Capítulo 9 - parte 11 (não revisado)

Embevecido, Daniel observa a sua namorada correr. Ao seu lado, o professor senta-se controlando os diversos alunos. Olha com aprovação o par Bianca/Jéssica correndo, enquanto o outro olha com verdadeira paixão.

– Ai o que eu não dava para ter mais duas como aquelas. Meu rapaz, se não fosses tu teria havido uma grande tragédia. Devo-te muito, pois eu ia ter sérios problemas.

– O senhor não me deve nada, Toninho. Se eu tivesse permitido a tragédia, jamais me perdoaria. Só tenho pena que aquele idiota não aprenda a lição.

– Como assim?

Daniel conta-lhe o encontro durante a manhã.

– Não achas melhor falar com o José, Daniel?

– Será, Toninho? – Questiona o aluno. – Se fosse perigoso, ter-me-ia atacado. O que ele não sabe é que, mesmo ferido a este nível, eu posso cumprir a minha promessa e cumpri-la-ei, pois jamais faltei com a palavra. Não se preocupe, acho que não tem coragem.

– Daniel, onde aprendeste a lutar daquele jeito que eu vi ano passado? – Pergunta o professor. – É perfeito demais!

Kung-fu. Comecei a aprender mal sabia andar. O meu mestre foi e é o maior especialista no assunto. É por isso que eu evito tanto um confronto, pois sou capaz de matar um ser humano em menos de um segundo.

– Meu rapaz, eu pratico Kempô desde pequeno. É uma arte marcial poderosíssima, mas nada que se compare com o que vi!

– Senhor, se não se importa eu não gosto de falar em atos que levaram alguém a se machucar. Podemos falar de artes marciais e de lutas que adoro, mas não me lembre uma em que feri alguém.

– Garoto, tu não existes. Qualquer outro rapaz da tua idade estaria gritando aos quatro ventos que rebentou o machão da escola e a sua gangue. Tu pedes desculpa por teres feito isso e ainda por cima não queres falar no assunto. Claro, meu amigo. Respeito a tua vontade, mas respeito mais ainda a tua pessoa.

– Obrigado, Toninho. Eu sou budista e não aprovamos a violência.

– Mas foram os budistas que inventaram o Kung-fu? – Vira o rosto para o Daniel e sorri. – Não é ilógico?

– Não, senhor. Para começar, ninguém sabe quem o inventou. Há cerca de cinco mil anos os Shaolins criaram um estilo, talvez o mais perfeito e mortal deles, que se chama Shaolin Quan. Nós somos amantes da paz e consideramos a vida sagrada, mas não se esqueça que a nossa vida é tão sagrada quanto. Eu, por exemplo, fui ferido por um erro grave de julgamento. Do contrário, jamais teria sido atingido por aquele dardo.

– Como assim, explica-me.

– Perdi um segundo... Perdi um segundo descobrindo que precisava dela, que estava apaixonado por ela e que tudo ia desmoronar se aquele dardo a acertasse. Então, o pouco tempo que sobrou, não foi suficiente para evitar. Apenas meti-me no meio.

– Como poderias ter evitado?

– De três formas: desviando-me com um giro da cintura, que estaria fora de questão pois acertaria quem estava atrás de mim; desviando a trajetória com a mão, arriscando a acertar alguém ao lado; ou, simplesmente, segurando o dardo. Se eu desviasse o dardo, corria o risco de matar a Bianca, que estava ao lado. Infelizmente, a escolha mais segura era ser atingido por ele, pois não houve mais tempo para o segurar.

– Bem, Daniel, tens um raciocínio rápido e muita coragem. Eu acho que não teria conseguido fazer isso. Olha, toma cuidado com o Geovâni. Ele vai fazer besteira mais tarde ou mais cedo. A decisão é tua, mas eu falaria com José.

– Obrigado, Toninho, mas vamos deixar assim, por enquanto.

Depois da aula, Daniel leva as duas garotas para as suas casas. Na dele, senta-se a meditar sobre tudo. Pela primeira vez em muito tempo tem a paz de espirito recuperada o que lhe faculta a meditação. Aprofunda-se cada vez mais até que amanhece e levanta-se muito bem disposto. Poucos segundos depois, aparece Jéssica que se atira ao seu pescoço.

– Oi, amor, que saudade – diz, beijando-o – ué, não dormiste?

