Capítulo 12 - parte 3 (não revisado)
No "santuário" como chamam carinhosamente o Complexo III, Fonseca e Jéssica continuam olhando o material que vem sendo coletado.
– Jessy, o que será que aconteceu lá em cima para o Daniel demorar tanto.
– Ele está em reunião com alguns cientistas. Finalmente uma pesquisa que vêm fazendo deu os seus frutos. A coisa é tão grande que pode pôr a Cybercomp em primeiro lugar no mundo.
– Como podes saber disso? – Pergunta Manuel.
Jéssica vê agora o amigo com outros olhos. Ele é um cientista compenetrado e sério, não sendo à toa o diretor do complexo mais secreto da empresa. Quem o vê brincando na roda de amigos ou bancando a vítima, não tem a menor ideia do seu potencial.
– "Deve ser uma forma de camuflagem" – pensa. Segundos depois, responde:
– Eu sou telepata, Manoel. Estou quase sempre em contato com ele.
– Que horror. – Diz ele com falso pavor no rosto. – Não olhaste o que penso sobre ti, não é?
– Que feio, Manoel – Afirma ela, fazendo-se séria – achar a mulher do chefe super gostosa e, ainda por cima, nas costas dele!
– B... bem, não me referia a isso. Na verdade, nunca tive esse tipo de pensamento, desse jeito, embora tu sejas realmente maravilhosa e muito gostosa. – Ele ri, embaraçado.
– Estou brincando, seu tolo. – Diz Jéssica, com uma risada cristalina e os olhos verdes brilhando como esmeraldas. – Eu não olho os pensamentos das pessoas a não ser em casos raros. Fica tranquilo. Tu também és um gato, mas prefiro o meu Dan.
– Todas preferem – diz ele, de cara amarrada – até Bianca!
– Isso não é verdade, cara. Ela era apaixonada por ele sim, até antes dele me conhecer. Mas o que ela sente por ti, é genuíno. – A Jéssica estranha a insegurança do amigo. Ele sempre parece tão senhor de si, que até a espanta. – Devias parar de pensar esse tipo de besteira, pois ela te ama de verdade. Afinal é minha amiga e confidente. Sei o que falo.
– Caramba, Jéssica, foi um deslise. Na verdade, por trás da minha máscara, sou um cara bem inseguro. Nunca tinha me apaixonado na vida, ela é tudo para mim.
– Então continua assim, que estás no caminho certo. A tua personalidade é maravilhosa e cativante. Tu "roubaste" a Bianca do Daniel em três dias. Ela está fascinada contigo. Só te digo uma coisa, vais ter de casar.
– Caso amanhã mesmo, Jessy. – Diz o amigo, sério. – É só ela estalar os dedos. Nunca amei tanto uma pessoa.
– Que legal, Manoel.
– Olha, acho melhor deixarmos esta conversa entre nós dois.
– Claro, tchê – diz ela, já se acostumando com os termos regionais – por quem me tomas? Uma fofoqueira qualquer?
Os dois caem na risada, mas ele fica novamente sério e olha no monitor.
– Aqui estão os planos da arma que derrubou o avião da Daniela. Só para matar um cientista que, ironicamente, ia levar a cura dela para o médico que ela ia consultar.
– Que horror!
– É, Jéssica, mas o que mais me doeu, foi quando Dan me forçou a mostrar o vídeo do assassinato dos pais. Ele não sabia o que era o vídeo, mas, quando viu, desmoronou. Doeu muito em mim vê-lo sofrer tanto. Eu não quis mostrar, mas forçou o computador a apresentá-lo.
– Eu sei. Passamos uma noite ruim e acabei sofrendo junto, pois sentia tudo. Deve ter sido horrível assistir isso.
– Não sei o que faria no lugar dele!
– Nem eu, mas ele simplesmente chamou um policial de confiança, conseguiu um mandato e foi atrás dos caras. Estão na jaula, agora, mas o que lhes fez, foi terrível. Ele não mata se puder evitar, mas sabe castigar.
– É mesmo?
