Capítulo 13 (não revisado)

"Após o conflito, o importante é garantir a vida dos inocentes!"

Nuno Figueiredo.

Um mês depois, a noticia do garoto que é proprietário do maior complexo tecnológico do mundo já é passado e as coisas andam totalmente em paz. O novo conjunto administrativo da Megadrug começa a ser construído nos mesmos moldes da Cybercomp e Daniel faz questão que a empresa continue sendo americana, embora sob seu controle. Na superfície do local há apenas jardins e os prédios crescem como se fossem parte deles.

Daniel e Jéssica estão mais apaixonados que nunca. Uma noite, ambos vão jantar fora em um restaurante francês. Ele veste-se com um conjunto esportivo de muito bom gosto e ela com um lindo vestido vermelho. Por cima, põe um casaco de peles, artificial obviamente. Normalmente, quando estão a sós, usam sempre a Lamborghini. Mas, desta vez, o Daniel quis ir na Ferrari, argumentando que combina com o vestido dela.

Ao entrarem no restaurante, o maitre vem recebê-los. Ele sabe muito bem identificar os clientes VIPs. Leva o casal para uma mesa e o som das conversas reduz um pouco, enquanto os frequentadores observam o belo par. Preferem sentar-se lado a lado, pelo que lhes arrumaram uma mesa para quatro. Como não há muito movimento naquele dia, não fazem caso, até porque o maitre sabe muito bem quem pode e quem não pode contrariar. Falando num francês perfeito, Daniel pergunta as sugestões da casa. Após este descrever os vários pratos e aberturas, sugere ao casal dar uma olhada no cardápio, deixa-os à vontade para fazerem a escolha.

– "Amor" – ele transmite – "acho que metade do restaurante te comeu com os olhos."

– "E a outra metade queria me comer de porrada." – Ela dá uma risada cristalina e baixa.

– "Olha para os japoneses à nossa frente. Estão mais perdidos que cego em tiroteio. Agora olham para nós. Pensam que nos estamos rindo deles."

Dois japoneses, muito bem vestidos, estão sentados de frente para eles na mesa mais próxima, totalmente frustrados. Falando baixo em japonês, mas não o suficiente para que Daniel não os ouça, comentam:

– Que complicado, no hotel diziam que todos os restaurantes de boa qualidade falam inglês.

– Pois é. O nosso inglês deve ser muito ruim mesmo, pois o garçom não entendeu nada!

– E se apontássemos para um prato qualquer deste cardápio e mandássemos vir?

– Não sei, amigo. Pode ser que seja uma coisa muito ruim. Mas eu estou com a fome apertando.

Nesse momento, Jéssica dá a sua risada. Ela olha para o Daniel, com os olhos verdes muito brilhantes, realçando a sua beleza natural com uma suave maquilhagem. Eles ficam impressionados ao verem uma das mais belas garotas do mundo. O seu nariz arrebitado que lhe dá um ar matreiro e sedutor, os cabelos dourados, os olhos que parecem duas pedras de jade, o vestido vermelho com um lindo decote que lhe realça o busto, apenas ornamentado com um simples colar de pérolas negras e as mãos longas de aristocrata fazem-na simplesmente tão bela, que não há como não olhar.

– "Acho que vou ajudar esses caras, senão eles morrem de fome." – Diz o noivo.

– Engraçado – comenta o primeiro japonês – podia jurar que aquele casal conversa sem falar. E como ela é linda!

– É mesmo, que rapaz de sorte. Ele está-se levantando, será que fomos inconvenientes?

Daniel caminha os poucos passos que o separam dos estrangeiros, faz uma reverência de igual para igual e, falando um japonês perfeito, dirige-se aos dois:

– Boa noite, cavalheiros. Venho notando a vossa dificuldade de comunicação e gostaria de me oferecer para ajudá-los, se não for incômodo para os senhores.