– Eu fui meditar. Às vezes em vez de dormir eu medito a noite toda. Estava indo tomar um banho. – Afirma, segurando-a ao colo.

– Oba, vou tomar banho contigo. – Comenta, subindo a escada.

Quando vão para a escola, Daniel desiste de usar a faixa no braço pois já poderia estar em condições de se mexer delicadamente. Na última aula, de inglês, o professor começa a entregar as provas e diz:

Miss Silverstone – boquiaberto, Daniel olha o professor – as you are American, there is no need to listen my class, but you have to do the tests. (Srta. Silverstone, como você é americana, não precisa de assistir as minhas aulas, mas deverá fazer as provas.)

Thank you, teacher, but I really don't mind, because I just want to stay beside my Daniel. (Obrigada, professor, mas realmente não me importo, pois quero estar com o Daniel.) – Responde Jéssica. Daniel está tão abismado que começa a falar com ela, também em inglês:

– Jéssica Silverstone? Is Silverstone your last name? Are you shure? (Silverstone é o teu sobrenome? Tens a certeza?)

Yes of course. Silver-Stone. You can kill werewolves with it. Is my father's name: Isaac Silverstone. Why you ask me? (Sim, claro. Pedra de Prata. Pode-se matar lobisomens com isso. É o nome do meu pai: Isaac Silverstone. Por que perguntas?)

Oh, my love. You don't kill werewolves with silver stones. You kill it with silver bullets. Oh, for God sake. I can't believe that she made it. I was so distracted with you, that I didn't notice. She is amazing, incredible. (Oh, meu amor. Não se mata lobisomens com pedras de prata e sim com balas de prata. Pelo amor de Deus, não acredito que ela tenha feito isso. Eu estava tão distraído contigo que nem notei. Ela é fantástica, incrível!)

Holly shit, what about you're talking. I don't understand anything. Who's she, and why amazing? (Mas que merda. Eu não entendo nada do que dizes. Quem é ela e por que é fantástica?)

Sorry, baby. After work I shall go at your home and i'll explain it. She is Suzana, she's great. (Desculpa, amor. Depois do trabalho eu passarei na tua casa e explicarei. Ela é Suzana, ela é demais.)

– Ok. – Repentinamente notam o silêncio completo e olham em volta vendo todos colegas de boca aberta. Só então dão-se conta que estão a conversar em inglês dentro da sala de aula.

– Xi! – Comenta Daniel. – Foi mal.

– Senhor Moreira – diz o professor impressionado com a perfeição do sotaque britânico – também está dispensado das aulas, se desejar.

Ao saírem da escola, Jéssica quer saber o que foi aquilo, mas ele não diz nada.

– Quando voltar eu explico. – É só o que ele fala. Ela fica amuada e ele sorri, beijando-a. Depois disso, esquece do mau humor.

– Amor, confia em mim. Quando voltar do trabalho vou passar aqui e terás uma grande surpresa. Espera por mim. – Beija-a e espera que desça do carro.

Dan segue para casa, almoça rapidamente e põe uma roupa social pois os japoneses são muito ortodoxos. Após, pega a Ferrari, e vai para a empresa.

Sobe diretamente para a sua sala pelo elevador particular.

― ☼ ―

No andar de baixo, João Martins espera para ser atendido pela Suzana e está nervoso, enquanto a secretária, na mesa em frente a si, lê distraidamente um livro. É uma mulher na casa dos quarenta anos, de boa aparência e simpática. Fica imaginando como será a Suzana Silveiro, a vice presidente, e conclui que deve ser uma mulher séria, dos seus cinquenta anos. Levanta-se e aproxima-se da janela, apreciando o lugar.

Seu devaneios são interrompidos por uma voz que lhe agrada muito, voz esta que diz à secretária para mandá-lo entrar. Chega à conclusão que a voz não combina com uma cinquentona.

Patricia levanta-se e leva-o até uma porta disfarçada, abrindo a mesma. À sua frente está a mulher mais bela que ele jamais viu na vida, ficando completamente atônito. Ela esta de cabeça baixa lendo alguns documentos e faz sinal para entrar.

Suzana ergue os olhos e vê um homem de aparência limpa, ereto, ombros para trás como se estivesse desafiando o mundo. É muito bonito e ela sente uma corrente elétrica atravessar-lhe o corpo. Habituada ao Daniel, mantém-se completamente impassível, mas o seu coração não está num ritmo regular.

