Capítulo 12 - parte 4 (não revisado)
Após cinco dias fazendo levantamentos, está tudo pronto para o contra-ataque. Daniel muda novamente os planos e leva junto quatro Vermelhos, disfarçados de tripulantes. No dia combinado, um helicóptero pousa no topo do edifício da administração, onde o pessoal está de prontidão. Várias pessoas vão lá para se despedir. Doutor Chang abraça o Daniel e diz:
– Volte vivo, filho. – A Jéssica despede-se do noivo. Abraça-o com força e beija-o longamente.
– "Volta para mim, amor, preciso de ti." – Ele sorri.
– "Eu voltarei, também preciso de ti." – Despedem-se de outros amigos e, quando Suzana e João terminam, embarcam e seguem para o Salgado Filho. No aeroporto, Daniel vai para a administração informar o plano de voo. Ao fim de meia hora, decolam. Como sempre, o jovem pilota o avião. Mal nivela o aparelho, põe no automático e vai falar com todos. Explica para o Aragão e a esposa, que vem junto, os detalhes da ação deles. Vinte minutos depois, pousam em São Paulo, onde o casal desce. Daniel deseja boa sorte e segue viagem. Desta vez, leva o avião a uma altura estúpida, permitindo uma velocidade elevadíssima. Novamente, vem para a cabine. Todos os presentes falam cantonês, por isso, a língua que eles vão usar é essa. Ele explica a missão dos quatro Vermelhos, que será de se apoderar do aparelho de PEM. Terão assistência de mais sete ninjas do Tanaka. Não gostam muito da parte dos ninjas, mas aceitam. Três horas depois, pousam em Nova York e vão para um hotel luxuoso em Manhattan. Os preparativos finais são discutidos no quarto do Daniel. Conversam por algumas horas, até que o chefe manda todos dormirem, pois quer que estejam de prontidão para o dia seguinte, quando a história será mudada. Ele, que não tem necessidade de dormir, entra em meditação, junto com Jéssica, que está com os pais no apartamento dele, no Complexo II, muito bem protegidos.
Na manhã seguinte, um grupo muito resoluto levanta-se para tomar café da manhã. Animados, descem para o restaurante do hotel e alimentam-se adequadamente.
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No edifício sede da Megadrug, em plena Manhattan, as coisas estão aparentemente normais e a recepcionista da empresa, sem ter o que fazer, lê calmamente os seus e-mails enquanto lima as unhas com uma lixa já gasta. Após alguns minutos, um grupo de três pessoas entra no prédio e dirige-se para ela. Contrariada por ter de interromper a sua atividade, olha para os visitantes, observando-os atentamente. À sua frente está uma mulher muito bonita, um rapaz também de tirar o fôlego, embora seja novo demais para ela, na sua opinião, e um oriental de meia idade, enorme e de aspecto bondoso. Com a curiosidade despertada, interrompe as atividades e pergunta-lhes:
– Pois não?
– Viemos ver o senhor John Webster Smith – diz a Suzana, falando calmamente – o vosso presidente.
– Vocês têm hora marcada? – Olha-os incrédula, pois sabe que não há agenda de visitantes para o presidente naquele dia.
– Não, mas se você disser quem somos, acredito que ele nos atenderá imediatamente.
– E vocês, quem são?
– O presidente e a vice-presidente da Cybercomp – Responde a visitante, entregando um cartão de visitas.
A recepcionista liga imediatamente para o gabinete da presidência e anuncia os visitantes. Ao desligar, após ouvir por cerca de dois minutos, diz:
– Vocês podem subir para o décimo pavimento. Lá, encontrarão a secretária da presidência que vos aguarda. Obrigada. – Baixa os olhos e retorna para a sua atividade, aparentemente tão importante, embora fútil.
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No hotel, batem à porta dos Vermelhos e sete japoneses identificam-se como sendo os ninjas do Tanaka. Todos falam inglês; mal, mas entendem-se, Após um cumprimento cortês entre ambas as partes, um dos ninjas estende um mapa sobre a mesa.
– O lugar é este – aponta algo que parece uma fazenda a cerca de duas horas de carro – está fortemente protegido. O ideal era que fosse de noite, mas o tempo urge.
– Qual a vossa sugestão, irmãos? – Pergunta o líder dos Vermelhos.
– Temos duas vans lá em baixo e equipamentos diversos. Trouxemos armas adicionais para vocês. Vamos agora para lá, pois a viagem demora duas horas, ou mais.
– Perfeito. – O Vermelho pega uma mochila.
– Também trouxeram armas? – Pergunta um dos ninjas, curioso.
– Não – afirma o Vermelho, sorrindo – são apenas uns aparelhos para distrair a segurança e as comunicações. E claro, as roupas dos mestres mais duas bombas atômicas.
