Capítulo 11 - parte 6 (não revisado)

– Muito bem, Daniel. Tivemos uma noite horrível na polícia e precisei de pedir ajuda para quatro delegacias vizinhas. Tenho mais de setenta corpos empilhados no necrotério. Tem presunto saindo pelo ladrão.

– Sinto muito por tê-los morto, mas não havia outra solução. Eu tinha que proteger Jessy. Só que, na minha contagem, eram apenas trinta e oito. O senhor não pode ter mais de setenta corpos.

– Então ainda não sabe do que aconteceu, Daniel?

– Delegado – interrompe Paulo – ele acadou de voltar a si...

Lee, os pais da Jéssica, doutor Chang, Suzana e João entram no quarto, alertados pelo Paulo, e alegram-se ao vê-lo acordado.

Daniel cumprimenta-os e o delegado fica em silêncio. Após as cortesias, o jovem Moreira olha para o mesmo.

– Então, delegado, pode continuar a falar. Estes também são da minha confiança irrestrita. Explique-me os setenta e tantos corpos.

– Daniel, invadiram a sua casa. O segurança e os cães deram cabo de todos. As casas dos doutores Isaac e Chang, também foram invadidas. Igualmente todos os atacantes mortos. A dona Suzana, sofreu uma tentativa de sequestro à mão armada enquanto saía com este senhor de um restaurante. Novamente todos mortos. Eu presumo que vocês esperavam o ataque, menos você.

– É verdade, mandei pôr seguranças em todas as casas dos meus cientistas chave. Estes guerreiros são a elite da elite. Cada um deles poderia aniquilar um exército. Sinto muito senhor, mas isto foi uma ação de legitima defesa.

– Por que não chamaram a polícia?

– Porque não achamos que fosse acontecer deste jeito.

– E você, meu rapaz, como explica aquela ação? Eram trinta e oito pessoas armadas. Segundo uma testemunha, a que me chamou, o senhor matou-os de uma forma que mais parecia a encarnação do Diabo. Eu vi o fim da luta, Daniel. Você segurava uma barra de concreto de dois metros e que devia pesar uns setenta quilos. Movia-a com ferocidade, como se fosse um cabo de vassoura. Eu vi a estaca ser arremessada contra o último assaltante a uma distância superior a sessenta metros, que o trespassou. Precisei de chamar um caminhão para retirar os corpos. Havia três cadáveres em cima das árvores, a uma altura de quinze metros. Só foram descobertos porque, com uma brisa, um deles caiu no chão, quase em cima de um dos guardas, cujo susto foi tão grande que se mijou todo. A maior parte deles estava com todos os órgãos e ossos dos corpos destruídos, como se um rolo compressor tivesse passado por cima. Os que não estavam assim, tiveram o crânio ou tórax esmagados pela estaca. E isso, você fez com cerca de duas dúzias de balas no corpo, uma delas no coração, que por si só deveria tê-lo morto na hora. Agora, eu pergunto: de que mundo você é, pois da Terra, não é. Não mesmo!

– Ora, delegado, pelo amor de Deus. Eu nasci em Porto Alegre. Sou do planeta Terra e não de outro planeta. O senhor anda lendo ficção demais. Tenho alguns dons, admito, mas isso eu quero manter segredo.

– Daniel, o que vou dizer para os meus superiores? Eles querem uma resposta!

– Diga que foi uma briga de gangues. Na verdade, ninguém vai acreditar que um rapaz de dezessete anos fez aquilo sozinho, ainda por cima mortalmente ferido.

– Daniel, você é muito valioso. Já pensou que podíamos erradicar o crime na cidade? Os seus dons são especiais!

– Delegado, eu sou budista, abomino a violência. Detesto ferir seja quem for. Tudo o que fiz, foi porque precisava de me defender. E depois, quando pensei que tinham morto a Jessy, fiquei cego de fúria. Insanidade temporária, se quiser chamar assim. Eu ajudo a humanidade de outra forma e não posso sair por aí matando gente. O senhor não pense que eu seria bem sucedido se fosse bancar o super-homem, combatendo o crime. Sou um só. Criminosos há aos milhares. Para cada um que eu eliminasse, haveria mais dez. Isso é muito bonitinho nos quadrinhos, mas não vai funcionar na vida real. A única solução viável é eliminar a raiz do mal. Há duas coisas que motivam o crime: a ambição e o desespero. O senhor conhece o meu trabalho e o seu irmão é uma prova dele. Sou mais importante aqui, salvando pessoas da desgraça, do desespero. Eu curo pessoas, sustento escolas, hospitais e crianças. Esse é o meu trabalho.

– Daniel, há crimes que nós não conseguimos enfrentar, mas que você poderia. Peço encarecidamente que nos ajude. Certa vez você disse que uma pessoa lhe falou que a omissão é tão criminosa quanto o crime em si.

– Foi a minha ex-noiva, assassinada pelo mesmo cartel que tentou nos matar.

– Ela era sábia. Pense, Daniel, apenas nos casos mais graves. Eu lhe imploro.

– Vou pensar, delegado, prometo.

Dizendo isto, ele sai porta fora, após agradecer e despedir-se com toda a cortesia.

– É, Daniel, terás de te transformar no super-Dan – diz Paulo.

– Muito bem, Paulo, eu prometi que ia te esclarecer quando fosse a hora. Tranquem a porta. Vou contar-vos a verdade.

– Filho – diz o doutor Chang – tens de te alimentar e dormir. Depois, tu falas.

