Capítulo 11 - parte 5 (não revisado)
No Hospital Ipanema, Figueira está desamparado, pois seu fone não para de tocar. Há vários chamados envolvendo atos terroristas e descobre de cara que todos convergem para a Cybercomp. Vai dando instruções aos seus homens, que já solicitaram ajuda para três delegacias dos arredores. Sabe que a chave é o rapaz que trouxe para o hospital e não sai de perto. Doutor Pires aproxima-se dele, com o olhar muito triste:
– Delegado, o rapaz está morto, foram tiros demais. Ele deveria ter morrido instantaneamente.
– Não o tire da UTI – diz o policial, imperativo – eu não estou tão certo disso. Se visse o que vi, entenderia.
– Desculpe, delegado, ele morreu. A moça está em choque pelo tiro de raspão, mas sobreviverá.
Chang e os monges entram correndo. Ele para, olha as caras dos dois e pergunta:
– Onde ele está? Vamos, rápido!
– Como sabe dele. – Pergunta o delegado, desconfiado.
– Não interessa, onde ele está? – O médico tem a voz incisiva.
– Aqui, doutor. Mas os tiros mataram-no. Só não entendo como demorou tanto.
O cardiologista entra na UTI, seguido pelos Vermelhos que não saem de perto. Ao ver Daniel na maca e o monitor com os sinais vitais parados, baixa a cabeça, muito aflito.
– Meu Deus, levaram minha filha e agora o meu filho...
– Senhor – diz um dos Vermelhos – ele não está morto, o corpo não enrijeceu e está quente. Deve estar em transe de suspensão.
– Como não, homem – fala o médico, muito triste – olhe o monitor.
– "Ele tem razão, pai." – Daniela aparece novamente. – "Daniel suspendeu as funções vitais e só o senhor pode salvá-lo."
O delegado sempre desconfiado tinha-o seguido. Se ele estava impressionado com o que viu a rua, agora está arrepiado até aos ossos. Imediatamente o doutor Chang, volta para fora da sala.
– Ele está vivo. Chamem um helicóptero de transporte e um UTI para nos levar para a Cybercomp.
– Doutor – diz o diretor do hospital – temo que o senhor esteja emocionalmente afetado. Ele está morto!
– Não está. É um especialista em Ioga e parou as funções vitais para não morrer. Chamem os helicópteros, pois não há rigidez cadavérica nem queda de temperatura.
Dando conta disso, Pires corre a atender o pedido e, em poucos minutos, os helicópteros chegam e embarcam o casal, o médico e os Vermelhos. Durante o voo, Chang liga para a empresa, descobrindo que está tudo em polvorosa e Suzana quase colapsa quando ouve as noticias. Quando o aparelho pousa no hospital do complexo, Lee, Suzana, João e os pais da Jéssica, aguardam, cada qual mais nervoso que o outro. Chang e João saem correndo com a maca do Daniel para a sala de cirurgia, enquanto um enfermeiro leva Jéssica para a enfermagem.
– João – diz Chang, ofegante – o que vais ver aqui é do mais absoluto sigilo.
– Entendi, doutor, fique tranquilo. Mas como isto pode ter acontecido? – Questiona. – Ele é um Dragão Branco!
– Quando ele e Jéssica recuperarem-se, saberemos o que houve.
– Mas ele parece mais uma peneira de tanto buraco de bala. Ninguém sobreviveria a isto!
– Como disseste, João, é um Dragão Branco. Vamos, tem uma bala no coração e temos de a tirar.
– O senhor disse coração!
– Sim, jovem, coração. Se ele fosse normal, já estaria morto. Vamos que não há tempo a perder.
– Sem anestesista?
– Não é necessário. Vamos.
Quando doutor Chang inicia a cirurgia, João olha, apavorado.
– Doutor, isto não é um coração humano!
– É humano, mas um humano que só aparecerá nos próximos séculos. Vamos, ajuda-me, rapaz.
– Claro.
