Capítulo 10 - parte 1 (não revisado)
"Se quisermos que a glória e o sucesso acompanhem nossas armas, jamais devemos perder de vista os seguintes fatores: a doutrina, o tempo, o espaço, o comando, a disciplina."
Sun Tzu.
Na quarta-feira, Daniel vai para casa trocar de roupa pois é a reunião e não deve usar roupas comuns. Jéssica fica com Cláudia, já que prometera ajudá-la em física. Como o dia está agradável, deixa a capota aberta, curtindo o vento provocado pela velocidade moderada que mantem. Sente-se feliz e sorri sozinho, pois o Sol voltara a brilhar. Jéssica não lhe sai da cabeça e ambos estão cada vez mais apegados um ao outro, pois a semelhança ajuda muito. Sente como se tivessem sido feitos um para o outro. A resistência física, a inteligência, a não necessidade de dormir, enfim, tudo gera afinidades que os aproximam por demais. Quando menos espera, já está na empresa. Estaciona e sobe para a sala da Suzana, que está sozinha.
– Oi, gatinha. Tudo bem por aqui?
– Oi. Gatinho és tu, com essa roupa. – Pisca o olho. – Tá tudo tranquilo sim. Pronto para enfrentar os japoneses?
– Claro – afirma em japonês – quero só ver a cara deles quando descobrirem que aprendi a falar a língua. Olha, eu vou traduzir-te os seus cochichos pois tenho a audição apurada o suficiente.
– Eles vão é tomar um susto.
– Se vão – aquiesce Daniel, rindo – e devem trazer alguém que fala francês. Que língua utilizaremos?
– Italiano?
– Combinado. A esta hora, estão dando tratos à bola para saber quantas línguas falamos. – Ele dá uma boa risada.
– Sabes, amor – diz, sorrindo – é muito bom te ver alegre.
– É bom ficar alegre, gatinha. Mas podes imaginar que com o que me aconteceu, era impossível não ficar no estado que fiquei. E tu, como vai o João?
– Ele é muito legal e agradável. Sei lá, parece que me aconteceu qualquer coisa dentro de mim. Talvez isto vá longe.
– Isso deixa-me muito feliz. Tu mereces o que há de melhor e ele é uma ótima pessoa. E profissionalmente, como vai?
– Só tenho recebido elogios, tanto do doutor Chang quanto do Silverstone.
– Sabes, eu dei-lhe carona de volta no dia da entrevista. Ele perguntou-me sobre ti, pois ficou perdidamente apaixonado. Nem imaginas o que eu lhe disse. Avisei-o que, se ele abusasse de ti, eu transformava-me no seu pior pesadelo. O engraçado é que ele não se intimidou, mas foi claro em dizer que jamais teve essa intenção. Eu gosto dele.
– Achou engraçada a tua ameaça – diz Suzana, rindo – contou-me tudo. Descobri que ele é um Dragão Azul, mas não lhe contes que te disse.
– Bah, Dragão Azul! Que legal. Ele deve ser muito bom para ser um Azul. Acho melhor nada dizeres a meu respeito. Isso poderia ferir o orgulho dele.
– Eu não disse, não, mas ele sabe de um boato no tempo em que estava de saída de Macau sobre um garoto de nove anos que foi sagrado Dragão Dourado. – Com uma voz matreira, ela pergunta para o amigo. – Quem será esse garoto?
O Daniel dá uma risada gostosa e diz:
– Ele não deve ter acreditado, gatinha.
– Acho que não. Bem, vamos para a tua sala. Os nossos amigos já devem estar chegando e Patrícia vai levá-los para lá.
Ambos sobem para a sala da presidência e sentam-se na mesa de reuniões, preparando-se para o confronto. Enquanto aguardam, conversam sobre trivialidades. Na hora exata em que foi combinado, os japoneses aparecem. São dez pessoas que se cumprimentam à moda oriental e sentam-se. Um funcionário, traz chá e água para os participantes.
– Dona Suzana, devo parabenizar a vossa empresa pelo excelente tratamento que recebemos. E que chá magnífico este vosso. Transmita os meus agradecimentos para o senhor Moreira.
– Fico satisfeito que tenha gostado, senhor Seiko – comenta Daniel num japonês correto – se desejar, ficaremos honrados em presenteá-lo com uma caixa deste excelente chá que importamos da China.
A surpresa é geral e um dos japoneses engasga-se, ganhando um olhar tão gélido do seu chefe, que até fica branco. O único que não demonstra reação alguma é o senhor Seiko.
