Capítulo 9 - parte 10 (não revisado)

– O que queres fazer, minha princesa? Ainda é bastante cedo.

– Eu disse para a minha mãe que não me esperasse hoje. – Os olhos dela brilham, enquanto fala.

– Nesse caso podemos jantar fora e depois vamos para casa namorar.

– Para ir jantar, preciso trocar de roupa. Façamos o seguinte: deixas-me em casa e voltas daqui a uma hora. Afinal, tu também precisas de te arrumar.

– Está bem. É impressionante como o teu sotaque agora é completamente Gaúcho.

Ela dá um sorriso juvenil, que o deixa completamente derretido, e leva a garota para casa. A mão que ouviu o barulho do carro e olhou pela janela pergunta, quando ela entra:

– Mas afinal, quantos carros esse rapaz tem?

– Uns dez, eu acho.

– Caramba! Você não tinha dito que era para não a esperar?

– Sim, mãe, não me esperes que já decidi. Vim aqui para tomar banho e pôr uma roupa mais decente, pois vamos jantar em um restaurante. Depois, só Deus sabe.

– Está bem, filha, mas tenha cuidado. Ele é muito educado e simpático. Não acredito que lhe faça mal, mas sabe como são as mães.

– Ora mãe, tudo bem, mas também já foste filha.

– Sim, fui, e tinha que fazer certas coisas muito bem escondida. Por isso sempre fomos tão francas uma com a outra. Eu tive sorte, mas uma amiga minha não. Caramba, filha, você está aqui há tão pouco tempo e fala como se fosse gaúcha a vida toda. Agora diga-me uma coisa: ele ainda não está muito ferido?

– Não, mãe, ele regenera-se até mais rapidamente que eu. É o único rapaz que tenho a certeza que é capaz de correr tanto quanto eu e temos muitas coisas em comum. Mas tenho que tomar banho que ele volta em menos de uma hora.

Daniel bate à porta. Nas mãos tem um buquê de rosas que dá para Jessy e fica fascinado com a namorada, vestida com uma blusa vermelha com os ombros à mostra e uma saia justa branca, fazendo um contraste com os cabelos da cor do sol e os olhos verde brilhantes.

– Boa noite, senhora – diz para a mãe dela, com uma leve reverência – vim buscar Jéssica para jantar, se não tiver objeções, claro.

– Mesmo que eu tivesse, meu filho, ela foi criada para tomar as próprias decisões, mas obrigada pela sua gentileza. – "Quer jantar com ela e depois jantá-la, né meu espertinho!" – Pensa enquanto fala, pensamento tão intenso que Jéssica capta-o.

– MÃE! – Diz, consternada.

Esta dá uma risada, que Daniel fica sem entender e diz:

– Vão com Deus, meus filhos, divirtam-se e tenham cuidado.

– Fique tranquila senhora. – Diz Daniel, sério. – Jessy estará em boas mãos.

– Disso eu já tive uma prova – ela sorri para Daniel – espero que esteja melhor.

– Eu tenho um metabolismo muito acelerado e já estou bem.

– Vamos, amor – Jessy está impaciente – tenho fome.

– Senhora – Daniel inclina-se para ela, sorrindo – boa noite, com sua licença.

Leva Jessy até ao carro, abrindo-lhe a porta.

– "Nossa, que rapaz educado. Pelo menos a Jéssica soube escolher bem!" – Pensa a mãe, olhando da janela. Mal começam a rodar, encosta outro carro e o doutor Isaac Silverstone, entra em casa. Este vê aquele lindo veículo saindo e pergunta-se quem esteve na sua casa. Entra e beija a mulher.

– Querida, acabei de ver uma belíssima Lamborghini sair daqui. Quem era?

– Jéssica e o namorado. – Responde. – Foram jantar fora.

– Namorado! – O cientista arregala os olhos. – Mas desde quando ela arrumou um namorado? Nunca foi disso!

– Ora, Isaac, você está com ciúmes da sua filha?

– Mas é claro que estou. E se ele for um canalha qualquer?