Os dois, completamente boquiabertos por ver um jovem ocidental falando fluentemente a sua língua, perdem alguns segundos, até que o segundo reage, sorrindo:

– Desculpe-nos. Esperávamos tudo menos encontrar um ocidental que falasse a nossa língua, ainda por cima, tão perfeitamente.

– Sentam-se conosco? – Daniel aponta a mesa dele.

– Claro, muito obrigado pela sua ajuda. Mais um pouco e desistíamos.

– Esta é Jéssica Silverstone, minha noiva. Ela não sabe japonês, somente português, inglês, espanhol e cantonês. Eu sou Daniel Moreira.

– Sou Ishiro Taikun e este é Shao Lang. Somos de Kyoto.

Após apresentarem-se, sentam-se juntos.

– Nós falamos cantonês muito bem. Melhor que inglês, pelo jeito – comenta Ishiro nesse idioma – assim, a sua noiva poderá entender.

– Que bom. – Afirma Daniel, enquanto Jéssica sorri. – É sempre mais agradável quando todos podem acompanhar a conversa.

– Diga, Moreira, você viveu em Tóquio? O seu sotaque é de Tóquio e é simplesmente perfeito. Porém o seu cantonês é ainda mais perfeito!

– Nunca tive o prazer de conhecer o seu país, mas vivi em Hong Kong por muitos anos, quando criança.

– Deve ter aprendido japonês muito cedo, para falar com tamanha perfeição.

– Na verdade, aprendi há pouco mais de dois meses. – Daniel pensa em como aconteceram tantas coisas nesse curto espaço de tempo. – Tenho um talento nato para idiomas e falo muitas línguas.

– Fantástico. Disseram-nos no hotel, que praticamente todos os restaurantes têm alguém que fala inglês, mas demos azar na nossa primeira escolha.

– Não creio – Daniel sorri – como têm três estrelas de classificação, devem saber inglês muito bem, mas os franceses não são fãs dos ingleses e fingem que não sabem. Aqui, só falando francês ou português.

– Ora, é um restaurante francês! Que pena, procurávamos um restaurante típico da região.

– Não seja por isso. Nós levamo-vos a um, excelente. Como ainda não fizemos os pedidos, podemos sair agora mesmo. – Daniel chama o maitre e continua em francês, dando ao homem uma nota de cinquenta Créditos. – Queria perdoar, mas os nossos novos amigos enganaram-se de restaurante. Nós vamos acompanhá-los, já que acabaram de chegar do Japão e querem conhecer um restaurante gaúcho. Espero que isto compense o incômodo e voltaremos na semana que vem.

– Com certeza, senhor. Serão sempre muito bem-vindos.

Os quatro entram no carro e vão para o CTG do Paulo, pois o casal sabe que há uma festa tradicionalista. O lugar está alegre e cheio de gente.

Mal entram, encontram a Cláudia, que acena para eles. Daniel leva os dois novos amigos para a mesa dela e apresenta-os. Falando um inglês frágil, a moça consegue cumprimentá-los.

– Onde está o Paulo?

– Chamaram-no para dançar. Vão-se apresentar em cinco minutos.

Jéssica e a amiga, começam logo a bater papo.

– Amigos – explica Daniel, em japonês – isto é um restaurante tradicional e faz parte de uma espécie de clube que preserva as tradições centenárias do tempo da colonização portuguesa. Além de uma boa comida, verão um show maravilhoso, onde o noivo da nossa amiga, fará uma apresentação.

Os dois japoneses até esquecem da fome. Depois do show, começam a comer e impressionam-se mais ainda com as variedades de carne.

– Seu povo deve ser muito rico, Daniel, para ter tamanha fartura.

– Não é o povo que é rico. – Ele sorri, amável. – O alimento aqui não é caro, pois estamos entre os maiores produtores do mundo.

– Estou muito feliz de os ter conhecido – diz Shao Lang – pois tivemos uma oportunidade inédita de conhecer como realmente é o seu país.

– Bem, o Brasil é gigante e isso que vocês viram é só o nosso estado. Vocês vieram para cá de férias?

– Não, negócios. Temos reunião amanhã, na Cybercomp. Conhece a empresa?

