Capítulo 11 - parte 1 (não revisado)

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas."

Sun Tzu.

A manhã chega fria, mas nenhum dos dois importa-se com isso e sentem que as coisas, aparentemente, voltaram à normalidade. Juntos, de mãos dadas ou abraçados, chegam ao pátio da escola.

Encontram Paulo e Cláudia, que nota de cara o anel de noivado da amiga. Ambas começam a conversar e a ver o mesmo. A Bianca chega logo depois e junta-se às duas. Daniel nota um semblante de tristeza no Paulo, coisa demasiado rara nele, pelo que o amigo preocupa-se. Puxa-o de lado e pergunta o que se passa.

A manhã chega fria, mas nenhum dos dois importa-se com isso. As coisas, aparentemente, voltaram à normalidade. Juntos, de mãos dadas ou abraçados, chegam ao pátio da escola.

Encontram o Paulo e a Cláudia, que nota de cara o anel de noivado que a amiga ganhou. Ambas começam a conversar e a ver o anel. A Bianca chega logo depois e junta-se às duas. O Daniel nota um semblante de tristeza no Paulo, coisa demasiado rara nele, pelo que o amigo se preocupa. Puxa-o de lado e pergunta-lhe o que se passa.

– Nada, irmãozinho, nada. Só que o que eu mais gostava de fazer é exatamente isso que tu fizeste. Gostaria muito de poder dar um anel de noivado para ela e irmos viver juntos. Infelizmente, isso só será possível quando eu me formar e puder arrumar um emprego decente.

Daniel fica observando Paulo por quase um minuto inteiro antes de afirmar:

– E se eu disser que podes fazer isso hoje?

– Como, cara? – Pergunta Paulo. – Eu não quero ser sustentado por ninguém e quero estudar. Quero ser alguém na vida.

– Paulo, no dia em que vocês começaram a namorar, eu abri uma conta bancária com uma quantia razoável que seria o meu presente de casamento. Nada mais justo que usar esse dinheiro para vocês viverem juntos. A casa, eu tenho para emprestar. E o anel, tu tens dinheiro mais do que suficiente para comprá-lo.

– Mas bah, cara – Paulo dá um abraço no amigo – nem sei o que dizer.

– Então não digas nada. Nem contes para Cláudia. Faz-lhe uma surpresa.

– Mas de quanto dinheiro tu falas?

– Eu depositei cinco milhões para cada um, mas depois destes meses todos rendendo, deve ter uns quinhentos mil a mais.

– Meu Deus, Dan! Dez milhões é muita grana.

– Olha, cara, esse dinheiro não me faz falta alguma. Sei que vocês vão saber usá-lo corretamente. Se tu apenas utilizares os juros, poderão viver muito bem sem perder o vosso patrimônio e podem estudar sem precisarem de trabalhar. Depois que se formarem, poderão usar o dinheiro para comprar uma bela casa e ainda vai sobrar muito. Esse é o meu presente de casamento, meu e da Daniela que, na época, teve a ideia. Vais encarar?

– Claro, Dan, não imaginas o quanto eu amo Cláudia.

– Então eu não sei? – Pergunta Daniel, rindo bastante – olha, já disse para Jessy distrair a Cláudia depois da aula. Nós damos um pulo ao banco para assinares os papeis que faltam e pegares o cartão. Depois, vamos ao shopping ver o anel dela.

– Como assim falaste com Jessy? Ela nem se aproximou de nós?

– E precisa? – Daniel dá nova risada.

– Ela também é igual à Dani? – Paulo está espantado – bah!

– Não. Ela é muito mais potente que a Dani. Daniela não era telepata. Ela não era capaz de ler a tua mente, como eu e Jessy podemos. Isso aumentou muito nossa ligação. Chega a ser assustador. Acho que, no caso da Dani, era uma empatia muito espiritual.

– Vocês não ficam por aí a ler pensamentos, não é?

– Claro que não! Por quê, pensaste bobagens com Jessy? – O Daniel finge que fica sério.

– Porra, mano, é difícil não pensar besteira, mas tu és meu irmãozinho e eu amo a Cláudia. Foi só bobaginha.