– Isaac, acredite em mim que jamais vi rapaz melhor que ele. Sacrificou-se para salvar a vida da Jessy e quase foi morto por isso. Você esteve fora muito tempo e aconteceram várias coisas. Lembra-se dos sonhos que ela tinha com um rapaz? Pois é, por incrível que pareça aquele rapaz é bem real. Eu vi o desenho que ela fez em Boston e é idêntico a este jovem. Você não imagina como o rapaz é educado e gentil.

– Mas que história é essa de salvar a vida dela? – Ele está visivelmente mais calmo.

A esposa conta-lhe o incidente com o dardo.

– Meu Deus, o garoto foi corajoso. De qualquer forma – fala, resoluto – terá de me prestar contas. Assim que chegarem, quero falar com ele.

– Temo que não vá conseguir falar com ele hoje, meu amor. Ela disse que não voltava para casa.

– M... Ma... – pega no telefone e começa a digitar, rubro.

– Para quem você liga?

– A polícia, é claro. – Ela desliga o aparelho e pousa a mão no seu braço.

– Ora, Isaac. Que tolice é essa? Está tão nervoso que nem conseguirá falar português! Essa escolha foi da Jéssica ou você queria que ela fizesse como nós que precisamos de fazer tudo escondido? Pense bem, pois nós tínhamos a mesma idade e somos muito felizes há mais de vinte anos. Acredite em mim, amor. Este menino caiu do céu e tem dons similares aos dela. Vê-se nos olhos de ambos que estão totalmente apaixonados. Se tentar impedir, será pior. Confie na Jessy. Foi assim que a educamos, para ser independente e tomar as suas decisões.

– Mas não para ficar grávida aos dezesseis anos.

– Por acaso eu fiquei? Confie nela. Certamente já tomou uma vacina anticoncepcional.

– Está bem. Mas, cedo ou tarde, quero conhecê-lo. Bem, pelo menos possui um carro de classe. A propósito, que idade tem?

– Tem dezessete. Faz no mesmo dia da Jessy.

– E pode dirigir? Pensei que no Brasil era só aos dezoito.

– Ele foi emancipado e tem habilitação. Já verifiquei isso. Olhe, Isaac, você anda a trabalhar demais. Não foi para isso que viemos para cá.

– Eu estou a organizar o departamento todo e também estou estudando o material que recebi. Eles estão muito mais avançados que eu. Por isso tenho ficado no centro, mas não pense que as coisas lá são como na universidade, pois eu não durmo em um sofá. Eles têm apartamentos para isso. No meu caso, como sou o chefe do departamento, a minha sala tem, ao lado, um pequeno apartamento.

– É mesmo? – Pergunta a esposa, satisfeita por ter desviado a atenção do marido. – E como são as coisas?

– Muito agradáveis. Aquele rapaz é um verdadeiro gênio e as pessoas são todas gentis. O lugar, apesar de ser de segurança máxima, mais parece um jardim que qualquer outra coisa. O computador é a coisa mais avançada que já presenciei e você está tentando desviar a minha atenção, não é, querida? – Sorri e abraça a esposa. – Tudo bem. É que eu ainda não tinha percebido que a nossa filha já não é uma criança e acho que tomei um choque. Já passou, não se preocupe. Mas não me importava nada que Jessy tivesse escolhido aquele rapaz em vez de um colega de escola. E não é pelo dinheiro, pois para ter um carro igual ao que eu vi sair daqui também deve ter muito dinheiro, mas pela genialidade. Que potencial!

– Está bem – diz ela maliciosa – sabe há quantos anos não temos a casa só para nós? Temos de aproveitar.

― ☼ ―

O novo casal está etéreo. Daniel leva a garota para um restaurante excelente, com música ao vivo, mas tem o cuidado de não ir ao que a Suzana gosta, pois não há necessidade de a fazer sofrer. Jantam, dançam um pouco, sempre bem juntinhos, e não conseguem tirar os olhos dos olhos. Depois do jantar, vão passear na praia. De mãos dadas, ficam curtindo aquele início de noite. No meio de um dos longos beijos, ela diz:

– Vamos para a tua casa.

– Vamos então, minha princesa.

A manhã de domingo já vai alta quando o casal acorda sentindo-se em outro mundo. Por todo o Domingo ficam namorando e curtindo-se.

