Capítulo 8 - parte 7 (não revisado)
À noite, saem para jantar fora e Dan sente-se muito leve por ter ajudado aquela gente tão pobre. Vão caminhando de mãos dadas pela praia de Ipanema à procura de um restaurante.
– Que tal este? – Pergunta Daniel. – Tem rodízio de galeto e massas.
– Hoje, eu preferia comida japonesa.
– Aqui perto, há um restaurante japonês maravilhoso. – Jantam bem e, satisfeitos, saem a passear pela calçada da praia, abraçados.
– Su, sei que não é a hora adequada, mas quero pedir-te um favor. Segunda-feira, tenta conseguir uma reunião com o prefeito. Para nós os dois.
– Claro, amor. – Vira o rosto para seus olhos. – É sobre a favela, não é?
– É sim, gatinha – responde, sorrindo – é sim.
– Gosto quando me chamas assim.
– Gosto de te chamar assim.
– Eu vou passar o Natal com meu pai. Queres vir conosco?
– Não, meu anjo, eu vou fazer uma coisa diferente neste Natal. Fica com ele que precisa de ti. Vocês só têm um ao outro.
– E tu, Daniel, quem tens?
– Pegaste-me – ele sorri e beija-a. – Mas eu tenho uma coisa para fazer.
– Por que será que isso tem forte cheiro de favela?
– É isso mesmo, gatinha. Eu serei o papai Noel para aquela gente. No próximo sábado, dia vinte e quatro, terão a maior festa de Natal que jamais viram.
– Oh, amor, que lindo isso. Eu vou contigo.
– Não, gatinha. O teu pai não tem mais ninguém.
– Tens razão. – Ela abraça-o. – Vamos embora? Estou cansada. Fizemos muito exercício na piscina e, por mim, fazia mais um exerciciozinho relaxante antes de dormir.
Ele dá uma risada curta e beija-a.
– Vamos, gatinha, que eu adoro esse exercício contigo. – Voltam sem pressa, porém mais abraçados do que antes.
Daniel acorda muito cedo, ainda de noite. Está sem sono, embora tenha dormido apenas três horas. Levanta-se suavemente, para não acordar Suzana, e desce as escadas. Na sala dos ancestrais, senta-se a meditar. Agora, junto às fotografias dos pais e avós, estão as da Dani. Passa o resto da noite assim e, quando amanhece, sai para o jardim. No salão, ao lado da piscina, põe uma música chinesa muito suave e especial para praticar tai-chi.
Suzana acorda cedinho e não o encontra. Levanta-se e veste um quimono de seda dele, que não esconde praticamente nada e desce as escadas. À medida que se aproxima, começa a ouvir a música, seguindo nessa direção. Encosta-se na porta da sala a olhar para ele, que parece desafiar a gravidade naqueles movimentos lentos e tão harmoniosos. Nota que Daniel está de olhos fechados e fica parada, encostada à porta da varanda, sorrindo e observando-o. Os seus olhos cinzentos, expressam uma devoção incondicional.
– "Que gato. Como pode alguém da idade dele ser tão másculo, tão maduro?" – Pensa. – "A velocidade com que raciocina e toma decisões, é assustadora. A bondade dele não tem igual. Vai gastar milhões só para ajudar um bando de pessoas, simplesmente pelo prazer de ajudar. Céus, ele não existe e como eu amo tanto este homem."
Daniel encerra o exercício e abre os olhos. Estava bem consciente da presença dela, mas finge que não sabe e sorri-lhe. Suzana corre e abraça-o. Dan não entende por que o contato dela é tão agradável, pois sabe que não a ama como ela a ele, mas a sua presença perto de si é quase uma necessidade física, como se fosse outra forma de amor. Só por isso e a fragilidade emocional por que está passando é que se permite a ficar com ela. Retribui o abraço com carinho.
