Capítulo 9 - parte 12 (não revisado)


Jéssica sente-se muito satisfeita, pois adora o pai, mas este nunca está em casa. Para sua alegria, ele chegou cedo, só que com uma cara não muito boa, chamando a filha.

– Jéssica, andou falando de mim ou do meu trabalho?

– Não, pai. Bem, eu comentei para o meu namorado que tu andavas trabalhando muito e que eu ficava triste, pois não te via há uns dias. Por quê?

– Porque... Deixe pra lá. Tem razão. Bem, vou ficar aqui pelo resto da semana. São ordens do chefe, que me mandou descansar. Só não entendo como chegou aos ouvidos dele, isso que disse ao seu namorado.

– Que bom que vais ficar. – Ela abraça o pai, apertando-o com força.

– Calma, filha, que você é forte demais. Bem, conte-me lá como é esse seu namorado.

– Ora, pai, ele é gentil, muito inteligente, um grande atleta e muito bondoso. Ah sim, também é muito bonito.

– É mesmo? – Pergunta o pai. – E o que ele pretende fazer de faculdade?

– Não lhe perguntei, mas acho que deve ser física, como eu. Ele disse que passava aqui hoje, mais tarde. Não vais sair, né? Quero to apresentar... – A campainha toca e Jéssica levanta-se de um salto, correndo para a porta. – É ele.

– Oi, amor – diz ela, beijando-o muito – que bonito que estás. Gravata e tudo!

– É, os japoneses são muito ortodoxos.

– Vem, amor, quero apresentar-te o meu pai.

– Acho que ele vai ter um pequeno choque.

– Pai – diz, sem dar ouvidos ao comentário do Daniel – vem conhecer o meu namorado.

O doutor Isaac Silverstone não é dado a beber; mas, eventualmente, gosta de tomar um whisky, sendo aquele momento bem adequado. Levanta-se e serve-se de uma pequena dose no bar do seu escritório. Quando vai-se virar, ouve a filha chamá-lo e, ao deparar-se com o patrão, deixa cair o copo boquiaberto.

– Doutor Silverstone, como eu disse, temos de conversar. Acho que vos devo explicações.

– Mas – Isaac olha a filha – não tinha dito que seu namorado é da sua escola?

– Daniel – Jéssica está espantada – o que está acontecendo? Pai, Daniel é da minha classe.

Ok, I give up – o pai senta-se. Quando fica nervoso, como a filha, não consegue falar português – please, explain it to me. (Ok, eu desisto. Por favor, explique-me.)

A mãe da Jéssica entra e senta-se ao lado do marido.

– Doutor – começa o jovem, sentando-se com a Jéssica em um sofá de dois lugares e falando inglês – acho que, para o senhor entender tudo, devo começar do inicio desta história. Eu estava na minha casa de praia recuperando-me de uma terrível perda que sofri, a morte da minha noiva e filha do doutor Chang, que o senhor já conhece. Levei junto comigo o material do meu pai, pois eu queria estudá-lo e entendê-lo...

Dan vai contando tudo e a família Silverstone ouve atentamente, descobrindo que ele também sonhava com Jéssica.

– Doutor – continua – peço muitas desculpas, mas só soube a verdade assim, pois estava completamente inebriado com o que me aconteceu. Mas ontem, Jessy estava meio triste e quando eu sobe que o senhor anda trabalhando demais, fiquei preocupado. Porém, ao saber que o senhor trabalha para mim, não pude deixar de interferir. Doutor, o senhor vale o seu peso em ouro, mas vivo. A humanidade precisa que dê continuidade ao trabalho do meu pai e somente o senhor tem essa capacidade. Eu sou o responsável pelo seu bem estar além de mais cerca de quarenta mil pessoas lá dentro e Jéssica jamais me perdoaria se algo acontecesse a si. Nunca interfiro na liberdade de horários de ninguém; mas, neste caso, sou obrigado a lhe dar estas pequenas férias. E quero que o senhor escolha mais assistentes.

Todos ficam calados e Jéssica nem acredita no que acontece, pois seu bem-amado é o dono da maior empresa de tecnologia do mundo e patrão do pai!

– Isaac, Daniel tem razão, meu amor. – Afirma a mãe, que re recupera mais rapidamente. – Viu? Eu não disse que ele é um bom rapaz? Jamais me enganei quanto a isso. Mas você deve realmente descansar. Afinal, quase nunca vejo o meu marido!

– Muito bem – diz o cientista depois de uns segundos – eu realmente preciso de descansar e obrigado pelas informações. Quanto à Jéssica, ela foi educada para tomar suas próprias decisões e já tem idade de escolher os seus caminhos.

