The Nile
The Nile
"Mas o amor é cego, e os amantes não podem ver as belas loucuras que eles próprios cometem."
- Shakespeare (O Mercador de Veneza)
— Transforma furca.
Harry observou enquanto Draco trabalhava para transfigurar a meia em um garfo. Eles estavam praticando suas transfigurações, transformando um item em algo completamente diferente em forma e propósito.
Draco murmurou algo, sentindo o objeto que transfigurou com os dedos.
— Parece bom. Definitivamente metal, desta vez, com pontas afiadas. O que estou errando?
O sonserino sempre insistiu em determinar por si mesmo se a transfiguração havia sido completa, mas reconheceu que um par de olhos ativos cobria todas as dúvidas.
— Bem, não é um garfo tricotado, como o anterior. Mas ainda tem uma estampa.
Harry sorriu.
— Droga.
Draco reverteu o feitiço com um aceno de sua varinha e se preparou para tentar novamente.
Harry se encostou na cadeira enquanto o outro garoto praticava sua tarefa. Foi uma boa sessão de estudo até agora. Ele estava feliz por voltar à sua rotina com Draco, depois de ter se separado. Estranho como se tornou mais normal estudar com o sonserino do que com seus próprios companheiros de casa.
Seus olhos foram para o rosto de Draco, os olhos estavam relativamente neutros, como sempre, mas sua boca estava contraída em concentração. Harry se lembrou da noite anterior, quando viu um sorriso naquele rosto. Ele estava explicando a um Neville muito confuso como a televisão funcionava, rindo de como suas noções erradas vieram de um livro infantil trouxa, quando, em um de seus olhares rotineiros para a mesa da Sonserina, ele percebeu o sorriso. Draco não sorria com frequência ou, pelo menos, não de uma forma relaxada e genuína como aquela. Ele frequentemente provocava Harry com sorrisos, e havia risos ocasionais, mas qualquer sorriso comum geralmente carregava uma pitada de amargura por trás deles. Este era um sorriso completamente relaxado e aqueceu Harry do outro lado do Salão Principal.
Isso também o perturbou novamente. Ele não estava emocionalmente ferido no domingo como estivera no sábado, mas aquele sorriso o afetou da mesma forma. Talvez fosse apenas a raridade de ver tal coisa? Ele estava certamente feliz por Draco estar se sentindo melhor, e por ter algo para sorrir, fosse o que fosse.
— Veja.
A voz de Draco interrompeu seu devaneio.
— Isso parece um pouco mais pesado de alguma forma. Isso significa que a cor está correta também?
Harry se inclinou e pegou o garfo dos dedos finos de Draco.
— Sim, completamente de metal — disse ele, virando-o nas mãos. — Nem um traço de qualquer estampa.
— Finalmente!
Draco gemeu.
— Droga, esse assunto ficou muito mais difícil depois do acidente. Eu estava prestes a me resignar a comer com garfos estampados e, de alguma forma, convencer McGonagall que eu sabia que era assim e que eu queria que fosse assim.
Harry riu enquanto se virava para olhar para o outro garoto. E então fez uma pausa. Depois de praguejar e lutar com essa tarefa, a realização de auto-satisfação no rosto do sonserino foi um contraste brilhante. Em vez de uma carranca, seus lábios se curvaram em um leve sorriso, com um toque malicioso.
Inclinando-se tão perto de Draco, Harry sentiu um desejo repentino e irresistível de estender a mão e tocá-lo novamente, parabenizá-lo por sua realização, e logo depois desse pensamento veio o desejo de beijá-lo também. Ele recostou-se abruptamente, a cadeira deslizando alguns centímetros nela. Ele não tinha certeza do que estava acontecendo, mas a distância de repente parecia uma boa ideia.
A cabeça de Draco virou com o barulho.
— Você vai a algum lugar?
— O quê? Não, eu só… perdi o equilíbrio por um minuto — Harry respondeu, ainda agitado.
— Então… no que devemos trabalhar agora?
— Achei que poderíamos trabalhar na memorização dos ingredientes e instruções da lista de poções que o Professor Snape nos deu.
Cada vez mais, os alunos eram obrigados a trabalhar com a memória. Draco estava ensinando a Harry algumas das habilidades que ele estava usando para limitar o número de vezes que algo tinha que ser lido para ele.
