Capítulo 5 - parte 3 (não revisado)

 – Mestre, onde vamos? – Perguntou Daniel. – Vejo na sua mente que está agitado.

Meu querido, está certo que deves exercitar as tuas faculdades, mas é muito feio ler os pensamentos das outras pessoas.

Desculpe. Acho que ainda sou apenas uma criança que tem muito que aprender.

Filho, vamos ao mosteiro Shaolin onde eu fui educado. A adivinha disse que és um Dragão Dourado. Todos os candidatos a Dragão devem ser apresentados e avaliados em um templo. Vou levar-te ao lugar onde poder-te-ão avaliar.

Quando chegaram ao templo, Daniel, já com nove anos, ficou impressionado com a beleza e a tranquilidade do local. Todos os monges inclinaram-se para ambos.

Foram levados a uma sala cheia de velas e incenso, onde estava o líder deles, meditando. Era um monge pacifico, já com alguma idade, mas ainda irradiando bastante energia e força. Este emanava paz e o garoto gostou dele de cara.

Mestre Lee – disse o monge – Estamos muito felizes com a sua presença. O que o trás aqui?

Este menino – disse mestre Lee, estendendo a fita dourada – será o próximo Dragão Dourado.

Ah, um candidato? Mas ainda é um menino, além disso ocidental. Ele não deve saber nada. Falas a nossa língua rapaz?

Sim, senhor? – Respondeu o pequeno.

Muito bem. Vejamos suas habilidades físicas. – Mandou chamar um rapaz que tem uns dezessete anos. – Você acha que pode vencer este jovem?

Daniel olhou para o rapaz e disse:

Sim senhor, facilmente, mas não posso lutar com ele, pois iria machucá-lo. Eu não gosto de ferir ninguém.

Não se preocupe, criança.

Mestre – interveio Lee – não faça isso. O menino diz a verdade. Jamais mente. Use um Vermelho ou o oponente poderá ferir-se gravemente.

Tem a certeza, Lee? Um Vermelho poderia matar o rapaz.

Senhor. Este rapaz pode bater meia dúzia de Vermelhos sem se mexer muito. Eu treinei-o, sei o que digo. Também sei que não posso ser eu a enfrentá-lo, mas rogo-lhe, pelo bem do oponente dele, que use um Vermelho.

Muito bem. Filho, poderia vencer-me?

Daniel olhou para o sábio por uns segundos e disse:

Senhor, eu não sei. Sinto que a força que emana é muito grande, mas acho que sim. Só não posso ferir ninguém, eu odiaria isso.

Muito bem, pequeno. – O mestre sorriu. – Vamos ao teste. Só há um homem no mundo que me pode derrotar. Vejamos, então.

Suponho, senhor, que esse homem seja mestre Lee.

De fato, criança.

Então, senhor, agora há dois que o podem derrotar.

Venha – disse o mestre com um sorriso no rosto – vamos ver.

Quase todos os aprendizes pararam para olhar o grande mestre e o pequeno menino, aparentemente tão desiguais. No pátio, ficaram frente a frente e o mestre cumprimentou o rapaz, que correspondeu. Atacou-o rápido como um raio. Quando alcançou o lugar onde deveria estar o garoto, nada encontrou. Este estava atrás dele e deu-lhe uma pancada pequena nas costas, para saltar por cima dele de volta. O monge ficou impressionado.

Bom, meu rapaz, mas sua força está muito baixa. Use o Ki.

Mestre, eu não o quero ferir.

Pode atacar, filho. Use a sua força total. Preciso de avaliá-lo.

Não, Daniel, usa força moderada. Pelo amor de Deus, senão mata-lo-ás.

Sim, mestre.

O monge atacou novamente e Daniel, desta vez, não se desviou. Deu uma guinada e uma pancada com a mão usando o estilo do Tigre; mas, no último segundo, retirou as "garras" deixando a mão espalmada. O Monge recebeu em cheio o impacto no peito e voou quase quatro metros para trás.

Daniel correu até ele, preocupado.

Perdoe-me, mestre. Não o queria ferir. Tentei minimizar a minha força.