– Se sabe. Nem imaginas. É implacável e eles jamais serão os mesmos. Pior do que isso que ele fez ontem, só com o sujeito que tentou estuprar a mim e à Bianca.
– Nem me fales nisso. Tive de trabalhar no vídeo da segurança da escola para reunir provas contra o cara. Eu teria morto o sujeito.
– O Dan disse-me que pouco lhe faltou para fazer isso.
– Nesse dia, quando capturei o vídeo das câmeras de segurança, poucos minutos antes de isso acontecer, eu vi vocês as duas correndo. Foi nessa hora que me apaixonei perdidamente por ela.
– Há males que vêm para bem, não é como dizem?
― ☼ ―
– Doutora Janine, tenho uma nova tarefa para a senhora. – Abre uma gaveta e tira um maço de papeis. – Andei estudando o seu trabalho e cheguei à conclusão que podemos fazer outra coisa maravilhosa. Imagine um revestimento que reflita as radiações, em vez de as absorver. Veja, aqui está o trabalho inicial para a sua pesquisa.
Doutora Focault pega os papeis e olha para ele, assombrada.
– Daniel, eu estava pensando nisto, mas você foi muito mais longe. Chegou a desenvolver a introdução!
– Somente matemática, doutora. A química não é o meu forte. Estude o material e veja se é possível.
– Que é, tenho a certeza. Trata-se apenas de uma questão de tempo.
– Temos muito tempo. Quanto ao senhor, professor André, também tenho uma tarefa que pode ser de uma vida.
– É mesmo Daniel? O que pode ser tão complexo?
– O campo unificado. Antigravidade.
– Daniel, não existe um dipolo gravitacional. O campo unificado vem sendo estudado há mais de cento e cinquenta anos, sem sucesso.
– Calma, professor. Tenho estudado o assunto desde os quatorze anos. Para começar, desenvolvi um modelo matemático novo de modo a poder abordar a teoria. A nossa matemática está ultrapassada. Foi criada por Newton há séculos. Desenvolvi um novo modelo cujos princípios baseiam-se em um universo de cinco dimensões e não de quatro. Para isso, reformulei todo o calculo diferencial.
– Aos quatorze anos!?
– Exato, mas levei um ano para aperfeiçoá-lo. Digo-lhe que as equações que nós resolvemos neste problema da pilha nuclear, estão para o meu modelo, como a tabuada está para as equações diferenciais.
– Daniel, isso é improvável.
– O senhor também achou improvável o meu trabalho sobre microrreatores de fusão a frio e eles são uma realidade!
– Tem razão, mostre-me.
– Vou transferir o meu trabalho para o seu perfil no computador. Neste momento estou envolvido com um problema enorme e não lhe posso dar atenção. Estude o meu modelo. Quando eu voltar dos estados unidos, falaremos a respeito. Dei-me ao trabalho de o ensinar naquelas equações, porque são a base. Tem duas semanas para estudar o material. Chamei de hiper-matemática. Bem, peço desculpas, mas tenho que resolver uns assuntos.
– Claro. Au revoir. – O casal despede-se, sorrindo. Daniel liga para o diretor da escola, que fica feliz em poder contratá-la e, depois desce para o Complexo III.
― ☼ ―
– Então isso derrubou o avião da Dani! – Enquanto observa os planos da arma, manda chamar Fernando na Engenharia Elétrica, que chega assustado, escoltado por seguranças.
– Oi, Fernando.
– Olá, chefe – responde este, timidamente – posso ajudá-lo?
– Bem-vindo ao Santuário, como dizem aqui, ou à Catedral dos Bits – começa Daniel, sorrindo para o engenheiro e apertando-lhe a mão – precisamos de uma informação da sua área de atiuação e, desde já, afirmo que isto é super secreto, ok?
– Claro, o que deseja?
– Olhe estes planos e me dê a sua opinião. Qual seria o tamanho e forma deste brinquedo se usasse nanotecnologia?
– Nossa Senhora – toda a timidez do engenheiro somo como que por encanto mal vê o que se trata. Sério, ergue os olhos e continua – onde arranjaram isto?