Eles começaram a discutir as várias poções da lista, revezando-se conforme conseguiam lembrar. Mas Harry estava apenas prestando atenção pela metade. Enquanto Draco falava, Harry percebeu que seus olhos estavam voltados para a boca do outro garoto, não importando o quanto ele tentasse contê-la. Ele estava subitamente feliz por Draco não poder vê-lo olhando.
Ele pensou em como eles estavam perto da mesa, nesta salinha lateral onde ninguém nunca ia. Ele pensou em conversar, estudar e acariciar a mão do sonserino com a sua. De apenas estender a mão, casualmente, e beijar Draco enquanto ele falava, vendo como eram aqueles lábios em seus próprios, em vez de apenas em seus dedos. Ele se imaginou puxando o outro garoto para perto, passando a mão pelo cabelo loiro prateado, ou talvez pela pele.
As imagens em sua mente ficaram mais ousadas, mais brilhantes, tão reais que ele achou difícil acreditar que não estava se inclinando para beijar Draco. E ele estava perigosamente perto de fazer exatamente isso. Suas inibições pareciam não estar mais funcionando, e ele estava tendo problemas para lembrar que o outro garoto provavelmente ficaria chocado, enojado, e só Deus sabia o que isso faria com a amizade deles. Respirando fundo, Harry cravou as unhas nas palmas das mãos e fechou os olhos, tentando ficar na realidade.
— Você está bem?
Os olhos de Harry se abriram. Draco se virou para ele e franziu a testa ligeiramente.
— Sim, eu estou bem. Por quê?
Ele engoliu em seco, seus olhos mais uma vez colados no rosto do outro garoto. Essa boca.
— Você tem falado estranhamente nos últimos minutos e não respondeu minha última pergunta.
Ele tentou reprimir a confusão em sua mente.
— Desculpa, o que?
— Sobre a poção de detecção de veneno, eu não conseguia me lembrar se o sangue de escorpião deveria ser adicionado como uma infusão ou decocção.
— Infusão.
Harry engasgou. Ele não tinha certeza de quanto tempo mais seria capaz de se segurar antes de fazer algo por conta própria. O que havia de errado com ele? Ele não se interessou por ninguém durante todo o ano. E definitivamente nunca em um menino, a menos que você conte o jogador e monitor da Corvinal, e isso não era nada intenso. Ele estava passando muito tempo com Draco. Sim, deve ser isso. Muito tempo, ele ficou confuso. Ele precisava fugir, ele pensou freneticamente, colocar algum espaço entre eles até que ele pudesse se lembrar de como estar perto de alguém sem ser indevidamente atraído por ela.
— Sinto muito — ele disse abruptamente, interrompendo a recitação de Draco sobre o armazenamento e uso da poção. Ele empurrou a cadeira para trás, desta vez deliberadamente, e começou a enfiar cegamente seus pertences de volta na bolsa.
— Eu esqueci… que tenho de ir.
— Agora? — Draco perguntou, parecendo confuso. — Qual é o problema?
— Nada… estou bem! Eu só… é… eu tenho que ir.
Harry estava quase em pânico agora.
— Falo com você mais tarde, ok?
Com isso, ele agarrou sua bolsa e fugiu porta afora.
Ele foi direto para a sala comunal da Grifinória, onde parecia que Hermione estava treinando Ron em Herbologia.
— Harry! O que você está fazendo de volta tão cedo? — ela perguntou, levantando os olhos do livro enquanto ele tropeçava pelo buraco do retrato.
— Eu…
Harry de repente percebeu que nenhuma palavra estava vindo à sua mente. Nem a verdade, nem desculpas. Era como se seu cérebro tivesse parado de funcionar completamente.
— Não é nada — ele conseguiu dizer, caindo em uma poltrona próxima e passando a mão pelo cabelo distraidamente.
— Não parece nada — Hermione respondeu. — Aconteceu alguma coisa?
Harry lutou contra o desejo de colocar a cabeça entre as mãos.
— Eu não quero falar sobre isso. Eu só vou estudar com você de novo por um tempo, ok?
Ele a observou morder o lábio, esperando que ela não pedisse para ele explicar mais nada.
— Claro, Harry — ela finalmente respondeu. — Estamos felizes por ter você de volta. Será muito melhor estudarmos juntos novamente.
