Cap. 4 - Mestres das aparências
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Mestres das aparências
Como Mestres das aparências, tanto eu quanto ele tínhamos coisas a esconder, coisas que preferíamos manter sob o escuro e apenas dar importância ao que o outro podia ver
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Minha primeira noite naquela casa nem tinha começado e eu estava ansiosa e de nenhuma forma isso era uma coisa boa.
Tomei um banho muito demorado no início da noite. Procurei uma das minhas peças de roupa por todo closet e não tinha canto que eu achasse. O Jimin com certeza tinha dado fim nas minhas coisas; exceto por meu classificador que tinha as minhas documentações e da minha irmã, juntamente com uma foto da nossa família de anos atrás.
Respirei fundo pra não pirar. Nenhuma daquelas roupas pareciam comigo, mas seus tamanhos aparentavam como se fossem feitas sob medida. Optei por uma camisola de seda que apesar de marcar demais meu corpo, aos meus olhos era o menos vulgar.
Liguei para o hospital para falar com minha irmã já que tinha um tempo que eu não falava com ela. Não sabia como voltar a falar com ela depois da nossa "briga".
— Oi Lisa, como você tá? — perguntei quando ela atendeu o celular.
Um silêncio se fez do outro lado da linha. Senti um arrepio desconfortável passar por mim. Ela ainda estava chateada.
— Tem se alimentado bem? Eu mudei um pouco minha rotina e por isso não fui te ver, mas irei assim que puder, então não se...
— Me desculpe — disse com sua voz chorona.
— Lisa... — Engoli em seco para desfazer o nó que se formou em minha garganta, mas não consegui dizer mais que seu nome.
— Eu não queria dizer aquelas coisas e culpá-la pelo meu estado. Me desculpe mesmo, eu fui tão desumana com você e você faz tudo por mim — Sua voz rouca e soluços era um sinal que chorava feito cachoeira jorrando água.
— Está tudo bem Lisa, sabe que eu amo você independentemente de tudo. Não se preocupe, você é a minha família e a razão do meu viver, jamais ficaria chateada com você, mesmo que momentaneamente — disse sentindo as lágrimas me invadirem também.
A maçaneta da porta girou, mas ela não abriu. Alguém tentava entrar.
— Tenho que ir, a visitarei em breve. Te amo — disse e desliguei.
Pisquei para afastar as lágrimas e fui até a porta, a destrancando. Recuei um passo para trás ao ver Jungkook.
— Não me olhe desse jeito garota tola, saia da frente e me deixe entrar — disse sem um pingo de emoção.
Empurrei a porta para fechá-la, mas ele se pôs entre ela e a parou com um pé e uma mão.
— Ainda não estou preparada, espere um pouco — Pedi eufórica ainda tentando vencer sua força.
— Não seja idiota, não vim transar com você! Mesmo se fosse, essa é minha casa, não pode me colocar pra fora — Ele nem parecia fazer esforço enquanto eu me matava pra empurrar a porta — Você não vai trabalhar hoje?
Parei por um instante.
— Trouxe seu uniforme — disse ele.
Espiei antes de abrir a porta completamente. Ele estava com um cabide na outra mão, esse que tinha um terno feminino e apesar de formal, um ar sexy.
— Esse não é meu uniforme — falei após abrir a porta e olhar pro cabide.
— Eles são novos — Relaxou sua posição.
— Não quero nada novo, vão me olhar diferente — Senti o incômodo dos olhos das meninas só de pensar.
— Todas vão estar usando, é melhor você não ser a única a ficar com o antigo. Acha que eu me daria o trabalho de fazer um uniforme só pra você? — Deu-me o cabide e agarrei pra que não fosse ao chão — Vista-se logo, o Jimin irá levá-la.
Saiu sem aviso. Olhei pro uniforme. Com certeza era novo, algo completamente bem arrumado. Passei em frente a um espelho e me olhei. O que eu achei que aconteceria naquela noite? Óbvio que se ele fosse no meu quarto, seria pra me mandar trabalhar.
Troquei de roupa e desci, me surpreendi em como a roupa ficou bem em mim. Jungkook e Taehyung esperavam no meio do salão, eles se viraram quando ouviram meus passos na escada.
— O que estão olhando? — perguntei ao me aproximar e ver que eles não tiravam os olhos de mim.