– Isso, por enquanto, não deve ser divulgado para a sua própria segurança, Fernando. Então, o que acha que isto é?
– Eu sei exatamente o que isto é – diz ele zangado – por isso, quero saber onde arrumaram esta coisa.
– Fernando, nós pegamos de uma empresa que quer nos destruir. Deve estar ciente dos atentados, certo? Estamos reunindo provas e deparamo-nos com isto.
– Muito bem – diz ele, convencido – isso é um gerador de Pulsos Eletromagnéticos de altíssima potência. A potência do pulso gerado é tão grande quanto seria um produzido por uma explosão atômica de um gigaton. Essa arma foi desenhada por mim e ela foi a minha ruína.
Por essa ninguém esperava e todos olham para ele de queixo caído.
– Explique-nos, por favor. – Pede Daniel, que se recupera mais rápido.
– Eu trabalhei para uma empresa que projetava armas para o exército, quando desenhei esse dispositivo. Foi contra a minha vontade, mas era o meu trabalho. Alguma informação vazou e o protótipo, assim como os planos, foram roubados. Encontraram provas que deram a entender que fui eu. Como todos sabiam que era contra a arma, isso foi o suficiente. Fui demitido por justa causa e deram um jeito para que eu não arrumasse outro emprego. Após quatro meses e um desespero total, nós nos conhecemos, como você já sabe.
– Tinhas razão em não querer essa arma. Eles usaram-na para derrubar o avião que matou a Daniela. – Diz o patrão.
– Sinto muito, Daniel. Sinto muito. A última coisa que eu desejava, era que usassem uma criação minha para destruir. - Ele está visivelmente aflito e deixa correr uma lágrima.
– Não foi culpa sua, Fernando. Além disso, a sua última criação está salvando muitas vidas. Isso equilibra as coisas, não acha? Agora, ajude-nos. Qual a forma e tamanho. Que tipo de energia usa?
– Ela tem mais ou menos dois metros de comprimento e meio metro de largura e altura. Pesa relativamente pouco para o tamanho, cerca de duzentos e cinquenta quilos. A fonte de energia deve ser de altíssima potência. Pelo menos um e meio Tera Jaule. Se a carga for menor, ela precisa de acumular a energia necessária, em um capacitor de alguns Farads. Conforme for, leva várias horas para se carregar. Pode apagar a cidade de Porto Alegre e arredores, facilmente. Os efeitos duram cerca de uma hora.
– Obrigado, Fernando. – Diz Daniel. Pensativo, continua. – Isso muda meus planos. Quero pôr as mãos nessa arma ou destruí-la. Fonseca, deves tentar descobrir onde ela está. Também desejo que catalogues essas informações todas. Considera isso no mais alto sigilo e prioridade.
– Daniel – responde o amigo – eu não tenho capacidade de fazer isso sozinho; é demasiado material! Mas tenho uma ideia: usemos o Joaquim.
– Excelente ideia. Computador, manda o Joaquim até nós.
Poucos segundos depois, abre-se uma porta e entra um... androide.
– Olá, senhores. Como estão? – Diz a máquina a título de cumprimento. – Chamaram a pessoa certa para ajudá-los. Não é necessário explicar nada pois tenho acompanhado tudo.
– Andaste a espionar de novo! – Acusa Fonseca.
– Essa é a minha diretiva primária: aprender. – Comenta a máquina. Vira-se para Jéssica e Fernando que estão ambos boquiabertos. – Ué, nunca viram um androide? Jéssica, você é muito mais bonita pessoalmente do que nas câmeras de segurança.
– Era só o que faltava – diz o Daniel, rindo – um computador cortejando a minha mulher.
– Ora, Daniel, eu não sou um computador qualquer. Sou a maior criação cibernética do planeta. Afinal, você é um dos meus criadores.
– Ei, Dan, que tal se eu lhe tirar uns parafusos da cabeça? – Pergunta Fonseca, rindo.