– Ora, Paulo, jamais usamos a nossa telepatia. – Dan dá uma risada. – Mas se Cláudia ouve isso, vai render-te uns belos beliscões.

Paulo dá uma tremenda risada. Está felicíssimo, agora que pode fazer aquilo com que tanto sonha: viver com a sua gatinha. Fica tão excitado que tem dificuldade em se concentrar na aula e Cláudia estranha, perguntando se está tudo bem. Ele, para não estragar a surpresa, fica quieto, tentando prestar atenção aos professores.

― ☼ ―

– O que Daniel queria com Paulo de tão importante? – Pergunta a Cláudia, um tanto quanto contrariada. – Íamos almoçar juntos!

– Eles não devem demorar muito. Tem a ver com alguns documentos que ele precisa de assinar. Deve ser por causa do carro que Daniel lhe deu de aniversário. – Responde Jéssica, tentando não mentir.

Meia hora depois, o par aparece. Elas estão no bar da piscina, esperando junto com a Bianca que se tinha juntado a eles. Paulo está vermelho, meio nervoso.

– Tudo bem, amor? – Pergunta Cláudia, apreensiva.

– S... sim, b... bem s... s... sabes...

– Que diabo tu tens? Estás nervoso, que bicho te mordeu? Aconteceu algo ruim?

– Não, amor – ele respira fundo e toma coragem – Cláudia, sabes que te amo muito e quero viver o resto da minha vida contigo. Então, a minha pergunta é – tira a caixa com o anel de noivado e estende – q... q... q... queres casar comigo?

Quando ela abre a caixa, enquanto ouve o que ele diz, fica muda. Dentro tem o anel de diamantes mais bonito que já viu. Com lágrimas nos olhos, abraça o namorado e diz:

– Claro que quero, sempre quis.

Daniel, Jessy e Bianca, junto com mais algumas poucas pessoas que ali estão, começaram a aplaudir.

– Vamos – diz o jovem Moreira – o almoço é por minha conta. Quem se anima?

No caminho, Cláudia conversa baixinho com Paulo:

– Mas não tínhamos combinado esperar para nos formarmos e termos a nossa independência financeira, amor? O que te deu na cabeça para fazeres isso? E de onde tiraste tanto dinheiro para comprar este anel? – Os olhos brilham ao ver o mesmo no dedo.

– Nós já temos independência financeira. E se tu quiseres viver comigo, Daniel empresta uma das casas dele. – responde, contando sobre o presente de casamento.

Emocionada, abraça Daniel e agradece a supreza inesperada.

– Será que eu vou ganhar um presente assim? – Pergunta Bianca, rindo.

– Ora, eu faço melhor que isso, dou alforria pro Fonseca. – Todos riem. – "Se ela sonhasse a fortuna que o namorado tem, arrepiava-se." – Pensa Daniel e Jéssica dá uma gargalhada.

― ☼ ―

À noite, Paulo aproxima-se dos pais.

– Pai, mãe, eu decidi que vou-me casar com Cláudia.

– Bem, filho, essa é uma decisão tua e ela é uma excelente moça. Mas, pessoalmente, acho melhor vocês esperarem um pouco até terem independência financeira. Afinal, não penses que vou sustentar vocês os dois.

– Assim pensávamos eu e ela, mas hoje já tenho independência financeira. Daniel e a noiva dele que morreu, lembras-te? Deram-nos como presente de casamento, se eu me casasse com ela, uma boa quantia em dinheiro.

– Bem sei que ele é rico. Afinal deu-te um Mustang de presente, mas o que tu chamas de uma boa quantia? Cem mil? Isso iria te sustentar por um ano, não mais que isso!

– Pai, eles abriram uma conta em meu nome, com cinco milhões para cada um de nós. Temos dez milhões de Créditos que estão há meses rendendo juros. Hoje retirei uma pequena quantia para comprar um anel de noivado para ela. Só com os juros do banco, podemos viver tranquilamente até nos formarmos. Vocês sabem o quanto nos gostamos e quero fazer isso. Ela já aceitou e vamos falar com os pais dela. Eu queria saber se posso ter o vosso apoio.

