Cap. 2 - Não queime, incendeie
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Não queime, incendeie
Sempre vi tudo que eu amava queimar em minha frente. Ao me ver sem opções para apagar o fogo que a vida colocou sobre mim, decidir não apenas queimar o que sobrou, e sim incendiar para que não restasse nada
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Meu corpo doía em cada movimento que eu fazia, a última vez que isso aconteceu foi quando eu inventei de correr uma maratona para extravasar a raiva e a frustração, no dia seguinte eu não servia pra nada.
Não pretendia levantar, entretanto, precisava de um relaxante muscular que tivesse dipirona também porque minha cabeça explodia. Sentei contra minha vontade e cada músculo do meu corpo protestou em forma de dor. Aos poucos, deixei meus olhos verem a claridade do dia.
— Essa bebida é realmente boa — Massageei minhas têmporas sentindo-as muito tensas.
Arrastei-me para o fundo da cama e vi minhas roupas no chão. Olhei para meu corpo e eu estava totalmente nua. Imediatamente puxei o lençol da cama para me cobrir.
— O que aconteceu ontem? — perguntei desesperada para mim mesma.
Puxei a frente dos meus cabelos tentando me lembrar, mas eu não consegui. Respirei fundo e resolvi deixar pra lá.
Levantei pronta pra buscar minhas peças pelo chão, mas me deparei com o chão com as pernas fracas, senti um latejar bem no meio delas.
— Por que estou tão dolorida? Não está perto do meu ciclo — Reclamei com a mão no pé da minha barriga.
Peguei as peças e senti falta da minha calcinha, voltei para cama e lá estava a prova do que até agora eu me negava a acreditar: eu havia dormido com alguém, a marca vermelha na cama não me deixava ter mais dívidas.
Juntei minha calcinha e me arrumei. Juntei o forro ao lençol e saí do quarto. As chaves dos quartos usados não estavam no mesmo lugar onde costumava ficar. Segui e desci pro segundo andar. As meninas estavam limpando o salão. Aquele era meu trabalho, por que elas estariam o fazendo?
— Olha só, a Bela Adormecida acordou — Sunmi disse, me cumprimentando sempre com uma boa crítica.
— Dá um tempo pra ela, deve ter trabalhado muito ontem à noite — Minnie apoiou o queixo nas mãos no cabo do rodo, me olhando com um sorrisinho que indicava claramente um duplo sentido sem vergonha.
— Me poupem das críticas de vocês hoje — Revirei os olhos e sentei numa das cadeiras do balcão do bar.
— Toma, parece que tá de ressaca — Mu-deok me serviu um copo de água com estomazil já diluído, esse que bebi, outro copo foi posto no balcão com água normal e dois epocler.
— Você é um anjo, sabia? — Abri os dois epocler e virei de vez.
— É, passa uma noite com um ricasso e no outro dia nem trabalhar quer, não sabia que as funcionárias mandavam nas gerentes agora — Sunmi falou em alto e bom som para que eu ouvisse.
— Não arrume encrenca, afinal está sendo paga pra isso — Minnie repreendeu Sunmi, e a vi puxar seu braço quando olhei de relance.
— Vou botar a mão na mesa, obrigada — Me pus de pé, saindo do banco.
— Espera — Mu-deok pegou minha mão — Ficou maluca? — Ela deve ter notado que eu não tinha entendido nada, pois me chamou para mais perto com a mão e disse em meu ouvido: — Seu cliente pagou para elas fazerem seu trabalho hoje, você só volta à noite.
— QUÊ?! — Chiei e todos me olharam.
— Shhh! — Apontou com o dedo na boca e me puxou para mais perto outra vez — Você só volta a trabalhar hoje a noite com o dia contando completo.
Afastou. Eu ainda processava a informação. Por que ele pagaria para trabalharem para mim?
— Dá 'pra entender porque ele pediu pra elas fazerem seu trabalho e deixar você descansar — Ela particularmente cantarolou e observou minha pele — Toda marcada, acredito que ele não tenha sido gentil, mas pela sua cara, deve ter amado.
Sentir um calor súbito subir no meu rosto.