– Vejo que o senhor fala um japonês excelente – o homem inclina a cabeça num cumprimento, mas com um tom levemente reprovador – poderíamos ter negociado mais facilmente.
– Senhor Seiko. – Daniel retribui. – Não me leve a mal, mas só aprendi a sua língua na semana passada. Pedi para a minha sócia me ensinar, já que esperamos ter mais negócios com o vosso maravilhoso país. De qualquer forma, quem faz a administração financeira é Suzana e não eu.
– O senhor tem muitos talentos, senhor Moreira. Aprender japonês em poucos dias é uma tarefa hercúlea.
– Obrigado. Tenho o dom para as línguas. Vamos aos negócios?
– Claro, o que vocês decidiram da nossa oferta de trinta e cinco por cento?
– Podemos aceitar quarenta por cento. – Inicia Suzi.
Eles começam a conferenciar e Daniel traduz em italiano. No mesmo ato, vê a cara decepcionada de um dos japoneses. – "Então eras tu, heim safado? Não esperavas por esta." – Pensa alegre.
– Daniel. – Diz Suzi, após mais de hora de conversas. – Eles não vão aceitar os quarenta, mas já temos vinte e cinco. Vou fechar em trinta e sete. Eles pensam que vão ficar com a maioria, porém nós teremos o controle acionário.
– Ok, gatinha. Viste a cara de tacho do nosso amigo que sabe francês? Já pensaste em oferecer uma empresa nossa em troca? Uma pequena?
– Boa ideia, ofereceremos o controle acionário de uma pequena indústria de automóveis na Itália. Não estou gostando dos resultados dela e pretendia vendê-la.
As negociações correm por mais duas horas até que fecham o negócio. A Cybercomp fica com um total de noventa e cinco por cento das ações e eles adquirem a indústria de automóveis na íntegra. Daniel agradece a Deus pela Suzana, pois sabe que, se não fosse ela, jamais teria conseguido.
Quando os japoneses vão-se embora, doutor Silverstone sobe para falar com ele, acompanhado pelo João. Após uns minutos de conversa, sobem Suzana e o doutor Chang. Ela, toda sorridente, carrega nas mãos uma garrafa de champanhe e taças. Espantado, Daniel olha.
– Gente, tenho uma declaração a fazer – diz, servindo uma taça para cada um dos presentes. Ergue-a. – A nossa fábrica produziu o primeiro coração artificial.
– Mas que notícia maravilhosa – Daniel abraça-a – parabéns, pois esse filho é todo teu. Senhores, à fábrica e à Suzi. O próximo será André com a pilha atômica... DANIELA!? – O seu grito assusta alguns que veem a Daniela surgir do nada. Atônitos, os presentes olham o que alguns julgam ser um milagre e outros o impossível.
– "Dan, meu amor, corre para a escola que tens de as salvar. A Jéssica corre um grande perigo. Ele vai matá-las."
Numa reação instantânea Daniel grita para o doutor Silverstone que o siga, enquanto a visão desaparece.
– Pai, quando se for embora traga a dona Natália, por favor.
– Claro, filho. Vá, corra.
Daniel e o sogro descem e, na sala, começa o falatório.
– Ma... ma... mas o que era aquilo? – Pergunta João, atônito.
– Ela era a minha filha. Infelizmente, morreu no ano passado.
– Mas isso não pode ser!
– Por que não? – Questiona o chinês. – A nossa ciência ainda não explica muitas coisas.
– Só gostaria de saber o que vai acontecer de tão terrível. Não acredito que na escola possa haver algum perigo. – Comenta Suzana, preocupada.
– Se não houvesse um perigo enorme, não teria voltado – continua doutor Chang, apreensivo – pois minha filha já disse que se ia embora e que só voltaria em caso de grave emergência. Vou pegar a senhora Silverstone e levá-la para casa.
– Daniel – pergunta o sogro em inglês, pois de tão nervoso que está esquece do português – o que foi aquilo? Uma moça de luz, toda dourada, que falou consigo! Um... um... espí...
– Sim, doutor, da minha falecida noiva, filha do doutor Chang. Deve haver um perigo terrível para Jéssica, vamos, entre logo pelo amor de Deus.
– Meu Deus, Natália jamais vai acreditar nisto!
