abraçando-o.

– Obrigado, gatinha.

Esse domingo é mais um daqueles dias descontraídos que eles passam juntos na piscina jogando, assando um churrasco e divertindo-se em paz. Ao final da tarde, Daniel sugere um passeio, que todos topam e escolhe a Ferrari por caberem os quatro, além de de ser conversível. Param na beira da praia do Guaíba para passear. Quando começa a escurecer, Daniel pergunta:

– Daí, gente. Eu pago o jantar, onde querem ir?

– Ouvi dizer que abriu um restaurante mexicano – comenta Cláudia – será que é bom?

– É tri bom. Jantei lá anteontem e fica aqui perto. Querem ir?

Daniel guia-os até ao restaurante e procuram uma mesa ao ar livre. O mesmo já está quase lotado, mas conseguem uma mesa num canto, bem perto do muro que separa o restaurante da praia. Após fazerem os pedidos, o garçom avisa que pode demorar um pouco, devido ao movimento, mas preferem esperar.

– Oi, Daniel, tudo bem? – Dan levanta os olhos e vê Bianca.

– Olá – sorri para ela, levantando-se – tu por aqui? Queres sentar conosco?

– Não. Estou com os meus pais porque hoje é meu aniversário.

– Que coincidência! – Daniel dá-lhe um abraço. – Parabéns. Também é o meu. Desculpa a falta de educação. Esta é Suzana, minha amiga, Cláudia lá da escola e Paulo, também da escola. Gente, esta é Bianca, uruguaia e da equipe de atletismo, a melhor corredora da turma.

– Oi, Bianca – Suzi cumprimenta em espanhol – feliz aniversário. Estás gostando do Brasil?

– Sim, aqui é muito bonito, mas ainda não sei falar bem. – Diz ela, também em espanhol. Volta ao português e continua. – Bem, vou voltar para a minha mesa. Parabéns para ti, Daniel.

– Obrigado. – Ela retorna e senta-se.

– Mais um coração arrebatado pelo Daniel. – Comenta Suzana, sorrindo. – A coitadinha está apaixonada por ti e fuzilou-me com os olhos.

– Sei disso. Ela não perdeu tempo, mas é gente boa. Gosto muito dela.

Aparece um vendedor de rosas, coisa muito comum nos bares de Porto Alegre há mais de cem anos e Daniel chama-o:

– Amigo, faça um buquê com duas dúzias de rosas e entregue para aquela moça. Tem papel para escrever? Obrigado. – Redige uma mensagem de parabéns e pede que cada um assine. – Agora, também quero um buquê para cada uma destas adoráveis jovens aqui da mesa.

Suzana abraça Daniel e beija-o de leve, para tristeza da Bianca que acompanha tudo pelo canto do olho. Ela observa o vendedor entregar um pequeno buquê para cada uma das garotas, receber o pagamento e afastar-se. Quando passa pela sua mesa, com uma vênia teatral para e diz, sorrindo:

– Bela senhorita, aquele jovem mandou entregar – dá-lhe um buquê enorme e o bilhete. A seguir, com uma voz de impressionar, canta "parabéns a você", acompanhado pelas palmas dos presentes. Termina dizendo – feliz aniversário, senhorita.

– Obrigada. – Ela vira-se toda sorridente e acena para eles, agradecendo.

– Quem são, Bi? – Pergunta a mãe. – Parecem simpáticos.

– Aquele que fica de frente é meu colega no atletismo. O casal é da sua aula, mas a outra moça eu não conheço. Ele apresentou-a como uma amiga.

– E que amiga – comenta o pai – ela ofusca qualquer mulher deste restaurante!

– Bem, pai – diz Bianca, rindo azeda – eu prefiro Daniel. Por sinal, também está de aniversário.

– Concordo contigo, filha. Ele é muito lindo. – Afirma a mãe cutucando o marido, pois percebeu a paixão nos olhos da filha.

Na segunda-feira, encontram-se no atletismo. Bianca gosta de correr com Daniel pois é o único capaz de acompanhar o ritmo dela que, inclusive, adora provocar os outros garotos que a tentam acompanhar.

– Obrigada pelas flores, Daniel. Adorei.