– Que é isso? – Responde a máquina, sacudindo as mãos num gesto negativo tão humano que impressiona – para quê tanta violência. Ela está segura, pois eu não tenho órgãos sexuais! Além do mais, tirar uns parafusos, só ia estragar a minha beleza, já que o meu cérebro está fora do corpo.
Todos riem, mas Daniel tem pressa.
– Joaquim, entendeste o que eu preciso?
– Sim, Daniel. Iniciei o processo no mesmo nanossegundo em que foi sugerido pelo meu carrasco, o Fonseca.
Desta vez a Jéssica dá uma gargalhada sem se conter.
– Ele aprende rápido. – Diz, divertida.
– Muito bem...
– Atenção. Aqui fala o sistema de segurança. Há uma tentativa de invasão externa em andamento. Localizando a origem e iniciando contra medidas diretivas de segurança... origem localizada: Megadrug.
– Eles não perdem por esperar. Semana que vem, vou destruí-los.
– Chefe – diz o androide – acho o seu plano cheio de falhas. As chances de fracasso são de noventa e oito por cento.
– Ele tem falhas, mas não há alternativa. Tens alguma sugestão?
– Infelizmente, não sou dotado de pensamento criativo.
– Não consideraste o fator humano, o plano dará certo. Bem, temos de ir para o atletismo. Joaquim, captura tudo, cataloga e mantém Fonseca bem informado. Pega as informações de todas as afiliadas, também.
– Certo, chefe. Afinal o carrasco aqui arranca-me todas as informações mesmo! Só não me leva o couro porque não o tenho.
Todos riem. Daniel, a Jéssica e Fernando, sobem para a superfície. Ao se despedirem, Daniel diz-lhe:
– Fernando, tudo aquilo que viste, é classificado como sendo de segurança máxima, ok?
– Sim, chefe.
– E não te martirizes com o que aconteceu. Não tiveste culpa.
– Sabe o que aconteceria aqui no complexo se soubessem que foi a minha criação que matou a Daniela, especialmente no hospital? – Pergunta ele, aflito. – Provavelmente, a minha próxima refeição seria servida com arsênico.
– Que tolice. Não foi o teu dedo que apertou o botão. E, se alguém quisesse fazer isso contigo, seria eu. Não meças as pessoas desta empresa pelas de lá de fora. Repito: tu não tiveste culpa. Ok?
– Obrigado, chefe, mas ainda não me conformo.
– Tudo leva o seu tempo. Acalma-te e concentra-te em ajudar as pessoas com descobertas construtivas. É para isso que estás aqui.
– "Dan, que máquina maravilhosa é aquela? Parecia até o Fonseca a falar."
– "É uma experiência nossa em criação de inteligencia artificial. Na verdade, um supercomputador é o Joaquim. O androide, é uma manifestação dele. Eu e Fonseca idealizamo-lo há dois anos, mas ele é quem vem interagindo com a máquina. A única coisa que lhe falta é pensamento criativo. Ainda não conseguimos fazer isso."
– "É fabuloso!"
Quando o casal vai entrar no carro, encontram o Paulo esperando por eles.
– Caramba. Procurei por vocês mas não os encontrei.
– Estávamos no Complexo III.
– Por isso Patricia disse que não sabia onde estavam, suponho.
– Eu vou avisá-la que tu e a Cláudia têm permissões livres. Ela não sabia e o Complexo III é a nossa zona de segurança máxima.
– Dan, eu queria te pedir uma coisa. Nós pensamos em fazer umas reformas na casa e queríamos a tua permissão.
– Bem, Paulo – diz Daniel, sério – terás de pedir para o dono da casa. Ele pode não gostar muito.
– Ué! É não és tu o dono da casa?
– Segundo um dos papéis que tu assinaste no banco, o dono da casa chama-se Paulo Aragão.
– Como assim?
– Ora, Paulo. Não leste nem uma linha do que te dei para assinares.
– Mas claro que não. Confio cegamente em ti.
– Bem, um dos papeis, transferia a casa para o teu nome.
– Puxa vida, não sei o que dizer. – Ele abraça Daniel.
– Então não digas nada. – Retruca o amigo.
― ☼ ―
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