– O QUÊ?
– Calma, irmão, são bombas pequenas e não emitem radiação. Temos de destruir a arma deles, se não conseguirmos levá-la.
– Claro, desculpe, mas nós os japoneses não gostamos muito de bombas atômicas. Vocês devem entender. Devemos estar preparados para enfrentarmos, pelo menos, duzentos homens. Aquele lugar é uma fortaleza. Trata-se, segundo o Sensei, de um quartel general secreto da empresa.
– Ok. Vou entrar em contato com a nossa base. Aguarde. – O Vermelho pega em um mini comunicador e chama a Cybercomp.
― ☼ ―
Jéssica está sentada em uma poltrona muito confortável, no Complexo III. Em outra poltrona similar, a amiga Bianca observa o namorado que está ao seu lado absorto nos comandos e telas. O comunicador toca e Fonseca recebe uma mensagem incompreensível. Passa o aparelho para a amiga.
– É chinês.
Ela fala com os homens e pede que aguardem.
– "Daniel, os Vermelhos estão prontos para sair, mas parece que o lugar é inexpugnável. Os ninjas sugerem atacar à noite, pois há poucos lugares para se esconderem e terão de enfrentar pelo menos duzentos homens armados em campo aberto."
– "Diz-lhes que avancem para o local, mas não ajam até ao meu sinal, que não quero perder ninguém. Se for preciso, adiamos um dia. Alerta o pai do Paulo para se preparar para um possível atraso, mas que fique na bolsa à espera. Diz-lhe para fazer umas pequenas transações de modo a não dar na vista. Se precisar de mais dinheiro, tu transferes para a conta dele. E diz para o Fonseca iniciar a varredura em tempo real. Estamos subindo para a presidência."
– "Ok amor. Cuida-te, beijo." – Essa conversa, que demoraria um minuto se fosse falada, não levou dez segundos, tal é a eficiência da comunicação mental. Ela repassa as instruções para os Vermelhos. Depois, liga para o Aragão e também informa-o.
– Manoel, o Dan mandou entrar em varredura de tempo real.
– Como podes ter falado com Daniel, Jessy? – Pergunta a Bianca, impressionada.
– Eu e ele somos capazes de nos falar mentalmente.
– Bem se vê que foram feitos um para o outro. Por isso os sonhos, não é?
– É sim, Bianca.
– Ainda bem que conheci o Manoel, senão ia viver um amor frustrado. – Ela dá uma risada e beija o namorado. – Mas agora tenho um amor verdadeiro, como nunca senti antes.
– Vamos nos concentrar – diz Jéssica, séria – há várias vidas em jogo.
– Tens razão, Jessy – afirma Fonseca – computador: entra em modo bélico. Obrigado. Vou pôr os comunicadores em canal aberto, para não precisarmos ficar passando o telefone de um para o outro.
Fonseca usa ordens vocais, por serem mais rápidas, e a sala escurece ligeiramente. À frente deles, aparece uma enorme tela tridimensional, holográfica, com mais de três metros de lado.
– Coloque na tela o prédio da Megadrug e localiza o Daniel.
Imediatamente, a planta do edifício aparece e veem três pontos em um compartimento pequeno, deslocando-se para cima. No décimo pavimento, param e mudam de lugar.
– Que loucura – diz Bianca, fascinada – quem criou isto?
– Eu, meu amor. Gostaste?
– É a coisa mais avançada que eu já vi. Isto aqui até parece uma nave espacial!
– Na verdade, inspirei-me em uma série de ficção cientifica de dava na televisão há uns cento e vinte anos. Chamava-se Jornada nas Estrelas. É muito bacana.
– É espetacular. – Diz Jéssica, que conhece a série criada nos anos sessenta do século anterior e ainda tem muitos fãs em pleno 2096. – Como vocês construíram isto em um tempo tão curto?
– Quando as fundações do prédio da administração estavam sendo feitas, encontraram um túnel vertical, natural, onde hoje é o poço do elevador. Esse túnel tem nada menos de quatro metros de diâmetro e uma profundidade enorme. Os engenheiros desceram com cordas e encontraram uma caverna circular gigantesca. Daniel logo teve a ideia de fazer aqui o Complexo III que, na época, era no subsolo da casa dele. Estas cavernas têm quase um quilômetro de raio. Então o Dan comprou as terras em volta do complexo original, para que tudo ficasse sob o solo da Cybercomp. Foram criados outros acessos para aqui. Um deles, é um pequeno galpão de cerca de trinta metros de comprimento por quinze de largura. O piso dele é um elevador gigante por onde entra e sai carga. Há outros acessos para pessoas, mas o do elevador do Daniel é privativo.
― ☼ ―
No elevador, Daniel comenta o fato da recepcionista ter estranhado a ordem de não registrar as visitas.