Fechando a capota, ele manda o sogro pôr o cinto de segurança e arranca disparado para a estrada. Ao entrar nela, acelera até trezentos quilômetros por hora. Para seu alívio a estrada está vazia, mas a preocupação é tanta que só sabe dizer:
– Droga, devia ter vindo com a Lamborghini. Este carro não dá mais que isto. Com ela, poderíamos chegar a trezentos e noventa.
― ☼ ―
Jéssica despede-se da amiga, que vai para casa, e dirige-se para o vestiário. Troca de roupa e, ao voltar, encontra Bianca sentada, indo ter com ela. Já há vários colegas aquecendo e chama a amiga para correrem enquanto conversam.
– E Daniel? – Pergunta Bianca.
– Trabalhando pois tinha uma reunião importante. Deve chegar mais tarde.
– Está tão alegre agora. Nem parece a mesma pessoa.
– É verdade...
No meio da curva, surge Geovâni à frente delas, que está com a aparência transtornada, desfigurado e com a respiração alterada. A Jéssica dá um grito que chama a atenção da turma enquanto ele agarra-a pelo braço e puxa-a para si de forma brusca.
– Larga a minha amiga – brada Bianca, atirando-se a ele sem pensar nas consequências e arranhando-o no rosto – sai daqui. Se Daniel chega, ele te mata.
– Aquele boiola é um frouxo que não vale nada, mas tu também vais dançar, ah sim. És bem gostosinha. Primeiro dou um jeito em ti e, depois traço esta de sobremesa. Para aqueles merdas não se meterem na minha vida. Eles me desgraçaram. Pena que a puta da namorada do outro não está aqui também.
Geovâni está visivelmente drogado. Vendo uma vintena de atletas e o professor correndo na sua direção, dá uma pancada nas garotas de modo a deixá-las parcialmente inconscientes e avança para o meio do campo. Este é um bom lutador e a droga dá-lhe uma força sobre-humana, fazendo todos caiem sobre os golpes que desfere de forma muito violenta, deixando dois gravemente feridos, mas sequer dá por isso. Alguns alunos no pátio dão o alarme. Jéssica e Bianca estão muito atordoadas e, tontas, tentam levantar-se para fugir, mas ele volta-se para as duas. Dá mais uma pancada na Jéssica, deitando-a por terra e agarra Bianca, levantando-a.
– És bem gostosinha, deixa ver esses peitos.
Ela atira-se a ele com a fúria dos desesperados e arranha-o todo mas o criminoso nem nota. Com um puxão violento, rasga a camiseta e rebenta o sutiã da moça que se debate inutilmente, enquanto ele diverte-se mexendo nela. Fora do campo de atletismo, juntam-se algumas pessoas assustadas e com medo de ajudar, pois viram o estrago que ele fez, enquanto o diretor sai correndo de telefone na mão para chamar a polícia.
– Vou acabar contigo como eu fiz com aquela garotinha hoje de tarde, que descartei na Ponta Grossa. Depois, será a vez da outra ali. – A pobre Bianca, que já não tem forças para lutar, começa a chorar e a gritar aos soluços, enquanto Jéssica continua tentando levantar-se, mas está tonta demais, ficando apenas sentada.
– Quando Daniel chegar, és um homem morto. – Diz, mas com muitas dúvidas.
– Quero ver. Eu vou comer vocês duas aqui mesmo e vou rebentar vossas caras. E se ele aparecer, rasgo o cu dele todo. Achavam que eu não podia pegar vocês, não é? Mas agora, vão ver o que eu vou fazer. Não me deviam ter me provocado.
– Bianca – diz Jéssica em espanhol – não sei se a gente se livra disto. Obrigada por me ajudares e seres minha amiga.
― ☼ ―
– Meu Deus, Daniel, vai-nos matar!
– Não se preocupe, doutor.
Mas isso não acalma o homem que vê o carro andar a uma velocidade que só presenciava nas pistas de corrida, na televisão. Como que por milagre não há trânsito e chegam aos limites da cidade em poucos minutos, onde Daniel não consegue correr tanto, mas, mesmo assim, vai a mais de cem por hora. Entra voando na escola e dirige-se para o estacionamento dos alunos, atrás do campo de atletismo. Com um cavalo de pau, para o carro e salta porta fora, correndo. Ao chegar, presencia o horror, junto com o sogro, que está apavorado com a cena. Logo, avistam algo muito pior: Jéssica caída no chão, tentando levantar-se, e Geovâni agarrando Bianca já nua devido às roupas rasgadas e metendo a mão dentro da sua vagina. Daniel perde completamente a serenidade e dispara numa corrida que ninguém poderia imaginar ser possível, alcançando-o em menos de três segundos. Antes que o criminoso veja o que acontece, Daniel pega-o pelo cinto e joga-o com força para trás. Ele voa mais de dez metros de distância e que cai rolando pelo chão outro tanto. Bianca, ao vê-lo, chora sem parar estendendo os braços, que a abraça rapidamente. Tira a gravata, a camisa e veste-a na amiga, usando a gravata como faixa para amarrá-la. Como é bem mais alto que ela, a roupa fica como um robe, protegendo-a. Nesse momento, Geovâni vem correndo para apanhá-lo pelas costas; mas, para sua surpresa, recebe um forte chute do Daniel, que nem se vira, arremessando-o longe novamente.