– Sente-se – diz com um sorriso franco enquanto lhe aponta uma cadeira – João Martins. O senhor foi bem indicado. – Ela folheia o curriculum. – Último ano de medicina, notas de invejar. Parabéns!

Como João já havia passado por uma avaliação pelo Departamento Pessoal, Suzi não faz perguntas de cunho psicológico e gosta muito do jovem.

– Bem, João, o chefe em pessoa quer falar consigo pois este projeto novo é do seu total interesse e é ele quem vai ditar as palavras finais assim como tratar da sua remuneração.

Suzana disca um numero e deixa no viva voz, mas fala chinês, deixando-o cada vez mais curioso. A moça fala alegre e dá uma risada. Do outro lado, alguém também fala nesse idioma e sente que já o ouviu antes, mas não se lembra onde. Após conversarem por um minuto ou dois, a moça desliga.

– O presidente vai recebê-lo. Entre naquele elevador e aguarde.

Conclui que o chefe, ou presidente, deve ser um oriental e novamente imagina como será o homem com tamanho poder para controlar todo aquele complexo. A porta abre-se e dá dois passos para a frente antes de parar atônico.

– O senhor! – Exclama.

– Sim, meu amigo, eu. Entre e sente-se. – Daniel sorri. – Como disse, era uma promessa. O que achou da empresa?

– Isto é espetacular. Mas você estava falando em chinês!?

– Eu falo muitas línguas. Bem, João, preciso de saber se está interessado no cargo. Será assistente do doutor Silverstone.

– O "doutor Silverstone"? – Pergunta, incrédulo. – Aquele de Boston?

– O próprio, só que ele não está mais em Boston e sim aqui. Contratei-o para chefiar o departamento de pesquisas genéticas de modo a dar sequência ao trabalho do meu pai.

– Mas o seu pai estava muito à além de qualquer outro cientista!

– Doutor Silverstone disse cinco anos à frente, pelo menos. Mas como eu forneci os trabalhos do meu pai, ele vai acelerar. Só que, esta semana, vai mas é tirar uma boa folga. Forçada, mas vai. Então, está de acordo em trabalhar aqui? Claro que ele dará a palavra final.

– C... claro – ele já está tonto pois aquilo é tudo de bom – porém eu tenho algumas restrições de horários e a faculdade exige que inicie a residência num hospital, mas ainda não sei em que hospital trabalhar.

– João, isso resolve-se facilmente. Os horários aqui não existem, mas como você será assistente, terá menos flexibilidade. Quanto à residência, resolvemos esse problema agora mesmo?

Daniel disca um número e diz:

– Pai, pode vir à minha sala o mais rápido possível?

– Claro, filho, estou a caminho.

– Pai? – Pergunta João, confuso. – Mas ele não...

– Ele não é meu pai. Eu ia casar com a filha dele que, infelizmente, faleceu.

– Sinto muito.

– Tudo bem, foram muitas perdas em pouco tempo, mas já superei, só que ele ficou como um pai para mim. Já pensou em termos de honorários?

– Bem, na verdade estou sem ideia disso. – Daniel escreve um valor bastante atrativo num papel e passa para o rapaz.

– Isso estaria do seu agrado?

– Sim, com certeza. – Responde de olhos esbugalhados.

– Trate de comprar um carro que aqui é muito longe de tudo.

Poucos minutos depois, entra o doutor Chang.

– Oi, Daniel, em que posso ajudar?

– Pai, este é João Martins. Ele vai trabalhar para o doutor Silverstone, mas precisa de fazer residência em um hospital por exigência da faculdade. O senhor disporia de tempo para ser orientador dele? Ah sim, João, este é o doutor...

– Nelson Chang! O maior cardiologista do mundo! – João está fascinado. – Muito prazer, doutor.

– O prazer é meu, jovem. Claro que será bem vindo e podemos começar quando quiser. Estou certo que vai gostar de aprender sobre o coração biônico.

– Coração biônico? – João está cada vez mais incrédulo. – Isso existe?

– E como. É projeto do seu patrão – diz Chang, rindo – acho melhor vir comigo ao hospital para conhecer tudo.

– Isso, vão que eu vou ter uma conversinha com Suzana e doutor Silverstone antes que ele tenha uma estafa.

