Capítulo 8 - parte 10 (não revisado)

– Bom dia, meu pai. – Daniel aponta a poltrona para ele sentar-se. – Pedi-lhe que viesse aqui porque tenho intenção de expôr ao mundo o resultado do Projeto Cárdio. Desejo, poder começar a atender pessoas para transplante pois Suzana já iniciou a montagem da indústria que vai fazer a produção em série, mas temos duas questões pendentes que o senhor pode ajudar. Primeiro: qual, em média, é o tamanho da fila dos transplantes?

– A fila varia muito, mas é grande. Infelizmente, temos mais pacientes que doadores. Devemos ter alguns milhares, mas em estado crítico como era o do senhor Silveiro não são muitos. Talvez umas poucas centenas.

– Certo, a segunda pergunta é: quanto tempo é necessário para treinar uma equipe de cirurgiões?

– Filho, temos excelentes cirurgiões aqui na cidade. O tempo para adaptá-los não seria grande. Bastaria assistirem um transplante, até mesmo por filme, e participar de um segundo como assistentes. A semelhança com o coração humano facilita demais, tanto que não tive a menor dificuldade ao fazer o primeiro transplante.

– E no exterior? – Questiona Daniel. – Desejo estender isto para o mundo todo.

– A mesma coisa.

– Ótimo. Su, ficas gerenciando os preparativos? Eu quero definir Fevereiro como o mês do anúncio para o mundo, logo após o feriado de navegantes. O que acham?

– Por mim está bom, a indústria para produção em série já está praticamente construída. É claro que ainda não tenho uma estimativa real para o início do funcionamento dela, mas é uma questão de tempo. De qualquer forma, dependemos dela para isso.

– Então estamos combinados. Su, peço-te desculpas, mas quero falar em particular com o meu pai.

– Claro, chefe – responde, levantando-se. – Vou acertar isto tudo. A propósito, hoje à tarde, temos a visita da doutora Janine Prescout.

– Perfeito; quero que o professor André fique por aqui. Diz-lhe que me desejo reunir com à tarde, mas não contes nada.

– Está bem, até mais.

Suzi levanta-se e sai. No seu computador de mão aparece uma mensagem. – "Obrigado, gatinha. Depois conto tudo." – Ela volta-se e dá-lhe um sorriso. Quando estão a sós, Daniel ordena:

– Computador. Lacre a sala. Obrigado.

– Sala lacrada. Sistemas de segurança acionados. – Responde a máquina.

Daniel olha para o doutor Chang por uns minutos, em silêncio. Este, como bom oriental que é, espera, impassível.

– Pai, eu descobri algumas coisas e correlacionei outras. Assim desejo saber uma coisa simples: o que há de errado com o meu coração?

– Errado, meu rapaz? - O seu espanto é genuíno. – Que pergunta tonta!

– O senhor e o meu pai, vinham-se encontrando desde que eu tinha seis meses. O trabalho dele não era totalmente compatível com o seu a menos que ele precisasse de um cardiologista. Lembro-me de ter sido examinado mais de uma vez pelo senhor quando era bebe. Deixe-me mostrar algo. Computador acesse os meus arquivos secretos. Passe na tela central o vídeo dos meus pais que pus recentemente no arquivo.

A sala escurece e, no telão, passa o filme dos pais. Doutor Chang assiste até ao fim em silêncio. Quando a sala ilumina-se novamente Daniel olha para ele inquisitor.

– Meu filho, com o seu coração não há nada errado. Apenas ele não é nada que se assemelhe ao que se conhece com por coração...

O médico explica tudo o que Daniel ainda não sabe e a última peça do quebra cabeças sobre ele é esclarecida. Conversam a manhã inteira e o início da tarde. Quando o assunto termina, doutor Chang fala sobre outro assunto:

– Filho, você está bem? – Pergunta. – Eu e May Ling estamos muito preocupados consigo. Vejo que, aparentemente, está superando o choque, mas sabendo como a Daniela ficou há oito anos, tenho uma ideia muito bem definida do que está sentindo.