O monge, aturdido, levantou-se e olhou o rapaz por uns segundos. Virou-se para o mestre Lee e perguntou.

Tens a certeza de que ele não é um Branco?

Não. Mas a adivinha determinou como Dourado.

Não há duvida de que ele é Dourado. Mas está mais para Branco do que para Dourado. Esta pancada teria morto um ser normal e ele tem apenas nove anos! Façamos uma coisa, será Dourado até aos vinte e cinco anos quando será reavaliado.

Chamando todos os monges do templo, disse:

Irmãos, temos um novo Dragão Dourado. É o primeiro Dourado estrangeiro, mas mais ainda: é o primeiro Dourado com menos de trinta anos. Saúdem-no, pois há muito tempo que não temos um. – Dizendo isto, o mestre ajoelhou-se à frente do Daniel e continuou. – Mestre Daniel, Grande Dragão Dourado.

Todos no templo ajoelharam-se perante ele, inclusive o mestre Lee.

– Como por enquanto? – Pergunta Paulo.

– Quando fui testado em um templo, o grande mestre achou que me posso tornar um Branco. Eu fui avaliado muito antes da idade adequada. Mas deve ser um pouco de exagero.

– "Caramba amor, que linda essa lembrança, não fazia ideia. E não sabia que havia Dragões Brancos." – Daniela vem com o sorvete e os pratos na mão.

Paulo está afagando um dos grandes boxers. Ao seu lado, Cláudia fala sobre cães quando Daniel interrompe:

– Paulo – comenta Daniel – Anita está prenha e eu ficaria muito honrado se vocês aceitassem um filhote de presente.

Os olhos da Cláudia brilham de alegria.

– Puxa vida, Dan, eu adoraria mas será que devemos aceitar? Os teus cães são valiosos e muito especiais!

– Claro – replica Daniela, que continua, sorridente, – Deverão escolher a terceira da ninhada. Será uma fêmea lindíssima. Além do mais, vocês vão-se casar em pouco tempo.

– É mesmo? – Brinca Paulo. – E quando será isso?

– Ora – diz Dani, rindo – em pouco menos de dois anos. Vocês terão dois lindos filhos, um casal. O mais velho chamarão de Guilherme e a menina, três anos mais nova, chamarão de Daniela, em homenagem a mim. Nessa época, já estarão formados e o presente de formatura que o Daniel vos dará será muito bacana.

– Caramba, Dani – comenta Paulo, impressionado – como sabias que eu queria chamar meu filho de Guilherme?

– Eu vejo o futuro. Mas é complicado e só há pouco tempo isso aconteceu. O que eu vejo é meio nublado.

Daniel está um tanto incrédulo, mas com o que vem ocorrendo, pergunta:

– E o que eu vou dar de presente de formatura?

– Ora, isso irá estragar a surpresa – responde ela; mas, acrescentando em cantonês, revela para o noivo – pretendes dar para eles um terreno com uma clinica veterinária de última geração e, junto, uma pousada para animais.

– Paulo – afirma Daniel – podes acreditar na Dani. Ela consegue ver o futuro como uma Honorável Mãe da China.

– E tem mais – diz Dani de rompante – vocês ganharão um boxer macho de outra pessoa que ajudarão. Com ele a esta fêmea, vão-se tornar criadores, gerando uma das linhagens mais bonitas do mundo.

– Nossa senhora, Dani! – Paulo sorri. – O futuro que tu pintas é maravilhoso.

Sentando-se aninhada nos braços do seu apaixonado, ela apenas sorri. Paulo e Cláudia de mãos dadas olham-se felizes, sem saber se acreditam ou não, mas desejando, no intimo, que estas revelações sejam verdadeiras.