– Fica quietinho que já falo contigo, filho da puta. – Ainda longe, vem Isaac, correndo assustado e impressionado com o que Daniel acabara de fazer. Jéssica começa a erguer-se, ainda zonza, e abraça Bianca que treme soluçando sem parar. Daniel faz um carinho no rosto dela e diz que fiquem ali. Vira-se e encara o machão. Rubro de cólera e falando perigosamente baixo, começa:
– Então tu tiveste coragem de mexer com duas moças inocentes, justamente duas das que te proibi de tocar e, ainda por cima, atreveste-te a tentar violentá-las? Agora, Geovâni, eu vou cumprir a minha promessa e que Deus tenha piedade de ti. Certa vez eu avisei-te que um dia ias encontrar um osso maior do que o que poderias engolir. Vais ficar comigo entalado na garganta e, a partir de hoje, tornar-te-ás incapaz de fazer mal a seja quem for. Escolheste a pessoa errada, cara...
– Pensas que tenho medo de ti, amante de amarelas? – Diz o outro aos berros e totalmente descontrolado. – Olha o que eu vou fazer contigo.
Avançando contra Daniel, desfere-lhe um soco, mas o rapaz nem se move.
– Só isso, seu inútil?
Furioso, o criminoso manda uma chuva de socos no Daniel, que começa a bloquear os ataques. As mãos do jovem Dragão movem-se com uma velocidade impossível de acompanhar com os olhos. Sempre que um golpe do monstro chega perto é bloqueado, fazendo o mesmo com os pés e Geovâni está incapaz de tocar nele, que começa a avançar. Jéssica, espantadíssima, não acredita no que vê, quando o seu pai chega perto e faz uma barreira para proteger a filha e a outra menina.
– Pai, estamos seguras e ele não pode com Daniel. Veja esses pobres coitados. – Ela olha para o namorado que enfrenta o animal com tanta facilidade que impressiona, mesmo numa situação como aquela. O monstro desfere mais um ataque inútil e esbarra na barreira, caindo de costas a uns quatro metros. Em posição de defesa, o rapaz aguarda novo ataque, que vem imediatamente. Decidido a acabar com aquilo de uma vez, passa ao ataque, afirmando:
– Agora é a minha vez. – Com uma velocidade atroz, desfere uma terrível e violenta bofetada, que faz com que ele dê uma cambalhota de lado. O eco provocado pelo tabefe é tão alto que todos assustam-se. Várias pessoas assistem à distância, impotentes e apavoradas, com medo do que pudesse acontecer. No chão, aparece meia dúzia de dentes e começam a bater palmas. – Este foi pela Daniela, a amarela.
O criminoso levanta-se, alucinado de raiva, e grita:
– Não doeu nada, não sinto nada. Eu vou-te matar.
– Tenta, imbecil – com a outra mão desfere mais um tabefe do outro lado do rosto dele, que novamente dá outra cambalhota de lado e mais uma série de dentes caiem no chão. – este, seu monte de merda, foi por mim, por me teres magoado tanto com as tuas observações racistas e idiotas.
Os alunos e funcionários que assistem à distância começam a gritar, assobiar e bater palmas. Enquanto Geovâni levanta-se de novo, cego pela fúria, cuspindo no chão mais uns quantos dentes. Uivando, avança sobre Daniel, mas não consegue tocar nele, recebendo um potentíssimo soco no queixo e voando uns três metros com a pancada. O rapaz espanta-se com o fato do outro ainda estar consciente.
– Este foi por teres ousado agredir a minha namorada, seu covarde. – Ele está completamente desdentado, tal como Daniel prometera. Para seu azar, também tem com o maxilar quebrado em várias partes. Alguns colegas do atletismo recuperam a consciência e olham apavorados para o que aconteceu. Uns levantam-se e ficam observando e aplaudindo o castigo infligido ao ex-colega que, já sem poder falar, não desiste. Levanta-se e ataca Daniel que se desvia facilmente, pregando-lhe uma rasteira.