À noite, Suzi volta para o seu apartamento e encontra um e-mail do Paulo, com um anexo enorme, que descobre serem as fotografias que tinham tirado no sábado. Com muito carinho, salva-as na sua pasta pessoal.
― ☼ ―
– Ele irá recebê-los, agora – diz a secretária – venham por aqui.
Quando entram no gabinete do prefeito, este olha Daniel um tanto espantado.
– Eu entendi que era o presidente e a vice presidente que me queriam ver.
– Prefeito, eu sou o presidente da Cybercomp.
– Por acaso isso é uma daquelas pegadinhas que dão na televisão?
– Senhor – diz Suzana – apresento-lhe Daniel Moreira, o presidente da Cybercomp e a pessoa que criou tudo o que somos hoje.
– Muito bem – o alcaide é um homem perspicaz e vê que não está de frente a um rapaz normal – o que posso fazer por vocês?
– O senhor conhece a rua das Araras?
– Infelizmente, conheço.
– Bem, eu posso transformar aquele lugar em uma vantagem eleitoral para o senhor; mas em troca terá de me ajudar. Veja que ano que vem, é ano de eleições.
– Sou todo ouvidos, meu jovem.
– Eu quero transformar aquela favela em uma comunidade produtiva e pretendo criar algo digno para eles viverem. Ontem, presenciei um acontecimento terrível que levou à morte de uma pessoa, mas que poderia ter sido a de cinco ou seis. Prometi que ia ajudar aquela gente, então vou sustentar e fornecer todo o material de construção necessário para eles edificarem uma casa para cada família, uma usina de reciclagem e uma fábrica de transformação de alumínio. Vou construir uma escola modelo, um centro médico e uma área de lazer. Tudo isso será pago e mantido por mim – a voz do Daniel é tranquila e firme, transmitindo uma segurança que contagia – a fundo perdido. Combinei com o líder deles que, a partir de hoje, ninguém sairá da favela para catar lixo. Irão começar a construir as suas casas e um muro que proteja as crianças da estrada. Estive me informando e só este ano houve mais de cinquenta mortes por atropelamento ali.
– Esse seu projeto custará milhões!
– Não me importa o preço. Se forem milhões, dezenas de milhões ou centenas de milhões, eu custearei tudo. Só quero duas coisas de vocês. Primeiro: doem para essa pobre gente aquele terreno que é da prefeitura. Eles irão ser prósperos e com os impostos, o terreno pagar-se-á em pouco tempo. Em segundo lugar: quero ajuda para criar o saneamento básico, eletricidade, água e esgoto. Eu também pago essas despesas, mas terão de ser feitas pela prefeitura e ninguém precisa de saber quem custeou. Prefeito, venha comigo esta tarde falar com eles e dê-lhes isso. O senhor terá um reduto eleitoral grande, principalmente porque a notícia ir-se-á espalhar. E tem mais, ajude-me nestas minhas campanhas humanitárias e terá o apoio da Cybercomp, que é a maior empresa do pais, uma das maiores do mundo.
O prefeito fica calado por um tempo, pensando no assunto. Daniel, desconfiado, abre a mente para averiguar. Sem que este saiba, todos os seus pensamentos são um livro aberto. Repentinamente, um algo penetra nele.
– "Olá. Por que você se esconde de mim? Está tão preocupado e triste! Não consigo tirar você da minha mente. Eu te amo tanto. Quem é a Daniela? Fale comigo..." – Assustado, bloqueia o cérebro de novo. Porém, o que precisa de saber já está em seu poder: o prefeito é sincero.