Quando todos terminam de tomar os seus sorvetes, Daniela levanta-se para recolher os pratos. Pega em tudo e desloca-se para dentro de casa. Ao dar a volta à piscina, repentinamente sente uma vertigem forte. Larga os pratos que caem e quebram-se, agarra a cabeça com as mãos e, soltando um gemido fraco, cai inanimada. Como o piso naquele local é de pedra, ao cair, fere bastante a cabeça e sofre vários cortes com os cacos de vidro. A coisa é tão rápida e inesperada que nem Daniel consegue reagir a tempo. Ao vê-la no chão, enquanto Paulo e Cláudia ficam paralisados pela surpresa, ele já tinha de um salto só, percorrido os quatro metros que o separavam da piscina e, com outro, pulado por cima da mesma pousando exatamente ao lado dela. Pega-a ao colo com muito cuidado, corre para o carro, deita-a no banco de trás e dispara para o hospital mais próximo. O mesmo é relativamente perto e chega lá em menos de três minutos.

Quando entra na emergência, os atendentes acham estranho ver garoto dos seus dezesseis ou dezessete, anos com calção de banho, carregando ao colo uma garota oriental, que veste apenas um biquíni, desfalecida e com o rosto sangrando bastante, além de vários cortes pelo corpo.

– Ela levantou-se – afirma Daniel, muito aflito – andou alguns metros em volta da piscina e desfaleceu. Ao desmaiar, deixou cair os pratos que se estilhaçaram e feriu-se, batendo o rosto no piso de pedra. O que foi isso? Ajudem-na, pelo amor de Deus.

Colocando-a na maca, os enfermeiros correm para a sala da emergência. Desesperado, Daniel segue atrás e, pela primeira vez na sua vida, sente-se completamente impotente, não passando de um garoto de dezesseis anos e muito desamparado.

Nesse estado, caminha em direção à emergência onde é barrado na entrada. Começa a andar de um lado para outro, tal e qual um tigre enjaulado. Ao fim de alguns minutos, aparece um médico com olhar zangado, que se vira para ele e ordena:

– Siga-me.

Entram ambos em uma sala vazia, ali perto. A mesma tem uma mesa grande, parecendo ser usada para reuniões.

– O que ela tem, doutor?

– Muito bem – começa o médico, furioso – que droga é que deram para a moça?

– Droga? – Pergunta Daniel. – Nós não usamos drogas, senhor, nem mesmo álcool. O que ela tem? Pode explicar-se?

– Escute, seu delinquente – afirma o médico, sarcástico – sei muito bem como vocês adolescentes são. Encheram a garota de drogas para depois abusarem dela, não é? Só que ela reagiu e vocês agrediram-na.

Muitíssimo irritado e já senhor de si, Daniel responde:

– Olhe bem como é que você fala da minha noiva, ouviu? Meça as suas palavras, pois é bem possível que se arrependa, e muito, do que disse.

– Eu estou farto de ver vocês fazerem essas coisas – diz o médico com um olhar que fuzilaria um pelotão. Apertando um botão na mesa continua. – Acham que podem tudo e ainda por cima ficam impunes. As pobres meninas drogadas, violentadas. Não pense que se vai livrar desta, seu animal.

Entram dois seguranças e agarram Daniel, um de cada lado.

– Dou-lhe exatamente cinco segundos para mandar estes gorilas largarem-me, do contrário vou pô-los a dormir por algumas horas e você, depois que eu acabar consigo, não conseguirá emprego nem para lavar latrinas, seu estúpido.

– Segurem-no, que já mandei chamar a polícia.

Vendo que a ameaça não surte efeito e farto daquele sujeito, Daniel age. Sem dó nem piedade pelos seguranças que o tentam imobilizar, ergue-os no ar e atira-os contra a parede, um para cada lado. Depois, agarra o médico pelo colarinho quando entra o diretor do hospital que, horrorizado, vê os seus seguranças mais fortes inconscientes.

– Pare com isso, rapaz – pede, mantendo a calma – o que está acontecendo aqui?

– Este desmiolado decidiu por si só que eu droguei a minha noiva, estuprei-a e feri-a. Pois eu vou dizer-vos exatamente o que vai acontecer: vou providenciar para que este imbecil nunca mais consiga trabalhar em um hospital. Agora, arranje-me um telefone e já, se não quiser virar picadinho.