Jungkook apenas bufou e se dirigiu à porta.
— Você ficou ótima nesta roupa, até que ele tem bons olhos — disse me admirando dos pés a cabeça e então passando o olhar pro Jungkook.
— É o novo uniforme do trabalho, do que você tá falando?! — Segui Jungkook porta a fora.
— Ai, ai, tá bom, se você diz — Seguiu-me.
Entramos no carro e ele entrou em movimento, o Jimin dirigia em silêncio e por não ser um caminho curto, resolvi puxar conversa.
— Você está indo pra boate? — perguntei à Jungkook, já que achava que iríamos apenas eu e o Jimin.
— Não devo satisfações a você — Foi o que disse. Ele parecia bem mais difícil de conversar, a verdade é que desde aquela maldita noite, eu nunca consegui ter uma conversa normal com ele e a cada hora que ficava perto dele me sentia cada vez mais longe, como se a pessoa daquela noite, fosse totalmente outra e não ele.
— Vamos nos divertir hoje, ignore ele — Taehyung respondeu por ele ao perceber minha cara infeliz com sua resposta.
— Tanto faz — Enfiei a cara no celular e passei a pesquisar alguns hospitais especializados. Se tudo desse certo, em poucos dias eu enviaria a minha irmã para outro hospital, só não fazia ideia para qual mandar.
Mandei mensagem pro médico que cuidava da minha família e lhe pedi uma orientação de para onde enviar minha irmã. Ao descer do carro, ele havia respondido dizendo que estaria mudando para um especializado com um bom tratamento ao qual eu poderia enviá-la.
Suspirei aliviada. Ter um conhecido num novo hospital seria bom para minha irmã, ela ficaria mais tranquila.
Encontrei a Mu-deok e ela não perguntou nada, absolutamente nada, sobre a Mansão Jeon. Seria o contrato de confidencialidade? Bom, talvez. Ela era curiosa demais pra não fazer perguntas absurdas e mínimas sobre minha chegada e adaptação lá.
No meio da noite, perdi a Mu-deok de vista, ela saiu do bar e outra barmaid assumiu seu posto. Quando vi o Jungkook na mesa do meio da boate, acabei concluindo que com certeza ela estava com Taehyung.
— Minha nossa, você é uma gracinha! — Fui agarrada por alguém enquanto levava uma garrafa de bebida.
O vidro encontrou o chão se despedaçando e espalhou o líquido dentro pelo chão. Afrouxei a mão que segurava minha cintura só para ser abraçada e colada no meu corpo ao do homem contra minha vontade.
— Me solte, o que o senhor pensa que está fazendo? — Saí de perto dele, não foi uma opção, não consegui.
— Não se faça de difícil, sei que é apenas mais uma das garotas que cedem a esse trabalho aqui — Sua outra mão empurrou minhas costas para mais perto dele.
Deixei a bandeja cair para manter minhas mãos entre nossos corpos.
— Me solte! Você não pode agarrar! Me larga! — Com meu desespero, minha mão acertou seu rosto, o arranhando com um canto de unha que eu mal tinha.
Ele me soltou e jogou com força para o chão.
— Sua vadia! Como ousa me machucar?
Finalmente os olhos de algumas pessoas se voltaram para mim, entre eles, vi que Jungkook também se encontrava.
— E-eu não fiz querendo! — Aleguei em vão.
— Vou dar uma boa lição em você! — Pegou meu punho e me arrastou contra minha escolha, era segui-lo ou me arrebentar no chão.
Olhei para o Jungkook e ele ficava imóvel me olhando ser tirada dali. Antes dele sumir da minha vista, avistei Jihyo se aproximar de seu ouvido, mover os lábios para falar algo e depois, sorrir ao me ver.
Fui levada para o fundo da boate e jogada no chão. Nem percebi quando choveu. O chão molhado fez com que eu escorregasse e caísse, ralando meu joelho. Dois homens saíram e se juntaram ao lado do homem, só então pude reconhecê-lo, Mark Tuan. Ele era um dos clientes VIPs da boate e já havia ocorrido antes momentos que ele havia tentado me agarrar, mas nunca tão extremo, ao seu lado estavam Jackson e Bambam, os dois amigos que sempre vinham com ele.