– Que bom que gostaste. Se eu soubesse que era teu aniversário dava-te algo melhor.

– Que nada, eu amei aquilo. Quem é a moça que estava contigo?

– Suzana? Ela é uma grande amiga minha. Nós trabalhamos juntos.

– Trabalham? – Olha para o Dan, espantada. – Tu trabalhas?

– Claro, depois da escola, vou trabalhar. Eu gosto disso e trabalho desde os treze anos.

– Mas os teus pais deixam?

– Infelizmente eles faleceram há um ano e pouco, mas eu decidi que ia trabalhar e meu pai respeitou minha vontade. Ele era muito bacana.

– Sinto muito pelos teus pais. Pensei que ela era tua namorada.

– Se ela fosse minha namorada, não teria acontecido nada entre nós na sexta-feira, Bianca. Na verdade tivemos uma historinha, mas já acabou. Nós nos gostamos muito, mas não para namorar.

– Por causa dos sonhos?

– É sim, Bianca, exatamente por causa disso. Não me perguntes mais o que não sei explicar. Até eu ando muito confuso com isso.

– Ela fala castelhano muito bem – continua Bianca – sabias disso?

– Suzi fala muitas línguas, até mandarim.

– E tu também entendes bem – atalha em castelhano – não é?

– Como tu sabes? – Pergunta ele rindo, mas continuando em português.

– Porque acompanhaste a nossa conversa como se estivesses entendendo tudo, enquanto os teus amigos não agiam da mesma forma.

– Ok – ele dá uma risada – um a zero. És muito perspicaz, mas vais falar português pois tu tens que aprender e não eu.

– Entendes outras línguas?

– Sim, muitas.

Sempre que se encontram é assim: ela fala e ele ouve ou responde. Dan simpatiza muito com ela e não se importa com as perguntas, mas preocupa-se um pouco, pois ela está visivelmente apaixonada.

― ☼ ―

Finalmente, a família Silverstone encontra-se reunida em Porto Alegre. Suzana providenciou tudo o que precisavam em termos de residência e escola. Quando estão instalados em casa, à noite e após Jéssica dormir, a esposa pergunta ao marido como são as coisas.

– Amor, são completamente diferentes do que eu pensava. O centro de pesquisas, chama-se Cybercomp e é enorme. Maior até que a universidade em Boston, muito maior. Mas quem construiu aquilo não foi o doutor Moreira e sim o filho dele, que tem o mesmo nome. Foi ele quem quis me contratar e seus pais morreram há cerca de um ano e meio. O que mais me impressiona é que ele acabou de fazer dezessete anos e não é só isso, começou a fazê-lo aos treze! É um gênio. Projetou um coração, olhos e membros mecânicos. Existem ali homens biônicos e ele faz isso de graça, para ajudar os necessitados. O doutor Chang, aquele cardiologista famoso que examinou a Jéssica, lembras? Trabalha para o rapaz. Não sei porquê, mas o garoto chama-o de pai.

― ☼ ―

Março vai passando tranquilo e Daniel tem cada vez mais sonhos com Jéssica, alguns deles bem quentes. Este acorda e ainda ecoa na sua cabeça a frase em que ela diz:

– "Em breve estaremos juntos. Estou indo te encontrar, meu amor."

Levanta-se bem disposto, como não ficava há meses, e vai para a escola. Na aula de inglês, abre um caderno para anotações e começa a desenhar uma pessoa. Ela aparece sentada em frente a uma secretária e está com ar sonhador, sendo de uma beleza estonteante, transcendental.

– Caramba, irmãozinho – comenta Paulo quando vê o desenho por cima do ombro do amigo – essa guria é a coisa mais bonita que já vi na vida e nem Suzana é pário para ela. Quem é?

– Ela – Daniel faz uma pausa, enquanto, com olhos sonhadores, escreve o nome da garota num canto – vai ser a mãe dos meus filhos.

A porta da sala de aula abre-se e entra o diretor acompanhado de uma moça. Paulo, de queixo caído, cutuca o amigo que está de cabeça baixa, apreciando o desenho.