Após algumas horas de cirurgia, não só removem a bala do coração, como os demais projeteis do corpo. Daniel está pronto para outra, mas não sai do transe.
― ☼ ―
No hotel, o líder aguarda notícias dos seus comandos. Alguns grupos já deveriam ter retornado, mas ninguém aparece. No bar, aprecia uma bebida enquanto vê televisão. A notícia deixa-o petrificado. Imediatamente paga a conta e sai do hotel com destino ao aeroporto. Os contratantes não vão gostar nada das notícias, mas ficar ali é suicídio. Quando o avião pousa no seu destino, apenas um homem desce dele, o chefe. Este corre a falar com o patrão para informar que a missão fracassou da pior forma que eles possam imaginar: com cem por cento de perdas.
― ☼ ―
Paulo e Cláudia levantam-se cedo para irem à escola. Mais por hábito que outra coisa qualquer, ele liga a TV nas notícias.
"...rror em Porto Alegre. Esta noite, sem explicação alguma, vários atentados foram feitos em Ipanema. Todos fracassaram, deixando inúmeros cadáveres espalhados pelo bairro. Primeiro, a casa de um cientista americano foi invadida por vários homens armados. O doutor Isaac Silverstone e esposa dormiam tranquilamente quando os seguranças surpreenderam o grupo fortemente armado. Após o confronto, o cientista e a esposa fugiram junto com os seguranças. A polícia encontrou uma dúzia de invasores mortos, porém sem um único tiro no corpo. Todos morreram devido a pancadas fatais no coração. Depois foi a vez do doutor Nelson Chang, um renomado cardiologista, que teve a casa invadida. Novamente, a história repetiu-se e os seguranças tiraram-nos da casa, deixando apenas cadáveres armados até aos dentes. Também foi encontrada pela polícia, uma van com quatro homens mortos, todos portando armas pesadas. Junto, havia um carro, aparentemente escolta, com mais quatro mortos. Soubemos depois, que estes tentaram sequestrar a senhora Suzana Silveiro, que conseguiu escapar. O interessante é que todas estas pessoas são da Cybercomp, sendo a Silveiro vice-presidente da empresa. Por volta da meia noite, um casal ainda não identificado que vinha saindo do cinema foi cercado por mais de trinta homens armados. Segundo uma testemunha, moradora do local, o rapaz ao ver que não tinha escapatória, começou a inchar e "transformou-se" no demônio, começando a matá-los. Nesse meio tempo, eles atiraram contra a moça e ele meteu-se na frente, recebendo vários tiros. Mesmo ferido, teria morto todos os criminosos. O casal, em estado gravíssimo, foi para o hospital, levado pelo delegado da vigésima delegacia de polícia. Apesar do testemunho fortemente fantasioso, o fato é que havia quase quarenta cadáveres espalhados pela avenida. Por último, uma casa cujo dono desconhecemos, foi invadida por vários homens armados. O segurança e os cães também os mataram. Em uma noite, o Bairro Ipanema presenciou dezenas de mortes, todas elas de criminosos. Nossas equipes estão tentando descobrir quem é o casal em estado grave, mas o hospital não..."
– Meu Deus, Cláudia – diz Paulo com a voz a tremer – só pode ser Daniel!
– Liga para eles. – Pede, apavorada.
– Já liguei, ninguém atende.
– Liga para Suzi.
– Suzana, oi, vimos no jornal sobre os atentados... Oh, meu Deus, sim... Estamos indo para aí...
– É o Dan?
– Sim – Paulo está muito nervoso – levou muitos tiros, um deles no coração. Doutor Chang fez uma cirurgia de emergência. Ainda não sabem o que houve, mas só pode ser exatamente o que a testemunha disse. Ele meteu-se entre as armas e Jéssica, como no dardo. Vamos, amor, vamos para lá, nem que seja para dar apoio.
― ☼ ―
Quando está amanhecendo, Jéssica acorda repentinamente, dando um grito de horror.
– DANIELLLLL... – O berro é agudo, irreal e cai em um choro desesperado.