– Filho – diz a mãe. – Sempre foste um rapaz maravilhoso e nunca nos deste trabalho. És um bom aluno na escola e Cláudia é uma moça perfeita, educada e inteligente. Eu tenho a certeza de que é a nora que pedi a Deus. Por mim, considerando a mudança da situação, acho que deves sim, levar o teu plano adiante. Mas, antes de casarem, talvez devam apenas experimentar viverem juntos. Façam um noivado. Depois de um tempo, repensem a situação, pois ainda são muito novos.

– Concordo com tua mãe, Paulinho. Agora, satisfaz uma curiosidade. Qual é o tamanho do patrimônio do Daniel para ele simplesmente depositar dez milhões em uma conta no vosso nome assim tão facilmente quanto eu te dou mil créditos da tua mesada?

– Pai, um dia ele encontrou uma favela de gente que era miserável... – Conta toda a história da favela... – Eu estava lá, vi isso acontecer. Ele deve ter gasto mais de cem milhões de créditos com eles, muito mais. Podes ter uma ideia da extensão do poder dele?

– Nossa senhora – diz a mãe do Paulo – eu sempre gostei do rapaz, mas jamais imaginei que tivesse tanto poder assim. Deve ter muitos bilhões e como é bondoso.

– Ele é o dono da Cybercomp, mãe, mas isso é segredo.

– O QUÊ? – pergunta o pai que é economista e sabe muito bem o valor daquela empresa, a maior companhia de capital fechado do planeta. – Mas essa companhia tem um capital social gigantesco. Possui centenas de empresas espalhadas pelo mundo. Hoje, o patrimônio dela, deve ser muito maior que o capital social!

– Pois é. Esse é o meu amigo Daniel.

– Não há dúvida que sabes arrumar amigos, hein filho?

– Caramba, pai, falas como se eu estivesse interessado no dinheiro dele.

– Desculpa, não era isso que eu queria dizer, mas é bom ter amigos influentes. Só não entendo como uma criança pode ter tanto poder e não se corromper.

– Ele foi educado desde pequenino. É um super gênio e sabe mais física e matemática que os professores da escola. Começou a montar a empresa dele aos treze anos.

– Mas por que diabos ele ainda está na escola?

– Segundo Dan, deseja aprender a viver com pessoas normais da idade dele. Não deseja ser desajustado.

– Muito ajuizado da parte dele.

– Bem, eu vou à casa da Cláudia falar com os pais dela. Adeus.

Cláudia já tinha conversado com a mãe. Apesar do relacionamento aberto que tem com os pais, acha prudente deixá-los preparados. Explicou tudo e pediu para a mãe conversar com o pai de modo a saber a reação deste. A mãe dela, que gosta muito do Paulo e sabe perfeitamente que eles já dormem juntos quando podem, não é contra. Considerando os fatos, ela acha que será até bastante construtivo, mas sugere que, antes de se casarem, façam um período de experiência. Casualmente, usa os mesmos argumentos da mãe do Paulo.

Quando este chega, os pais dela estão na sala, vendo televisão e Paulo está nervosíssimo. Ele, para variar e gaguejando bastante, fala-lhes:

– S... s... senhor, eu... eu... bem, eu... não é isso.

– Xi, rapaz, que bicho te mordeu? Respira fundo e acalma-te... Pronto, agora podes falar.

– Senhor, eu vim aqui pedir a mão da sua filha.

– Caramba, meu rapaz, faz tempo que tens bem mais do que a mão dela. – O pai, que é um excelente psicologo, diverte-se a valer.

– O senhor está complicando a minha vida – diz Paulo, com um sorriso tímido – o que eu quero dizer é que desejamos noivar e também queremos viver juntos. Temos condições financeiras para isso, sem dependermos dos nossos pais.

– Muito bem, isso é louvável, mas vocês são muito jovens ainda. Não acham que colocam em risco o vosso futuro? Quero dizer, em breve largariam os estudos por causa do trabalho e por aí afora. Ou por acaso ela está grávida?