– As coisas estão andando. Eles vão agir, tal como planejei.
Na recepção da presidência, uma secretária pede que eles aguardem. Daniel expande ao máximo a sua capacidade telepática. Em cantonês, fala:
– Há quatro seguranças a caminho com ordens de nos prenderem. Não reajam, pois foram orientados a não nos ferirem.
Mal termina de falar, uma porta abre-se e quatro homens armados mandam-nos deitar no chão. Revistam-nos sem nada encontrarem, mas demoram um pouco mais com a Suzana que fica furiosa e diz-lhes poucas e boas.
Depois, levantam um por um e algemam-nos.
– "O que será que esses diabos fariam se soubessem que eu posso rebentar estas algemas como se estivesse simplesmente me espreguiçando." – Pensa Daniel, divertido. – "Jessy, meu amor. Estamos algemados. As coisas estão melhor do que eu pensava. Vão nos levar para o centro de operações que deve ser onde estão os ninjas e os Vermelhos. Fica atenta. Manda-os aguardar."
– "Ok... Tem cuidado, amor."
Lee, Suzana e Daniel são levados para o elevador e sobem para um heliporto, onde são embarcados em um helicóptero de passageiros. A cabine é fechada, impedindo que vejam para onde vão. O voo dura pouco tempo e, quando pousam, e a porta é aberta apresentando um cenário bem diferente. Estão no que parece ser um campo militar. Daniel vê logo uma pista de pouso muito boa, provavelmente com capacidade para aviões médios e até grandes. Ao lado deles, na cabeceira da pista, há um hangar bastante grande, talvez com alguns aviões dentro. Assim que todos descem, os captores mandam-nos caminhar cerca de cento e cinquenta metros em direção a uma construção de dois andares, que deve ser o escritório. O lugar é grande e desolado, com aspecto triste e feio, nada comparável à beleza da Cybercomp. Há mais construções, algumas bem grandes. Daniel observa uma delas que parece ser um gigantesco dormitório. Ao entrarem no prédio para onde são conduzidos, veem que o lugar também não é dos mais bonitos. Parece quase militar e ele acha possível que tenha sido, antigamente, um campo do exército.
São levados para uma sala pequena, com janelas gradeadas. Sem tirarem as algemas dos três prisioneiros, empurram-nos para dentro e trancam a porta. Ficam sozinhos. Daniel aponta com o nariz para as poltronas.
– Sentemo-nos e aguardemos que o show promete. – Fala em mandarim. – Qual é a probabilidade de alguém aqui saber mandarim, na vossa opinião?
– Baixa, mas existe, então é melhor falarmos pouco. – Responde Lee.
– Ok – concorda Daniel, em português – para o trivial, usaremos o português. Bem, vamos esperar enquanto penso na Jessy para saber uma posição. Acredito que, em breve, os nossos hospedeiros darão o ar da graça.
– Tens razão. – Concorda Suzana, que entende que ele vai se comunicar. – Logo saberemos, mas, se alguém mais meter as mãos no meu corpo, mato o desgraçado nem que seja no grito.
― ☼ ―
Na Cybercomp, algumas dezenas de metros em frente ao hospital, está a praça Chang como foi carinhosamente apelidada pelos internos e enfermeiros. À frente da estátua da Daniela, um homem está parado, chorando muito. Otello, que se sente inquieto nessa noite, sai do seu quarto ali mesmo no complexo, onde escolheu viver depois da morte da Daniela e vai passear nos jardins gigantescos da empresa. Porém, o seu canto preferido sempre foi a praça Chang, aquela ele nomeou. Geralmente, vai até lá e reza para a sua bem feitora. Quando se aproxima, vê um homem de frente para a estátua, chorando e pedindo desculpas. Na sua mão tem uma faca.
– Amigo – diz Otello, suavemente, ao ver o que ocorre. – Não faça isso. O suicídio não é solução.
Fernando volta-se, assustado, e vê o paciente preferido da Daniela, começando a chorar convulsivamente. Otello aproxima-se dele e tira-lhe a faca das mãos, abraçando-o para confortá-lo.
– Eu não mereço viver. O chefe deu-me tudo e em troca eu matei-a. Deixe-me morrer. Mate-me.
– Olhe amigo, acho que você está com estafa. Deixe disso que ela não ia querer uma coisa dessas.
– Mas eu matei-a! Sou o culpado! – Volta a chorar em convulsões, deixando Otello espantado.
– Quem sabe você me explica tudo e nós conversamos sobre isso. Suicídio não é a solução, já lhe disse. Ela não ia aprovar!
Fernando desabafa tudo o que passou e sentiu, contando toda a história da sua vida para o homem, que é tão estimado ali dentro.
