Capítulo 2 (não revisado)

"Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível."

Sun Tzu.


É uma tarde de inverno em Boston, Estados Unidos, e faz um frio intenso. Mesmo com esse tempo há bastante movimento pelas ruas, especialmente nas regiões de comércio, uma vez que se aproxima o Natal que deixa todos bastante atarefados com os preparativos das festas que acontecerão em quinze dias.

Apesar disso, Jéssica, uma típica e saudável adolescente americana, acha que é apenas um dia como todos os outros. Vai para a escola, diverte-se com os amigos e colegas, dá umas paqueradas e, à tarde, treina natação. Basicamente tudo o que uma garota de quase dezesseis anos faz normalmente. Com o entardecer ela caminha alegremente para casa, ignorando completamente o frio intenso que não a parece incomodar em nada. Calmamente, caminha chutando montículos de neve e divertindo-se com isso. Ela tem um metro e setenta e quatro, cabelos dourados da cor do sol, olhos verde-claros como duas esmeraldas brilhantes, nariz arrebitado que lhe dá um ar sapeca e com um corpo muito bem feito, pois a metade brasileira do seu sangue fez muito bem a sua tarefa, deixando-a deslumbrante. Além disso, é muito precoce e dotada de uma inteligência e memória muito elevadas.

Ela sabe aproveitar a vida e já teve uma experiência com um ou dois garotos da escola, mas desistiu por achá-los excessivamente infantis, optando por não fazer ter novas aventuras até achar algum que valha a pena. Gosta de praticar esportes, especialmente natação e atletismo, onde sente um prazer imenso.

À medida que chega à sua rua, vai cumprimentando os vizinhos, lembrando-se sempre dos nomes deles e sendo muito estimada pela sua naturalidade e cortesia. Mal vai dobrando a esquina da sua rua, colide com o pequeno Bob que vem correndo no seu triciclo vermelho, pois os arbustos do muro impedem a visão para ambos.

– Ai, Bob, e agora – diz, brincando com o pequenino de dois anos e meio – preciso de uma ambulância urgente ou vou morrer na estrada se não me salvam.

– Não, Jessy, você não pode morrer! – Choraminga este, saindo a correr do triciclo e abraçando a garota. – Você disse que vai casar comigo quando eu crescer!

– Claro, meu lindo, eu estava apenas brincando – afirma Jéssica, agachando-se para abraçar e beijar a criança – não se preocupe que não vou morrer, mas tenha cuidado porque podia ter atropelado a senhora Smith e, como ela é muito velhinha, poderia machucar-se muito, até porque não escuta quase nada e não ia ver nem ouvir você chegar.

– Tá bom, Jessy, eu vou cuidar. Prometo.

Dando mais um beijo no pequenino, segue o seu caminho, sorrindo. Chega a casa para o jantar, mas, ao entrar, encontra os seus pais sentados na sala de frente para a lareira e um tanto quanto sérios. Ambos conversam baixo, com aspecto apreensivo.

– Olá – diz ela, sorrindo – vocês dois até parece que vão a um enterro. Há algum problema?

– Jéssica – a mãe, também uma mulher de beleza excepcional e bastante parecida com a filha, vira-se e aponta um sofá – sente-se aqui que desejamos conversar consigo.

– Mas vocês estão mesmo muito sérios – afirma, caminhando pela sala até ao sofá – bem, estou esperando, pois até parece que morreu alguém.

– Não, filha – afirma o pai, sorrindo, um homem altivo e de aspecto sério – ainda não. Jessy, o que acha de nos mudarmos?

Contrariando todas as expectativas, ela abre um sorriso radiante e, com os olhos brilhando, atira-se ao sofá, enquanto diz:

– Mas que bom. Para onde vamos? – Questiona. – New York? Eu sempre quis ir para lá. Caramba, pai, você como um cientista famoso deveria viver em centros muito mais importantes do que aqui em Boston.