– Calma, filha – diz a mãe que passou, junto com o marido, a noite de vigília – está tudo bem agora. Você está no hospital.
– Não está nada bem, mãe – diz, chorando copiosamente – cadê Daniel. Eu não o sinto. Eles mataram-no não é? E a culpa foi minha.
– Não, Jéssica – Natália abraça a filha – ele não está morto. O doutor Chang e João já o operaram. Que tolice é essa de dizer que a culpa é sua?
– Mas é. Eles jamais o teriam pegado se eu tivesse feito o que ele disse. Mandou-me correr quando ele atacasse os bandidos, mas eu fiquei paralisada de terror. Eles queriam-me matar e começaram a atirar. Ele colocou-se na frente e levou todos os tiros por mim. Quando senti a dor dele, desmaiei, pois não estava preparada para algo tão forte.
– Pronto, filha. Não deve culpar-se.
– Onde ele está, quero vê-lo. Não sinto a mente dele. Oh, Deus. Ela grita novamente por ele e volta a chorar.
– Calma, filha, Daniel está no quarto ao lado. – Antes que a mãe diga algo mais, ela levanta-se anda em direção à porta. – Jéssica. Vá devagar que um dos tiros pegou você de raspão filha. Pode sofrer uma vertigem e...
Acontece exatamente isso. Mal dá três passos, cai no chão, tonta e os pais acodem-na.
– Levem-me até ele – pede, angustiada – preciso vê-lo.
Doutor Chang, João, Lee e Suzana aguardam no quarto, todos exaustos, mas sem vontade de saírem de perto. A porta abre-se e Jéssica entra, apoiada pelo pai. Avança para a cama o mais rápido que pode, agarra-lhe a mão e começa a chorar.
– Ele está morto não é? – Jéssica chora muito. – E tudo por minha culpa.
– Não está morto, filha – diz doutor Chang – apenas parece morto. Ele suspendeu as funções vitais quando viu que ia morrer. Assim, teve tempo de ser salvo. Qualquer outro teria morrido.
– Mas por que ele ainda está assim?
– Não sabemos como tirá-lo do transe.
– Tu podes, Jéssica – diz Suzana, calma – usa a tua mente para chamá-lo. O teu amor por ele vai alcançá-lo, acredita em mim que já fiz isso.
Ela concentra-se na mente dele, mas esta está muda. Mergulha mais fundo, cada vez mais intensamente. Todos observam a moça e notam o esforço hercúleo. Ela treme e sua, apesar de estar fresco.
No ponto máximo de tensão, o monitor cardíaco começa a bipar. De início fraco e irregular para ir se firmando lentamente. Jéssica levanta a cabeça e diz:
– Está dormindo. – Mal termina, cai inanimada, devido ao esforço.
– Conseguiu. – Diz Chang, aliviado. Pega em uma maca e deita-a ao lado do Daniel.
– Assim, o corpo regenera-se rapidamente. – Diz Lee. – Ele não acordará em menos de seis horas. Precisará de se alimentar e voltar a dormir. Em um dia, estará novo.
– Um dia? – Pergunta o doutor Isaac, incrédulo.
– Exatamente, apenas um dia.
― ☼ ―
Paulo e Cláudia entram na Cybercomp. Na portaria, cinco Vermelhos fazem guarda. Como ele é conhecido, deixam-nos passar. Enquanto andam pelas ruas, notam guardas por todo o lado. Os principais prédios estão cercados por meia dúzia de vermelhos. No hospital há uma vintena deles, parados de forma ameaçadora. Eles conseguem entrar e correm para o quarto indicado, abrindo a porta e vendo o amigo na cama.
– Como está ele?
– Agora está fora de perigo – responde Lee – só não sei o que pode ter acontecido para ele levar tantos tiros.
– Jéssica contou-nos – diz Isaac – ao ver que a única salvação era lutar, mandou Jessy correr assim que começasse a atacar. Ela ficou paralisada de susto. Quando eles atiraram, meteu-se na frente e levou todos os tiros. Não há dúvida que é um grande herói. Mesmo mortalmente ferido, deu cabo de todos os criminosos, segundo o delegado Figueira que os socorreu.