— Você sempre foge de mim, mas hoje foi a gota d'água! — Mark Tuan se aproximou e os outros dois me cercaram — Segurem essa vadia!
Eles seguraram cada um em meu braço. Resisti o quanto pude e quando vi que minha força não me serviria de nada, comecei a gritar.
— SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDE! — O chutei enquanto podia.
— Cabe a boca mulher! — Mandou Jackson.
— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE! — Continuei a gritar.
— Fique quieta — Bambam puxou meu rabo de cavalo e bateu minha cabeça no chão.
Uma dor pontiaguda parecia poder ser ouvida aos meus ouvidos.
— SOCORRO!
Minha cabeça foi contra o chão mais quatro vezes, minha visão ficou embaçada. Meus braços pararam de tentar escapar e minhas pernas perderam as forças.
Mark Tuan desabotoou minha calça e abriu o zíper.
— Agora você é só minha — Ainda consegui ouvir sua voz mesmo com o ruído nos meus tímpanos. Suas mãos desceram minha calça até o meio das minhas coxas, mas ele não teve tempo de terminar.
— Seu filho da puta! — Uma voz conhecida soou longe, no entanto, ainda reconheci sua silhueta.
Mark Tuan foi pego pelo pescoço, ficando sem ar e forçado a levantar. Seus amigos me soltaram para ajudá-lo.
— Quem você pensa que é?! — perguntou Jackson partindo para cima para acertar o rapaz. Ele só conseguiu acertar seu colega em cheio que foi usado como escudo.
Bambam mirou um soco e foi pego pelo desviar de seu inimigo, que segurou seu punho e rodou seu braço para suas costas.
— Como ousam colocar suas mãos podres nela?! — O jovem pareceu bastante irritado, consegui ouvir o grito do Bambam quando seu osso estalou com a força colocada em seu braço.
Jackson entrou em um combate corpo a corpo e apesar dos dois serem bons e terem trocados alguns golpes, ele vacilou e levou uma rasteira, no chão, ele recebeu socos repetidos no rosto até sangrar e parar de reagir.
Terminado com os amigos de Mark Tuan, o rapaz procurou por ele, mas ele simplesmente sumiu, havia fugido e largado àqueles que chamava de amigos para trás.
— Naui Juin, você tá bem? Não se preocupe, eu vou acabar com eles e cuidar de você! — Sua voz doce nem pareceu a mesma pessoa que gritou furiosa há pouco.
Com cuidado, ele passou um braço pelo meu pescoço e o outro por trás das minhas pernas. Ele me ergueu em seu colo sem dificuldade. Enquanto saíamos daquele beco e encontrávamos a luz, apenas senti o ruído aumentar e cada vez eu enxergava menos.
— Meu Deus do céu, o que aconteceu?! — A última voz que eu ouvi foi a do Taehyung que não era mais que uma mancha correndo em nossa direção.
Por mais que eu lutasse para me manter acordada, a inconsciência me tomou me fazendo fechar os olhos e me desligar do mundo.
[...]
Minha cabeça estava latejando, sentia meu sangue pulsar atrás quando me remexi no travesseiro.
Sentei com dificuldade e levei a mão atrás da cabeça.
— O que aconteceu? — Olhei para minha mão suja de sangue e contive meu susto num um choque com tudo que tinha acontecido voltando para minha mente com velocidade.
Comecei a tremer e um nó se fazer na minha garganta. Ao meu redor não havia ninguém, mas eu estava de volta ao meu quarto na Mansão Jeon, reconhecia bem ali.
Abracei minhas pernas pra ver se parava mais a tremura repentina que sentia, serviu apenas de gatilho pras minhas lágrimas rolarem sem consolo enquanto eu tentava não fazer barulho.
Houve duas batidas na minha porta. Não consegui responder, me vi sem voz pra dizer qualquer coisa.
— Naui Juin... — Jimin entrou cauteloso me chamando em tom baixo.
Nem o olhei, estava preocupada demais em tentar manter a calma. Ele soltou um suspiro e fechou a porta novamente. Se aproximou a passos lentos, mas quando o vi na minha frente, a visão dele correndo até mim me invadiu com tudo e perdi qualquer controle que tinha.
— Naui Juin — Sentou perto de mim e me abraçou sem dizer mais nenhuma palavra.