– Senhor, ela não está grávida e não temos a menor intenção de abandonar os estudos. Nós queremos fazer a faculdade, curiosamente a mesma faculdade. Temos muitas coisas em comum e não precisaremos de trabalhar. Podemos viver, e bem, só com os juros do patrimônio que possuímos, o qual metade é da Cláudia. O senhor dá-nos o seu aval?

– Ora, Paulo, estamos às portas do seculo XXII. Qualquer outro casal da vossa idade ia comunicar e sair porta fora.

– Mas nós não temos intenção de romper o relacionamento com os nossos pais. Essa seria a pior forma de começar uma nova vida, senhor.

– Meu filho, essa é a resposta que eu queria ouvir e podem contar com o nosso apoio. Na verdade, eu já estava a par, pois Cláudia falou com a mãe que veio conversar comigo. Então, quando querem se mudar? E a festa de noivado?

– Bem, ainda não resolvemos o problema da casa, mas será esta semana. Depois, temos de a mobiliar. Acho que em duas ou três semanas.

– Ok. Temos que fazer uma festa de noivado. Que tal este fim de semana. Sábado? Traz os teus pais pois já é hora de nos conhecermos. E alguns amigos mais íntimos.

– Será ótimo, senhor.

― ☼ ―

– "Como será que Paulo está-se saindo com os pais e os sogros?" – Pergunta Jéssica.

– "Da tua parte não tiveram um grande exemplo" – responde o namorado, rindo – "mas acho que ele deve ter gaguejado muito. Paulo é inteligente e sabe arguir. Vai se virar, e os pais dela gostam muito dele."

– "Já escolheste a casa para eles?"

– "Já, fica aqui perto. É pequena, três quartos, mas tem um jardim enorme e uma bela piscina. Ela foi desocupada há pouco tempo. O inquilino faleceu, infelizmente, pois era um velhinho muito simpático. Fica à beira do rio, como a nossa casa e eles vão amar. Amanhã, vais me ajudar a escolher um carro para a Cláudia. O aniversário dela é em duas semanas, e eles deverão ter um carro menos chamativo que o Mustang."

– "Claro, amor. Vai ser legal."

– "Vamos fazer isso amanhã e, depois de amanhã, levamo-los a conhecer a casa."

– "Como conseguiste resolver a papelada no banco, tão fácil e rapidamente?"

– "Simples, o banco tem uma turma só para me atender a mim e algumas pessoas da minha equipe. Paulo agora é da elite. Ficou de olhos esbugalhados quando viu o limite do cartão de crédito."

– "Tens a certeza que ele não vai perder o controle?"

– "Absoluta. Já o conheço há três anos. Ele é como um irmão que nunca tive."

– "Eu sempre quis ter irmãos, mas o meu pai, por algum motivo que não sei, nunca quis outro filho. Talvez tenha ficado assustado por eu ser diferente."

– "O mesmo ocorreu comigo, mas nunca tive coragem de ver nos pensamentos dele."

– "Nem eu. Estou tão feliz por eles e por nós também. Nunca tive amigos assim, embora sempre tivesse amigos. A maior parte deles estava mais interessada em me comer. Não gosto de ser considerada um objeto sexual."

– "Engraçado, eu e a Suzana conversamos sobre isso uma vez. Ela sofreu o mesmo problema. Tanto, que quando o teu pai não demonstrou a reação normal das pessoas que a veem, veio me perguntar se havia algum problema com ele?"

– "E o que disseste?" – Ela ri.

– "Que ele estava acostumado a ver mulheres lindas e que a mulher dele, apesar da diferença de idade em relação à Suzana, não lhe devia nada em beleza."

– "Ela ficou chateada?"

– "Não, ficou alegre por isso. Devias ver o que aconteceu naquele dia da reunião. Olha na minha mente."

Jéssica acompanha o diálogo da memória dele e vê a cara da Suzana quando notou que foi descoberta, rindo muito de tudo.

– "Então o meu pai chamou-te de safado! Como não te deste conta que eu era a filha dele?"