– Ali em cima da mesa – aponta o diretor, assustado e mostrando um aparelho de vídeo fone. – Mas, meu rapaz, essa atitude não o vai ajudar em nada.

– Não seja idiota você também. Eu sou a vítima, fui agredido por aqueles dois gorilas e estou sendo acusado de uma série de crimes que não cometi. Além disso, minha mulher está na emergência, deitada e sem atendimento. – Daniel liga para a empresa. – É melhor começarem a calcular o quanto isso vai custar-vos pois eu vou já informando que tenho os melhores advogados do mundo inteiro, entenderam?

Irritado, liga para a Suzana, mas ela não atende. Parte do principio que ela pode ter iado à sua sala, mesmo no domingo, e liga para lá.

– Olhe, filho, por que não começamos de novo? O que aconteceu? – Pede o diretor, achando prudente mudar seu comportamento. Virando-se para o médico, pergunta. – O que tem a garota? Quem está cuidando dela?

– Está com um dos residentes. Aparentemente catatônica. A principal suspeita é de overdose, agressão e, talvez, estupro.

– E não solicitaram um hemograma completo?

– Sim, solicitamos, mas ainda não veio o resultado.

– "Cybercomp" – diz o vídeo fone, iluminando a tela. – "Chefe! Tudo bem?"

– Su, que bom que estás aí – virando-se para o diretor do hospital e largando o outro médico, pergunta com o olhar gélido – esta espelunca tem heliporto?

– S... sim.

– Su, a Dani sofreu um acidente e pode ser muito grave. Manda um helicóptero UTI para o Hospital Ipanema e preparem um quarto aí no Complexo II, avisa o doutor Chang sobre a filha dele. Chama para lá a melhor equipe de médicos que tivermos.

– Meu Deus – afirma o diretor, baixinho – então o boato é real!

– Que boato? – Pergunta o outro médico, sem entender.

– Que a Cybercomp é administrada e dirigida por um rapaz muito jovem. Eu acho que nos meteste numa grande encrenca com a tua impetuosidade. Sabes quem é a garota? É a filha do doutor Nelson Chang, o maior cardiologista do mundo.

– Ora, deve ser mais um filhinho de papai...

– Seu tonto – interrompe o diretor – achas mesmo que uma mulher daquele calibre chamaria esse garoto de chefe se não fosse verdade?

– Senhor – diz um enfermeiro chegando com alguns papeis na mão – os exames da moça oriental. Não há traço de drogas ou álcool no sangue dela.

– Chefe, o helicóptero deve chegar em quinze minutos, pois sairá do centro e não daqui. Não se preocupe. Tenho a certeza que tudo ficará bem. Fique tranquilo. – Em cantonês, pergunta. – É grave mesmo, Daniel? Ela está como? Ainda bem que vim aqui pegar uns papeis, pois deixei o fone em casa.

– Obrigado, Su. Ainda não sei a gravidade. Daqui a pouco estamos ai. – Daniel desliga e liga para Paulo. – Oi, irmão, desculpa sair sem falar nada... continua inanimada... vou transferi-la para o Complexo II, o helicóptero está a caminho. Daqui a pouco volto para para trocar de roupa e seguir para lá... ok... até mais. – Virando-se para os médicos, continua. – E quanto aos senhores, não acham conveniente ver aqueles dois? Não estão feridos, mas vão acordar com uma tremenda enxaqueca. Agora, o senhor tem menos de dez minutos para me dar um bom motivo para eu não entrar com uma ação contra este hospital. E você – aponta para o médico nervosinho – trate de ir ali dentro e prepare a minha noiva para a remoção.

– Rapaz, peço que desculpe o ímpeto do doutor Pedro. Mas você não faz ideia do desespero que é para nós médicos ver jovens sendo trazidas aqui diariamente. Meninas violentadas depois de terem consumido doses cavalares de bebidas com algumas coisas mais. Isso tudo acaba na emergência e não pense que são poucos os casos não. Temos dias em que dão entrada quatro ou cinco. Hoje, já tivemos dois casos. Os sintomas são semelhantes e o doutor Pedro confundiu-o com um desses delinquentes. Em geral, eles largam as vitimas ali na rua e vão-se embora. Ele devia ter imaginado que, ao ficar aqui, você não deveria ser do mesmo tipo, pois os outros temem a justiça. Entenda, por favor, que é muito estressante o que ele faz ali na emergência.