– O próximo – arremata Daniel, bem alto – é pela Bianca, por te teres atrevido a feri-la e, ainda por cima, tentado estuprá-la. Como não vais estar consciente depois disso, aviso agora. – O criminoso tenta novamente acertar Daniel, sem sucesso, que agora avança sobre ele, descarregando uma sequência de pancadas violentíssimas em volta do seu corpo. Todo o ataque dura poucos segundos, muito rápido, mas quando Daniel termina, o monstro cai com quase todos os ossos quebrados, exceto os mais importantes, como o crânio, a coluna e parte das costelas. Está com fraturas múltiplas por todo o corpo, porém nenhum órgão interno foi lesado, tamanha é a perícia do jovem.
Nesse momento chega a polícia com o diretor que viram o criminoso cair só aquele castigo infernal. Daniel pega Bianca ao colo e beija a namorada. Juntos, caminham em direção ao diretor, enquanto a pobre uruguaia não para de tremer e soluçar. Agarrada ao pescoço do Daniel, nem pensa em sair de perto do único lugar seguro no mundo.
Quando a polícia aproxima-se, eles param. Atrás, vem o doutor Silverstone e a equipe de policiais monta uma barreira em volta do campo.
– O que houve? – Pergunta um, que parece ser o chefe.
– Quando eu cheguei aqui, uma tentativa de estupro estava em andamento. O sujeito, um ex-aluno muito drogado, nocauteou os nossos colegas e tentava violentar a minha amiga e a minha namorada. Ele já havia arrancado as roupas dela, mas não conseguiu chegar às vias de fato. Desculpe, policial, mas eu não tive consideração por ele. O senhor vai ter que chamar uma ambulância. Nem tente algemá-lo. Ele está com noventa por cento do ossos quebrados. Não vai a lugar algum.
– O senhor deverá chamar mais ambulâncias – diz o pai da Jéssica – pois há dois sujeitos ali em estado gravíssimo. Um deles tem uma fratura craniana.
– O senhor está com o celular aí, doutor? – Daniel pousa a Bianca, que se mantem agarrada a ele. – Empresta-me? Deixei o meu no paletó e na pressa ficou na minha sala.
– Suzana, manda dois helicópteros UTI para a escola. Dois colegas nossos foram muito feridos. Fica no aguardo que tenho instruções posteriores, mas não devem chegar aos ouvidos de ninguém, entendeste? Já te ligo de volta.
– Sim, Dan. – "O que será que aconteceu de tão ruim, meu Deus." – Pensa ela, preocupada.
– Os meus amigos, serão tratados pela minha equipe. Aquele traste pode ir numa ambulância mesmo.
– Policial – Jéssica alerta – nós não fomos as únicas vítimas, hoje. Ele estava-se vangloriando que ia fazer conosco o mesmo que fez com uma menina que abandonou na Ponta Grossa.
– Oh, meu Deus, outra criança assassinada. Será que é esse o monstro que procuramos há tanto tempo? Vocês precisam de ir para a delegacia prestar depoimento. Eu vou mandar uma equipe de busca vasculhar o lugar.
– Jéssica, tens de ir com eles.
– Por quê, Daniel?
– Porque, se ela estiver viva, o teu dom permite localizá-la, amor. – Ele liga para Suzana. – Su, manda um helicóptero de resgate para a escola, urgente. Sim, ela está bem, chegamos a tempo, graças à Dani, mas a Bianca sofreu um pouco.
– Policial. Minha namorada tem um dom que pode facilitar as buscas da menina, se ela estiver viva, mas isso deverá ser considerado um segredo. Eu mandei vir um helicóptero especial para vocês procurarem-na.
– Que dom é esse?
– Eu sou telepata, senhor. Não se preocupe – diz, ao ver a cara do policial – que não fico lendo pensamentos. Jamais invado a privacidade de alguém.
– Rapaz, você tem helicópteros?
– Sim, vários.
– Mas quem é você?
– Senhor, nesta escola sou anônimo. – Daniel não dá explicações.
– Vocês têm que ir à delegacia prestar depoimento.
– Senhor, ela está em choque. Amanhã iremos todos. Esse merda não vai a lugar algum. Eu vou levá-la para a casa dela...