– Sim, conheço, uma ótima empresa. – Diz ele, brincalhão.

– Pois é. Estou-me candidatando a uma vaga na Nipondrug. Espero conseguir.

– Boa sorte. O senhor também, Ishiro?

– Eu sou diretor comercial da Fujitsu e vim aqui para tentar negociar com eles.

– Tomem – Daniel pega dois cartões e escreve algo em mandarim – entreguem para a recepcionista.

Como está em mandarim e a escrita chinesa é parecida com a japonesa, eles conseguem ler, embora com alguma dificuldade.

– Quem é Su...ssana? Este nome não me é estranho!

– Suzana é a vice-presidente.

No final, Daniel deixa os dois no hotel e vai para casa.

– "Quero ver a cara deles amanhã quando souberem quem eu sou. Taí uma diversão da qual jamais me cansei."

– "Tu também! Mas eu simpatizei com eles. Pareciam francos."

– "E são, eu li a mente deles. Leio de todos os candidatos da Megadrug e afiliados. Ishiro quer negociar as pilhas atômicas."

– "Estou com preguiça e um pouco cansada. Faz dias que não dormimos."

– "Mas bah! Na verdade, eu tinha outras intenções, pois esse teu vestido deu-me certas ambições que venho nutrindo há algumas horas." – Ele, faz cara de tarado.

– "Caramba, esperei a noite toda para ouvir isso... Até já estava achando que não me querias mais..."

– "Ora, amor, eu morreria antes disso." – Daniel dá uma risada e beija-a carinhosamente.

― ☼ ―

No dia seguinte, quando chegam à empresa vão primeiro ao restaurante da área residencial almoçar. Depois, seguem pelas esteiras rolantes, para a presidência, encontrando o professor André e Janine aguardando por eles.

– Boa tarde. A que devo tanta honra – diz Daniel. Brincalhão, ppergunta-lhes – fui mal na prova?

– Queria ver isso acontecer – comenta o dr. Focault numa risada franca – ainda estou atravessado com aquela conversa que tivemos no dia em que me entregaste o trabalho sobre a técnica de fusão que permitiria micro reatores.

– Só porque eu disse que tinha mais que fazer do que discutir uma merda de teoria? – Jéssica e a Janine dão uma gargalhada, pois não esperavam por isso.

– Bem, Daniel, hoje eu conheço vocês, mas tens de concordar que era impossível um garoto de quinze anos fazer aquilo. Contudo, o que mais doeu foi quando disseste que aos quatro anos já sabias resolver equações diferenciais.

– Mas é verdade! – Mudando de assunto, pergunta. – Bem, o que vos traz aqui?

– O seu novo modelo matemático. Publique-o, pois é demasiado importante para a humanidade e isso far-nos-á dar um salto gigantesco. Daniel, se você não o fizer, alguém acabará por fazê-lo.

– Calma, professor – Daniel sorri e apresenta-lhe uma revista intitulada The Math Journal – Eis o artigo introdutório. E já compilei um livro. Agora pergunto: acha possível estudar o assunto campo unificado sob aquele prisma? Andei pensando em uma teoria para ultrapassar a velocidade da luz, usando o hiperespaço de cinco dimensões. Engraçado, mas tantos autores de ficção escreveram sobre isso e, com a minha nova matemática, creio que seja possível.

– Era sobre isso que vim falar, Daniel. Pensei justamente nisso, mas preciso de uns seis meses para aprender esta matemática nova a fundo.

– Tome o tempo que quiser. O máximo que o cálculo diferencial tradicional nos leva é ao micro reator e ao rádio semicondutor. Aproveite para ensinar isso aos seus dois melhores assistentes.

– Certo. A Janine também quer falar.

– Diga, professora.

– Daniel, um material capaz de refletir a radiação poderá ser uma realidade em breve. Já iniciei as minhas primeiras experiências e estou fascinada com a quantidade de opções que isso trás. Por exemplo, podemos concentrar feixes de radiação otimizando o uso dos reatores, roupas leves, contra radiação, entre outras coisas. Você teve uma ótima ideia.