— Dava 'pra ouvir seus gemidos cá de baixo quando fechamos a boate. Ele só saiu hoje de manhã, colocamos uma música para dormir já que vocês era uma pausa e novos gemidos surgindo naquele quarto — Sua cara não negava que se divertia como conseguia me deixar sem graça.
Acontece que eu não me lembrava de nada, absolutamente nada. Encarei minhas mãos e notei as marcas roxas nos meus pulsos com um baita susto. Eu estava marcada? Ele me deixou marcada? Olhei mais acima nos meus antebraços e espiei por dentro da minha blusa, meus peitos e minha cintura, havia hematomas por todo lado.
Como um flashback, todas as cenas da noite anterior voltaram de uma vez: minha discussão com o cliente, a gente bebendo, a gente no quarto, meu beijo impulso e meu convite impuro. Minhas memórias não eram claras, eu sabia que o álcool estava pesado, mas não tanto. Não consegui me lembrar do rosto nem da voz direito do homem. Eu não fazia a menor ideia de quem tinha sido.
E se eu esbarrar com ele na boate de novo? Eu não saberia quem ele é! Ou pior, poderia ofendê-lo por não lembrar dele. Por outro lado, se eu não lembrasse quem ele é, eu não ficarei com vergonha, não o evitarei toda vez que ele vier e nem ficarei sem graça.
Suspirei um ar que nem sabia que prendia com um grande alívio. Ontem eu estava totalmente fora de mim, talvez a notícia da minha irmã tivesse me impactado mais do que imaginei que tinha. Eu sempre soube as poucas chances que ela tinha, mas aquela notícia era um xeque-mate e eu não podia fazer absolutamente nada para ajudá-la. Não podia sustentar um novo hospital, muito menos conseguir um doador e eu não poderia doar, foi a primeira coisa que tentei.
Graças ao cliente da noite anterior, minha tarde de limpeza da boate estava livre, decidi ir visitar minha irmã após tomar um banho. Fui à padaria antes de passar no hospital e comprei um dos seus lanches favoritos, hoje era um dos únicos dias em que eu conseguia passar o horário de visita completo com ela, então fiquei bastante tempo com ela.
— E você? 'Tá bem? — Lisa perguntou quando achei que ela quase dormia.
— Estou sim — falei simplista.
Seus olhos apontaram para meus pulsos e meu pescoço. Puxei a gola da minha blusa mais para cima e logo depois os do meu pulso, não queria que ninguém me visse roxa, mas pelo jeito, minha irmãzinha observadora não deixou passar.
— Me desculpe por causar problemas para você... — Desculpou-se como se aquilo fosse culpa sua, o que não era. Baixou seu rosto num choro silencioso.
— Estou bem, é sério, não é nada... Você não tem nada haver com isso! — Exclamei com a maior certeza que podia afirmar.
— Acha que sou uma criança?! — gritou, para minha surpresa. Levei alguns segundos para reagir, sem saber o que dizer.
— Lisa...
— Você vive 'pra cuidar de mim, não compra nem uma hidratação 'pro seu cabelo e acha que não me sinto culpada por isso? Eu só queria morrer, estar morta é melhor que isso, eu não aguento mais ficar nesse hospital, nessa cama. Não aguento mais ser o seu fardo, quero morrer logo! — Disparou de uma vez.
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu não fazia ideia de como ela sentia. Me achei a pessoa mais azarada do mundo com os infortúnios da vida, com a s dificuldades com minha irmã, sem saber em como ela tava sofrendo, que tipo de irmã eu era?
Me aproximei dela para abraçá-la, sem sucesso, ela me empurrou para longe e gritou:
— Vá embora! Sai daqui! Não quero ver você!
Os aparelhos dispararam. Ela estava com raiva, muita raiva de mim, mas eu nem sabia o motivo, não conseguia ver com clareza, não conseguia entender seu lado. Fiquei tão imersa em como era difícil pra mim, que ignorei seus sentimentos e não vi o quanto sofria.
Saí do quarto e chamei uma enfermeira que notificou outra e depois seguiu logo para o quarto. Fiquei na sala de espera e vi quando o Dr. Uk passou pro lado do quarto da Lisa.
Apoiei meu rosto em minhas palmas, frustrada. Nunca a vi daquele jeito, tudo sempre tinha como piorar, como isso era possível.