– Pai, nós precisamos um do outro. Viste que não era apenas eu que tinha os sonhos? Não deves ficar preocupado conosco. Daniel já provou que me pode proteger.

– Muito bem – Daniel sorri, jovial – o que vocês acham de jantarmos todos num excelente restaurante mexicano?

– Vão vocês dois, meus filhos – diz Natália – eu também estou cansada e vou cuidar do meu Isaac.

O jovem casal vai sozinho para o restaurante. Jantam e depois vão para a casa dele. Daniel está mais feliz do que jamais esteve.

– "Agora, só falta a Suzana" – pensa de si para si, enquanto leva a namorada para casa – "e a Bianca também."

A semana corre maravilhosamente bem e Jéssica está feliz de ver o pai mais vezes. Todos os dias acorda muito cedo e vai para a casa do Dan, ainda de madrugada, para depois irem juntos à escola.

― ☼ ―

Naquela sexta-feira é ainda muito cedo quando um avião da American Air Lines, proveniente de Nova York, pousa no aeroporto Salgado Filho. Um senhor japonês, de cerca de um metro e setenta, magro e idade indefinida, sai imediatamente. Não traz bagagem exceto por uma mochila, conseguindo sair rapidamente para a rua.

Pega um táxi e fornece um endereço. Ao descer, caminha cerca de cem metros e entra em um shopping center. Passa por algumas lojas e sai sempre por portas diferentes. Após perder meia hora nisso, apanha outro táxi, repetindo o processo noutro shopping center.

Finalmente, satisfeito por ter a certeza que teria despistado qualquer um que o seguisse, pega novo táxi e vai para o destino desejado.

― ☼ ―

Nessa manhã, quando se dirigem para a escola, Daniel recebe uma ligação da Suzana.

– Suzi, meu anjo, é urgente?

– É sim, Daniel. Está aqui um homem que te quer ver. Ele deu-me um cartão de visitas muito estranho, um ás de espadas e disse que entenderias. Alega urgência.

– Suzana, leva esse homem para a minha sala e ativa a segurança máxima da empresa inteira que estou indo imediatamente para aí. Diz ao mestre Lee ir voando para aí e expica isso. Vou largar a Jessy na escola e estou indo.

– O que foi, amor? – Pergunta Jéssica.

– É um espião. Organizei uma rede de espionagem para manter sob controle aqueles que eu julgo serem os assassinos dos meus pais. Acho que o teu era o próximo alvo. Esse homem tinha instruções de jamais vir aqui, então algo grave deve ter acontecido. Toma cuidado, sim?

Deixando a namorada, dá meia volta e vai para a Cybercomp, parando na a sala da Suzana, onde Lee já aguarda.

– Oi, gatinha. Ele está lá em cima?

– Sim.

– Então vamos.

Sentado em uma poltrona e descansando, está um homem de aparência normal, salvo que é de origem japonesa.

– Senhor Tanaka, seja bem-vindo. – Daniel curva-se respeitosamente. – O que aconteceu de tão urgente para que nos procure pessoalmente? Esta é Suzana, a nossa vice-presidente.

– Senhorita, senhores – ele faz um comprimento à moda japonesa – sei que não devia vir aqui, mas tomei precauções. As informações que possuo são demasiado importantes para correr riscos de interceptação, mesmo com os recursos que vocês dispõem.

– Do que se trata?

– A Megadrug está envolvida até ao pescoço em atividades ilegais. Eles compraram homens na FDA, no FBI, na CIA e em vários órgãos de muitos países. Eu descobri que os seus pais foram mortos por ordem da Megafarma, que é uma subsidiária. Também sei que são responsáveis pelo desastre do avião da China Airlines em Novembro passado.

O silêncio que se forma é constrangedor.

– Suponho que saiba o porquê. – Questiona Daniel, após quase um minuto pensando.

– Parcialmente, um homem dentro desse avião era um cientista que supostamente desenvolveu a cura para alguma doença. Os pertences dele desapareceram misteriosamente.

– Que horror – afirma Suzana, chocada – como podem matar centenas de pessoas, ainda mais para evitar uma cura?

– Simples, Suzi – Daniel explica – para continuarem vendendo remédios a preços absurdos.

– Desculpe, senhor. Eu já soube sobre a sua noiva, pois é minha obrigação estar informado, mas deveria dizer isto. Agora, a parte mais importante: eles estão de olho em vocês.

– Explique.