Não sei quanto tempo fiquei ali, mas sei que fiquei um tempo até me acalmar e passar apenas em chorar em silêncio.
Minha mente parecia me torturar, quando eu achava que tinha ficado um pouco mais calma, via tudo novamente e cada vez em câmera mais e mais lenta.
Enquanto estava imersa nas minhas memórias lembrando daqueles malditos, voltei um pouco mais atrás para o momento em que vi a Jihyo sorrindo e por fim quando o Jungkook me viu sendo carregada e não fez nada, absolutamente nada.
O que eu esperava dele? Que fosse me proteger como sua mulher? Não, o mínimo que eu esperava era que ele não me deixasse ser alvo de ninguém, como ele mesmo dizia, tinha muitos inimigos e eu poderia ser alvo deles. Inimigos. Pensando bem, ele só me protegeria de ser alvo dos inimigos dele. Se fosse meu inimigo, tudo bem eu ser espancada e quase estuprada...
Jimin deu um pulo se afastando de mim e se colocando de pé ao ouvir o som da maçaneta.
Uma mulher vestida de branco e jaleco entrou com um estetoscópio em volta do pescoço e uma maleta retangular em mãos.
— Que bom que acordou senhorita Han, sou a Dra. Kim Jennie — disse com uma expressão aliviada — Deixe-me ver como está sua ferida.
Sentei perto da cama e virei meio de lado pra que ela pudesse ter um acesso melhor à minha cabeça. Minha barriga protestou com o movimento e eu não sabia se era de fome ou de dor, já que sentia os dois.
— Vou pedir para servirem seu almoço — Anunciou Jimin — Dra. Kim?
— Está bem, mas sem massas ou comida muito pesada, por conta do abdômen é melhor não pesar o estômago — falou enquanto desenfaixava minha cabeça.
Ela tirou todo curativo e limpou a área, o que doeu. Aplicou algo após ter limpado que doeu mais ainda e por fim fez um novo curativo.
— Seu sangramento está bem leve agora, amanhã não deve mais sangrar, mas peço que tenha cuidado ao dormir ou todo cuidado dessas últimas horas serão em vão e o ferimento vai abrir.
Fechou a maleta e pegou sua sacola de descarte no qual colocou meu antigo curativo e o material de descarte que usou para limpar.
— A dor na sua cabeça está leve?
Abri a boca para falar "mais ou menos", mas minha voz não saiu nem um som minúsculo, somente meus lábios se moveram.
Jennie fechou seu sorriso simpático e voltou a perguntar:
— Sente dor na garganta?
Neguei com a cabeça.
— Deixe-me dar uma olhada — Tirou do bolso uma caneta e a girou pro lado, ligando a lanterna.
Abri minha boca e com luvas em mãos, ela olhou dentro da minha boca de ângulos totalmente diferentes, depois com uma paleta. Ela desligou a lanterna quando terminou.
— Talvez você ainda esteja em choque, isso pode causar uma perda temporária da sua voz e também suas forças sobre seu corpo, como também pode ficar boa em um curto período de tempo. Vou pedir que descanse sua mente, quando se tranquilizar, seu corpo voltará a agir como antes — Sorriu solidária.
Terminou de arrumar suas coisas e tirar suas luvas, por fim, saiu. Levantei da cama procurando rumo pro banheiro, mas assim que me pus de pé, caí sem forças e novamente a imagem deles segurando minhas pernas vinheram como um show ao vivo, senti meu corpo estremecer.
— Naui Juin. Você está bem? — Jimin entrou apressado. Deixou a bandeja na escrivaninha e me colocou de volta na cama.
Apertei minhas mãos sobre as pernas, que bela vergonha eu havia passado.
— Quer ir ao banheiro?
Senti minhas bochechas enrubescer, mas eu precisava de ajuda ou faria minhas necessidades ali mesmo, o que seria ainda mais vergonhoso. Movimentei minha cabeça para cima e para baixo em afirmação.
Ele pareceu perceber como eu estava incomodada, então apenas me colocou em seus braços e me levou imediatamente pro sanitário. Depois virou de costas. Puxei a manga de seu terno.
— Eu não vou espiar, você vai precisar de ajuda pra chegar na pia — Prometeu e de alguma forma, confiei.