Enquanto saem, Daniel chama Suzana no ramal:

– Gatinha – afirma, distraído, sem se dar conta que não está sozinho – chama o doutor Isaac e sobe aqui para a minha sala. Manda-o subir direto.

Chang desce com João, que fica abatido ao ouvir a forma como ele chamou Suzana.

– Oi, amor. – Diz ela quando entra e vê que não há ninguém, sentando-se no sofá.

– Então ele é um gato, é? – Pergunta Daniel, rindo. – Não perdes tempo.

– Ora, amor, tu não estás disponível e eu não tenho vocação para freira. Ainda mais agora que provei o gostinho.

– Gostinho!? Queres dizer que tu...

– Sempre esperei por ti, Daniel. Sempre esperei e não me arrependo.

– Fico lisonjeado, gatinha. – Seus olhos são sorridentes. – Estava apenas brincando, mas não o intimides que ele é meio tímido...

O americano entra na sala, interrompendo a conversa.

– Doutor, como está? – Pergunta Daniel. – Vejo que o senhor tem uma aparência cansada.

– Tenho tido bastante trabalho para arrumar as coisas e aprender o material do seu pai.

– Pois é, doutor – continua Daniel, sério – mas o senhor vai pegar no seu carro e segue já para casa descansar o resto da semana.

– Mas, mas...

– Doutor Silverstone. – Daniel interrompe-o. – O senhor é demasiado importante para a Cybercomp, mas doente não vai adiantar nada. A sua filha queixou-se que nem o vê mais!

Suzana começa a ficar vermelha, pois acaba de ser descoberta, embora nada tenha feito de errado. Ela não sabe se ri da cara do Isaac ou se desaparece na cadeira e opta por ficar quieta, encolhendo-se na mesma para ver se some.

– Ora, ela passou o fim de semana com o namorado e por isso não a vi. E o safado nem apareceu em casa... – Desabafa sem titubear. – Mas como é que ela se queixou se não o conhece?

– Doutor, o senhor não pode agir assim. Quando pedi agilidade, não imaginei que fosse levar ao pé da letra. Olhe, vá para casa e tire o resto da semana de folga. Ele não é nenhum safado e pode estar mais próximo do que o imagina. Se algo lhe acontecer, ela jamais me perdoará. Quando eu sair daqui, passo na sua casa e conversamos sobre o assunto. Agora vá, por favor, que tenho uma reunião importante para breve. – Levantam-se para sair quando Daniel diz. – Suzana, fica aqui que ainda não terminamos.

Ficam olhando um para o outro por um tempo; Daniel esforça-se para ficar com cara de zangado e ela com ar de inocente, até que ambos irrompem numa gargalhada.

– Tu sabias dela. Impossível não ser de outro jeito. Eu já devia ter descoberto desde o inicio, mas estava tão desatinado que não vi o óbvio. Afinal, o que aconteceu?

– Aconteceu que te servi Jéssica numa bandeja de prata, bobo.

– Suzana! – Diz ele, sério.

– Ok. Quando o bom doutor disse que queria morar na cidade, de preferência perto de uma escola boa por causa da filha Jéssica, eu escolhi uma casa não muito longe da tua. Também mexi os pauzinhos para ela ficar na tua turma. Agora – continua, divertidíssima – não me venhas dizer que eu não perco tempo. O fim de semana! Bom, muito bom. Isso depois de quase morrer com um dardo.

– Tá bom, gatinha. Obrigado pela ajuda. Eu nunca estive tão bem como agora.

– Que bom, Daniel, que bom que eu pude fazer isso por ti. Agora, tira aí uma teima. Por que será que o nosso doutorzinho aí não se impressiona comigo. Pela primeira vez alguém não perde o rebolado quando me vê. Acho que, se eu tirasse a roupa e dançasse na frente dele, não dava bola.

– A mulher que tem em casa nada te deve em beleza e perfeição. – Diz Daniel com uma risada. – Ficaste ofendida?

– Não. É bom ver uma pessoa normal de vez em quando. Bem, os japoneses devem estar para chegar a qualquer momento.

– Vamos. E, Suzana, obrigado por tudo.