– O doutor Silverstone não sabia o perigo que corria nem que estava sendo desacreditado para destruírem a sua imagem. Infelizmente, descobriram que ele veio para cá e, como sabem muito bem que seus pais eram daqui, juntaram dois mais dois. Eles estão preparando-se para golpear, mas ainda vai demorar um pouco já que precisam de informações e o vosso sistema é inexpugnável. Alem disso, não sabem quem é o presidente, o que os deixou bem doidos.

– O senhor ainda está infiltrado na Megadrug?

– Sim, na sede em Nova York.

– Então, por favor, continue lá e tente enviar um aviso quando a incursão tiver começado. Mestre Lee e Suzana, vocês precisam de organizar uma equipe de seguranças nas casas dos doutores Isaac e Chang. A minha é segura.

– Há muito que eles já têm seguranças secretos, mas duplicaremos a guarda e usaremos pelo menos dois dos nossos melhores em cada equipe.

– Excelente. Senhor Tanaka, tem mais alguma sugestão de ação?...

– Não se precipitem – diz o japonês – pois eles estão procurando informações.

– Certo, senhor Tanaka. – Tranquiliza Daniel. – Estive falando com o Fonseca, que o senhor já conhece, e ele fez uma atualização nos dispositivos de segurança semana passada. O senhor pode ficar descansado quanto a rupturas nas nossas comunicações, mas agradeço-lhe por tudo.

― ☼ ―

Jéssica está aflita e, ao vê-la assim, Cláudia pergunta:

– O que houve? Daniel não veio! Vocês discutiram? Tá tudo bem?

– Não discutimos. É que Daniel foi chamado à empresa numa emergência. Parece que é sobre o assassinato dos pais dele.

– Isso é muito chato.

– Ele disse que tem um espião investigando. Até parece aquelas coisas de filmes policiais.

Ambas estão no bar da piscina, conversando. Paulo termina uma pesquisa e não tinha ido com elas, tendo ficado na biblioteca.

– E vocês – pergunta Cláudia – estão bem?

– Muito bem, ele é tão gato! – Jessy sorri, com os olhos brilhando muito. – Eu sou louca por ele.

– Bem, Jéssica, temos de voltar.

Enquanto elas pagam os lanches, Paulo vai à piscina para encontrá-las. Elas vêm caminhando e deparam-se com Geovâni que, ao vê-las sozinhas, não resiste a mexer com as duas. Paulo, que já vinha perto, começa a correr vendo o rapaz tentar agarrar Jéssica pelo braço. Este só ouve Cláudia dizer:

– Daniel vai-te matar!

– Aquele frouxo não está aqui. Não é macho para me enfrentar.

– Mas eu sou e estou bem aqui. – Diz uma voz atrás dele.

Quando o Geovâni vira-se, recebe um soco no rosto. Este é tão violento que cai por terra, desmaiado.

– Caramba – diz Paulo – bem que o mestre Lee disse para eu cuidar com o que faço ao usar as respirações, pois a minha força multiplica por dez.

– Vamos, Jéssica – Cláudia pega na amiga pelo braço – vamos para a sala do diretor dar queixa dele, senão um dia acontece algo muito ruim.

O valentão da escola encontra a sua desgraça, sendo expulso e preso por assédio sexual. Quando Daniel volta, fica sabendo da história.

– Uma pena que eu não estivesse aqui para cumprir a minha promessa. Ia quebrar-lhe todos os dentes da boca... no tabefe.

– Ainda bem que não estavas – comenta Jéssica – não vale a pena e Paulo deu um jeito nele.

– Obrigado, meu amigo, por a protegeres.

– Que é isso, irmãozinho, farias a mesma coisa na certa. Esquece o assunto que ele está arrumado. Rapaz, que porrada. Acho que ele vai precisar de consertar o nariz. Chegou a levantar do chão.

– É, mas apanhaste-o de surpresa. Poderias ter-te incomodado.

– Sim, Dan, só que não tive escolha. E não te esqueças que apesar de ser novo no Kung-fu, sou muito experiente no boxe. Esqueçamos isso que já estou como tu: não tem graça bater em alguém.

Combinam um churrasco para o fim de semana e Daniel mais Jéssica passam a tarde juntos, como sempre a passear e, à noite, ela quer ir ao cinema depois do atletismo. Vão para a sua casa pegar roupas adequadas e, ao sair, despede-se dos pais afirmando que não a esperem.

– É, Natália, é difícil acostumar-se com uma filha que cresceu e está independente. Cinema, jantar, dormir com o namorado. Só espero que ela saiba o que faz.

– Estão apaixonados, Isaac, tal como nós na mesma idade. Eu estou achando ótimo e você mesmo disse que preferia que ela namorasse com ele. Aí está!

Na aula de atletismo, Bianca e Jessy correm juntas.