— Não acredito que estou dizendo isso, mas provavelmente você estava melhor com o Malfoy — Ron gemeu, olhando tristemente para o tabuleiro de xadrez. — Hermione tem me interrogado sobre técnicas de poda para plantas carnívoras há uma hora.
— Sim, bem, você obviamente precisava, não é?
Ela se virou para Harry, que agora estava esfregando as têmporas.
— Tem certeza de que está bem?
— Bem, ele vai ficar se você parar de importuná-lo — Ron interrompeu. — Pergunte a ele sobre coisas de Herbologia se você está ansiosa para fazer um milhão de perguntas.
Harry lançou a Ron um olhar agradecido.
— Sim, eu vou ficar bem. Eu só quero passar mais tempo com vocês dois, só isso.
Draco ainda estava em sua mente, mas, agora que se separou fisicamente dele, Harry começou a sentir que poderia conseguir controlar seus sentimentos novamente.
— Tudo bem — ela respondeu, um pouco duvidosa.
— Bem, como Ron disse, estávamos revisando Herbologia. Você quer que eu teste você também?
Ele não tinha certeza de quão bem ele seria capaz de se concentrar, mas havia uma chance de que estudar o ajudaria a distrair ainda mais. Cavando corajosamente em sua bolsa embalada às pressas, Harry puxou seu livro e suspirou.
— Claro, por que não?
Os próximos dias foram dolorosos para Harry. Ele evitou Draco em todas as aulas que eles compartilhavam, e passou todas as noites na sala comunal da Grifinória, encerrando abruptamente suas sessões de estudo com Draco sem sequer uma explicação. Mas apesar de seus esforços, seu plano para tirar Draco de sua mente separando-se do outro garoto não foi um sucesso. Na hora das refeições, seus olhos ainda o procuravam, não importava quantas vezes ele tentasse não olhar. E toda noite em que ele se acomodava em seus livros com Ron e Hermione, ele se perguntava o que o sonserino estava fazendo.
Longe de distraí-lo, as perguntas de Hermione sobre Herbologia o lembraram muito da maneira como ele e Draco trabalhavam juntos, ele passou o tempo todo fazendo comparações mentais de seus estilos de revisão, e sentindo falta de Draco ainda mais. Então, depois daquela primeira noite, ele pediu licença e simplesmente sentou perto deles, o livro no colo, enquanto eles trabalhavam sem ele. Metade do tempo ele não conseguia estudar, em vez disso, encarava o fogo por longas horas, perdido em pensamentos. Quando Ron o persuadia a uma rodada ocasional de xadrez, as torres frequentemente acabavam saindo do tabuleiro, completamente enojadas com a desatenção de Harry.
No terceiro dia, Ron e Hermione o arrastaram para o dormitório masculino do sétimo ano assim que voltaram do jantar e exigiram saber o que estava acontecendo.
— Tudo bem — disse Hermione, cruzando os braços, enquanto Harry se sentava cautelosamente na beira da cama. — Algo está errado. O que é?
— Nada, eu te disse.
Ron acenou com a mão impacientemente.
— Pare com isso, Harry! Você tem agido estranhamente desde que voltou para nós, nada normal.
Harry olhou entre os dois.
— O que aconteceu com não querer deixar ninguém me atormentar? — ele perguntou a Ron.
— Sim, bem, é um dever dos caras se defenderem, você não sabe?
Ron ignorou a sobrancelha levantada de Hermione.
— Mas isso foi antes de você parar de falar com nós, ficar todo deprimido, se esquecer de comer metade do tempo e começar a olhar para Malfoy do outro lado do Salão Principal. E você não joga xadrez tão mal desde que éramos do primeiro ano.
— Harry — Hermione disse mais gentilmente, vindo se sentar na cama ao lado dele —, estamos apenas preocupados com você.
— Ele fez algo com você? — Ron interrompeu.
— Quem?
— Malfoy. Ele fez alguma coisa com você? Foi por isso que você parou de estudar com ele? Eu sabia que era uma má ideia. E não me importo se ele é cego ou não. Se ele te machucar, eu vou..
Ron bateu com o punho na palma da mão.
— Ron! — Hermione avisou. Então ela se voltou para Harry. — Eu sei que você disse que não queria falar sobre isso, mas algo está claramente errado e nós queremos ajudar. É o que os amigos fazem, lembra?
Harry mordeu o lábio. Amigos.
— Posso perguntar uma coisa? — ele perguntou, olhando para os dois.