À noite, Daniel leva-a para casa e despedem-se aos beijos. Jessy entra e encontra a mãe a ver televisão. Senta-se no sofá, ainda radiante, e a mãe nota a alegria da filha.

– Pelo jeito, foi muito bom! – Diz a mãe, divertida. – Não abusaram, né?

– À, sei lá – responde Jéssica, totalmente aérea – nunca tinha feito isso e é tão bom se estamos com a pessoa certa! Mas depois de umas vinte vezes começamos a nós cansar um pouco. Foi preciso dar uma pausa.

– O QUÊ!? – Pergunta a mãe, apavorada – vinte? Você matou o rapaz!

– Por quê? – Questiona ela, espantada. – Para mim ele parecia bem vivo, bem demais, até!

– Arrumou o super-homem por acaso? Um homem que passe de cinco já é raríssimo.

– Xi! Não sabia! Caramba, mãe, ele não estava cansado não, e estávamos muito felizes. Foi muito mais que isso. Vinte foi só no inicio. – Diz a Jéssica, divertida com a cara de impressionada da mãe. – Ora, mãe, já te disse que ele é como eu. Pode ficar sem dormir, cura-se rápido dos ferimentos, inteligente, corre como nenhum outro eu vi. Noto que na escola ele não usa todas as habilidades que tem. É o melhor aluno e eu o amo demais.

– Está bem, filha. Não faça barulho que o seu pai anda cansado e dorme. Acho que devia descansar, pois vocês, na certa, gastaram muita energia.

– É verdade, mãe, mas alimentamo-nos bem. Eu sinto-me nas nuvens. Pena que o dia passou tão rápido! – Com um suspiro levanta-se da poltrona, beija a mãe e vai-se deitar.

Apesar de estar fora da realidade, ela adormece rápido e, no seu sonho, reencontra Daniel. De madrugada, ainda escuro, levanta-se bem disposta e prepara-se para a escola, mas não sabe se vai antes à casa do Daniel pois ainda é cedo demais. Num impulso tipicamente feminino, vai até ele, abrindo a porta conforme aprendeu. Caminha sem pressa quando escuta no jardim uma música muito suave, oriental. Dá a volta e vê Daniel praticando Tai-Chi-Chuan, ficando impressionada com a harmonia dos movimentos, tão lentos e tão belos. Observa-o sem fazer barulho para não o atrapalhar, sem saber que ele está ciente da sua presença. Poucos minutos depois, o jovem, dá o exercício por encerrado e vira-se para ela, sorridente.

– Eu sabia que farias uma loucura do gênero, Jessy. Estava com saudades.

Ela corre e abraça-o beijando-o sem parar, que a ergue no ar correspondendo.

– Ainda temos uma hora antes de ir para a escola.

– Então vamos aproveitar!

Vão juntos para a escola e já não há necessidade de fingir mais. Apenas o Daniel acha conveniente fazer-se de ferido por pelo menos mais uns três dias, pois ninguém se cura de um dardo atravessado de lado a lado em quatro dias. Saem do carro de mãos dadas, calados. Quando entram na sala de aula, o pessoal conversa tão animado que nem os nota. Sentam-se nas suas mesas, olhando um para o outro e sorrindo, aos beijos. Cláudia e Paulo, que se sentam atrás, notam como os dois entraram completamente alheios ao resto do mundo. Olham um para o outro e começam a rir.

– Acho que eles tiveram um fim de semana memorável. Será que nós ficamos com essa cara de tontos quando foi a nossa primeira vez?

– Provavelmente, amor. Mas olha só a carinha deles. Ei, irmãozinho, alô... aqui fala do planeta Terra. Toc toc toc, tem alguém aí?

Viram-se para trás e veem os amigos; olham um para o outro e dão uma risada.

– Pelo jeito a festa estava boa. – Diz Cláudia.

– Se estava. – Confirma Jéssica, beijando Daniel de leve. – Melhor impossível.

As aulas começam, mas o casal nem as ouve. No intervalo, os quatro vão para a piscina e, nesse dia, Bianca não aparece. Embora eles gostem dela, Cláudia sente-se aliviada por causa da paixão da amiga.

– Então, o super-Dan fisgado e irremediavelmente enredado, hein? – Afirma Cláudia, brincalhona.