– Sempre tenho boas ideias, professora – afirma Daniel, brincando – e a melhor de todas foi contratar vocês os dois. Como vai o bebê, já sabem o sexo?

– Já – diz André, inchando de orgulho – vai ser um menino. O nome será Jean-Pierre.

– João Pedro, nome bonito. Desejo muita sorte. Se precisarem de qualquer coisa é só falar.

– Obrigada. – Responde Janine, despedindo-se do casal. – Até logo, meninos.

Au Revoir.

O casal de professores sai de mãos dadas, parecendo um par de adolescentes. Mal porta do elevador fecha-se, o fone toca.

– Chefe – chama Patricia – O líder dos Shaolins está aqui. Deseja uma pequena entrevista.

– Mande-o subir. – Responde Daniel. Quando o chinês chega, levanta-se e faz uma mesura. – Mestre, é uma honra recebê-lo. Deseja um chá?

– A honra é minha, por ter ajudado. – Responde o mestre, aceitando a xícara oferecida. – Nossa missão está cumprida e alguns de nós desejam ir para casa, mas a maioria quer ficar e fazer daqui o seu novo lar. Eu fui eleito o porta-voz de todos.

– E o senhor, mestre. Deseja ficar ou partir?

– Meu filho, o seu pais é belo, jovem e forte. Eu estou muito velho, como a minha China. Aqui já há dois grandes líderes e eu sou desnecessário. Desejo descansar no meu mosteiro, para onde fui ainda menino.

– O que deseja mestre? O que posso dar em troca de uma ajuda tão preciosa como a vossa?

– Ora, meu filho. Você já me deu a chance de conhecer um Dragão Branco. Nada quero em troca. Não tenho necessidades materiais!

– Diga aos seus monges que, para quem quiser ficar, ajudarei com os documentos na emigração. Também mandarei construir um templo Shaolin e um mosteiro para eles. Tenho um terreno excelente, não longe daqui. Assim, terão um lar de acordo.

– Isso é maravilhoso, mestre Daniel. Ficaremos eternamente agradecidos.

Conversam mais uns segundos quando Patricia chama novamente.

– Chefe – dona Suzana acabou de entrevistar uma pessoa que tem um cartão seu e deseja encaminhá-lo.

– Pode mandá-lo para mim, mas eram duas pessoas.

– O segundo homem está neste momento com ela.

Daniel vira-se para o chinês e diz:

– Mestre, o dever chama. Vamo-nos encontrar mais tarde, pois farei uma visita ainda hoje. Poderíamos até ter um pequeno combate.

– Seria ótimo, pequeno mestre que se tornou grande, realmente maravilhoso. – Sai, muito feliz, por ter conhecido e ajudado o Grande Dragão Branco, o maior da história.

A porta do elevador abre-se e Shao Lang entra na sala. Ao mesmo tempo, ele vê um monge Shaolim. Mas não qualquer monge e sim um Grande Dragão Vermelho, vestido como tal

– "Que estranho, do outro lado do mundo!" – Pensa, enquanto inclina-se em cumprimento. Não repara imediatamente no Daniel, mas vê a Jéssica e conclui que ela deve ser a filha do presidente, o que explica muitas coisas.

Nesse preciso momento, depara-se com a mesa do presidente e dá de cara com o jovem, que olha para ele entre o sério e o divertido. Completamente espantado, deixa cair o queixo e a pasta que carrega, espalhando vários documentos pelo chão.

– Boa tarde, senhor Shao Lang, encontramo-nos novamente. Como eu prometi, tem a sua entrevista.

– Você é o presidente? – O homem junta os papeis. – Os boatos eram verdadeiros!

– Sim, sou o presidente. Por favor. – Aponta uma cadeira e o japonês senta-se, meio sem jeito. – Ontem conhecemo-nos e divertimo-nos bastante. Hoje, vamos conversar sobre negócios. Então, por que quer dirigir a Nipondrug?