Aguardei até o horário do fim das visitas, mas ainda ouvia seus gritos de onde eu estava. Levantei quando vi o Dr. Uk se aproximar.
— Como ela está? — perguntei aflita com certa angústia no peito.
— Ela estava histérica, tivemos que sedá-la.
Cerrei meus punhos.
— Ela vai ficar bem, deve estar irritada com a sua situação, ela é sua irmã, não tem porque se preocupar por uma briguinha, vocês só tem uma a outra e você sempre fez tudo por ela — Uma de suas mãos repousou em meu ombro como consolo.
— Talvez eu não tenha feito o suficiente!
Saí sem um pingo de educação. Assim que passei a porta da frente do hospital, desmoronei em lágrimas silenciosas porque não queria chamar atenção.
Fiz o caminho mais longo para o trabalho, até estar pronta para hoje à noite. Quando entrei pelas portas do fundo eu ainda não estava bem, mas tinha trabalho a fazer.
Um banho frio me ajudou a deixar o corpo mais leve, só que meu coração ainda pesava. Saí do banheiro já arrumada e levei um susto quando Mu-deok saiu por trás da porta.
— O que 'tá fazendo aqui? — perguntei com a voz fina, surpresa.
— Tenho notícias boas e ruins — Agarrou minha mão e me dirigiu para o quarto ao qual dividíamos com nossas maiores inimigas ali dentro; Minnie e Sunmi.
Sentamos na minha cama e não teve como eu não ficar desconfiada. Seu rosto tinha uma expressão de nervosismo e ao mesmo tempo empolgação.
— Me dá a má notícia primeiro, duvido que algo piore ainda mais meu dia — falei lembrando de mais cedo no hospital.
— O cliente que você atendeu ontem, é o único cliente que a Chefe atende, ela ligou e sem querer eu atendi.
— Você atendeu uma ligação dela?! — Falei perplexa.
— Não foi querendo, ela nunca liga 'pro número da boate, só 'pro escritório, não tinha como eu saber e...
— Calma, continua onde parou, não desfoca — Interrompi. Quase sempre ela desviava do assunto quando ficava muito agitada.
— Voltando, ela ligou pra saber quem foi a vagabunda que ousou dormir com seu homem. Amanhã ela vem aqui — Fez questão de imitar o xingamento dito em mesmo tom. Ela respirou para continuar: — Você sabe o que acontece com pessoas que cruzam o caminho dela, ela é muito impiedosa e nos melhores do caso, você será só expulsa.
Minha boca fechava e abria num "o" de horror. Ela não atendia esse cliente na casa dele? Como ele parou lá? E justo eu o atendi ainda por cima! Sem falar que justo naquela noite eu resolvi dar uma de maluca e dormi com esse homem.
— E qual é a notícia boa depois dessa bomba? — Já estava desesperançosa depois da notícia ruim.
Foi à porta do quarto e olhou para os corredores, depois fechou e trancou.
— Eu descobri através de algumas pesquisas que ele não consegue sentir atração por outras mulheres — Sua voz era quase um sussurro.
— Ah, é? — Dei um olhar incrédulo com uma sobrancelha arqueada, aquilo soava ridículo já que nossa chefe o servia.
— Estou falando sério — Voltou a falar baixo — O médico dele disse que ele deve manter sua vida sexual ativa até que ele consiga algum dia realmente sentir algo. Ele não consegue se entregar por completo por não conseguir ter pensamentos eróticos por mulheres.
— Isso deve ser mentira — Comecei em mesmo tom — Ele não me pareceu ter dificuldade alguma com mulher, você viu como ele me marcou e aquele homem é uma máquina de sexo.
Lembrei dos flashes de mais cedo, pelo que me lembrava, ele havia acabado comigo em posições e formas diferentes, cada hora uma coisa nova e em todas as vezes, ele só fez uma pausa pequena pra recuperar o fôlego e começar de novo.
— É essa a notícia boa — Não gostei da sua empolgação, seja lá o que tinha de bom, eu não conseguia ver — Ele transou com você e com certeza gostou. E se você for a pessoa que consegue despertar desejo nele?