– "Simples, eu estava obcecado por ti, pelo que estava rolando. Fiquei completamente cego, meu amor. Ainda estava digerindo o fato de ter me apaixonado por uma garota de um sonho e dela ter surgido na minha frente na escola. Era como se eu te tivesse criado da minha imaginação e tu tivesses aparecido de repente. Acho que foi a primeira vez que perdi a compostura e fiquei gago igual ao Paulo. O senhor José até perguntou se eu estava bem."

– "Daniel, tu és a coisa mais maravilhosa que me aconteceu em toda a vida." – Beija-o, cheia de amor.

You too, Jéssica. I loved you since the first time I met you at the class. No, before the class, since when you appeared in front of me, in my dreams... There is no words to explain that. (Tu também, Jéssica. Eu te amei desde a primeira vez que te vi na sala de aula. Não, antes disso, desde quando tu apareceste à minha frente nos meus sonhos... Não há palavras para explicar.)

De manhã, vão para a escola. Paulo e Cláudia estão lá abraçados um no outro, como se tivessem começado a namorar novamente. Os olhos dela brilham e, no dedo, tem o anel que ele lhe deu. Sorriem para o casal de amigos que também anda no mesmo estado de espírito.

– Vejo que deu tudo certo. – Diz Daniel.

– Sim, irmãozinho, jamais esquecerei esse presente. Nem sei como agradecer.

– Que é isso, cara, nem penses nisso. Em dois dias a vossa casa estará pronta para visitas. Fica perto da minha e tem um pátio bacana. Vai ter espaço de sobra para a Francisca. Só não é tão grande quanto a minha.

– Cara, eu por mim morava até num barraco, desde que estivesse junto com ela.

– Menos, meu caro, menos.

– O pai da Cláudia quer fazer uma festa de noivado no sábado. Quero que vocês sejam os nossos convidados especiais.

– Combina com ele para fazer na minha casa que tem espaço de sobra.

– Isso, Daniel – diz Jéssica – podemos fazer um noivado duplo.

– Boa ideia – continua Cláudia – o que achas amor?

– Acho muito tri.

– Então tá combinado – diz Daniel. – Será sábado. Vou falar com os pais da Jéssica. Vejam a vossa lista de convidados que deve ser quase a mesma que a nossa.

Depois da aula, Daniel e Jéssica, vão às compras e ajeita a caso dos amigos, terminando tarde da noite. Alegres, vão para casa.

– Quero ver a cara deles, amanhã.

No dia seguinte, após as aulas, Daniel e Jéssica levam os noivos para conheceram a nova casa.

– Nossa, Daniel – comenta Cláudia – a casa é linda!

O jovem entrega as chaves.

– Entrem, vamos conhecê-la.

– Mas ela ainda está com as mobílias do inquilino! – Diz Cláudia. – Por sinal são lindíssimas. O sujeito tem muito bom gosto.

– Não. – Diz a amiga, sorridente.

– Não? – Pergunta Cláudia.

– Bem, a conta no banco era um presente meu e da Daniela. Este é o presente que a Jéssica escolheu para vocês. A casa está pronta. Tudo o que está aqui é vosso.

– Mas bah, tchê, não merecemos tanto! – Diz Cláudia abraçando os dois. – Obrigada.

– Se eu não posso fazer isso com os amigos, não teria lógica em ter esse poder.

– Viram a garagem? – Interrompe Jéssica, inocente. – Não parece grande.

– De fora é grande. Deve caber dois Mustangs dentro. – Comenta Paulo.

– Acredito que não. Parece caber apenas um.

– Acho que estás enganada – diz Paulo sem se dar conta – devem caber até três carros.

Abrindo a porta, vêm um belo Audi estacionado.

– Feliz aniversário adiantado, Cláudia. – Diz Daniel. – Vocês precisavam de um carro mais discreto que o Mustang.

– Meu Deus, Daniel!

– Bem, em breve vais tirar habilitação. Aí está. A vossa vida vai começar em grande estilo. Aproveitem bem e não desperdicem. Eu amo muito vocês os dois e quero que dê tudo certo.

– Valeu, irmãozinho, és um amigo muito especial, um verdadeiro irmão que eu não tive.