O par conversa por uma hora, com Daniel constantemente sabatinando o candidato. Ao fim desse tempo, o rapaz, em silêncio, olha para o japonês por uns minutos. Este começa a sentir-se desconfortável quando Daniel levanta-se e estende-lhe a mão.

– O cargo é seu.

– Nossa, eu não sei o que dizer. Desejava tanto isto e agora estou perplexo.

– Tanto desejou que conseguiu. Quando sair, apresente-se à sra. Patricia no andar de baixo, mas ela só sabe inglês. Será enviado a um colaborador para o levar ao RH e lhe ensinar a nossa filosofia, mas é muito parecida com o que você pensa.

– Obrigado, Daniel, ou devo dizer senhor Presidente.

– Daniel está ótimo.

– Daniel, esta é a empresa mais bela que eu já vi na minha vida! Parece que foi plantada em cima de um jardim imenso.

– Pois faça o mesmo na filial. Todas elas terão uma verba para melhorar a aparência. Agora vá, que tenho mais reuniões. Em breve irei visitar o seu belo país, que ainda não conheço. Então poderá nos apresentar os melhores lugares para se ir.

– Será um prazer enorme. Só mais uma pergunta: desculpe a impertinência, mas eu vi um Dragão Vermelho saindo da sua sala quando cheguei. É mesmo um?

– É sim. Como disse ontem, vivi na China durante grande parte da minha vida e tornei-me um Dragão. Quando a Megadrug nos atacou, eles vieram nos ajudar. Agora deve ir. Ainda nos veremos muitas vezes, mas hoje tenho muitos pedidos de reunião. Adeus.

– Até logo. – O japonês despede-se e desce para a recepção da presidência onde encontra Ishiro, esperando.

– Consegui o emprego. – Aperta a mão do amigo, que conheceu no avião. – Vais ter uma surpresa!

– Senhor Ishiro – diz Patrícia – pode subir. Entre no elevador que este irá automaticamente.

Ao entrar na presidência, Ishiro também vê Jéssica, mas ao contrário do Shao Lang, adivinha logo a situação.

– Então voltamos a nos encontrar, Daniel – diz este para o jovem, que fica muito espantado. Contudo, sorri imediatamente, pois sabe perder – a sua empresa é de uma beleza indescritível.

– Sente-se. – Daniel aponta a poltrona. – Como deduziu que era eu o presidente?

– Não foi difícil. Um rapaz da sua idade, normalmente não fala vários idiomas, especialmente orientais, nem anda por aí de Ferrari. Depois, lembrei-me que disseram no jornal que o dono da Cybercomp é um jovem de inteligência excepcional. Eu não me lembrava do nome que foi publicado, mas, ao ver a sua noiva sentada ali a ler, deduzi logo que era você.

– O seu amigo pensou que eu era o pai dela já que, ao sair do elevador, o visitante não dá de cara com a minha mesa. Bem, vejo que a sua empresa deseja negociar pilhas atômicas. O que preciso de saber é se esse negócio valerá a pena.

– Como soube, se sua vice-presidente nem teve tempo de falar consigo, pois teve logo outra reunião mal saí? – Desta vez é Ishiro, o espantado.

– Simples – responde ele, omitindo a telepatia – você representa a Fujitsu e não veio atrás de emprego. Não conhece a nossa capacidade de TI, pois ela é secreta. Logo, só pode estar atrás da única novidade compatível como seu mercado: a pilha atômica. Explique-me então, por que a desejam?

– Há mais de cem anos que a nossa empresa fabrica desde supercomputadores até portáteis. Nos últimos sessenta, mantemos padronizado o layout das baterias dos nossos portáteis, já que esta tecnologia não se modificou desde o início do século. Assim, temos uma certa economia e também reaproveitamento. Com as suas pilhas, o reaproveitamento é muito maior. O computador dura muito menos que elas, mas podemos vender computadores sem baterias e sem carregador, ou vendê-los como elementos opcionais. O cliente compra a bateria que dura meia vida. Depois, basta trocar de máquina. Eu não sei quanto custa a sua pilha nuclear, mas decerto o ganho ecológico vale a pena.