— Eu não sou, se era só um bloqueio, ele deve ter resolvido e depois disso ficado bom — Insisti certa de que não deveria haver um homem assim.
— Pela manhã a chefe foi vê-lo e foi a mesma coisa de sempre. Não acho que seja um bloqueio e sim a pessoa. E essa pessoa é você. E se ele...
— Não, você enlouqueceu — disse em tom de conversa normal, já que antes só falávamos baixo e levantei.
— Haerin, eu não brincaria com essas coisas — Encarou-me e quando encontrei seu olhar, vi a certeza que tinha.
Ela jurava de pé junto, apostaria sua vida naquilo que dizia. Ela era esse tipo de pessoa quando tinha certeza de algo ou tomava uma decisão.
— Espera, como descobriu isso? Se ele é tão rico, a informação do seu médico não é confidencial? — Aproximei dela com um olhar acusador — Como é que você descobriu essas coisas?
— Eh... — Ela desviou o olhar.
— Não minta pra mim, quero a verdade! — falei certa do que queria.
Ela suspirou e relaxou os ombros tensos.
— Sabe que os serviços daquela família são privados, então, por favor, não fique tão surpresa.
— Fala logo!
— O primo dele, sabe que eu não me submeto aos serviços das outras meninas, não me julgue — Encolheu os ombros — Mas o Taehyung viu algo em mim e eu sou exclusivamente dele...
Deixou feito quem tinha mais a dizer e não sabia como. Sorri para ela e segurei suas mãos em sinal de confiança.
— Não se preocupe, é nosso segredo! — falei em tom de promessa — Você gosta dele, não é?
— Como você sabe?! — Sobressaltou-se em seu tom.
— Odeia aqueles serviços tanto quanto eu, só isso explicaria — Dei de ombros, ficamos alguns segundos caladas, até que decidi falar algo — Ela vai me demitir no melhor dos casos, isso se não achar uma maneira terrivelmente assustadora pra me torturar.
— Sim, não sabemos quando ela vai chegar e você precisa de dinheiro, não é? — Foi um susto sua citação, mas não era novidade na boate sobre a minha irmã e minhas condições financeiras.
— Eu preciso de dinheiro, mas não sei como conseguir. Será que ele, cliente, me emprestaria? — Criei uma minúscula esperança que virou nada no minuto seguinte.
— Use a fraqueza dele contra ele. Ele gostou de você, o resto você sabe...
Eu entendi o que ela queria dizer. Eu poderia oferecer uns "serviços" ao cliente da noite anterior se ele pagasse o tratamento da minha irmã, mas eu não podia me vender.
— Sei o que tá pensando, mas olhe, se vocês estão oferecendo algo um ao outro, então não está se vendendo por dinheiro, e sim tendo um acordo comum — disse cuidadosamente.
Vendo dessa forma, ela tinha razão, no entanto, eu não achava que estava pronta para lidar com isso; estar disponível para um cara bruto quando ele me quisesse.
Ficamos algum tempo ali, até a Minnie passar nas portas batendo indicando que era hora de descer.
O movimento começou devagar, crescendo constantemente. Eu sempre olhava como um cliente me via, sentia medo de algum deles ser aquele cara, mas até as altas horas da noite, não o vi e acabei relaxando pensando que ele não viria.
— O que os senhores gostariam de beber hoje? — perguntei aos dois homens engravatados sentados à mesa.
— A bebida da casa, por favor — respondeu o de cabelos pretos, seus olhos presos em mim enquanto seu amigo de cabelos castanhos ficava observando nós dois a cada vez que um falava.
Aquele par de olhos me intimidavam, como se me analisasse ou quisessem dizer mais alguma coisa e eu tinha que ser uma ótima adivinha para saber o que era, pois simplesmente não sabia.
— Ok, mais alguma coisa, senhores?
— Não gostaria de beber comigo essa noite? — Seu olhar foi impassível, ignorei.
— Nós, garçonetes, não podemos beber com nossos clientes, sinto muito senhor. Mas se o senhor quiser, há algumas acompanhantes disponíveis em nossa boate, alguma lhe agrada? — Sugeri educadamente.
Notei que seu amigo segurou um risinho escondendo seus lábios nos dentes.
— Você me agrada.
