Capítulo 10 - parte 2 (não revisado)
Daniel deita Bianca no banco de trás e dirige com muito cuidado. No caminho, liga para a Suzana.
– Suzi, desculpa o jeito que falei – diz em inglês para o doutor entender – isto foi horrível. Quero que vás agora para o Complexo III. Pega no Manoel e invadam o sistema de vigilância da escola. Copia o vídeo das câmeras de segurança e guarda uma cópia original muito bem protegida. Depois, manda editar o vídeo e borrar as caras de todos menos do agressor. Instrui o Fonseca a ordenar ao computador para vasculhar todas as gravações da vigilância e pegar as cenas onde o agressor aparece fazendo besteira e copiem-nas. Manda-o preparar uma transmissão forçada, mas não a usem senão quando eu mandar. O pai deste filho da puta é juiz e temos de nos proteger. Além disso, eu quero o desgraçado condenado. Suzi, nem uma palavra, nem ao João, ok? Não é que eu não confie nele, eu confio. É apenas por enquanto. Depois podes falar. Quando vires o vídeo, prepara-te que terás de ter estômago forte. Adeus, gatinha. Obrigado pela ajuda.
– Senhor – diz Daniel, devolvendo o telefone – peço-lhe que deixe Jéssica ficar comigo hoje. Eu não desejo ficar a sós com esta garota pois não me parece adequado quando os pais dela aparecerem.
– Claro, rapaz. Como alguém pode ser tão monstruoso, meu Deus!
– Não sei, mas faltou pouco para o matar. Tive de fazer muito esforço para não ceder à minha ira.
– Eu tê-lo-ia morto. Principalmente por causa da minha filha.
– Fiz muito pior que matar, fraturei-lhe o corpo todo, sem tocar nos órgãos vitais. Ele vai-se curar, mas jamais será o mesmo. Tem mais de mil fraturas. Nunca mais será capaz de correr ou fazer força. Terá dores horríveis, quando o tempo mudar. Vai levar meses para voltar a andar. Pode ter certeza de que foi incomparavelmente pior.
– O que é uma transmissão forçada?
– O nosso sistema central, tem o poder de invadir todas as redes de comunicação do mundo e transmitir o que eu quiser, isso sem a vontade das emissoras de rádio, televisão e web vídeo. Posso mandar para o planeta ou para apenas uma região. Se não fizerem nada ou me acusarem, transmitirei este vídeo para todo o país. Isso vai dar uma repercussão terrível.
– Daniel, o seu poder é assustador.
– Nós temos tecnologias que guardamos somente para nós. A regra número um da Cybercomp é não divulgar qualquer espécie de tecnologia bélica.
– Mas e aquela demonstração de Karatê? Eu nunca vi nada como isso.
– Vamos manter em segredo, ok?
– Está certo. Pelo menos sei que Jessy está segura consigo.
Daniel encosta na casa do cientista e este sai. Com cuidado, dá a volta e segue para a sua. Ao estacionar, pega na Bianca vendo que ela ainda não parou de tremer.
– Calma, pequena. Está tudo bem, agora. Estás na minha casa e ninguém entra aqui sem a minha vontade. Ele nunca mais poderá fazer mal a alguém.
– Eu t... t... tenho medo. Ele foi horrível. P... p... pôs a m... m... mão dentro de mim.
– Já passou, meu anjo. Ele não conseguiu ir até ao fim. Calma.
– Eu quero tomar um banho, quero me livrar dessa sujeira.
– Claro, querida. Vou preparar um banho para ti. – Leva-a para o quarto e abre o chuveiro. – Pronto, podes ir tomar o teu banho.
– Não quero ficar sozinha, Da. – Ela treme sem parar. – Vem comigo.
Ele hesita por uns segundos, mas resolve ajudá-la. Pega-a ao colo e leva-a para o chuveiro, tirando-lhe a camisa e pondo-a na água. Com cuidado, usa uma esponja para ensaboá-la e esta vai-se acalmando. Uma parte dela que deseja desesperadamente o Daniel sobrepõe-se e acaba ficando embalada pelos cuidados e o carinho que ele lhe dá. Depois de seca, veste-lhe uma camiseta e leva-a para a cama, deitando-a.
– Precisas de descansar. Amanhã vai estar tudo bem. Verás que terá sido tudo como um sonho ruim.
– Não me deixes sozinha, eu tenho medo. – Ela volta a tremer sem parar.
Ele deita-a na cama e deita-se ao seu lado. Com cuidado, abraça-a. Ela coloca a sua cabeça no ombro dele que lhe acaricia os cabelos. Está preocupado, pois a Bianca está nitidamente em choque e com muito medo.
― ☼ ―
Suzana sai da sala dela e pega o elevador particular. Em vez de apertar um botão para o andar desejado, diz:
– Elevador, para o Complexo III. – O aparelho começa a mover-se para baixo. Quando desce o equivalente a trinta andares abaixo do solo, para e abre a porta onde aparece um átrio bem iluminado. Ali, é o secretíssimo Complexo III. Há algumas portas e corredores e ela pega o mais da esquerda chegando passando por várias salas e encontrando algumas pessoas que a cumprimentam com deferência. Chega a uma sala onde se lê "DIREÇÃO, ENTRE SEM BATER". A mesma é semicircular, muito limpa e espaçosa. Nas paredes redondas, vê-se uma série de telões enormes simulando janelas para o mundo exterior. Sentado à frente de uma mesa grande em forma de meia lua, está o Fonseca, um sujeito de estatura mediana para alta, boa aparência, uns vinte e dois anos, com olhar inteligente e sempre de bom humor, além de ser um solteiro inveterado para a tristeza de muitas garotas.