– Estou melhor, meu pai. Por uns tempos, só quis saber de partir para me encontrar com ela. O senhor não tem ideia do que foi para mim, pois tinha uma dependência dela que não era física. Imagine que o senhor está com alguém que é tão integrado consigo, que não são necessárias palavras para se comunicar. É como se os nossos espíritos fossem um só, divididos em dois corpos.

– Eu imagino, filho, mas a sua vida continua e você não pode se prender a isso. É Karma, e vocês vão-se reencontrar.

– Já sei disso, pai, mas não diminui a minha dor. Estou superando aos poucos e tive uma boa ajuda que me salvou da morte certa. Dani já me dizia que a nossa vida atual era apenas temporária, assim como uma Honorável Mãe que visitei na China. Hoje, sei que se não fosse o acidente, ela iria de qualquer outra forma. Até parece que isso aconteceu para abrir outro caminho que ainda não sabemos.

– É verdade, filho. Saiba que tenho muita honra em tê-lo tido como genro e filho, mesmo que por um período tão curto.

– O senhor e a mãe serão para sempre meus pais. – Ele inclina a cabeça, respeitosamente.

– Filho. Tome cuidado para não magoar Suzana, pois ela ama-o muito.

– Eu sei. Também a amo muito e salvou-me a vida. É um amor diferente, mas ainda assim um amor. Temos saído juntos, como já imagina, e é bom para ambos. Só não entendo como sabe disso.

– Eu conheço-o tão bem quanto conhecia Daniela, filho. Que bom que está fazendo as pazes com a vida. Volte a amar que vale a pena. Se Dani disse que era passageiro, é porque algo virá em breve e, se não estiver receptivo a isso, poderá ser muito ruim. Bem, eu voltarei para o hospital.

– Sim, pai, mas só uma coisa: o que ocorre entre mim e Suzi deverá ser apenas nosso. Já conversamos muito e também descobrimos coisas importantes. Ela é especial e a última coisa que eu quero é a sua imagem exposta.

– Claro, não se preocupe.

Após o médico sair, Suzana chama:

– Daniel – afirma ao interfone – vocês estão aí há mais de quatro horas. A doutora Janine aguarda aqui.

– Manda-a entrar.

A doutora Janine Prescout é uma mulher dos seus trinta e cinco anos, delicada e de olhar inteligente. Vendo Daniel, olha para ele e, depois, observa em volta não vendo mais ninguém. Volta a olhar para o garoto e acha o rapaz muito bonito, estranhando vê-lo sentado na poltrona do presidente. Procura pelo seu pai, mas não há mais ninguém na sala. Fica desconcertada e estranha o sorriso do jovem que a observa. Após uns minutos, dirige-se à cientista:

– Boa tarde, doutora. Peço desculpas por fazê-la esperar, mas estava em uma reunião.

– V... V... você é... o...

– Sim, doutora, sou o presidente da Cybercomp e não se trata de uma brincadeira. Eu fiquei impressionado com o seu trabalho sobre química nuclear e também sobre o novo composto que pretende sintetizar. Por isso, pedi esta reunião.

– Desculpe, rapaz, mas você é francês?

– Não, sou brasileiro, mas falo vários idiomas. Sei que não sou uma pessoa normal. Por favor sente-se e deixe-me...

Daniel explica para a cientista os trabalhos que desenvolve, deixando a mulher aturdida. Após uma hora conversando, leva-a a um passeio pelo complexo e a cientista fica cada vez mais impressionada. Ao chegar ao prédio da física nuclear, leva-a para a sala do André.

– Professor, tenho aqui alguém que creio que o senhor conhece.

André vira o rosto e eles entram, ficando espantado.

– Janine! Mon Dieu. – Levanta-se, trêmulo, e aproxima-se dela, estendendo as mãos.

A resposta é algo que ninguém espera, pois a cientista senta-lhe uma senhora bofetada. Daniel, discretamente, fecha a porta para ninguém ver.

– Por quê, Janine?

– Já te esqueceste do que aconteceu? – Pergunta, furiosa. – Minha carreira foi destruída por tua causa. – Virando-se para Daniel, continua. – Ele roubou o trabalho do meu orientador e, quando foi descoberto, fugiu. Recusei-me a acreditar nisso, mas o meu orientador mostrou-me a confissão assinada. A comissão achou que eu estava envolvida na trama e acabei expulsa. Por causa dele perdi o meu doutorado, perdi tudo. Sinto muito, mas jamais poderei trabalhar aqui.