A reunião é longa, cansativa e Daniel decide que vai aprender japonês o mais rápido possível, pois até já começa a entender algumas palavras. Eles são negociantes hábeis e desejam manter o controle acionário, mas a Cybercomp quer o monopólio mundial do lixo atômico e Daniel está decidido a isso nem que tenha de intervir com parte da sua fortuna pessoal, mas a Suzana é extremamente hábil nas negociações e os orientais estão com um respeito enorme por ela. Quando termina, ficam num impasse pois oferecem trinta e cinco por cento e Suzana deseja pelo menos setenta e cinco. Os acionistas que ali estão, representam exatamente esse percentual.

Quando estão-se despedindo, Suzana diz ao Daniel, em francês:

– Pelo menos um deles sabe português e outro mandarim.

– Eu vi, gatinha. Na próxima reunião deverão trazer um que saiba francês. Os infelizes nem têm ideia de quantas línguas falamos. Quinta-feira vais começar a me ensinar japonês. Quero ter fluência até à semana que vem.

– Não tem problema. Bem, mandei um agente para o Japão comprar ações deles. Até ao momento já temos vinte por cento. Só falta um acionista para nos vender. Eles estão com prejuízo e, mais tarde ou mais cedo, venderão. Agora é um jogo de gato e rato.

– Bem, lindinha, é tudo contigo. Por isso és o gênio financeiro da Cybercomp. – Dá-lhe um beijo na testa. – Vou para a casa do doutor Silverstone salvar a minha pele. Até mais.

Daniel entra no carro e, quando está saindo, vê João Martins esperando o coletivo da empresa. Para e oferece uma carona.

– Vem, tchê, que o ônibus ainda vai demorar uma meia hora a chegar.

– Obrigado. – Afirma, entrando na Ferrari. – Este carro é maravilhoso.

– É sim, mas prefiro a Lamborghini. – Daniel arremata, acelerando e entrando na estrada.

– O senhor tem uma Lamborghini?

– Tenho uma Black. É mais rápida que notícia ruim.

– Então, por que comprou a Ferrari?!

– Porque naquela época minha noiva tinha acabado de falecer no acidente aéreo e o carro lembrava-me demais os meus dias com ela, mas tudo bem, agora já me recuperei. Só que também me apeguei à Ferrari.

– Eu vi as maravilhas que vocês fazem aqui e estou muito impressionado. O doutor Chang é um homem sensacional e vou adorar a minha residência. Pena que eu não conheci o doutor Silverstone. Será que serei capaz de me comunicar com ele? O meu inglês é muito fraco. Só leio bem.

– Não te preocupes. Ele fala um português bem razoável pois a esposa é brasileira.

– Posso fazer uma pergunta pessoal?

– Claro.

– O senhor e a dona Suzana são... bem... sabe...

– Não somos, não – diz Daniel, risonho – somos muito íntimos e muito amigos. Ela ajudou-me a construir tudo aquilo, mas o meu coração pertence a outra pessoa.

O jovem nota o suspiro de alívio no rapaz e continua:

– João – olha para ele, muito sério – se gostaste dela e queres conquistá-la, até te ajudo, mas se for para te aproveitares da Suzi, vais-te meter na maior encrenca deste mundo, pois eu serei o teu pior pesadelo e te garanto que vais preferir a morte a me encarar.

– Senhor, eu jamais pensaria em me aproveitar dela... É que... sabe... ela é... é a mulher dos meus sonhos. O senhor entende?

– E como, meu amigo. – Diz Daniel, rindo. – Olha, a Suzana é algo muito especial, um prato raro que deve ser muito bem saboreado e compreendido. O maior erro dos homens é só olhar para o seu corpo, porque ela é um grande gênio da economia, inteligentíssima, e fica muito aborrecida quando é tratada ou cortejada como uma mulher objeto. Sabe que é bela e sabe o efeito que provoca, mas muito poucos no mundo viram o seu outro lado, do qual sente carência. Esses poucos que o fizeram, têm o seu respeito e amor incondicional. Essa é a dica que eu te dou.

– Bah, obrigado, mas eu não me apaixonei porque ela é bela. Claro que ajuda, mas sei lá. É como se tivesse saído uma faísca do ar. Escute, o senhor não acha que está um pouco veloz demais?

– Tem muito trânsito e não dá para ir mais rápido.

– Mais rápido? Mas você está a cento e sessenta!

– Pois é, não dá para ir mais rápido. – Daniel sorri, divertido.

― ☼ ―


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