– Já soube que Paulo deu uma arrumada no monstro.

– É, ele começou a mexer com Cláudia e comigo. Paulo vinha encontrar-nos e pegou o cara de jeito. Foi a nocaute.

– Ele mereceu. Agora, não incomoda mais ninguém.

– Certamente. Sem falar que vai enfrentar um processo por assédio sexual.

Enquanto conversam, Daniel faz exercícios leves pois o professor acha que ele ainda está ferido. Depois da aula, Dan e Jéssica convidam Bianca para ir ao cinema e jantar fora com eles. Ela vai para casa trocar de roupa e pedir autorização aos pais. Depois do filme escolhem o restaurante mexicano, que fica cada vez mais famoso. Poucos segundos depois de fazerem os pedidos, Suzana aparece.

– Oi, Daniel. – Diz sorrindo. – Ola, Bianca, estas bien?

Si, si, muy bien.

And you should be Jéssica. I'm Suzana and I work with Daniel. (E tu deves ser Jéssica. Sou Suzana e trabalho com Daniel)

Hi, Suzana.

– Falemos português que estas duas têm que aprimorá-lo. – Daniel sorri. – Senta-te conosco.

– Não, meu amor. Estou acompanhada, mas obrigada – afirma, apontando para João em uma mesa ligeiramente afastada que acena para eles. Abaixa-se e fala no ouvido dele. – É um gato, mas a Jéssica bate todos os recordes.

– E sou eu que não perco tempo, não é? – Comenta Dan em mandarim, sorrindo.

Ela pisca o olho e sai sorridente, despedindo-se das garotas.

– Ela é muito mais bonita pessoalmente – diz Jéssica – e parece feliz.

– Assim espero. Eu não avisei que a minha intuição dizia que se ia arrumar? Agora só falta Bianca. – Daniel pisca para a amiga, que fica muito vermelha.

– Que língua era essa que falaste com ela?

– Mandarim. – Ele sorri. – A língua dos oficiais, lembras-te?

– Claro, jamais me esqueço de algo.

Depois do jantar levam a Bianca, acompanhando-a até à porta. O pai abre e convida-os a entrar, mas agradecem e vão para casa.

― ☼ ―

– Daniel é um sujeito muito legal – comenta João – mas não sei se algum dia voltarei a pegar carona com ele. Quase me matou de susto!

– Por quê? – Suzana fica espantada.

– Ele ia a mais de cento e sessenta!

– Só? – Comenta sem pensar. – Já andei com ele a bem mais de duzentos!

– Bem – João afirma, meio tímido – preferia que tu não andasses assim com ele. Eu não gostaria de ficar viúvo antes de me casar.

Suzana dá uma risada.

– Bobo. Podes confiar cegamente nele. Tem um sexto sentido que avisa do perigo antes de acontecer e já o vi em ação. É como um dom.

– Vocês dois já tiveram um caso não é?

– Mas que pergunta safada. – Diz ela, sorrindo. – Sim, tivemos. Só que não durou muito tempo. Nós temos muito carinho e respeito um pelo outro e podemos mesmo dizer que nos amamos, mas de outra forma. O coração dele pertence à Jéssica.

– Aquela guria que está com ele?

– Sim. Para tua informação, ela é filha do doutor Silverstone.

– E o teu coração, pertence a quem? – Questiona. – A ele?

– Isso – diz ela, manhosa – cabe a ti mudar. Já deste o primeiro passo.

– Sabes, ele e eu conversamos no carro e disse que se eu pensasse em me aproveitar de ti seria o meu pior pesadelo. O engraçado é que ele ficou sério e aquilo foi uma ameaça.

– Bem – afirma Suzi, bastante animada pelo vinho – ele não me ameaçou, se me aproveitar de ti. Logo, acho que posso fazer isso.

– Eu adoraria que te aproveitasses de mim. Achas mesmo que ele me faria algo de mal?

– Nesse aspecto, eu não arriscaria provocar Daniel.

– Se ele soubesse a facilidade com que o posso esmagar, não teria dito isso. – Responde João, rindo. – Mas nunca fui fã de brigas nem de violência.

– Nem ele é, mas não te iludas. Jamais conseguirias feri-lo.

– Sabes, vou-te contar um segredo. Eu viajei muito quando era mais garoto e passei uns anos na China, em Macau. Lá, aprimorei meu Kung-fu e tornei-me o que eles chamam de um Dragão Azul. Não sou um Grande Dragão; mas, para um ocidental, foi uma conquista e tanto.

– E o que é um Grande Dragão – pergunta Suzana, testando o rapaz – alguém que cospe fogo?