– Suzana, minha bela, que surpresa agradável! O que te trás ao meu recanto? Pela tua cara, não é boa coisa.
– Manoel, o Daniel mandou uma tarefa secreta.
Ele transforma-se. Para de sorrir e fica ereto na poltrona.
– O que houve?
– Vamos invadir a Escola Ipanema; o sistema de segurança. Aconteceu algo terrível lá. Daniel estava bastante abalado quando falou comigo ao telefone. Disse que temos de ter estomago forte.
– Moleza – trinta segundos depois – pronto. Mas o que terá sido tão ruim assim em uma escola?
– Pega o vídeo da segurança do campo de atletismo, aproximadamente das dezoito horas.
Ele manipula os controles do computador. Poderia ordenar verbalmente, mas gosta da moda antiga embora seja, junto com Daniel, um dos criadores da super rede neural da Cybercomp. Vê duas garotas correndo na pista de atletismo.
– Quem é ela, é tão linda!
– Qual delas, a loira?
– Não, a loira eu já vi aqui, na segunda feira. É a namorada do chefe.
– A morena chama-se Bianca. É uruguaia e muito simpática. Está solteirinha, aproveita.
– Caramba, ela é uma graça. Meu Deus, ela é linda demais!
Naquele momento, os acontecimentos começam a desenrolar-se.
– Que horror!
– Meu Deus, captura tudo...
Seguindo as instruções, fazem todo o trabalho.
– Nunca pensei ver algo assim.
– Nem eu, Suzana, nem eu.
Após mais de duas horas de trabalho, Suzana retorna para a sala dela. Quando sai, encontra João. Ela está muito deprimida com o que viu e ele nota a angústia dela, abraçando-a.
– O que foi, meu amor?
– Não posso falar, mas foi horrível. Daniel mandou guardar segredo. Mais tarde te conto. É só por enquanto. Mas agora vamos para a minha casa que perdi a fome. Não imaginas a atrocidade que aconteceu.
– Calma, Suzi. Calma. Nada pode ser tão ruim assim.
– Foi sim, gato. – Ela tem lágrimas nos olhos. – Foi a primeira vez que fiz um trabalho aqui dentro que me chocou. Eu nem quero pensar nisso agora. Vamos, eu preciso de ti.
Ela treme um pouco e João passa o braço em volta do seu ombro, acalentando-a carinhosamente. Protetor, conduz a garota pelos jardins até ao apartamento dela. Ele nunca pensou, até à primeira vez em que a viu, que fosse possível amar alguém ao primeiro olhar, mas ela é a prova viva disso.
– Vamos, minha Suzi. Eu cuido de ti...
Sobem pelo elevador particular e ele leva-a para o banho, enquanto vai fazer um jantar para a garota.
― ☼ ―
Jéssica está apreensiva. Quando chegam ao local, a Ponta Grossa, o policial faz sinal. Por uns segundos, observa pela janela e, em baixo, vê umas poucas casas e muita mata nativa. Mais para a direita, avista o Guaíba e as rochas da ponta grossa que sobem para formar um pequeno morro. O local é aparentemente de difícil acesso em muitos lugares. Suspira e começa a concentrar-se, mas nada sente. O piloto aciona os sistemas de busca e salvamento do resgate, uma tecnologia experimental da Cybercomp. Se houver alguém vivo, o helicóptero irá detetar. Sem transição alguma, ela sente fragmentos de ideias desconexas. Com um grito, diz:
– Para lá – aponta a direção. O piloto muda o rumo e um "bip" na tela do sensor mostra que a moça está certa.
– Senhor – diz ao policial – estou captando sinais vitais a cerca de meio quilômetro daqui, muito fracos.
– Meu Deus, homem, siga para lá.
O aparelho muda o rumo e aproxima-se da parte mais íngreme e rochosa do lugar enquanto o sensor vai acusando o local com mais precisão. O piloto aciona um farol muito potente e aponta-o para o chão. Como toda a cabine do helicóptero é transparente, conseguem ver com clareza o solo. Ele abre o foco e um facho de luz de cerca de vinte metros de diâmetro abrange a área de busca. Jéssica vê que estão na beira do rio. O local é muito bonito, mas ela não perde a concentração. Aponta para o piloto seguir mais uns vinte metros para o sul e eles encontram um corpo no meio das rochas, muito perto do rio. O piloto diz:
– Vou procurar um local para pousar o mais perto possível, mas é muito difícil.
Acabam encontrando uma pequena estrada a cerca de sessenta metros dali e ele desce a aeronave. O policial sai disparado, com uma potente lanterna nas mãos.
– Chame a Cybercomp – pede Jéssica – e mande vir uma UTI, ela está viva, mas em coma.
O piloto, totalmente fascinado com a beleza dela, obedece sem entender como a garota pode saber.
– Não é hora de pensar no meu corpo. Chame o socorro.
– S... sim, moça, desculpe. Não pude evitar.
– Tudo bem, é que você pensou com tanta força que invadiu a minha mente.
Agora ele entende, mas é da elite e sabe como se comportar.
Jéssica espera sentada na poltrona enquanto eles descem até à garota, pois não quis ir. Nesse momento, recebe um chamado telepático do Daniel. Pela primeira vez, ele libera a mente para ela.
– "Oi amor, achamos a garota. Ela está viva..."
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