Baixei minha calça e me aliviei. Ao terminar ele me acompanhou à pia e até à cama. Comi as frutas e a sopa de legumes de má vontade, eles exageraram na leveza da comida.
Jimin sentou na poltrona e ficou me encarando por um bom tempo, como se eu pudesse desabar a qualquer momento e ele vinhesse correndo me dá uma mão. Pra quem não costumava ficar sério sozinho comigo, era um estranho.
Deitei na cama e fingi não me incomodar com o olhar do Jimin, até que realmente não me incomodei. Me permitir vagar em meus pensamentos e nos meus acontecimentos recentes.
Nada parecido com aquilo havia ocorrido antes na boate. As garçonetes que não se atribuem a outras funções nunca haviam passado por nada assim, apesar da segurança apenas na entrada da boate, Jihyo tinha muito respeito e resolvia as coisas quando uma das suas funcionárias sequer era tocada fora do horário de trabalho.
Jihyo. Ela estava rindo, e além disso, estava com o Jungkook de uma forma claramente que dizia que aquele homem a pertencia de um jeito e de outro.
Em outro tempo, Jihyo não deixaria aqueles caras sequer me tocarem, mas, agora, eu duvidava seriamente se ela não armou pra mim ou se não assistiu tudo de bom gosto só porque do contrato que eu tinha com o Jungkook.
Jungkook também estava pouco se importando comigo sendo arrastada por eles. Eu confiei demais na sua palavra. Por mais que ele não me devesse nada, foi desumano da parte dele me ver sair com tanta frieza. Quanto a isso, eu estava enganada sobre ele. Se eu quiser sobreviver num ninho de cobras que eu arrumei, precisava não confiar nele de jeito nenhum, nem da forma mais banal.
A porta se abriu, mas ninguém entrou. Taehyung olhou pra mim na cama e fingi não notar sua presença, mantendo meu olhar preso onde ele estava originalmente. Com um sinal, Jimin se levantou e se aproximou dele.
— O Jungkook está chamando? — perguntou o Park.
— Ele quer ver você, é sobre a Naui Juin — Taehyung sussurrou.
Os dois saíram. Sentei na cama. Tinha haver comigo? O que exatamente?
Depois de libertar meus pensamentos e meu coração da situação ocorrida, senti meu corpo mais leve e mais firme. Eu havia depositado muita coisas nos outros e aquilo me deixou desequilibrada, mas eu já havia me recuperado disso.
Levei minha mão à garganta e minha voz era a única que continuava falha. Conseguia sentir a vibração das minhas cordas vocais, no entanto, falar era outra coisa, minha voz parecia longe, mas tava ali, logo voltaria. De repente me perguntei se eu havia gritado por ajuda tão alto porque até onde me lembrava, tive pouca chance pra isso.
Me coloquei de pé e me senti aliviada em ver que estava tudo bem com minhas pernas. Coloquei a cabeça no corredor e vi Taehyung e Jimin sumir na quebrada pra escada.
Acelerei os passos e esperei eles descerem. O Jungkook queria falar com o Jimin sobre mim, a pergunta era o quê.
— Vocês pegaram eles? — Jimin perguntou ainda em movimento.
— O Jungkook está tão irritado que resolveu por si só — Taehyung fez uma voz de cansaço.
— Se eles ainda tiverem vida quando chegarmos lá... — Deixou seu comentário no ar.
Senti minhas batidas acelerarem. Do que eles estavam falando? Quem tinha sido pego? Como assim o Jungkook tinha resolvido? O que queriam dizer com "se eles ainda tiverem vida"?
Eu sabia exatamente o que significava e rezava para que fosse coisa da minha cabeça.
Voltar pro quarto não era uma opção. Esperei eles sumirem no salão e os segui sempre me escondendo.
Eles entraram numa porta do segundo pavilhão que eu nunca saberia que era mesmo uma porta. Ela ficava escondida numa parede decorada de estrelas cujo eles seguiram sequência para que fosse aberta. Fiquei boquiaberta com aquilo. A Mansão Jeon era uma casa antiga mais de reforma atual, jamais imaginaria que houvesse uma passagem.
O segui e uma enorme escada abaixo se seguiu. Lamparinas estavam iluminando o caminho. Por fim a escada terminou e mostrou um enorme porão de pouca iluminação.
— Aquela puta bem que merecia mesmo! — gritou alguém.