– Tu também, Paulo, sempre quis ter um irmão. Bem índio velho, vou para a Cybercomp com Jessy falar com os pais dela. Em quatro dias, estaremos formalmente comprometidos. A propósito, mandei uma equipe da TI vir aqui instalar um terminal dos nossos sistemas e automatizar a casa. Ela terá os mesmos dispositivos de segurança da minha, mas vocês só podem vir para cá no sábado. Melhor assim, pois será o vosso noivado... e nosso. Adeus.

– Adeus, super-Dan – diz Cláudia, feliz – obrigada por seres nosso amigo.

O casal volta para casa, troca de roupa e pega a Lamborghini, indo para a Cybercomp.

– "Vais ficar gago, super-Dan?"

– "Não, amor. Não fiquei da primeira vez e não será desta."

– "Dan, ela insiste nessa história do super-Dan. Qual é a moral?"

– "Lembras o menino da favela que eu salvei? Estávamos no carro do Paulo, graças a Deus com a capota abaixada. Eu tive um pressentimento e gritei para ele frear. Quando ele parou, dei um salto de cerca de oito metros e peguei a criança no colo, dando outro salto enorme logo a seguir. Depois, virei o carro capotado para tentar salvar os ocupantes dele. Ela viu. E viu-me dar outro salto gigantesco no dia em que Daniela teve um colapso por causa do tumor que se formava na cabeça dela. Felizmente respeitou a minha privacidade, mas jurou que ia me provocar até eu contar porque sou assim."

– "Mas tu escondes muito bem porque és assim. Nem eu consigo penetrar a tua mente onde não queres."

– "É só por enquanto..."

Quando chegam, Jéssica beija os pais, que não vê há dois dias, e Daniel fala com eles sobre o noivado duplo. Depois procura o mestre Lee, pois ele será o seu "pai".

– Pequeno dragão – diz Lee com o termo carinhoso que usa com ele desde criança – temo que tenhamos problemas em breve. Tanaka anda bem ativo. Acha que, em breve, sofreremos uma ação.

– Mestre, quem pode contra mais de noventa Dragões Vermelhos? Mantenha-se calmo.

– Estou calmo, filho, mas um general jamais subestima o inimigo. Não se preocupe. No sábado estarei lá e levarei alguns Dragões para conhecerem como é uma festa gaúcha, que é muito bela.

– Ok, informe o número até sexta.

No sábado, a casa do Daniel parece um salão de festas. No pátio fazem um palco próximo à piscina. São montadas mesas de campanha para os convidados e ele contratou o CTG que Paulo frequenta para animar a festa. A equipe deste providencia tudo e a governanta da casa cuida dos detalhes. Paulo, a Cláudia e os respectivos pais, são os primeiros a chegar. Cumprimentam-se e conversam por um tempo. Os casais de noivos retiram-se para dentro de casa, de modo a se prepararem. Os convidados começam a chegar e vão-se conhecendo. Como era muito antigamente, há a presença de um mestre de cerimônias que recebe os convidados e anuncia em voz alta os que chegam, um hábito que voltou nestes tempos modernos.

Paulo escolhe uma roupa tradicionalista, que é de cerimônia do seu CTG e Cláudia usa um vestido de prenda, pois frequenta o centro junto com o noivo. Já Daniel opta por uma roupa cerimonial chinesa dos Grandes Dragões e Jéssica escolhe um vestido todo branco, longo, que lhe acentua a beleza do corpo e do rosto, deixando Daniel a babar, ao vê-la vestindo-se. No pátio, toca música ao vivo, músicas tradicionalistas Gaúchas. Vários empregados, contratados para a festa, preparam um churrasco de fogo de chão e um bar, no salão de festas, atende os convidados.

Os dois casais de noivos aparecem juntos e o falatório para, substituído por uma grande salva de palmas. Os dez Dragões levantam-se como que movidos a um só comando e viram-se para o Daniel e a noiva, fazendo uma vênia longa e respeitosa. A música começa a tocar mais forte e o show nativista atrai a atenção de todos, enquanto são servidos de aperitivos. Os Chineses acham linda a dança gauchesca. O palco de madeira, com o sapateado dos dançarinos em uníssono, faz um barulho imponente. Quando veem a dança do facão, ficam deslumbrados. Na hora da chula, a banda para de tocar e o cantor pede a atenção de todos.