– Doutora – interrompe Daniel – já lhe ocorreu que a verdade pode ser outra?

– Olhe, o meu grau é de Mestre e eu vi a confissão...

– Assinei a confissão, Janine – começa André – mas foi para te proteger. Quando o teu orientador descobriu o nosso caso, ele ficou louco de ciumes e criou uma armadilha para mim. Ameaçou destruir as nossas carreiras. Então, eu assinei a falsa confissão onde supostamente teria roubado um trabalho dele, mas foi exatamente o contrário. Em troca, ele deixar-te-ia em paz. Porém, parece que isso não ocorreu.

– E como provas isso?

– Doutora Prescout – Daniel olha sério para ela – acredite que o doutor Focault é um homem íntegro. Se ele fosse esse tipo de pessoa que fala, não estaria aqui agora. Além do mais, tenho um dom e sei quando as pessoas estão mentindo.

– Isso não é prova suficiente, mas vou dar um voto de confiança para si, senhor Moreira. Aceitarei a oferta de emprego sim, em caráter experimental. Só que, por hora, não desejo a companhia dele.

– Espero que um dia mude de ideia, doutora Janine, pois o doutor Focault é um dos meus cientistas chave aqui dentro. Verá que ele não é nada disso que pensa. Venha vou-lhe mostrar o departamento de Química.

Quando saem, Daniel diz, em português:

– Professor, terá de a reconquistar, mas pelo menos já sabe a verdade dos fatos. Mostre o seu valor, que prevalecerá. Vá descansar que acho que precisa.

– Obrigado, chefe, tem razão. – A voz dele é pura depressão.

– Venha, doutora, por aqui. – Enquanto caminham, ele tenta novamente. – Espero que reconsidere no caso do doutor Focault. Se ele fosse o que a senhora pensa, já nos teria roubado uma grande descoberta que, ainda por cima, é quase que totalmente mérito dele. E prepare-se: se ele não for o próximo Nobel da Física, será o seguinte. Eu confio cegamente nele e jamais me enganei quanto ao caráter de uma pessoa.

– Desculpe. Eu sofri muito, quando ele me abandonou. Durante muitos anos só soube o meu lado da moeda. Preciso de um tempo para me adaptar, mas prometo que não o hostilizarei.

– Ele também sofre até hoje. Porém, isso é justo. Afinal, passaram-se muitos anos e ninguém espera que tenham os mesmos sentimentos. – Daniel muda de assunto. – Bem, aqui na empresa quase todos falam mais de um idioma, geralmente o inglês, por isso não se preocupe quanto a comunicações, mas seria bom aprender a nossa língua e temos uma escola de português para estrangeiros aqui dentro, se desejar frequentar.

– Claro. Sempre é bom aprender o idioma da terra onde estamos e acho que vou gostar daqui – diz, sorrindo novamente – parece um lugar muito tranquilo, mas me explique qual o seu interesse na minha pesquisa?

– Simples, doutora. O doutor Hans, que a senhora ainda não conhece, e o doutor Focault, construíram um reator nuclear de fusão a frio com mil centímetros cúbicos. E queremos menores ainda. O alvo da sua pesquisa poderia ser uma camada protetora no revestimento do aparelho, que absorveria e eliminaria as radiações em caso de danos estruturais. Este, é apenas um dos nossos objetivos.

– Meu Deus – diz, espantada – mil centímetros cúbicos! Como?

– Eu tinha uma teoria e o doutor Focault outra. Quando conversamos, cheguei à conclusão que uma hibrida dessas teorias resolveria o problema e aqui está.

– Escute, como um rapaz da sua idade pode saber tanto de Física e ainda criar este monstro que está aqui? – Ela gira os braços em volta do complexo. – Algo não se encaixa!

– Bem, doutora, eu não me encaixo exatamente no plano considerado normal. Tenho uma inteligência privilegiada, só isso. – O jovem não está a fim de dar muitas explicações. No fundo, embora compreenda perfeitamente a reação da cientista francesa, ficou muito chateado com ela.

― ☼ ―

Meu Deus. N.A.

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