– Quer dizer que têm muitos problemas com dependentes. Muito bem, quero que vocês dois procurem-me na Cybercomp amanhã de manhã e discutiremos esse assunto. Hoje não estou em condições.

– Você vai nos processar?

– Não se forem lá falar comigo, ambos. Agora o helicóptero está chegando e, se me dão licença, quero levar a minha noiva.

Daniela não havia sido deixada abandonada, como ele pensava. Os enfermeiros limparam-lhe o rosto, o corpo, deram uns pontos no ferimento e aplicaram os curativos. Entretanto, continua na maca, inerte, para desespero do noivo.

Quando o helicóptero UTI pousa, dois paramédicos saem correndo em direção à moça. Imediatamente e sem perderem uma única palavra, levam a maca para junto o aparelho e trocam a paciente de lugar, conectando-a aos equipamentos de monitoramento.

O Daniel faz sinal para que sigam com máxima prioridade, avisando que vai de carro. Estes nem perdem tempo e, antes mesmo da porta do aparelho ser totalmente fechada, já está no ar, acionando todos os sinais de emergência e acelerando fortemente.

– Ai se tivéssemos um desses – comenta o diretor para o médico – quantas vidas seriam salvas. Infelizmente, isso é só para quem pode pagar.

– Aí é que o senhor se engana – corrige Daniel que escuta a conversa – os dois hospitais oficiais e o complexo hospitalar de pesquisas são totalmente gratuitos. Só paga quem tem dinheiro. Conversaremos a respeito.

No momento em que Daniel chega ao estacionamento, é barrado por meia dúzia de policiais militares.

– Você está preso, rapaz – diz um deles – ponha as mãos na cabeça e deite-se no chão.

– Sob que acusação? – Pergunta Daniel, impaciente. – Vamos logo, digam qual a acusação. A minha noiva acabou de entrar naquele helicóptero e eu pretendo encontrá-la no hospital. Por isso, não tenho tempo a perder. VAMOS, respondam.

O tenente deles chega e reconhece imediatamente Daniel.

– Senhor Moreira, algum problema? Recebemos uma denúncia de drogas e agressão física.

– Olá, meu amigo. – Apesar da preocupação é gentil. – Como vai o seu braço? Vejo que agora é tenente, parabéns. Olhe, houve um mal entendido aqui. A minha noiva sofreu um acidente grave e o médico achou que ela fora drogada. Já está esclarecido, porém, acho que esqueceram de vos avisar. Eu não posso ficar aqui parado. Ela está muito mal e preciso de encontrá-la no complexo.

– A Daniela lá no hospital, doente? Rapazes, tratem já de escoltar o senhor Moreira para a Cybercomp.

– Deixe pra lá, meu amigo, nenhum carro da polícia será capaz de acompanhar o meu, além do mais, vou trocar de roupa antes. Mas obrigado pelo apoio. – Daniel vai para casa, ainda muito aflito. Esperando por ele, estão Paulo e Cláudia.

– Como está ela?

– Na mesma. Mandei-a de helicóptero para a Cybercomp e estou indo para lá agora. Só vim trocar de roupa e pegar uma muda para ela. Gente, desculpem por não vos levar para casa, mas preciso de saber o que aconteceu.

– Claro, não esquenta a cabeça, irmãozinho, que nós pegamos um táxi. Amanhã, depois da aula, iremos lá vê-la. Fica tranquilo. Vamos indo. Boa sorte.

– Obrigado.

Troca-se às pressas, corre para a Lamborghini e pega a estrada à absurda velocidade de trezentos e noventa por hora. Nesse ritmo, até ele corre perigo de não poder reagir a tempo, mas essa é a menor das suas preocupações, pois é domingo em uma excelente rodovia e muito pouco movimentada nesses dias. Em pouco tempo, estaciona à frente do hospital e sobe às pressas para as UTIs, procurando pela Daniela. Não é difícil encontrá-la pois, ao chegar, Suzana espera por ele.