— Claro — Hermione respondeu.
— Ok, somos amigos. Bons amigos. Certo?
Eles concordaram.
— Vocês… algum de vocês já pensou em beijar um de nós?
Ron riu.
— Posso dizer honestamente que nunca quis beijar você, Harry. Sem ofensa.
Harry sorriu.
— Ofensa nenhuma.
Ele se virou para Hermione.
— E você?
Ela puxou uma mecha de cabelo, que Harry reconheceu como um sinal de que ela estava pensando.
— Suponho que a ideia passou pela minha cabeça, quando éramos mais jovens — ela respondeu lentamente. — Mas eu sabia que você e eu sempre seríamos melhores como apenas amigos. Então… não realmente.
Então ela franziu a testa.
— Harry, isso tem a ver com Malfoy?
— Bem…
Harry hesitou, olhando entre seus dois amigos. Então ele respirou fundo e baixou os olhos para o chão. Não havia como escapar agora.
— Sim — ele sussurrou.
— Você beijou Malfoy? — Ron gritou.
— Ronald! Por favor! — Hermione interrompeu. Harry sentiu a mão dela em seu queixo e ergueu a cabeça para olhar nos olhos preocupados dela.
— Você beijou?
— Não! — disse ele. Então ele engoliu a seco. — Mas eu queria.
Ele explicou brevemente o que havia acontecido na outra noite na sala de estudos.
Ron franziu a testa ligeiramente.
— Você está dizendo que é gay?
— Eu não sei!
Harry pulou da cama e começou a andar pelo quarto, mãos fechadas em punhos.
— Quer dizer, eu gostava de Cho. Muito. E havia outras garotas também. Mas havia Benjamin...
— Benjamin? — Ron interrompeu novamente. — Aquele goleiro e monitor da Corvinal?
Harry concordou miseravelmente.
— Mas eu não achei que fosse real, só… eu não sei. Admiração pela forma que ele jogava ou algo assim. Só que, com Malfoy, é diferente. É muito ruim, não sei o que há de errado comigo. Eu acho que estava passando muito tempo com ele ou algo assim, é por isso que eu tive que fugir.
— Não há necessariamente nada de "errado" com você — Hermione disse a ele suavemente. — Algumas pessoas são assim, bissexuais.
Ela veio e colocou a mão em seu ombro.
— Agora, deixe-me fazer a pergunta que você nos fez. Você já quis beijar um de nós?
— Não — ele respondeu imediatamente.
Hermione riu, revirando os olhos.
— Fico feliz em saber que você pensou um pouco, então.
Então ela ficou séria.
— Mas viu? Nós três passamos muito mais tempo juntos, seis anos e meio, e parte de vários verões, e nada nunca aconteceu, certo?
— Além de todas as experiências de quase morte, ela quis dizer — disse Ron.
Harry sorriu.
— Além delas, não.
— Então… acho que o que você está sentindo sobre Malfoy não tem nada a ver com a quantidade de tempo que passa com ele.
— Ah…
Ele caiu de volta na cama, derrotado.
— Harry, você está falando sério? — Ron perguntou, parecendo incrédulo. — Você realmente… gosta do Malfoy?
Ele olhou para o rosto expressivo de seu amigo.
— Você me odiaria se eu dissesse sim?
Ron suspirou.
— Bem, eu não te odeio por ser… por aparentemente gostar de meninos e meninas. Mas eu tenho que admitir que também não entendo. Mamãe e papai têm alguns amigos gays… acho que não é grande coisa, embora ainda pareça um pouco estranho.
Ele caminhou ao redor do quarto alguns passos, sua expressão escurecendo um pouco.
— É só que… Malfoy? Tem que ser o Malfoy? Não acredito que você se apaixonou por aquele idiota!
— Não é como se eu tivesse planejado — Harry respondeu, defensivamente.
— E de qualquer forma, ele está diferente agora. Ele não é mais a pessoa desagradável que costumava ser. Depois do acidente, ele apenas… começou a deixar as pessoas sozinhas, e ele me disse que seu pai… — Harry hesitou, querendo proteger a privacidade de Draco. — Bem, ele não está seguindo Voldemort nem nada — ele terminou.