– Daniel, não quero dizer nada, mas a mãe dos teus filhos acabou de entrar na sala de aula.

– Que dizes? – Daniel vira-se para o amigo, que permanece de boquiaberto e apontando para o estrado. Este vira e fica paralisado. Trêmulo, arremata baixinho. – Jéssica!

– Senhores e Senhoritas – principia o diretor – esta moça é Jéssica, que veio dos Estados Unidos e vai passar uma temporada aqui conosco. Espero que todos a ajudem, pois ela, apesar de saber português, não aprendeu muitas das nossas matérias. Daniel.

– S... s.... sim?

– Está tudo bem consigo, meu filho?

– A... a... s... sim senhor. – Sente-se desconcertado. – A... a... acho que sim.

– Está bem, Daniel, já que o senhor é o melhor aluno desta escola, poderia auxiliar a sua nova colega?

– C... c... claro. Será um p... pr... prazer, senhor.

– Então está combinado. Jéssica, sente-se na mesa ao lado do Daniel. – Ela dirige-se para lá, sorrindo para ele enquanto este fecha o caderno às pressas. Quando senta, o jovem fica inebriado com o cheiro que emana do seu corpo, sem falar que ela é muito mais bela: alta, magra, cabelos dourados e olhos muito verdes, o nariz arrebitado e os lábios carnudos, sem excessos. É de proporções excelentes, que a deixam irresistível, com a cintura fina e seios médios, na medida perfeita com a altura. Ele fica extasiado.

Pouco tempo depois, o sinal toca para o intervalo e a jovem americana é praticamente tomada de assalto pelos rapazes da sala, interessados nela, enquanto Daniel, muito desamparado, sai de fininho. No pátio, senta-se num banco para pôr as ideias no lugar. Ao fim de uns minutos, uma voz doce fala:

– Oi, Daniel. Você disse que podia me ajudar, então que tal mostrar a escola?

Olham-se no olhos, que brilham.

– C... cl... claro, tens razão. Vem. – Vai-lhe mostrando a escola, os pátios, laboratórios, lanchonete, ginásios, campo de atletismo, a piscina e arredores.

– Gosto muito de atletismo e praticava em Boston.

– Podes solicitar para participar e basta que te apresentes para o treinador. As aulas são segundas, quartas e sextas, das dezoito às vinte. Vem, vamos para a lanchonete da piscina que lá é mais tranquilo. O teu português é muito bom, mas tem sotaque do Rio de Janeiro.

– É mesmo? – Ela sorri. – Bem que achei que vocês falavam diferente.

– O Brasil tem vários sotaques; cada região com o seu. Mas acredito que nos Estados Unidos seja a mesma coisa.

Encontram Paulo e Cláudia. Esta puxa pela Jéssica e começa logo a fazer amizade. Enquanto isso, Paulo chama o amigo de lado e pergunta-lhe.

– Escuta, tchê, eu sei que a minha memória não é tão boa como a tua, mas não era esse o nome que a Dani falou?

– É sim, meu velho. Eu estou tão espantado que nem sei o que pensar ou dizer. Venho sonhando com ela, há meses. Apaixonei-me antes mesmo dela aparecer aqui e, agora que está na minha frente, fiquei totalmente travado. Até pareço tu, antes da Cláudia!

– Calma. As coisas sempre se acertam. – Afirma o amigo, rindo ao se lembrar.

– Tu não entendes, Paulo, eu fiquei obcecado por ela e queria tomá-la nos meus braços agora. Cara, eu estou totalmente desesperado.

– É como eu disse, Dan, as coisas acabam-se acertando. Já notaste como ela olha para ti? Acho que a recíproca é verdadeira. Cara, acalma-te e deixa rolar.

Ao término do intervalo, levantam-se e seguem para a aula. Não muito longe, Paulo avista o valentão.

– Carinha, aquele babaca está aprontando alguma.

– Deixa-o em paz, Paulo, que não o podes enfrentar. Além do mais, a violência é inútil e, cedo ou tarde, ele aprende.

– Não sei não, meu irmãozinho. Esse sujeito emana maldade.

– Mesmo assim, não te intrometas, especialmente se for comigo. Ele não pode me encarar, mas pode a ti.