Como resposta recebe um sorriso do Daniel, mas Jéssica quer saber.

– Por quê super-Dan?

– Cláudia chama-o assim desde que ele salvou um menininho de ser atropelado. – Diz Paulo, dando um pisão na namorada.

– Ah tá, eu conheci o menino na sexta; uma gracinha. Onde o Daniel vai, segue atrás. Combina contigo o apelido de super-Dan. Afinal, és o meu super-herói.

– Que herói fajuto que se deixa atravessar por um dardo.

– Não mesmo, és o meu super-Dan – diz Jéssica, abraçando-o e rindo – é perfeito. Super em tudo.

– Viste o que me arrumaste, Cláudia – atalha Daniel, bem divertido – lá se foi a minha identidade secreta.

Os quatro caem na risada e, no caminho de volta para a aula, cruzam com Geovâni. Este, provocador, diz ao ver Daniel e Jéssica de mãos dadas.

– Desistiu das amarelas? Essa aí, é muita areia pro teu caminhãozinho.

Daniel decide ignorá-lo pois ele já teve a sua chance. O jovem é muito bondoso, mas tudo tem o seu limite. Furioso por ter sido ignorado, grita:

– Um dia eu te pego. Por tua causa, estou todo fodido.

Daniel para e volta. Olha bem sério para ele, repreendendo-o:

– Tu não aprendes mesmo, Geovâni. A única pessoa responsável pela tua situação és tu mesmo e garanto que não desejava ser perfurado por um dardo nem nunca desejei brigar contigo. Antes pelo contrário, pedi ao diretor para te ajudar, mas és demasiado ingrato. Bem, agora vou dar-te um aviso bem claro: se ousares tocar um dedo em qualquer garota contra a vontade, especialmente na Jéssica, Cláudia ou Bianca, eu acabo com a tua raça. Depois que terminar contigo, vais comer mingau para o resto da vida, entendeste bem? Se tu ferires qualquer uma delas, eu transformo-te num inválido. E vou avisar-te mais uma coisa: essa tua faixazinha preta de merda e nada é a mesma coisa para mim. Se tens amor à tua vida, mantém-te longe de mim e dos que eu amo, entendeste bem?

Vem esperar resposta, vira as costas e pega a mão da Jessy, continuando o caminho. O colega fica totalmente sem reação e só depois o sangue sobe-lhe à cabeça, mas já é tarde, pois eles tinham-se ido.

– Bah, irmãozinho, nunca te vi ameaçar alguém!

– Porque nunca ameacei, mas este sujeito é perigoso e, antes que ele faça algum mal, achei por bem intimidá-lo.

– E se ele não te der ouvidos.

– Já me viste mentir alguma vez, Paulinho? – Daniel fala muito sério. – Não, né? Então eu vou cumprir a ameaça e o que aconteceu ano passado com Osmar e sua gangue, será um refresco comparado com o que eu vou fazer.

– Ele é muito mau, amor. Eu sinto isso e só pensa coisas horríveis. Tenho medo por ti.

– Ora, minha linda, não sou o super-Dan? Então não te preocupes. Ele nada pode contra mim.

– Amor, o que é um Dragão Branco?

– Quem te falou disso? - Pergunta o Daniel, muito sério.

Jéssica conta sobre o ocorrido com mestre Lee e Daniel afirma:

– Mestre Lee falou demais. Bem amor, um Dragão é um grande mestre de Kung-fu – explica, informando como estruturam-se os Dragões. – E, para vencer um dos grandes, é preciso um exército.

– E tu és um Dragão Branco?

– É como me chamam, amor.

– E tu poderias enfrentar o Geovâni?

– Posso enfrentar mil Geovânis juntos. Afinal, sou o teu super-Dan. – Diz ele, rindo.

– Fala sério!

– Ele diz a verdade, Jessy, nunca mente. Já o vimos lutar, então não tenhas medo.

– O senhor Lee é um Branco?

– Não, é Vermelho mas é o mestre de todos os Vermelhos. Eu sou o único Branco que há no mundo. O último morreu há muito tempo.

– Então tu deves ser mesmo super.

– Tanto quanto tu, meu amor.