– Meu jovem e minha querida. Estou feliz por me procurarem pois sempre me preocupei com a área em questão, mas não temos recursos no orçamento para ajudar aquela gente. Vocês querem dar muito e pedem pouco em troca. Tenho o poder de fazer o que desejam. Doaremos o terreno e uma área maior ao lado, onde poderão construir a fábrica. Temo que seja eu quem mais sairá ganhando e sinto-me mal com isso. Mas, por outro lado, se vocês pretendem criar obras sociais com o meu apoio político, podem contar sempre comigo. Quando me candidatei, tinha essa visão; mas, infelizmente, o sistema não é assim. Agora vocês trazem a arma que preciso para a minha ideologia. – Levanta-se e estende a mão para Daniel. – Conte comigo. Onde encontro vocês para ir a essa comunidade?
– O senhor tem heliporto aqui em cima? – Ele acena afirmativamente. – Ótimo. Viremos buscá-lo às quatorze horas. Pode ser?
– Combinado. Aguardo ansiosamente. – Despedem-se e o casal sai.
Quando entram no carro, Suzana pergunta:
– Amor, o que te aconteceu?
– Aconteceu? – Questiona Daniel, sem entender. – Como assim?
– Eu vi que, enquanto ele pensava, sofreste um tremor. Nunca antes vacilaste em uma reunião e acho que se estivesses de pé, terias cambaleado. Está tudo bem contigo?
– Ah, isso. Sim está tudo bem, gatinha. Eu tentei ler a mente do prefeito e alguém insinuou-se nos meus pensamentos. Alguém que se sintoniza comigo em uma intensidade maior ainda que a Dani fazia. Não é a primeira vez que isso acontece, mas assusta-me. Eu venho andando com a mente bloqueada desde a primeira vez.
– Quer dizer que andas por aí espiando pensamentos! Já leste os meus?
– Não, Su, jamais li a tua mente, senão eu saberia há mais tempo dos teus sentimentos. Mas ela tem uma mente muito forte, bem mais do que a minha.
– Ah... ela!
– Não sei quem é, gatinha, mas sei que é ela.
– Por que não falas com ela – Suzi tem um nó na garganta – poderias saber quem é.
– Não. – Responde. – Tenho medo, já sofri demais!
A Suzana cala-se, sabendo que é melhor assim, pois seu tempo vai acabar em breve.
– "Como pode ser tão forte e tão frágil ao mesmo tempo? Ai, irmã mais nova, ele é complexo!" – Pensa. Instintivamente, vira-se para ele e beija-o nos lábios.
– Tudo tem o seu tempo, meu gatinho. Não tenhas medo.
– Eu sei, meu anjo, eu sei.
Após uns cinco minutos de silêncio ele dispara:
– Su, falaste com o cientista de Boston? A Patrícia passou-te a cientista francesa que pedi que localizassem?
– Sim. Doutor Silverstone, aceitou a oferta e virá em Maio, quando o contrato dele com a universidade encerrar. A doutora Janine Prescout, aceitou o convite para conhecer o nosso centro de pesquisas. Deseja vir em Janeiro, após o ano novo.
– Ótimo. – Afirma, mais tranquilo. – Esta semana não quero ser incomodado para mais nada a não ser essa gente da favela. Salvo, é claro, uma urgência. Vou largar-te no complexo e tu tratas de pegar o prefeito. Arruma-me o endereço da maior loja de brinquedos que houver que desejo falar com o presidente ou diretor executivo de vendas entre hoje e amanhã. Quero também uma reunião com o diretor ou presidente da rede Brasil-Market ou similar. Nós vamo-nos ver na favela. O helicóptero pode pousar no campo de futebol que tem lá. Quero que venhas junto, pois preciso de ti.
– Certo – diz ela com um sorriso matreiro – mais alguma coisa, chefinho?
– Sim, quando eu parar na sinaleira, quero um beijo igual ao último... ou melhor.
Ela dá uma risada e abraça-o languidamente, dando-lhe um beijo de tirar o fôlego.
– Só que agora – comenta – estamos a trabalho.
– Eu sei, amor, eu sei, mas estou muito carente. – Dá uma risada bem espontânea e é tão raro vê-lo rindo nestes últimos dias, que ela considera isso o maior dos elogios.
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