Senti uma tremura me tomar. Eu reconheci aquela voz, lembrei da noite na boate.
Ousei olhar onde a iluminação era alcançada e lá estava ele. Mark estava preso com os pés presos em correntes no chão e os braços numa algema dupla no alto do teto que com certeza doía, já que vazia marcas e sangue do ferimento.
— Você deve estar querendo morrer mesmo! — Jungkook falou em um tom assustador e passou a socar o rosto de Mark. Na mão do Jeon tinha alguma coisa cor de prata grossa como se fossem anéis de quatro dedos em um. Não machucar Mark Tuan com vontade era impossível com aquela coisa na mão.
— Calma aí! — Taehyung agarrou um braço de Jungkook.
— Vai botar ele pra dormir igual os outros desse jeito! — Jimin o segurou pelo outro lado.
Outros? Olhei pra um canto, pro oposto e enfim vi Bambam e Jackson presos da mesma forma, porém, mais no fundo. Os dois estavam sendo mantidos em pé pelas algemas. Encontravam-se desacordados.
Levei a mão à boca para conter um grito fino que senti chegar na minha garganta.
— Esse filho da puta mereceu! Ele só fica me provocando! — A raiva que o Jungkook sentia transparecia sem contenção.
— Calma, não acha que já tá bom? Já deu uma boa lição nele e nos amigos dele, precisa se controlar agora, Jungkook. Você não é assim — Taehyung disse com as mãos no ombro dele e o encarando nos olhos.
Por um segundo, senti que Mark Tuan me viu num encontro de olhar. Voltei a me esconder com uma mão sobre o peito esquerdo.
Voltei a espiar aos poucos e ele não parecia olhar pra mim. Ele passou a língua nos dentes e em seguida cuspiu o sangue que estava em sua boca.
— Você quer tanto defender aquela puta só porque eu queria me divertir com ela, mas nunca faria nada com a verdadeira culpada em nome dela, não é? — Soltou Mark Tuan. Me surpreendi ao ver como ele ainda conseguia falar naquelas condições.
Consegui sentir a desconfiança dos meninos daqui.
— Se quer mesmo vingar a Naui Juin, deveria dá uma lição na Jihyo, ela mandou que tivéssemos uma boa noite com a funcionária e depois a deixasse em pedaços — Encarou eles, mas senti que seu olhar passou por todos e parou em mim. Ele sorriu olhando para MIM.
Dei um passo pra trás, dois e três. Tateei uma mão na parede procurando manter um equilíbrio que não teve sucesso; minha mão acertou uma das lamparinas e minhas pernas fraquejaram. Sentei no chão desconcertada e a lamparina caiu perto da minha mão, fazendo barulho.
— Quem está aí? — Ouvi Jungkook perguntar.
Sem resposta, Taehyung deu uma ordem:
— Vá vê quem é e traga aqui — Ordenou para Jimin.
Em segundos vi Jimin surgir no corredor.
— Droga, Naui Juin! — Ele disse e me ajudou a levantar pelo braço — Está machucada?
Neguei com a cabeça. Jimin segurou minha mão e passou o dedão em uma área que de repente estava sensível. Havia um arranhão na minha mão que não percebi quando caí.
Atencioso e cuidadoso, Jimin me levou devagar para perto de Jungkook.
— Ótimo, já que está aqui, me deixe fazer justiça por você — falou em tom melancólico e sombrio.
Se dirigiu até Mark Tuan e voltou a socá-lo sem dor com sua mão reforçada. Assisti a cena sem interferir, em parte achava que ele merecia, por outro me dei conta e voltei pra vida, saindo da minha bolha.
— Para com isso, desse jeito vai matar ele! — Agarrei seu braço, mas ele se soltou.
— Ele merece mesmo! — Fechou a mão preparando outro golpe, parou quando me coloquei entre ele e aquele cretino com meus braços abertos em defesa —Ficou maluca? Está protegendo o cara que pretendia te estuprar e te matar, não quer vingança?
Minha ação parece ter o confundido. Baixei meus braços.
— Eu não pedi pra que fizesse isso!
— E precisa pedir? Isso é o tipo de coisa que se devolve na própria moeda, eu estou protegendo você — disse impaciente, não sabia se estava mais irritado porque eu queria pará-lo ou porque eu não queria aquilo.