– Senhores e senhoras, vamos fazer a dança da chula. Para quem não conhece, é uma espécie de competição de sapateado, originária de Portugal, mas que se tornou uma das nossas mais belas e tradicionais danças Gaúchas. Quero chamar o noivo para o desafio, se Claudinha não se importar de nos emprestar Paulinho por uns minutos, pois jamais se viu dançarino melhor nesta cidade.

Este levanta-se da mesa, sorrindo, pois adora a chula e sabe que ninguém o bate. A chula consiste em sapatear em volta de uma lança o mais próximo dela, sem no entanto a tocar, ao som de um fandango. É um verdadeiro bailado de habilidade e masculinidade.

Ele sobe ao palco, acompanhado de mais três dançarinos. O ritmo do fandango começa lento. O primeiro deles começa a sapatear e aproxima-se da lança, sapateando em volta dela, sem a tocar e o ritmo vai aumentando lentamente. Paulo é o terceiro e o ritmo já está mais rápido. O ciclo reinicia e, na terceira rodada, só fica Paulo, que é tão rápido com os pés que parece estar no ar. Dá um show lindo e aplaudem-no entusiasticamente. Alguém tira a lança e dá-lhe as Boleadeiras.

– Ei, gente, é o meu noivado. Só mais esta, ok?

Ele inicia o sapateado e até os Grandes Dragões ficam impressionados com a precisão, beleza e periculosidade dessa arma. Ao terminar, é novamente aplaudido. Paulo faz um sinal para os amigos que começam a tocar uma música lenta e puxa a noiva para a pista de dança. Lentamente, mais pessoas juntam-se ao casal.

No meio da festa, recebe uma ligação. Discretamente, chama a Suzana e Daniel.

– Tanaka acabou de ligar. – Diz, preocupado. – A Megadrug vai agir em breve e ele crê que é na semana que vem. Já enviou todos os dados pela rede. Parece que envolveram muita gente em uma operação grande. Devem estar desesperados.

– Ok, não vamos assustar ninguém hoje que temos tempo, mas reforce a proteção com Dragões, especialmente no doutor Chang, doutor Isaac e as esposas. Mantenha um vigia na minha casa, para o caso de eu sair e Jessy ficar sozinha, mas creio que ela não corre perigo. Suzana, quando não estiveres com João, também deverás andar com um deles. Não me conhecem, mas tu és bem conhecida.

– Ok, Dan.

– Combinado, vamos esquecer isto por hoje. Segunda-feira, depois da escola, vou para lá e reunimo-nos.

– Certo, filho.

A festa continua bem alegre. Quase ninguém notou aquela reunião falada em mandarim, para garantir o segredo.

O pai do Paulo, aproveita para conversar com Suzana, pois sabe que ela é a vice-presidente.

– Vocês nunca pensaram em abrir o capital? No mundo inteiro, não existe nenhuma empresa do porte da vossa, com capital fechado!

– Há vantagens em ter o capital fechado – responde ela – o controle acionário da empresa é total e inviolável.

– Eu diria que essa é uma visão ultrapassada, Suzana, com o devido respeito.

– Nós desenvolvemos alta tecnologia e fazemos muita filantropia. Não desejamos que certos planos que temos sejam tornados públicos. Veja o projeto do coração biônico, por exemplo. Já imaginou as dificuldades de levar avante tal empreendimento se fossemos uma SA?

– Vocês devem ter uma equipe fenomenal para fazer esses projetos.

– Temos uma equipe ótima, mas esse projeto é criação do presidente.

– Meu Deus, quando Paulo me disse que Daniel era um gênio, não imaginei que fosse tanto assim.

– Pode acreditar nisso, pois a Cybercomp é o que é graças a ele. Eu sou apenas a administradora financeira.

– Notei, na bolsa de valores, que vocês andam adquirindo empresas de reciclagem de lixo atômico por todo o planeta. Estão planejando algo?