Depois das aulas, Jéssica liga para a mãe e diz que vai almoçar com Daniel e vão passar a tarde juntos. No restaurante, algo incomoda-a um pouco.

– O que houve, Jessy?

– Eu nem vejo mais o meu pai! Ele está trabalhando demais. Desde que eu e tu nos conhecemos, só veio este sábado para casa, isso depois que saímos. Quando cheguei a casa no domingo, ele estava dormindo de tão cansado.

– Bem, amor, não sei o que dizer, mas acho que as coisas arranjam-se.

Depois do almoço, vão passear pela beira do rio, coisa que adoram fazer juntos desde a primeira vez que ele a levou para lá e Jéssica é a primeira a falar:

– Dan, posso fazer uma pergunta pessoal?

– Claro!

– Por que bloqueias a tua mente? Sei que sabes da minha capacidade. Por quê?

– Porque não estou preparado para voltar a compartilhar em um nível tão profundo.

– Por quê?

Daniel conta o que aconteceu quando a Daniela morreu, falando inclusive sobre como Suzana o salvou. Termina dizendo:

– Ainda não estou pronto, mas em breve deverei estar. Como sabes da minha capacidade telepática?

– Um bloqueio desses, não é normal. Eu lembro desde Dezembro.

– Sim, dos sonhos.

– Tu também sonhavas comigo?

– Sonho até hoje, olha. – Pega o caderno da mochila e abre. Ela vê o desenho do seu perfil.

– Mas isso é o meu quarto em Boston! – Abre a carteira e tira um folha dobrada em várias partes. Quando desdobra o papel, a imagem dele aparece.

– Fantástico, de quando é?

– Dezembro, e a minha?

– Dez minutos antes de entrares na aula pela primeira vez, mas a imagem do sonho também data de Dezembro. Eu não parava de sonhar contigo e decidi fazer o desenho.

– Quem é Suzana? – Pergunta Jessy.

– Minha assistente, amiga muito intima e especial, bonita e não é uma ameaça para ti.

– Por quê?

– Porque já fomos amantes e terminamos quando eu me apaixonei por ti, em Fevereiro. A verdade, Jessy, é que nós estamos destinados um ao outro.

– Eu sinto isso, mas algo me diz que ela ainda gosta de ti.

– É verdade, mas isso deve mudar. A propósito, amanhã à tarde tenho reunião no trabalho. Vemo-nos só na quarta.

– Não posso ir junto?

– Desta vez não, amor, pois vai ser cansativo. Vou entrevistar um novo funcionário e tenho reunião com uns japoneses. Eu já deveria ter aprendido japonês há mais tempo. Agora, fico na dependência da Suzana para traduzir.

– Quantas línguas falas?

– Muitas, pouco mais de dez.

– Caramba. – Jéssica fica muito espantada. Após uns segundos pergunta. – Como é a Suzana?

– Ela é agradável, simpática e extremamente inteligente, um gênio em economia. Dirige as nossas empresas e fala muitas línguas, complementando os meus conhecimentos. Olha – diz, mostrando uma foto que tem no telefone.

– Ela é muito bonita! Como assim, administra as vossas empresas?

Novamente, explica como Suzana surgiu na sua vida.

– Vais conhecê-la mais tarde. Agora, ela precisa de um tempo para se encontrar.

– Está bem, eu não sou ciumenta, não te preocupes. – Jéssica abraça-o forte e sorri. – Vamos passear? Quantas empresas tens hoje?

Enquanto caminham, Daniel vai contando:

– A minha mesmo, a principal, é feita por quatro complexos, sendo dois deles hospitais. Empresas subsidiadas, temos centenas espalhadas pelo mundo. De todos os tipos e tamanhos.

– Meu Deus, amor. Deve ser um capital monstruoso!

– O capital patrimonial dos quatro complexos, agora temos um quinto a ser construído, é de aproximadamente quatro trilhões de Créditos. – Comenta dando uma risada da cara dela. – Achavas que a minha empresa era pequenininha?

– Mas o que a tua empresa faz?

– Certa vez, uma vidente chinesa disse-me que eu ia dar pernas e braços aos mutilados e olhos aos cegos. Eu faço exatamente isso. Eu ajudo a humanidade, especialmente quem não pode pagar.