— Me protegendo? E onde você tava quando ele me arrastou pra fora da boate — Sua boca se abriu e se fechou — Deixa que eu digo onde estava, você estava nos braços da mulher que ordenou que eles fizessem isso comigo, se quer mesmo me vingar, dê um jeito na Jihyo! Sua proteção é tão boa que me deixou ser levada por eles, assistiu e não fez nada! Se não fosse pelo Jimin o plano deles seria um sucesso.
— É O TRABALHO DELE! — gritou comigo sem dor nem pena.
— É A "SUA" OBRIGAÇÃO ME MANTER PROTEGIDA, VOCÊ QUE ME PROMETEU ISSO E NÃO FEZ NADA. JÁ PENSOU ALGUMA VEZ QUE SE TIVESSE REAGIDO PODERIA NEM TER IDO TÃO LONGE? — Minha voz ecoava pelo local.
Vi suas cerrarem. Ele tirou o objeto de sua mão e respirou profundamente para se conter.
— Você é muito idiota! — disse para então virar e olhar para Jimin e Taehyung que assistiam com certa aflição — Tire esses lixos daqui e leve-na de volta pro quarto, até eu mandar, ela não deve sair.
Soltei uma risada irônica. Ele estava me "castigando"?
Tomei a frente e saí dali por conta própria a passos rápidos, com passos seguindo-me, que eu imaginava de quem era.
Subir as escadas do salão como se quisesse derrubá-las de tanta raiva que sentia. Ao entrar no quarto bati a porta com força e antes que fechasse, Jimin a parou e entrou.
— Ele me chamou de idiota? — Andei de um lado pro outro reclamando — ELE é o idiota! Como eu odeio ele!
— O Jungkook ficou realmente bravo por você, é a maneira como ele lida com as coisas, uma moeda de troca. Não o culpe — Jimin disse com muita cautela, como se não quisesse parecer estar do lado dele, mas o defendia.
— Então ele vai dar um jeito na Jihyo agora? Eu ouvi muito bem o Mark Tuan dizer que aquela mulher que ordenou. Ele vai se vingar dela por mim? — Eu sabia a resposta, ainda assim perguntei.
Deitei na cama de cabeça pra baixo e soltei um grito de frustração na almofada enquanto batia meus pés no calção furiosamente.
Aliviada, virei de barriga pra cima e depois de minutos em silêncio, controlei minha respiração desenfreada.
Jimin deitou perto de mim, pareceu cansado também. De acordo meu sangue esfriava, comecei a sentir minha cabeça doer, a agitação não foi uma boa ideia.
— A Jihyo fez o Jungkook prometer que iria na boate ficar com ela pra se redimir por ter você aqui sem o consentimento dela — falou Jimin após um bom tempo de silêncio.
— Qual é dessa relação deles? — Olhei pro lado e ele me olhava, ele desviou o olhar pro teto.
— O Jungkook deve muito a ela e não pode deixá-la, ainda assim, ele foi ao banheiro e me ligou. Achei que manter a guarda fora ajudaria a manter a segurança, não imaginei que o problema já estivesse dentro, cheguei um pouco tarde — Sua voz foi lamentosa.
— Não foi sua culpa, mas eu esperava mais dele, talvez eu criei expectativas demais — admiti.
— Você não deve criar expectativas, querendo ou não, o Jungkook é da Jihyo, e ele não tem coragem de encará-la, por isso ela passa dos limites. Não espere mais do que uma transa dele, ele não é esse tipo de homem — Seu aviso foi bem específico.
Nesse caso, se a Jihyo quisesse me matar, ela me mataria se ele não chegasse a tempo, mas nunca disciplinaria ela.
Ele fingiu não se importar quando fui levada pra não quebrar sua promessa à Jihyo, mas mandou me resgatar. Eu não conseguia ver isso com bons olhos. Jungkook era muito bom em aparentar ser uma coisa e fazer outra ou até mesmo o contrário. A partir dali, passei a pensar: e se os inimigos de quem Jimin tivesse que me proteger fosse a própria Jihyo? Se fosse isso, faria todo sentido eu precisar de um segurança a todo tempo, afinal, a pior ameaça é a qual anda contigo todos os dois, e até agora, Jihyo era a mais letal.
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