— Bem, é uma pena dispensá-lo, mas não posso desviar de minha função. Irei buscar sua bebida senhor — Fiz uma breve mesura e me retirei.
Após alguns passos não tão longe da mesa, o ouvi falar:
— Fala tanto de funções, mas ontem você bebeu comigo, não só bebeu — Sua voz fria me atingiu com tudo, juntamente com seu duplo sentido.
Era ele. Ele foi o cara da noite anterior. Ainda meio congelada, me virei pasma com o que tinha ouvido.
— Espera, você não se lembra? — Arqueou uma sobrancelha, incrédulo — Não lembra da nossa noite.
Destravei num instante e me sentei no banco erguendo meu corpo pra frente.
— Shhh! — disse com um dedo em meus lábios — Não diga isso alto.
Minha voz soou como um meio sussurro.
— Tsh, inacreditável, disse que não iria culpar o álcool, mas nem sequer se lembra — Ele pareceu infeliz com sua conclusão do meu esquecimento.
— Olha, foi só uma noite, não precisamos levar 'pro lado pessoal, é só fingir que nada aconteceu, você fica bem, eu fico bem e todos saem ganhando — Tentei negociar sem perguntar nada e apenas decidir.
— Eu não saio ganhando — Havia arrogância em sua postura.
O outro descruzou as pernas e apoiou um antebraço na mesa e o rosto na mão que estava apoiada no cotovelo.
— Você é muito interessante, sabia — Um sorrisinho brincava em seus lábios, ele parecia se divertir com isso tudo.
— E você, quem é? — perguntei sem nenhuma educação.
— Não sabe quem eu sou? — Surpreso, foi o que pareceu — Se sabe quem ele é, sabe quem eu sou — Deu de ombros.
— Não me interessa quem vocês são, só não quero mais problemas 'pro meu lado — Levantei da mesa — Vou tratá-los como um cliente qualquer, então me tratem como uma garçonete qualquer.
Me dirigi ao balcão do bar e destaquei o papel onde anotei o pedido.
— E então, como foi? — Mu-deok perguntou em meio ao barulho do som.
— Não é hora pra isso, mas quem é aquele outro cara? — Olhei para a mesa que acabara de sair, os dois conversavam e não prestavam na gente.
— Essa é fácil, o divertido é Kim Taehyung, ele é o braço direito do Jeon Jungkook, esse que dormiu contigo. E foi Taehyung quem me passou as informações — Sussurrou bem perto do meu ouvido.
A olhei com os olhos arregalados.
— Ele é seu comparsa? — falei um pouco alto, mas logo recompus o tom baixo — Por que ele te contaria essas coisas?
— Como eu disse, ele só me contou porque acha que o segredo é você. O Taehyung acreditava que o Jungkook só tinha DSH, mas acontece que depois de você, talvez ele só seja Gray-a — Sua mente parecia vagar.
Eu não entendi nada, absolutamente nada. O que era DSH? E Gray-a?
— Não faço ideia do que você tá falando — Balancei a cabeça como se conseguisse fazer meu cérebro parar de pensar o que seria aquilo.
— Mais tarde te explico, aqui a bebida deles — Entregou-me a bandeja com os copos.
Respirei fundo e afastei a frustração. Segui para a mesa daqueles dois.
Servi seus copos e dirigi a cada um.
— Já lembrou de mim? — perguntou o Jeon Jungkook, se esse era ele de acordo com as informações da Mu-deok.
Ele ia mesmo insistir naquilo? Eu teria que dar um ponto para ele não voltar a citar o ocorrido.
Bate minhas palmas das mãos na mesa e o encarei olho no olho.
— Eu sei o que aconteceu bem longe, mas não consigo associar seu rosto ou meu corpo com aquilo, não sei se foi bom, se foi ruim ou como foi estar com você — Endireitei-me — Se me der licença.
Ouvi o riso de Taehyung e antes de parar de ouvi-los, o ouvi falar:
— Foi tão ruim assim? — Riu como se fosse a melhor piada do mundo.
Soltei o ar que nem imaginei prender quando encostei no balcão. Mu-deok estava ocupada fazendo alguns drinks, decidi não a incomodar para terminar a conversa, deixaria para depois.