— Bem, estou certamente feliz em ouvir isso — respondeu Hermione. — E admito que ele não disse duas palavras para mim, nem boas nem más, desde seu retorno. Mas eu ainda não sei como você pode simplesmente esquecer seis anos de brigas, Harry. Ele fez algumas coisas bonitas e algumas coisas terríveis para você ao longo dos anos.
— E para vocês dois também.
Harry deu voz ao que Hermione não disse, ele sabia que todos estavam pensando isso de qualquer maneira.
— Eu sei… — ele suspirou. — Mas… é como se ele fosse uma pessoa diferente agora, e o pequeno bastardo fosse outra pessoa. Somos amigos agora.
— Tudo bem — Hermione suspirou, após uma pausa momentânea. — Bem, teremos que acreditar em sua palavra.
Então ela olhou para ele com mais severidade.
— Mas você tem que falar com ele.
— O quê?
Harry recuou.
— Não posso.
— Harry, você tem que falar. Se vocês são realmente amigos, como afirma que são, então você não pode simplesmente interromper a amizade de vocês por algo assim. Aposto que você nem contou a ele por que fugiu.
— O que eu devo dizer? "Desculpe, não posso estudar com você porque eu quero te beijar"?
— Muita informação — Ron murmurou.
— Bem, você tem que dizer algo — ela insistiu.
Harry apenas balançou a cabeça.
— Eu não posso.
Draco Malfoy estava furioso.
Primeiro ele estava confuso, depois machucado, e agora ele tinha mudado para a raiva total.
O comportamento de Harry no início da semana tinha sido estranho. Embora ele parecesse bastante normal após os eventos de sábado, e sua interação em Trato das Criaturas Mágicas na segunda-feira foi muito breve para julgar, naquela noite ele se tornou um pouco estranho. e então ele desapareceu abruptamente com uma enxurrada de palavras que não tinham nenhum sentido e certamente não passavam por uma explicação.
No começo ele ficou preocupado. Harry estava doente? Aconteceu alguma coisa? Pesadelos? Ele estava com problemas? Draco havia terminado seu trabalho noturno sozinho, um canto de sua mente constantemente repassando o que tinha acontecido na sala de estudos naquela noite, imaginando o que havia de errado. Ele estava gostando da companhia do outro garoto, e fiel à sua palavra, Harry não mencionou o colapso emocional de Draco no sábado, e Draco descobriu que, em vez de tornar as coisas estranhas, o evento de alguma forma serviu para fazê-lo se sentir mais próximo de Harry. Como um segredo compartilhado entre eles. E tê-lo por perto novamente… fazia Draco se sentir bem. Mas então Harry de repente gaguejou alguma desculpa vazia e fugiu, seus passos se dissipando rapidamente, deixando para trás um silêncio atordoante.
Em Poções, raramente havia a oportunidade de se conversar, já que o Professor Snape geralmente os mantinha trabalhando arduamente. Harry sentou-se com seus amigos na mesa atrás de Draco, proporcionando poucas chances de interação direta. Mas durante a aula do dia seguinte, ele percebeu que Harry estava diretamente à sua frente na fila para obter os ingredientes com Snape quando ouviu o grifinório responder a uma pergunta do professor. Aproveitando a chance, ele estendeu a mão e agarrou a primeira coisa que pôde encontrar, que por acaso foi o braço de Harry.
— Você está bem? — ele sussurrou enquanto o outro garoto se virava para sair. — Aonde você foi?
Mas Harry saiu de seu alcance e desapareceu sem dizer uma palavra, fazendo Draco inicialmente duvidar de que tinha identificado a pessoa certa. Ele tinha quase certeza de que era Harry, mesmo através de suas vestes, o calor radiante de sua pele era aparente, aquela sensação distinta que o marcava. E a voz que ele tinha ouvido antes definitivamente era a de Harry.
Ainda assim… sempre havia a pequena possibilidade de outro aluno estar ao lado de Harry, e talvez ele tivesse agarrado a pessoa errada. Não houve nenhuma outra oportunidade para Draco encurralar o garoto pelo resto da aula, mas quando Harry não apareceu para seu horário de estudo normal naquela noite, tornou-se flagrantemente óbvio que o grifinório estava evitando-no. Por quê?