– É mesmo o super-Dan. – Diz Cláudia sorrindo, porém com lágrimas no olhos. – Que bom que está fora de perigo. Estávamos muito preocupados.
– Gente, eu preciso de dormir um pouco. Chamem-me se ele acordar – pede Chang.
– Vão descansar, todos vós. – Diz Paulo. – Aposto que nenhum de vocês dormiu. Nós ficamos aqui e avisamos.
Umas horas depois Jéssica acorda, chorando. Cláudia abraça-a.
– Calma, Jessy, já passou. Agora ele apenas dorme.
– Meu Deus, foi horrível. Nunca tive tanto medo na vida. Oh, meu Dan – olha para ele e volta a chorar – foi tudo culpa minha. Eu devia ter feito o que ele disse, mas o ódio e a maldade que emanava das mentes deles mais o perigo iminente, paralisou-me completamente.
– Tudo bem, Jéssica, ele sabe disso e jamais vai-te culpar, pois não tens culpa de nada.
– Estou com fome.
– Claudinha, leva-a ao restaurante. Eu fico aqui e telefono se ele acordar.
– Não, eu quero ficar aqui.
– Jéssica, passaste por um choque muito forte e precisas te alimentar para recuperar as forças. Vai com Cláudia que aviso imediatamente se ele acordar. A lanchonete fica no primeiro andar.
– Paulinho, eu não trouxe dinheiro – diz a noiva – tens algum aí?
– Não precisa – comenta Jéssica – aqui é tudo grátis para qualquer um.
– Então vamos.
Elas comem algo rapidamente. Jéssica está melhor, mas ainda tem o semblante muito carregado de preocupação. Quando sobem de volta, encontram-se no elevador com Bianca e Manoel. Ele, ao saber da notícia, tinha ido buscá-la para irem juntos visitar Daniel. Bianca abraça Jéssica.
– Que coisa horrível. Tantos atentados ao mesmo tempo. Tantas mortes. Ainda bem que foram só os bandidos.
– Não te esqueças de evitar esse tipo de comentário quando Dan acordar. Ele odeia ferir alguém e acabou de matar uma porrada de gente. – Diz Cláudia.
– É verdade.
Entram no quarto. Paulo está sentado, pensando, e Daniel continua dormindo. Como que pressentindo a presença da Jéssica, ele desperta, abrindo os olhos e olhando para o teto. Ela corre de encontro a si e, com cuidado, sobe na cama, beijando-o. Ele vira o rosto para ela e nem se dá conta da presença dos outros. Olha para os olhos verde-brilhantes que tanto ama e sorri.
– Eu te amo, Jessy. Pensei que te tinham morto.
– Eu te amo, Dan, meu herói. – Ela beija-o docemente. Um pigarro traz a Jéssica de volta para a realidade. Daniel levanta ligeiramente a cabeça e vê os amigos. Jéssica, com cuidado, aperta o botão para erguer a cama.
– Ei, meu irmãozinho. – Diz Paulo, jovial. – Parece que não te queriam no festerê. Dizem que tentaram transformar-te numa peneira. O bom delegado falou que tu estavas virado num queijo suíço de tanto buraco. É bom ver que escapaste dessa encrenca. Segundo o doutor Chang, qualquer outra pessoa teria morrido.
– Mas parece que o nosso Dan é realmente o super-Dan. – Diz a Cláudia, piscando o olho. Ele sorri timidamente.
Batem à porta e entra o delegado Figueira. Ele está sério, com ar preocupado.
– Vejo que está acordado, Daniel – diz este, a título de cumprimento – e fico satisfeito que tenha escapado. Nós precisamos de conversar em particular.
– Olá, delegado. Pode falar. Todos aqui são da minha mais alta confiança. Não tenho nada para esconder e sou famoso por jamais mentir.
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