Rodei algumas vezes para atender clientes, recomendar acompanhantes, limpar mesas, servir acompanhamentos e informar aquilo que os clientes queriam saber sobre as apresentações das dançarinas.
A noite foi mais longa que de costume e a mesa do meu caso de uma noite foi a última a sair para atrasar a limpeza; sempre que a chefe avisava que viria, a gente limpava a boate depois de fechar invés do dia seguinte e limpava novamente no outro dia para garantir tudo limpíssimo, Jihyo era terrível quando se tratava de limpeza. O único problema é que eu que fazia essa limpeza pós-trabalho, já que eu era paga para isso. Para minha pouquíssima sorte que tinha na vida, Mu-deok era muito parceira, a única amiga que já tive na minha vida.
— Estou morta — Jogou-se em um dos assentos das mesas para clientes.
— Muito obrigada, isso demoraria mais umas duas horas se eu fizesse sozinha — Agradeci de coração, estava muito cansada e ela deu uma força e tanto.
— Me agradeça com uma boa fofoca. Como foi com o Jeon? — Sentou já animada novamente, a forma que ela sempre se renova não sei se me inspira ou me assusta.
— Mandei ele esquecer isso e levar como o caso de uma noite — Dei de ombros ao sentar do outro lado da mesa no assento frente ao dela.
— Haerin!
— Ai, que foi? Nem me vem. A Jihyo vai me matar de qualquer jeito, prefiro manter distância desse homem e rezar a Deus que ela só me dê belas broncas e alguns castigos com os deveres daqui — Cruzei os braços em birra.
— Você já considerou que barraqueira do jeito que ela é ela pode te dar uma surra? Ou ao menos mandar te passar um corretivo? Aquela mulher não é humana — Insistiu, eu entendia seu lado, sabia que a Jihyo ia surtar e procurar a pior forma de me torturar, ainda assim, queria crer que a força maior divina estava do meu lado.
— Você é tão negativa — Revirei os olhos.
— E você tão positiva — Imitou-me na ação.
— Não que eu esteja interessada, mas e sobre aquele homem? O Sr. Jeon? — Fingi puro desinteresse.
— Então, segundo o Taehyung, o Sr. Jeon tem DSH e faz acompanhamento médico por causa disso — disse, simplista.
— Você quer que eu saiba o que é DSH? — Olhei-a incrédula.
— Ah, DSH é Distúrbio Sexual Hipoativo. O Sr. Jeon tem ausência de desejo ou fantasias sexuais, com isso, ele não consegue ter uma relação sexual normal — Chegou mais para meu lado do banco — Soube que a Jihyo sempre 'tá lá uma ou duas vezes por semana há meses e nunca conseguem resolver isso.
Lembrei da nossa noite. Ele parecia um homem selvagem, não que eu não parecesse uma também, mas para uma pessoa com tal transtorno, ele parecia completamente normal.
— Como melhores amigos, o Taehyung sabe tudo sobre o Sr. Jeon e logo depois de dormir com você, ele disse que o Sr. Jeon bateu na porta dele e contou tudo.
— Tudo? — perguntei abismada.
— Sim, tudo — Moveu as sobrancelhas.
Enrubesci.
— E então? — De repente me vi ansiosa para saber o que ele tinha dito.
— Aparentemente ele ficou com a Jihyo hoje a tarde e ela ficou de ir ver ele de noite, mas pelo jeito, com você ele conseguiu. Foi daí que o Taehyung tirou que o Sr. Jeon deve ser apenas Gray-a, ele pode sentir atração sexual inesperada por alguém, mas muito raramente sente isso — Seus olhos brilhavam quando falava de seu crush.
Era novo ver a Mu-deok tão animada com um homem, ainda mais quando falava que os homens não eram confiáveis. Ela realmente gostava desse tal de Kim Taehyung. O que ele tinha de especial mesmo?
— Tanto faz, não pretendo seguir seus conselhos apocalípticos — Levantei e esperei ela fazer o mesmo.
— Mas você poderia, ao menos uma vez, se as coisas ficarem feias ou apertadas — Seguiu-me.