– Ainda não temos a estimativa de custos para a produção em massa, mas calculamos que a pilha atômica fique entre cinco e dez vezes o preço da de lítio, porém é muito mais potente, sem falar que uma bateria atual dura, no máximo, um ano com cem por cento de carga, enquanto a atômica, dura mais de vinte anos, além do lítio ser um poluente perigoso. Bem, meu amigo, eu vou fazer o seguinte: vou discutir o assunto com Suzana, pois só temos um protótipo. Tanto o semicondutor quanto os químicos de segurança ainda não são fabricados em série, especialmente o semicondutor, que usa picotecnologia.

– Você quer dizer nanotecnologia!

– Não, meu amigo. Dominamos a picotenologia há algum tempo, mas isso ainda não será divulgado pelo simples motivo que pode ser usado pela indústria bélica.

– Meu Deus, imagine computadores com essa tecnologia!

– É, os nossos usam-na.

O japonês arregala os olhos, mas são interrompidos pela secretária:

– Chefe, o doutor Silverstone deseja falar consigo. Vem junto com doutor Chang e dizem que é urgente.

– Peça para ele aguardar um pouco, já estou terminando.

– Bem, Ishiro. Pode voltar em dois dias para conversarmos melhor? Se desejar, pode ficar hospedado aqui na área residencial enquanto aguarda.

– Este lugar é tão belo que aceito com prazer.

– Então está combinado, vou mandar um motorista pegar as suas malas no hotel e Patrícia irá assessorá-lo. Agora perdoe-me a pressa, mas tenho uma emergência.

O japonês sai para acertar a sua estadia, enquanto os doutores Chang e Silverstone entram. Jéssica beija o pai e senta-se ao lado do Daniel. Os quatro estão nas poltronas, de forma a ficarem mais confortáveis.

– Daniel – principia o doutor sogro – estive estudando o material do seu pai, sobre o gene. Tanto o que você me forneceu, quanto o que ele publicou na internet, que foi recuperado recentemente. Junto com os exames de sangue que efetuei aqui, fiz uma descoberta impressionante. O seu pai não tinha o poder de processamento de dados que eu disponho atualmente, por isso consegui avançar muito mais na pesquisa. O gene pode estar recessivo no organismo, quando ele se transfere para o descendente. Em contato com outro gene, mesmo recessivo, torna-se dominante. Isto o seu pai já sabia, mas não que dois recessivos viram dominantes. Entretanto, o dominante tem uma escala de graus de intensidade. Somente a partir de um determinado grau é que se torna letal. Numa escala de zero a cem, entre dezessete e vinte por cento, torna-se letal. Quem tem o gene neste nível, adquire capacidades especiais. A inteligência superior é uma delas, mas pode haver um ou mais dons adicionais, até mesmo telepatia, que é o vosso caso. Outra característica é a longevidade. Eu examinei todas as pessoas que você sugeriu e mais algumas, inclusive os seus amigos Paulo, Cláudia e Bianca. Também examinei o João, Suzana, Manoel Fonseca, Lee, doutor Chang, a esposa e mais oito mil pessoas aqui dentro, todas com QI igual ou maior que cento e vinte.

– Interessante. Suponho que encontrou muitos dominantes.

– Mais de sessenta por cento, Daniel.

– O quê?! – O jovem arregala os olhjos e olha desconfiado para o doutor Silverstone.

– Somente quatro têm bem mais de vinte por cento. Você tem noventa e seis, Jéssica noventa e dois e Bianca trinta e cinco por cento. O quarto, tem oitenta e nove.

– Quem é ele?