– Ora, meu amigo – diz Otello – acha mesmo que o íamos considerar culpado? A culpa está na sua cabeça. Se você fosse uma pessoa ruim, o chefe jamais o empregaria.
– É, senhor – responde o homem, ainda soluçando – mas foi a minha criação que a matou; a ela e mais trezentas e setenta pessoas. Como posso encarar isto e viver com essa culpa?
– Escute, você tem filhos?
– Sim, dois pequeninos.
– Você quer que eles cresçam sem um pai para lhes dizer o que é certo e o que é errado? Se não ama os seus filhos, então mate-se, pois eu não tenho estômago para isso. Se eu achasse que você era culpado pelo crime que aconteceu, eu mesmo mataria você. Mas isso não é verdade.
– Mas eu sinto-me culpado!
– Ora, rapaz, se nem o chefe que a amava acima de tudo, culpou você, deixe de pensar besteira.
Já mais calmo, Fernando diz:
– Ela era linda. Um olhar tão puro...
– Agora, ela é um anjo. Às vezes aparece para mim. Eu continuo o trabalho dela. Cuido dos jardins e leio ou distraio os doentes. Ela, a Daniela, deu-me este dom maravilhoso. Você pode tentar e é uma boa forma de tirar essa falsa culpa da cabeça.
– Queria poder pedir perdão a ela...
– "Fernando, não há perdão a pedir. O teu trabalho vai salvar cem vezes mais vidas do que as foram perdidas no avião."
Uma imagem da Daniela aparece para eles. Ela tem um brilho dourado, intenso. Fernando ajoelha-se de fronte a ela e, chorando muito, pede desculpas.
– "Fernando, ouve Otello que ele é sábio. Mas, se te conforta, eu te perdoo. Deves ficar aí e vivo, pois o meu Dan vai precisar de ti. Tira essa mácula dos teus ombros, meu amigo, e vive a tua vida com orgulho. Ensina os teus filhos a serem como tu. Agora tenho de ir, adeus."
– Viu? Ela é um anjo. Acredite nela e tire essa dor do coração.
O engenheiro acalma-se, mas pergunta:
– O que vão pensar de mim quando souberem sobre a arma, e que eu a criei?
– O mesmo que eu, meu filho. Que não apertou o botão. Vá para casa e cuide dos seus filhos.
Fernando chega com a alma leve e os filhos já dormem, abraça a esposa como se fosse a primeira vez e conta-lhe tudo. Contudo, ela reagiu como os outros.
― ☼ ―
Os ninjas e os quatro Vermelhos aguardam escondidos o anoitecer. Quando o celular toca.
– "Atenção, novas informações, o senhor Tanaka está exposto. Retirou-se da empresa para não ser capturado, mas descobriu informações cruciais. Está a caminho de vocês e chega em uma hora. Aguardem-no." – Ela fala inglês para todos entenderem. Os guerreiros sentam-se a meditar, hábito comum, tanto entre os chineses, quanto os japoneses. Após uma hora, aproximadamente, a Jéssica chama novamente.
– "Foram aprisionados e levados para esse local, de acordo com o GPS do telefone do chefe. Ele pede para não fazerem nada até avisar."
Um carro vem silenciosamente e para perto deles. Quando o passageiro do veículo está na eminência de ser atacado, descobrem que se trata do Tanaka.
– Fui descoberto – afirma, preocupado – tentei reunir o máximo de informações sobre este lugar e precipitei-me. Preciso de falar com a base.
O monge passa o telefone.
– Atenção. – Afirma, muito preocupado. – Este campo é o quartel general das operações clandestinas deles. Há duzentos homens armados e trezentos ninjas renegados, todos mercenários. Aqui, são treinados para as operações em que eliminam as pessoas "indesejáveis". Creio que a nossa força tarefa seja insuficiente para enfrentar este contingente. Devemos nos retirar e pensar em arranjar um grupo muito maior.
– "Negativo" – responde a Jéssica, preocupada – "não se retirem que Daniel está aprisionado ai dentro. Ele conta com o vosso apoio para a ação. Segundo ele, é perfeitamente possível enfrentá-los. Cuidará dos ninjas, vocês, dos outros."
– Se ele está ai, as coisas mudam de figura. Teremos de o salvar, embora ache que morreremos todos. Nós somos apenas doze. Mesmo os Dragões Vermelhos são insuficientes, na minha opinião. Não temos a força necessária para enfrentar quinhentas pessoas altamente treinadas. Se fossem Dourados, as coisas seriam diferentes, mas lutaremos até à morte, se for preciso. – O japonês toma uma decisão e considera a honra em primeiro lugar. Sequer pensou em recuar, ao saber que o Daniel e a equipe dele estão aprisionados naquele local. A única preocupação é que acha improvável atingir o sucesso.
― ☼ ―
Sensei – Mestre japonês de artes marciais.
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