Guardamos as coisas da limpeza no almoxarifado. Fomos à casa do fundo da boate, que era onde dormíamos. Quem trabalhava na boate normalmente não tinha casa e bem, era mais econômico morar nela.
Tomei um banho quente bem demorado, e debaixo do chuveiro, as palavras da Mu-deok repassaram na minha mente. Jeon Jungkook poderia ter o dinheiro que eu precisava para cuidar da minha irmã, mas... Mas isso significaria que eu teria que ceder aos meios que mais detestava.
Meu pensamento deu outra volta. Se ele fosse mesmo rico, como eu poderia entrar num acordo com ele? Nunca me expus a ninguém, não podia simplesmente pedir para ele cuidar da minha irmã. Como também com o dinheiro que ele devia ter, ele não se importaria comigo, afinal, foi só um caso de uma noite. Cresci pensando que pessoas com dinheiro não se interessavam com coisas como vida sexual, para ele deveria ser um alívio, porém, a ideia não saia da minha cabeça: e se ele precisasse mesmo ter uma vida sexual ativa? Por menor que fosse a possibilidade, tudo fazia parecer que para ele era uma necessidade mínima e se sua importância fosse tão grande, só podia interferir em seus negócios, gente com poder só pensava em adquirir mais sem interrupções.
Deixei todos esses pensamentos de lado e me preparei para dormir. Naquela noite, por mais que eu tenha decidido desconsiderar tudo aquilo, minha mente pesou tanto no assunto que acabei sonhando com aquela noite em que o conheci.
[...]
Como durante a madrugada eu e a Mu-deok limpamos tudo, tudo que as meninas tinham que fazer era deixar tudo lustrando, e nem disso me safei. Passamos o dia espalhando verniz nos móveis de madeira, limpador multiuso para o resto brilhar e detergente neutro para pratos, copos, travessas e qualquer outra coisa que fosse de vidro ou porcelana. tudo estava uma beldade aos olhos de limpo e arrumado até o meio-dia.
Almoçamos e nos arrumámos, prontas para receber nossa chefe, descemos e esperamos sua chegada em uma enorme fileira.
Ao ver Jihyo entrar, senti um incômodo no estômago que não sabia que sentiria. Minnie a recebeu.
— Seja bem-vinda, chefe! — Ergueu seu corpo para frente, repetimos a mesma frase e ação pouco depois de Minnie.
Ela nos dispensou com uma mão. Seus olhos estavam cheios de fúria, fúria controlada. Até Minnie tinha uma postura incomodada e ver todos tão nervosos, me deixou assim também.
Jihyo se posicionou ao lado da Minnie, ficando em nossa direção, observando-nos minuciosamente.
— Vou perguntar pacientemente, quem atendeu o Jeon Jungkook? — Um sorriso, o mais falso que eu já vi, ela se segurava para não surtar. Ninguém reagiu, senti um pequeno alívio por ninguém me dedurar, mas logo virou um susto: — QUEM ATENDEU ELE?
Todas levamos um susto com seu grito autoritário, sem perceber, eu tremia, tremia muito. Fechei as mãos. Ninguém ousou virar a cabeça, apontar ou sequer mover um músculo.
— Minnie — Jihyo olhou para Minnie, ouvir seu próprio nome fez ela dar um pequeno pulo — Você é uma mulher inteligente, sabe como não é bom me irritar. Quem foi a vaca?
Olhou direto para mim e as meninas do meu lado se afastaram, a última pessoa que fez isso foi a Mu-deok, que sussurrou "desculpa" e saiu.
— Que droga! — Pegou um vaso de bebida alcoólica e simplesmente jogou em minha direção.
Abaixei ao perceber que ela não iria simplesmente beber e sim jogar o vidro.
As meninas soltaram um grito fino assustadas, algumas até choravam.
— SUA VADIA, COMO OUSA DAR EM CIMA DO JUNGKOOK?
— Eu não dei em cima dele, não era minha intenção... — Tentei me explicar em vão, recebi uma bela bofetada.
— Ainda ousa discutir comigo?!
Levei a mão ao lado do meu rosto que latejava.
— Estou tentando esclarecer, não discutir.
Recebi outro tapa. Respirei fundo e continuei.