Jéssica ouve aquela conversa sem entender grande coisa, pois falam rápido demais, mas também não gosta do Geovâni. Ela está completamente alheia a tudo, menos à presença do Daniel. O rapaz dos sonhos dela ainda mais bonito do que aparentava, bem ali ao seu alcance, mas tão tímido! Ela tem um dom que guarda em segredo e jamais o usa a não ser quando é importante, mas acha que, desta vez, é válido. Na sala de aula, começa a investigar as mentes dos colegas. A maior parte dos garotos pensa nela só para sacanagem, coisa que já está acostumada. As garotas têm os mais diversos pensamentos. Paulo e Cláudia, ela "vê" o quão profundo é o amor deles; mas, quando chega a vez dele, esbarra em uma barreira intransponível, tendo a certeza que é ele, pois sempre que teve a oportunidade de alcançar a sua mente, este levantou uma barreira e isso significa que também é telepata. Sem se dar conta, está olhando para ele, sorrindo. Ao chegar a casa, Jéssica grita pela mãe:

– Que foi, filha – esta assusta-se – está tudo bem?

– Mãe – seus olhos brilham muito – eu encontrei-o. Ele existe. Sempre soube. Olhe, tirei uma foto com o celular, discretamente é claro. Até o nome é o do sonho: Daniel.

– Minha filha – afirma a mãe, assombrada – se eu não visse, não acreditaria. Mas é verdade e ele é exatamente igual ao seu desenho, só que muito mais bonito!

– Ai mãe, ele é tímido, mas gosto tanto dele e quando estou perto sinto que sempre estive com ele. Tive de me segurar para não o beijar num impulso. Dizem que é o melhor aluno da escola. O próprio diretor disse, e pediu para ele me ajudar onde eu tiver dificuldades. Mãe, acho que vou arranjar algumas dificuldades bem rapidinho, pois ele é tão quieto e tímido. Sem falar que é triste, como no meu sonho.

– Calma, filha, dê tempo ao tempo. Quem sabe não está impressionado consigo? E se ele também tinha sonhos com você! Seria bom antes averiguar por que motivo é triste.

– Não sei, mãe. A mente dele é completamente intransponível. Nunca vi alguém com tamanha capacidade de se bloquear.

– Filha, pensei que não usasse esse dom.

– Não uso, mãe. Apenas senti necessidade de saber como era o ambiente da escola aqui no Brasil. Na verdade, é similar a Boston: garotos infantis que só pensam em sexo, meninas invejosas ou mesquinhas. Um que outro, escapa. Acho que deve ser assim no mundo todo. Daniel é inacessível, mas fala com firmeza e como se soubesse muito bem o que quer. E há um casal de amigos dele que também é diferente. Eles têm um amor tão profundo um pelo outro que foi bonito de ver. Quando ela me conheceu, veio logo fazendo amizade e acho que vamos ser muito amigas. A propósito, eu vou tentar entrar na equipe de atletismo ainda hoje.

– Venha, querida, vamos almoçar. Devia falar português em casa, para treinar.

– Ele disse que eu falo muito bem, mas tenho sotaque do Rio de Janeiro. – Comenta Jéssica que não para de pensar e falar no Daniel, muito eufórica.

– Claro – a mãe dá uma risada – era de se esperar já que eu sou de lá e fui quem a ensinou.

Daniel sai da aula completamente desnorteado. Vai para casa, troca-se e pensa em trabalhar, embora esteja sem vontade alguma, pois queria estar com ela. Pouco antes de sair, o telefone toca, mas não sabe de quem é o número. Mal atende, reconhece logo a voz.

– "Oi, Daniel, é a Jéssica" – o seu coração quase para – "peguei seu número com Cláudia e espero não incomodar. Como você disse que me ajudaria e não conheço nada daqui, estava pensando se poderia me mostrar um pouco a região. Claro, se você não estiver ocupado."

– Tudo bem, mas tenho de estar no atletismo às dezoito.

– "Eu também vou tentar entrar no atletismo, pois sou boa corredora. Espero que me aprovem."

– Está bem. Dá-me o teu endereço que te busco em meia hora.

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