Sorrindo com ternura, o pai corrige:

– Calma, filha. Para começar, Boston é um centro importantíssimo no mundo todo. Afinal aqui estão algumas das principais universidades do planeta. Depois, infelizmente já não sou tão importante. Finalmente não, não é NY. Recebi uma oferta excelente para ir viver em outro país, mais precisamente no Brasil.

Ela faz uma cara de incrédula, franzindo as sobrancelhas, o que não lhe tira nada da beleza, mas deixa-a de aparência mais velha.

– Brasil? – Comenta, reprovando. – Mas aquilo lá é muito ruim, tanto que a mãe que nasceu lá nem quer saber de voltar!

Achando que é hora de intervir na conversa, a mãe interrompe:

– Jéssica – recrimina-a – não seja boba com essas ideias preconcebidas sobre a América do Sul. O Brasil é um país maravilhoso e não se esqueça que você é metade brasileira. É claro que as condições em certos pontos de lá são péssimas, mas isso é no interior do norte e nordeste do país e nós iremos para o sul. Além do mais, as coisas andam mudando muito por lá.

– Mas mãe...

– Filha – interrompe o pai – na nossa família nunca escondemos nada uns dos outros e não será agora. Então, deixe-me explicar o que ocorre: eu fiz umas pesquisas muito importantes e cheguei a uma descoberta, mais precisamente uma conclusão inédita. Há um cientista no Brasil que tem a mesma teoria que eu, mas está incomparavelmente mais avançado. Infelizmente, o mundo acadêmico daqui não só rejeitou o meu trabalho como achou por bem expor-me ao ridículo. A pressão foi tanta que a universidade decidiu não renovar o meu contrato no próximo período. Esse cientista do Brasil, que tem a mesma teoria, é um sujeito tão rico, mas tão rico que não está preocupado com a opinião do meio acadêmico, literalmente desprezando-o. Além disso, ele convidou-me para chefiar todo um laboratório de pesquisas com recursos que nunca sonhei ter aqui nos EUA. E ainda dizem que somos o país mais avançado do mundo, só que estamos deixando de ser faz tempo. Você entende?

– Até entendo, pai, mas nesse caso, quando o seu trabalho alcançar o sucesso, de quem será o mérito? – Pergunta, mostrando mais maturidade do que as adolescentes da sua idade. – Não será desse tal cientista?

– Veja, filhinha, esse tal cientista, como você o chama, está muito mais avançado do que eu nas pesquisas e nem sei por que motivo me deseja na equipe dele. Além disso, o mérito é da equipe como um todo e eu serei o líder do projeto. E se você acha que os louros devem ser norte americanos em vez de brasileiros, lembre-se sempre que os meus conterrâneos rejeitaram o meu trabalho e tentaram destruir a minha imagem. Assim, de quem seria o mérito realmente? Afinal eles, no Brasil, acreditam no meu trabalho.

– Além disso, Jessy – continua a mãe – você deveria gostar, já que, no fundo, é brasileira!

– Como assim, mãe? – Pergunta. – Não sou americana?

– Sim e não. Você nasceu no Brasil quando eu e o seu pai estávamos lá, de férias. Você é do Rio de Janeiro, filha, mas tem cidadania americana por ser filha de um americano e viver aqui.

– Caramba, mãe – afirma a garota, alegre como sempre – por que nunca me disse isso?

– Ora, querida, porque simplesmente não achávamos relevante. Bem, minha filhota – continua a mãe em português com um forte sotaque carioca – você está pronta para ir?

– Ora, é claro que vou adorar. Preferia New York, mas o Rio de Janeiro tá ótimo. Só que ouvi dizer que faz muito calor lá – acrescenta a filha em um português bastante aceitável, porém tipico de quem não está habituado a falar o idioma.

– Ainda bem que lhe ensino português desde pequena. Mas há um detalhe: não vamos para o Rio. Vamos para o sul, para Porto Alegre. É uma cidade muito bonita, embora não tanto quanto o Rio, que é uma das mais belas, senão a mais bela cidade do mundo. Em Porto Alegre, o inverno é muito frio e às vezes até neva, apesar de ser muito raro. Só que o verão é quente, muito quente mesmo.