— Eu não sabia quem ele era, não pretendia transar-
Parei de falar. Ela puxou meu cabelo e girou em sua mão dando uma volta. Perdi a postura por completo com a dor na minha cabeça.
Perdi o controle de como as coisas seguiram depois daquilo. De repente eu estava no chão levando tapa atrás de tapa ao ponto de ficar tonta, não conseguindo mover meus braços para proteger meu rosto, ficaram presos ao meu corpo quando ela acertou nasentou na boca do meu estômago. Em um momento tão inoportuno, ouvi aquela voz.
— O que estão fazendo aí paradas? Tirem ela de cima dela!
Mu-deok foi a primeira que me alcançou, ela tentou parar a mão da Jihyo, mas ela revidou e a mandou para longe com um empurrão.
Minnie ajoelhou perto e tentou resolver falando, com medo de tocá-la, mas Jihyo simplesmente não parou.
Só senti seu peso sair de cima quando um homem de cabelos castanhos pegou seus braços com força bruta e a imobilizou levando-os para as costas, precisou apenas de uma mão para isso e com a outra segurou seu pescoço, não lhe dando opção que não fosse se pôr de pé e se afastar.
Minha visão estava turva e a voz das meninas estavam longe. Braços tiraram meu corpo do chão como se fosse leve.
Fechei os olhos para me concentrar e senti meus sentidos retornando aos poucos. Fui deixada em algum lugar com encosto para costas bem macio.
— Eu trouxe gelo, água e um corpo — Reconheci a voz da Mu-deok.
Abri meus olhos ficando mais consciente.
— Lava a boca e cospe — Com cuidado, ela levou o copo à minha boca.
Nem senti o gosto de sangue em minha boca. Com um gole na boca, gargarejei e joguei no copo vazio.
— Eu faço isso — Peguei o gelo de sua mão.
— Vou ver como as coisas lá embaixo com o Taehyung, qualquer coisa é só chamar — disse e saiu sem resposta.
Minhas bochechas estavam sensíveis e me arrepiei com o contato do calor em meu rosto e o frio do gelo.
— Você simplesmente levou uma surra — Ele pareceu decepcionado com minha derrota.
Revirei os olhos.
— Se eu não visse, o que teria acontecido com você, garota imprudente? — Sua frase parecia conter ironia, porém, seu rosto não.
— É tudo sua culpa mesmo.
— Vai me culpar, então? — Arqueou as sobrancelhas.
— Se tem uma mulher 'pra você, não deveria dormir com qualquer uma.
— Mas eu não durmo com qualquer uma — Encarou-me.
Troquei o gelo de lado.
— Sei.
— Estou falando sério, e vim aqui por causa disso também.
A ideia da Mu-deok passou em minha mente. Quando percebi que ele abriria a boca pra falar, falei antes:
— Vamos fazer um acordo.
Seu rosto expressou surpresa.
— Você quer um acordo?
— Se me pagar bem, uns dois salários, posso dormir com você quando quiser — Joguei para os ares todos meus princípios, não me arrependeria.
— Não, isso é incerto. More comigo, pode continuar servindo de noite como garçonete, vou te pagar quatro salários — Ele parecia ter a resposta na sua língua.
Quase tive que segurar meu queixo, era muito dinheiro, mas eu iria precisar dele, poderia mudar de hospital e também o tratamento da minha irmã, com esse dinheiro, poderia achar uma divulgação maior por um doador.
Já estava tudo em chamas mesmo. Jihyo não me deixaria em paz, apostava que eu estava demitida depois disso tudo, até achar outro trabalho precisava de uma segurança. Deu tanto trabalho conseguir os extras na boate e tudo foi destruído por uma noite sem planejamento.
Se minha vida estava em chamas, por que não jogar álcool para que incendiasse por completo?
— Estamos de acordo!
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Notas da Autora
Oi pessoal, como estão? Beberam água hoje? O que acharam no capítulo? Comentem seus surtos durante o capítulo e me digam qual a opinião de vocês!
Deixem seu voto nesse capítulo e ajudem essa humilde história a crescer. Estão ansiosos pra o próximo capítulo?
Betagem do capítulo por ZelosNation_ do Blog e eu super recomendo as fics do projeto e os pedidos feitos pelo Blog!
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