– Sempre estamos, senhor – diz Daniel pelas costas dele, vindo acudir Suzana – eu preocupo-me com os problemas do lixo nuclear. Além disso, sempre procuro formas de ganhar mais dinheiro de modo a sustentar a minha filantropia. Venha, quero lhe apresentar alguém.

Leva-o até ao senhor Otello.

– Senhor Otello – diz Daniel, gentilmente – este é o pai do Paulo, o senhor Aragão.

– É um prazer conhecê-lo, senhor – diz o ex-cego – a sua noiva está linda, Daniel. Espero que sejam muito felizes.

Após uma troca de palavras gentis, Daniel leva o pai do Paulo de lado.

– Ele era cego, completamente cego. Não tinha olhos; apenas duas órbitas vazias. Aquilo que o senhor viu são dois olhos biônicos e agora ele vê. Foi o primeiro caso. Ainda não estamos em condições de produzir olhos biônicos em série, mas será a nossa segunda fase. Gastei mais de duzentos milhões nesse projeto. Hoje, cada olho daqueles custa-me dois milhões para fazer. O senhor acredita que seria possível fazer isso se eu fosse uma empresa de capital aberto?

– Desculpe, Daniel – diz Aragão, engolindo em seco – eu subestimei o vosso poder, apesar de conhecer o tamanho.

– O senhor especula na bolsa, não é?

– De fato.

– Então prepare-se. Fique de olho nas ações da Megafarma. Em breve, elas cairão muito, mas, depois, voltarão a subir.

– Como sabe?

– Um grande escândalo fará a empresa perder noventa por cento do valor. Em um ano, voltará ao normal, talvez até melhor. – Diz Daniel, sem dar explicações. – Fique de olho e aproveite a oportunidade quando ela surgir. Será em poucos meses.

– Ficarei de olho rapaz, obrigado pela dica e também pelo que fez pelo Paulo e Cláudia.

– Eu teria dado cem vezes mais para eles, senhor. Apenas fiquei com medo que isso pudesse trazer resultados negativos, pois não estão preparados para tamanha fortuna. Mas o que lhes dei é mais do que o suficiente para terem uma vida agradável e poderem se formar tendo tudo o que gostam.

– Queres dizer, Daniel, que poderias ter dado para eles um bilhão de Créditos Sul Americanos, assim na maior? – Pergunta o pai, rindo.

– Sim, poderia. Por eles, eu faria.

– Fico contente que o meu filho tenha amigos tão bons.

– E eu fico contente de ele ser meu amigo, amigo verdadeiro, senhor. São poucos no mundo. E eles eram meus amigos muito antes de saberem quem eu sou.

– É, eu sei, jovem.

A festa termina tarde. Quando todos se vão, Daniel olha para a noiva, feliz.

– "Missão cumprida, princesa."

– "Meu amor. Estas tão lindo nessa roupa cerimonial."

– "E tu, com esse vestido! Deixaste meio mundo com a cabeça andando à roda. Especialmente eu."

– "É, e a outra metade ficou com a cabeça andando à roda pela Suzana." – Pensa ela, rindo em resposta. Ele pega nela ao colo e pergunta:

Are you tired? (estás cansada?)

– "Claro que não, amor. Por quê?"

Sem dizer ou pensar em nada, atira-a para o meio da piscina, e mergulha atrás.

– Ai, safado – diz ela, sem saber se fica zangada ou curte – por que fizeste isso? A água está gelada!

– Ora, amor, queria saber se o vestido fica transparente dentro de água – responde ele, maroto, com um sorriso alegre – pelo jeito fica.

Ela nada até ele, e rindo, beija-o longamente.

– "Já que estamos sozinhos, que tal me livrares deste vestido. Dentro da água, ele é desconfortável."

– "Mas dá um desejo..."

― ☼ ―

Prenda – Termo tradicionalista gaúcho para moça, que usa vestes tradicionais, geralmente vestido de roda colorido.

Boleadeiras: Arma antiga, composta de bolas de metal ou pedras arredondadas, usadas para caçar. Cada grupo de três dessas esferas está preso a uma corda e é lançado girando. Atinge os pés do animal, derrubando-o. No CTG, uma dança de Boleadeiras é bastante perigosa para quem não domina a arte, mas belo de se ver.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top