– O bebê dos doutores André e Janine. Eles têm dezesseis por cento, os dois. Eu tenho quatorze por cento e Natália dezesseis, assim como o doutor Chang tem dezesseis e a esposa dele tem recessivo. Pela escala, calculamos que a estimativa de vida que o seu pai deu está errada. Quem tem mais de trinta por cento começa a ter o envelhecimento retardado. Fizemos isto combinando genes em laboratório. Com trinta e cinco por cento, deverá viver, no mínimo, duzentos e cinquenta a trezentos e cinquenta anos. Acima de noventa por cento, não foi possível medir. O seu corpo e o da Jéssica, se envelhecerem, será com um ritmo tão lento, mas tão lento, que viverão muito mais de mil anos.

– Computador, localiza os doutores André e Janine Focault. Manda-os para a minha sala com o máximo de urgência. Obrigado. Isso não é bom. Eu não quero viver mil anos.

– "Por quê, amor? Achas que te vais cansar de mim?" – Pergunta Jessy. O pai e o doutor Chang logo veem que eles discutem.

– "Não, minha linda, mas seremos muito solitários. Os nossos amigos terão morrido há mais de oitocentos anos. Provavelmente os nossos filhos estarão vivos, mas não é a mesma coisa. É uma merda sermos os primeiros."

– "Tens razão..."

– Já pensaram – afirma Daniel para os cientistas – que quando eu e Jéssica tivermos mil anos os nossos amigos estarão mortos há muito tempo? Seremos os seres mais solitários do mundo!

– É verdade, filho – concorda Chang – mas lembre-se da profecia.

– Então terei morrido muito antes dos setecentos anos, pois será quando voltarei a viver uma nova vida na terra, talvez a última.

Nesse momento, André e Janine entram.

– Sentem-se aqui, por favor. – Pede Daniel. – Tenho uma noticia para vocês que pode ser boa ou ruim, conforme interpretarem. Doutor Silverstone, o senhor é o expert em genética. Explique-lhes como eu sou e o resultado da sua pesquisa.

Após uma hora de exposição, eles descobrem que o filho deles não é normal. Será como Daniel, mas precisará de tratamento ao nascer.

– Professor, o seu filho será como eu. Terá um raciocínio rapidíssimo, memória fotográfica ou próximo disso. Talvez seja telepata e possuirá uma força física fora do vulgar, além de ser imune a qualquer doença. Eu vejo tudo isso de forma benéfica. Ele viverá, no minimo, uns seiscentos ou setecentos anos. Provavelmente não estará sozinho, pois haverá cada vez mais crianças com esse dom.

– Bem – diz André, pensativo – acho que isso é uma evolução da raça humana.

– Concordo – continua a esposa – mais cedo ou mais tarde, o homo sapiens dará lugar ao homo superior. Aqui estão os primeiros exemplos.

– Pai, doutor Isaac: providenciem um áudio visual para todos os portadores dominantes e recessivos. Precisamos de lhes esclarecer o que isto significa. Qualquer um pode ter um filho com mais de dezessete. Eu vou reservar o ginásio, pois não cabe tanta gente no auditório.

– Daniel, os seus amigos têm dezesseis a Cláudia e dezoito o Paulo e a Suzana é uma exceção. Ela tem vinte e dois, mas não precisou de tratamento. João também tem um valor alto, tem quinze. Se qualquer desses casais tiver filhos, a probabilidade de ser maior de oitenta é alta. Avise-os.

– Ligarei para eles virem aqui para a reunião.

– Acho bom, pois neste momento, acredito que a raça humana deva ser esclarecida.

– Isso não poderá gerar algum tipo de fobia? – Questiona a Jéssica. – Acho que a informação deverá ser divulgada aos poucos. O povo costuma ter medo do desconhecido.

– Tem razão, filha.

– E se eu e Jessy tivermos um filho? – Pergunta o genro.

– Daí eu vou ser avô – responde Issac, rindo – falando sério, os seus filhos não terão menos de noventa e não será letal para eles. A segunda geração, não precisará de tratamento.

– Essa geração conquistará as estrelas. – Diz Daniel, sonhador, com um sorriso meigo no rosto.

– Graças a si, Daniel. – Acrescenta André...

― ☼ ―

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