– Mas como?

– Engenharia biônica, meu amor. Eu fabrico membros biônicos. Já temos até um olho e um coração biônicos. Há não muito tempo, salvamos um menininho francês de morrer na fila do transplante de coração. O primeiro transplante, foi um cão meu. Depois, em uma emergência, o pai da Suzi foi salvo de um ataque cardíaco fatal.

– Meu Deus, isso é completamente espetacular!

– Mas ainda é segredo absoluto. Por favor, jamais digas a alguém. Só tu, Paulo e Cláudia sabem. Os demais que sabem trabalham diretamente lá. Nós não temos porte para atender todos os necessitados e precisamos escolher, o que já é ruim por natureza.

– Ai, amor, já me tinham dito que tu eras muito bondoso, mas isto ultrapassa tudo o que se pode imaginar. Como tu não abres falência assim, gastando milhões?

– Bilhões, meu amor. Simples, nós temos centros de pesquisa para desenvolver tecnologia e vendemo-la para custear estas despesas. A única tecnologia que não desenvolvemos e, se por ventura esbarramos nela não divulgamos, é a bélica. Por isso temos tantas empresas espalhadas pelo mundo. O professor André e a esposa dele, por exemplo, trabalham para mim. Mas também é segredo.

– Por isso aquela equação monstruosa no dia da prova?

– Sim, o professor desenvolveu um reator de fusão tão pequeno que a caixa dele tem dez centímetros de aresta. – Daniel vai contando sobre a pesquisa do casal, impressionando a namorada. – A Suzi está comprando usinas de reciclagem de lixo atômico. A reunião com os japoneses é para isso.

– Minha nossa, amor. Eu estou tonta com tanta informação.

– Então falemos sobre outra coisa. – Daniel beija a namorada e ri. – Estás gostando de Porto Alegre?

– Estou adorando tudo. Os teus amigos, agora meus também, são pessoas maravilhosas e a única coisa que eu não gosto é aquele monstro. O resto é maravilhoso. Os brasileiros são muito mais amigáveis que os americanos. Outra coisa muito mais gostosa é o sorvete.

– Ah, mas tem mais uma coisa que os brasileiros fazem muito melhor que os americanos – afirma Daniel olhando para um carrinho de cachorro quente – vem experimentar um cachorro quente decente e não aquelas coisas horrorosas que fazem nos EUA.

Jéssica fica encantada com o cachorro quente brasileiro, mas não dispensa o sorvete que tanto deseja. Enquanto estão sentados na sorveteria, ela diz, rindo:

– Assim eu acabo ficando gorda – abraça Daniel – e daí não vais mais gostar de mim.

– Bem, basta queimar essas calorias adicionais e eu conheço um jeito bem bom para fazer isso – comenta manhoso – além do mais, gosto de ti de qualquer jeito.

Passeiam quase toda a tarde até que vão para o atletismo. O jovem comparecerá, porém não vai participar pois sabe que um sujeito normal não estaria em condições. Daniel é novamente aplaudido pelos colegas. Senta-se na arquibancada, fazendo-se de ferido, e Jéssica corre com Bianca. No aquecimento, fala com a amiga, em espanhol:

– Bianca, acho que vais ficar chateada, mas quero que saibas por mim. Eu e ele estamos namorando.

– Não estou chateada, Jéssica. Fico triste de não ser eu e fico muito feliz por vê-lo bem.

– Tu nem sabes o que ele fez hoje de manhã. Quando saíamos da piscina, encontramos aquele monstro, que começou a provocar. Ele parou, voltou e olhou-o na cara dele. Deu-lhe uma bronca e ameaçou-o feio. Acreditas nisso?

– O monstro deve ter se zangado. – Afirma Bianca muito impressionada.

– Ele não fez nada. – Conta Jessy. – Acho que ficou em choque. Não deve estar acostumado a ser afrontado.

– Será que Daniel pode enfrentá-lo? – Pergunta apreensiva. – O que eu vi na sala de artes marciais foi impressionante. Paulo praticamente matou-se para acertá-lo e só conseguiu quando Daniel parou. A pancada foi tão forte que Paulo sentiu a mão, mas Daniel nem ficou marcado!

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