Uha, caliente! – Ri-se a garota.

– Filha, isso é espanhol e não português.

– Eu sei, mãe, e falo espanhol muito bem. Aprendi com uns amigos do México. Ok, quando mudamos? Quero acertar umas coisas antes de irmos.

– Que bom que você gostou, filha, pois realmente não temos muita escolha e tenho a certeza de que irá adorar o seu novo lar. Eu estava preocupado com você por causa de um namorado ou coisa do gênero. – Continua o pai, mostrando alívio. – Viajamos em em cerca de cinco meses.

Sorrido, a filha responde:

– Ora, pai, os rapazes da minha idade são muito infantis para o meu gosto e não estou interessada em homens mais velhos, pelo menos por enquanto. – sorri com alegria. – Bem, até mais que vou tomar um bom banho e depois volto.

― ☼ ―

Quando sai, o casal olha-se e o marido comenta:

– Não imaginava que pudesse ser tão fácil, Natália. Eu não sei se, na idade dela, aceitaria. Fico aliviado.

– Ora, Isaac – comenta a esposa, sorrindo – ela sempre foi mais parecida comigo do que com você. Além disso, com a idade dela já nos conhecíamos, ou seja, a separação para nós seria demasiado dolorosa. Só espero que você se adapte.

– Que diabo, amigos mexicanos! A Jéssica faz amizades onde quer que ande. E como é inteligente a ponto de aprender um idioma assim na maior.

– Bem, você sabe que ela não é normal. E falou quase sem sotaque! É realmente muito inteligente. – Sorrindo, aproxima-se e beija o marido. – Vejamos como será. Tenho parentes em Porto Alegre e vou gostar muito de ir para lá. Agora, você devia descansar, pois já faz três dias que não sai do laboratório.

― ☼ ―

Jéssica, no chuveiro, pensa no sonho que teve na noite anterior, pois a imagem do rapaz com quem sonhou não lhe sai da cabeça e sente-se meio confusa porque tem sonhado constantemente com ele, desde Novembro, sentindo-se um tanto quanto apaixonada por alguém que nunca viu pessoalmente e em locais que lhe são completamente estranhos.

Quando termina de secar-se, senta-se à sua mesa, sonhadora. De olhos fechados continua pensando nele, pois acha-o lindo de morrer. Abre a gaveta e pega uma folha de papel, desenhando a imagem de memória antes que deixe de ficar tão vívida.

Ao terminar, examina o trabalho com atenção, escrevendo em baixo e sem pensar: Daniel.

Está tão compenetrada que não se assusta quando ouve a voz da mãe às suas costas:

– Céus, filha, quem é esse rapaz que nunca vi um tão bonito?

Encolhendo os ombros, Jéssica responde:

– Nem faço ideia, mãe. Sonhei com ele e o seu rosto não sai da minha cabeça. – Suspira e continua. – Sei que é tolice, mas sonho toda hora com ele e estou meio apaixonada. Lembra aquela noite que acordei chorando?

– Sonhava com ele? – Pergunta a mãe.

– Pois é. Acho que o nosso destino de alguma forma está ligado, mas não tenho a menor ideia de quem é. Mas não ligue para isso. Afinal, foi um sonho entre tantos outros.

– Está bem – diz a mãe, rindo – venha jantar. Também, com um gato desses é para se apaixonar mesmo. Nunca vi um rapaz tão bonito como esse seu desenho.

– Será que ele é de lá? – Pergunta Jéssica, enquanto descem as escadas.

– O quê, filha, quem? – A mãe pergunta distraída.

– O rapaz do desenho, mãe. Será que é de lá, do Brasil?

– Só o tempo dirá. – Responde a mãe.

– Se for, vou adorar o Brasil. – Ambas dão uma risada. – Mãe, no Brasil agora é verão. Qual é a temperatura que está por lá?

– Não sei, mas nesta época do ano é comum passar dos quarenta graus.

– Caramba! E nós com este frio de rachar.

– É, mas vamos chegar lá no inverno, ou seja, este ano não teremos verão.

― ☼ ―

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