– Oi, Daniel – ela abraça-o – ainda não temos notícias. Doutor Chang mandou-a para o scanner. Ele também mandou buscar um neurocirurgião. Daniel entra no quarto dela, mas ainda não voltara da sala de exames. Retorna para o hall onde Suzana o aguarda. Está extremamente preocupado e abatido, e ela bem que gostaria de o ajudar, mas nada pode fazer. Ao olhar para a amiga, ironicamente lembra-se do dia em que os papeis estavam invertidos, dando um sorriso amargo.

– Ela vai melhorar, Daniel – diz, interpretando a sua expressão de forma errônea – não te preocupes.

Ambos escutam o helicóptero com o neurocirurgião chegar e este é imediatamente conduzido à sala de exames. Poucos segundos depois, doutor Chang abre a porta e chama o genro. O seu olhar expressa muita preocupação, deixando o rapaz bastante apreensivo.

– Filho, venha aqui – diz. Daniel entra e ele põe a mão no seu ombro. – Filho, terá de ser muito forte neste momento.

– Pelo Deus, meu pai – pede ansiosamente – o que ela tem? Estávamos tão bem, comendo um churrasco e de repente isto!

– O neurocirurgião está olhando as imagens do scanner. Pelo pouco que eu entendo do assunto, desconfio que ela tem um tumor no cérebro.

Aquelas palavras são um baque violento. Por um momento, o chão parece desaparecer debaixo dos seus pés, a respiração altera-se repentinamente e a cabeça lateja, deixando-o tonto.

– Co... como assim? Sempre teve uma saúde perfeita! – Vira-se para ela e lança um chamado mental com todas as forças que tem, sem sucesso algum. – Ela não me ouve. O silêncio é horrível, dói!

– Eu imagino – afirma o sogro, que entendeu o que ele comentara – vamos esperar a conclusão do neuro.

A porta lateral abre-se e o especialista entra no quarto, dizendo:

– Doutor Chang, precisamos de conversar.

– Pode falar aqui mesmo, doutor. – Diz Daniel. – Quero saber o que aconteceu com a minha noiva.

– Escute, você nem devia estar aqui... sua noiva?

– Doutor Saraiva – informa Chang – este é Daniel Moreira, o dono da Cybercomp e noivo da minha filha. Eles vivem juntos e não precisa de fazer segredo.

– Dono da Cybercomp!? – Questiona o médico, intrigado – mas você nem deve ter dezoito anos ainda!

– Habitue-se ao inusitado, aqui dentro, doutor.

– Muito bem. Ela está estável, mas o meu diagnóstico não é nada bom. Localizei um corpo estranho no seu cérebro e trata-se de um tumor. Infelizmente, não acredito que haja possibilidade de cura devido à região onde se encontra.

Estas palavras, que selam o destino da Daniela, são como punhaladas nos corações do pai e genro. Tremendo, o jovem pergunta:

– Qual o prognóstico doutor? Seja sincero, por favor.

– O tumor está pequeno. Até se tornar fatal, deverá levar de seis meses a um ano. Na verdade, ela não deveria estar assim. Acredito que tenha feito uma atividade física que a levou aos limites da resistência. Algum esforço intenso, gerou um grande aumento na pressão arterial, provocando uma certa pressão intracraniana que deve ter desencadeado a crise. Este caso só poderia ter acontecido com a doença muito mais evoluída.

– Nós estávamos em casa com um casal amigo comendo um churrasco na piscina – afirma Daniel – quando fiz uma demonstração de Kung-fu. Daniela, que é uma excelente lutadora, quis fazer um simulado comigo e deve ter abusar das suas habilidades.

– E comparada contigo eu parecia uma tartaruga. – Dani sorri.

Ninguém olhava para ela e viram-se surpresos. Imediatamente, Daniel bloqueia a mente.

– Tarde demais, amor – diz ela em cantonês – já vi a verdade na tua mente. Não te preocupes que sabia que isto ia acontecer, só não sabia quando e onde.