Ele se perguntou se era por causa de sábado, afinal. Harry parecia levar tudo na esportiva, mas talvez Draco tivesse falado demais, estivesse fraco demais. Afinal, Harry era um grifinório, corajoso e forte e quaisquer outras características que o Chapéu Seletor alegasse. Não havia espaço para fraqueza. Ele já havia criticado a autopiedade de Draco uma vez, muito antes que o próprio Draco se dispusesse a admitir isso. Foi isso? Ele abandonou Draco por causa disso, ficou cansado de lidar com ele e sua deficiência?
Mas e quanto ao toque de rosto? Aquele momento incrível entre eles, ou pelo menos, foi assim que pareceu. Ele não achava que poderia ter interpretado mal os sentimentos de Harry então… não havia como mentir com o toque. Harry nunca foi muito bom em manter as emoções longe de seu rosto, então presumivelmente, se ele sentisse algo negativo, Draco deveria ter sido capaz de captar com as mãos.
Aquele momento foi imediatamente após todos os outros eventos. O grifinório tinha acabado de jogar uma partida completa de quadribol, então levou Draco para voar, testemunhou sua explosão e passou a tocá-lo. Talvez tenha sido só mais tarde, naquele dia, e ele reconsiderou sua posição.
Foi quando a dor se instalou. Draco disse a si mesmo o tempo todo para não depender de ninguém, para não mostrar fraqueza, para não se abrir. E ele fez isso de qualquer maneira. Ele tinha deixado Harry ajudá-lo, embora não pudesse ser igual à ajuda que o outro garoto alegou receber em troca. Ele havia contado a Harry coisas que nunca contara a ninguém. Ele o havia tocado, e voado com ele, sentiu o batimento cardíaco sob os dedos… e agora ele se foi.
A reação de Draco, uma vez que se deu conta, foi se isolar novamente. As primeiras interações que ele fez com seus colegas de casa foram retiradas, e ele mais uma vez passou o dia inteiro falando com ninguém, a menos que fosse absolutamente necessário. Tendo experimentado até mesmo aquela pequena companhia com seus companheiros de casa, e depois de todo o tempo gasto com o grifinório, a repentina solidão foi agonizante.
Mas ele estava determinado. Ninguém o rejeitaria novamente. Ele se comprometeu com sua determinação de fazer isso sozinho, sem ninguém. Nem mesmo Harry. Principalmente Harry.
Mas ele não conseguia parar de pensar em Harry. Quanto mais ele pensava, em todas aquelas horas em que ficava sentado sozinho, mais furioso ficava. Harry estava sempre dizendo a Draco que ele deveria falar mais. Fale com as pessoas em vez de se isolar, fale sobre seus problemas, fale, fale, fale. Ainda assim, Harry se afastou sem uma maldita palavra para explicar. Draco se expôs ao admitir tudo o que estava acontecendo, o mínimo que Harry poderia fazer seria se explicar. Ele forçou Draco a enfrentar alguns de seus demônios, como voar, mas agora tinha fugido de qualquer merda que fosse seu problema atual.
Bem, tudo bem. Draco não precisava dele. Ele nunca precisou dele. E só para provar a si mesmo que era maior do que Harry, no final da semana ele decidiu voltar a entrar na esfera social da Sonserina, afinal. Ele não se abriria com eles como fizera com o grifinório, mas decidiu que não seria ruim se juntar de vez em quando. Ele se perguntou se Harry ainda estava sentado de frente para os sonserinos, ele esperava que sim. Deixe-o ver Draco conversar com Blaise e rir das piadas estúpidas de Crabbe e se dar bem sem ele.
Mas tarde da noite, no mundo protegido por trás de suas cortinas, a risada frequentemente se transformava em lágrimas. Lágrimas de raiva de si mesmo e de Harry. E lágrimas de perda, por algo sem nome que surgiu e tornou sua vida melhor, que lhe deu alguns vislumbres brilhantes de seu universo escuro.
Suas mãos traçavam suas próprias feições, seus cílios úmidos e boca seca, tentando se lembrar do momento em que os dedos gentis de Harry tocaram não apenas seu rosto, mas todo o seu ser. Tudo o que restou agora era um vazio oco, ecoando com uma emoção sem nome.
Mas esses sentimentos há muito haviam sido removidos de seu vocabulário e ele não se permitia reconhecer o que queria.
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Espero que estejam aproveitando a fic!!
A próxima atualização é da potterfoy com Draco Malfoy, it's your lucky day
E todos os meus agradecimentos a beta missugarpurple por betar os caps dessa História
Até amanhã, e amanhã será o fim !
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