– Não – choraminga Bianca – não quero ficar sozinha. Os meus pais só voltam amanhã.
– Daniel – arremata Jéssica – vais levá-la para a tua casa. Depois que terminarmos, vou encontrar-te.
– Mas ela precisa de fazer um exame de corpo de delito!
Daniel aponta para as câmeras de segurança bem embaixo deles.
– Ali estão todas as provas que precisa. Ela não chegou a ser violentada, mas sofreu muito. O exame não irá mostrar nada a não ser arranhões e pequenas escoriações. Está em choque, então não vamos para a delegacia não, senhor, pois não permitirei que ninguém toque nela sem a presença dos pais. Vou levá-la para a minha casa onde ela poderá descansar. Amanhã, se estiver em condições, iremos com o maior prazer. Além disso, os pais dela terão chegado, dando-lhe o suporte psicológico necessário.
– Mas você não a pode levar para a sua casa! Ela precisa de ficar com um responsável maior de idade.
– Eu sou maior de idade, senhor, sou emancipado desde os treze anos. Isso está decidido. Não irei permitir mais sofrimento para minha amiga. – Estende um cartão. – Tome, este é o meu endereço. Pode ir lá amanhã para nos ver.
– Você é "O" Daniel Moreira? Meu Deus, prazer em conhecê-lo. Eu sou irmão do tenente Figueira. Obrigado pelo que fez. Salvou-lhe a vida, pode deixar. Fique com a moça que vamos providenciar tudo o que for necessário.
Três helicópteros descem no campo. Na fuselagem, têm escrito Cybercomp, em letras azuis intensas. Dois deles também têm uma cruz vermelha e a palavra UTI. Já o terceiro, tem escrito "Resgate Experimental I". Todos os alunos já se tinham levantado e afastado, pois a polícia fez um cerco mandando-os saírem da área. Estes prestam depoimento para os policiais que anotam tudo em pequenas cadernetas. No chão só há os amigos do Daniel e o monstro. Dos helicópteros ambulância descem paramédicos que preparam os feridos para a remoção. Daniel vai até eles e dá instruções. O piloto do helicóptero de reconhecimento também desce e vem ter com eles.
– Delegado Figueira, é um prazer, mas agora vão. Jessy saberá localizá-la, se ela estiver viva.
Jéssica e o policial seguem para o helicóptero e Daniel torce para que a moça esteja viva. O diretor da escola diz:
– Obrigado por evitares nova catástrofe, filho.
– Sabe, senhor José, não sei como fui ter pena desse monstro, acreditando que ele teria chance de se arrepender. Peço desculpas de o ter incomodado naquele dia.
– Filho, o que fizeste foi bom. Ele não se arrependeu, mas outro poderia. Perdemos uma, mas ganharemos outras.
– Senhor, informe os familiares dos feridos que eles estão na Cybercomp Hospital I, no centro. Eu acho melhor também contatar o pai desse monstro. Ele precisa de um hospital urgente, mande para o Hospital Ipanema, com o doutor Pires. Pela primeira vez não me sinto mal de bater em alguém e só não o matei porque não sou juiz, mas pouco faltou para isso. Se o senhor puder fazer o favor de falar com os pais da Bianca e avisá-los onde ela está, eu agradeço. Pode dar-lhes o meu endereço mas, pessoalmente, acho que seria melhor o senhor vir com eles buscá-la.
– Está certo, Daniel. Mais uma vez, muito obrigado. Só gostaria de saber como tu, sozinho, fizeste o que todos estes rapazes juntos não conseguiram. És um grande herói.
– Treinamento, senhor. Comecei a lutar com poucos meses de vida, mas não sou um herói. Um herói teria evitado isto sem usar a violência.
– Aí é que te enganas, Daniel. Um herói de verdade, sabe quando administrar a violência e o quanto administrar. O fato de não o teres morto é prova mais que suficiente.
– O senhor é sábio, adeus.
O diretor dirige-se para a sua sala e procura no computador o telefone celular dos pais da Bianca. Não sabe o que lhes vai dizer e preocupa-se muito. Quando o pai atende, conta-lhe que a filha sofreu um atentado, mas está fora de perigo e na casa de um colega. Pede que estes apressem o retorno e procurem-no na sua residência. Desesperado, o casal de Uruguaios procura antecipar o voo de volta a Porto Alegre, mas o aeroporto Santos Dumont está fechado por conta de um forte nevoeiro. Exasperados, precisam de aguardar, muito agoniados.
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