– Não, pai. Terá de ser agora, sentem-se.

Enquanto todos se acomodam, Daniel fecha os olhos, relembrando o passado. Por um momento pensam que ele dorme, mas logo abre os olhos novamente.

– Jessy, fica aqui ao meu lado. – Ela senta-se na cama, junto dele, tomando-lhe a mão.

– Eu nasci aqui em Porto Alegre, no Hospital Ipanema. Era um bebê saudável e os meus pais estavam muito felizes. Quando tinha aproximadamente três ou quatro meses, fui acometido de uma enfermidade que ninguém sabia o que era. O meu pai, que como todos sabem, era um médico cientista especializado em engenharia genética, desconfiou de um problema dessa ordem. Após uma análise do meu genoma, descobriu um gene fora dos padrões. Trata-se de um gene muito especial, mas que era letal. Quanto mais dominante era, mais fatal se tornava. No meu caso, ele é quase totalmente dominante e eu definhava a olhos vistos.

Ele pausa para descansar.

– Após isolar o gene, o meu pai descobriu que eu tinha menos de três meses de vida. Pesquisando alucinadamente, encontrou um cientista britânico, erradicado em Hong Kong, que vinha estudando esse mesmo gene. Em um contato de urgência, eles encontraram-se lá, e juntos, descobriram a cura da minha "doença". – O doutor Isaac ouve aquilo com atenção extrema. – Assim, conseguiram evitar a minha morte. Eu sobrevivi e, logo depois, descobriram que eu não era nada normal. Tinha uma inteligência muito apurada, memória fotográfica, uma força física inimaginável, entre outras características, como me curar muito rapidamente. Meu pai e o cientista inglês trabalharam juntos por seis meses até que, sem explicação alguma, esse cientista desapareceu. Meu pai continuou as pesquisas e aperfeiçoou a cura, pois o próprio gene é fatal para quem o tem, a menos que seja em grau muito leve. Nesse período, publicou na internet, sob forma anônima, o jeito de curar esse problema. Ele não queria lucro para si e sim ajudar a todos os que padeciam da mutação. Eu cresci e o meu pai, que decidiu viver na China por uns tempos, contratou um especialista para me ensinar. Eu sou herdeiro de uma fortuna sem par e ele queria que fosse educado para aprender a administrar esse poder. Assim, o mestre Lee passou a fazer parte da minha vida, sendo o meu segundo pai. Outra característica desse gene é a longevidade. Meu pai achava que posso viver, no mínimo, trezentos anos. Foi nessa época que descobriram que o meu coração não é normal. Eu tenho algo parecido com um coração duplo. Por isso, o meu corpo pode aguentar cargas de trabalho que ninguém jamais pode, como correr cem metros em menos de seis segundos, ou dar um salto de mais de quinze metros de altura carregando cem quilos junto.

– Meu Deus, Daniel, tudo isso? – Pergunta Paulo.

– Sim, e muito mais. Dois anos depois, a publicação do meu pai desapareceu misteriosamente. Nessa época, os meus pais passaram a pesquisar uma forma de substituir órgãos de pessoas, criando novos órgãos por intermédio de clonagem. Apareceram as primeiras ameaças após ele publicar os seus trabalhos no meio científico. Quando eu tinha doze anos, quase treze, voltamos para o Brasil. Nessa época, eu já era um Grande Dragão Dourado. Paulo, pode doer-te no ego, mas se eu tivesse agora oito anos, podia derrotar-te sem fazer o menor esforço. Bem, nessa época, aos doze anos, eu já sonhava em fazer a Cybercomp. Só me faltava a oportunidade. Aos treze, comecei meu plano. Usando uma brecha na lei, meu pai tornou-me emancipado e fui viver na minha casa, que era do meu bisavô. Em dois anos a Cybercomp tornou-se uma potência. Eu não preciso de dormir muito, então estudava e projetava. Pouco depois que fiz quinze anos, os meus pais foram assassinados pelo mesmo cartel que tentou nos matar hoje. Mas agora eles não estão mexendo com gente simples. Eu tive tempo de ter muito poder. Esse foi o erro deles. O meu erro, foi acreditar que não teriam coragem de chegar tão longe.

– Esta, meus amigos, é a minha história resumida. Não sou o super-Dan. Posso ser morto, mas é difícil me matar, muito difícil, como podem ver.

– Então, foi o teu pai que salvou Jessy – diz doutor Isaac, emocionado – que mundo pequeno!

– Como assim?

– Ela tem o gene, Daniel. Aos seis meses estava à beira da morte. Foi a publicação dele, que salvou a tua noiva.

– E a min também – diz Bianca – aos oito meses fiquei doente. Um médico leu um artigo na internet e salvou a minha vida. Eu sei que o meu coração é diferente. O meu pai disse-me uma vez, só que não tenho tantas habilidades quanto Jessy ou Dan.

– O gene em ti deve ser menos intenso.

– Meu pai dizia que esse gene logo se tornará permanente na espécie humana. É a evolução do homo sapiens para o homo superior. Então, temos três representantes da nova espécie, embora ela só se torne dominante em mil ou mais anos. Espero que vocês me entendam. Eu não sou um monstro, nem mutante, nem porra nenhuma... sou apenas um rapaz de dezessete anos... com algumas capacidades a mais.

– Já notaste – diz Jéssica, séria – que a história da tua vida é muito parecida com a do Batman?

– Talvez, meu amor, e agora querem que eu seja o Batman...

― FIM DO LIVRO I I ―

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