Tenta levantar-se, mas está demasiado fraca, caindo semiconsciente na cama. Pai e noivo aproximam-se para ampará-la.

– Doutor Saraiva – pede Daniel, desesperado – quem é o maior especialista do mundo nessa área?

– Existe um médico na China que vive em uma cidade perto de Xangai. Ele é considerado o maior especialista que existe em oncologia, especialmente no cérebro; mas, infelizmente, temo que seja inútil, meu jovem. Amanhã, mandarei os seus dados.

– Por favor, não se esqueça disso.

– Bem senhores, ela pode ter alta agora, pois como saiu espontaneamente do coma não voltará a ficar assim. Está fraca e tonta devido ao que ocorreu, mas amanhã estará bem. Agora, se quer que ela viva mais um ano, não permita em hipótese alguma que faça esforço físico intenso. Como vocês vivem juntos, já vou recomendando: sexo, só o convencional. Nada de maluquices.

– Obrigado pelo aviso, doutor. A minha assistente irá acertar os seus honorários e o helicóptero e leva-lo-á de volta. Muito obrigado. Pai, depois encontre-me no meu apartamento do complexo.

Dizendo isto, pega a noiva ao colo e sai porta fora, muito triste. Ela enlaça os braços no pescoço dele e adormece instantaneamente. No hall, Suzana, que aguarda, levanta-se e caminha até eles.

– E então?

– Ela está morrendo, Suzi, e eu não sei o que vou fazer. – Suzana fica petrificada.

Daniel sai porta fora, carregando ao colo o que tem de mais precioso. À frente do hospital, encontra uma quantidade enorme de pessoas de vigília. Ela fizera muitos amigos e, quando a informação espalhou-se, todos foram aguardar notícias, até o policial que o foi prender no hospital. Quando os veem sair, começam a aplaudir o casal. Daniel agradece e segue em direção ao apartamento, sem se dar conta que havia deixado o carro ali mesmo. Tudo o que quer é manter aquele contato físico junto a si. Caminha devagar, atravessando os jardins com ela. Agora, sem ninguém ver, deixa os sentimentos tomarem conta e lágrimas grossas começam a correr dos seus olhos, concluindo que ele, o Grande Dragão Dourado, é completamente impotente contra isso. Cheio de mágoa, descobre que há algo que não pode derrotar. Entra no apartamento e põe-na na cama, deitando-se ao seu lado. Pouco tempo depois, tocam à campainha, aparecendo o doutor Chang.

– E agora, meu pai, o que faremos? – Pergunta, exasperado.

– Calma, filho. Para começar, sei exatamente quem é o médico que o doutor Saraiva mencionou. Ele é da mesma cidade da May Ling. Vou arranjar um encontro com ele; mas, para nossa infelicidade, não gosta de viajar e Daniela terá de ir para lá. Por outo lado, como sabe, May Ling está lá para ver o pai doente, então basta vocês embarcarem aqui e, chegando lá, ficam com ela.

– Claro, faremos isso. Imagino que o senhor esteja cansado. Quem sabe dorme aqui, no quarto de hospedes?

– Sim, filho, agradeço muito, mas o que mais quero agora é ver minha filhinha.

– Claro. Venha que está no quarto.

Dani dorme tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Depois de ficar com a filha por uns minutos, o pai vai para o quarto de hóspedes e Suzana aparece.

– Oi, Suzi, entra.

– Como ela está?

– Dorme. Amanhã estará melhor.

– Então deixa-a dormir. – Afirma. – Amanhã virei vê-la. Não te martirizes que as coisas vão-se arranjar e, em breve, rirás disto tudo.

– Assim espero, Su, assim espero. Obrigado.

Daniel pensa em ficar de vigília, mas o cansaço que sente pede umas horas de sono, embora, muito raramente precise de dormir. Deita-se, mas não consegue dormir direito tamanha é a preocupação. Mal sabe ele que, no quarto de hospedes, mais uma pessoa não só não dorme como chora em silêncio, da mesma forma que ele fez no caminho para o apartamento.

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