– Não – ele ri e explica o que são os Dragões. – Há uma lenda de que existem os Brancos, mas que são muito raros. Os Grandes Dragões são verdadeiras armas vivas, mas os pequenos também são terríveis.

– E tu conseguiste ser um – diz ela sorridente – quanto tempo para aprender?

– Eu aprendi muito rápido pois já praticava desde criança, aqui no Brasil. Uma pessoa normal leva, às vezes, vinte ou mais anos. Bem, como podes ver, ele não poderia me fazer mal algum.

– Ele não faz mal a ninguém, seu bobo. – Ela ri e lembra-se do que Daniel disse: – "Não o compares ou ele fugirá." – O chefe é a pessoa mais doce que eu conheço, mas eu não gostaria de o ver zangado. Há uma história que rola na escola dele onde espancou seis colegas que mexeram com a ex-noiva. Claro que ele não é um Dragão Azul mas...

Já saíram do restaurante e caminham lado a lado pela rua. Suzi sente-se bem com a companhia, andando muito próxima.

– Ele é demasiado novo para chegar a ser algum Dragão, embora houvesse um boato, na época em que saí de lá, que havia em Hong Kong um menino de nove anos que foi sagrado um Grande Dragão Dourado. Bem, de qualquer forma não pretendo aproveitar-me de ti, logo a ameaça não tem sentido.

– Mas eu pretendo – diz ela, parando e beijando-o – e ninguém me ameaçou...

― ☼ ―

Daniel e Jéssica convidam os pais dela para almoçarem com eles. Quando estes aparecem, os quatro saem da piscina para lhes fazer companhia.

– Nós não costumamos beber álcool, mas tenho bebidas, se desejarem – oferece Daniel. – Cerveja, vinho, whisky...

– Vamos acompanhar vocês – diz a mãe da Jéssica com aprovação. – Suco ou refrigerantes, está ótimo.

O sábado é agradável e os pais da Jéssica são ótimas companheiros. Paulo, para variar, não larga a máquina fotográfica e riem-se muito ao relembrarem a cena do primeiro churrasco, quando o tiro do Paulo saiu pela culatra. À noite, Daniel convida-os a jantar num restaurante japonês e, na hora de se separarem, Jéssica decide:

– Pai, eu vou ficar com Daniel, ok?

– Senhor – diz Daniel – aqui o senhor é o pai e a senhora a mãe. Não meçam as vossas decisões pelo nosso relacionamento profissional.

– Daniel – Natália assume – Jéssica, como já dissemos, foi criada para ser independente e cabe a ela a decisão. Nós passamos um dia maravilhoso convosco e estou muito feliz que ela tenha encontrado uma pessoa tão boa quanto você, assim como amigos tão saudáveis. Só espero que ela não o mate.

– MÃE! – Diz Jéssica consternada e Natália cai na risada. Daniel e o pai dela não entendem nada. – De novo?

– Vão, crianças – afirma o pai – e Daniel, obrigado pelas férias. Só agora me dei conta que realmente precisava disso. Cuidem-se.

Quando separam-se, Isaac pergunta para a esposa o que foi que ela disse com o "de novo".

Natália conta o incidente do sábado anterior e Isaac quase bate o carro de tanto rir.

– Mas e por que você disse aquilo depois?

– Olhe, Isaac, essa é forte. No domingo, você já dormia, ele trouxe a nossa pequena para casa. Ela entrou completamente nas nuvens e nem parecia que tocava o chão. Devem ter tido uma noite muito mais tórrida que a nossa primeira noite. Lembra?

– Se lembro. Depois de tantos anos, nunca esqueci. Vinte anos, amor.

– Pois é. Sentou-se no sofá rindo à toa, felicíssima da vida e eu via-me na nossa primeira noite, pois tínhamos a mesma idade.

Natália continua contando e o marido berra:

– O QUÊ?

– Pois é – diz Natália – eu olhei para ela, e disse, apavorada: "Você matou o rapaz! Sabe o que ela respondeu?"

– Nem imagino.

– Na maior das inocências, comentou: "Não, acho que não. Para mim, ele parecia bem vivo. Além do mais, nós fizemos muito mais de vinte. Isso foi só o começo."

– Meu Deus – diz o pai rindo – o cara é o super-homem?

– Foi o que expliquei. Ela disse que Daniel é como ela, que não precisa dormir e cura-se muito rápido.

– Será?

– Parece que sim, Isaac. Ele foi trespassado por um dardo no ombro há uma semana. Viu alguma cicatriz?

– Meu Deus. Devem ter sido feitos um para o outro. Mas será que ele tem o gene?

― ☼ ―



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