𓏲 ࣪ ( 000 ) ˖ prologue.
━━━ 𖦹 ━━━
Maya levantou da cama em um pulo assim que sentiu a água gelada entrar em contato com seu rosto, olhando para todos os lados, ainda tentando raciocinar o que havia acontecido.
De pé ao lado da cama, Brian, seu irmão gêmeo, ria descontroladamente com um balde - agora vazio - em mãos.
──── Seu merdinha! ──── Maya gritou irritada. ──── Eu vou matar você! ──── e com isso, passou a correr atrás de seu irmão, na tentativa de o acertar pelo menos um soco.
──── Sua lerda, já são nove da manhã! ──── ele dizia entre risadas enquanto descia as escadas correndo, largando o balde no chão da sala para que pudesse ter mais agilidade.
──── Eu já mandei não correrem na escada! ──── a voz alta de Alexia foi ouvida da cozinha. ──── Venham tomar café da manhã e parem de gritar.
──── É só você mandar ele me deixar em paz. ──── Maya disse parando na porta da cozinha, olhando para sua mãe de forma indignada.
──── Me obriga, tampinha. ──── ele acertou um leve tapa em sua nuca antes de passar por ela. Maya revirou os olhos com o apelido, já que a diferença de altura deles era de no máximo quinze centímetros.
──── Vem na mão, babaca. ──── Maya se colocou em posição de luta, mas sua mãe foi rápida em entrar na frente dela.
──── Primeiro, olha a boca suja. ──── Alexia bufou, cansada de repetir aquilo dentro de casa. ──── Segundo, sem caratê dentro de casa. Já falamos sobre isso. ──── uma regra que foi criada anos atrás, quando Brian e Maya eram pequenos e estavam treinando dentro de casa, e foi então que um chute giratório da morena acertou a TV da sala, a fazendo cair da parede e se quebrar ao entrar em contato com o chão. Naquele dia, Maya e Brian levaram a maior bronca possível, e logo Hyeon também, já que era ele quem ensinou isso para seus filhos. ──── E, por Deus, Maya. Vá se secar. Você está molhando o chão todo.
Maya olhou para o chão, vendo as gotículas de água que pingava de seu cabelo molhado. Ela bufou, lançando um olhar mortal para Brian antes de se virar para sair da cozinha, dando de cara com seu pai.
──── Bom dia, May. Acordou animada, ein? ──── Hyeon soltou uma risada, ela apenas o encarou com uma feição séria, deixando claro seu mau humor. Ele percebeu, tirando o sorriso do rosto e limpando a garganta, deixando um leve beijo no topo da cabeça dela.
Com isso, ela sorriu ladino, logo se virando para subir as escadas, em direção a seu quarto.
Após fazer sua higiene matinal no banheiro, Maya novamente desceu, encontrando sua família toda sentada à mesa enquanto tomavam café da manhã e conversavam tranquilamente. Maya parou por alguns segundos para observar. Cenas como aquela eram raras, ela sabia disso.
Indo até lá, ela se sentou entre Brian e Alexia, prestando atenção na conversa para interagir também.
──── Dizem que é uma cidade bem ruinzinha. ──── Brian comentou com a boca cheia, enquanto mastigava. Maya concordou.
Claro, ouviam isso de todos os lugares e simplesmente decidiram acreditar, mesmo sem tentar ver o lado bom de West Valley.
A verdade era que nem Brian e muito menos Maya queriam sair da Coréia do sul, onde passaram suas vidas inteiras. Alexia não se importava, no entanto, já que ela era originalmente dos Estados Unidos, e apenas voltou para que pudesse comandar a Empresa Hammond, empresa essa que estava na família da mulher há anos e ela agora seria a próxima sucessora.
──── West Valley tem ótimos pontos. ──── Hyeon diz rapidamente, antes que Alexia desse um sermão em Brian pela falta de educação. ──── Chegamos anteontem, vocês nem tentaram conhecer o lugar. E foi aqui que eu conheci sua mãe.
──── E depois ela decidiu ir pra Coréia com você para se casarem. É, pai, essa história já é velha. ──── Maya diz em um tom implicante, fazendo com que o homem revirasse os olhos.
──── Vocês vão gostar do lugar. Claro, não chega aos pés da Coréia, mas é bom. ──── Hyeon disse com um sorriso.
──── O que ele quis dizer é que não importa se vocês gostaram ou não. ──── Alexia começou, já começando a se estressar. ──── Vocês vão ter que engolir, de um jeito ou de outro. Viemos para cá por causa do meu trabalho e esse agora é o nosso novo lar. ──── seu tom mais duro foi o suficiente para calar a boca dos outros ali. ──── Então tratem de arrumar algo que encham a cabeça de vocês antes que só reste vocês encherem meu saco.
──── Encher seu saco é mais divertido. ──── Brian deu de ombros e a mãe semicerrou os olhos para ele.
──── Seria bem mais fácil termos continuado na Coréia. Nós poderíamos ter ficado com a tia Kyoko. ──── irmã mais velha de Hyeon, mais conhecida por Maya como "tia Kyoko". Kyoko ficaria muito feliz em cuidar temporariamente dos sobrinhos, Maya sabia disso, mas Alexia não permitia, e a mais nova não entendia o porquê.
Ela estava disposta a fazer de tudo para continuar na Coréia, não querendo se afastar de seus amigos, de seu namorado, de seus familiares, de toda a sua vida.
──── A vida longe de lá por um tempo vai fazer bem a vocês. ──── Alexia comentou, se levantando e recolhendo suas louças, as levando até a pia. A mulher choramingou sabendo que provavelmente seria ela que teria que lavar, já que estavam há muito pouco tempo ali e não tiveram tempo de contratar uma faxineira ainda. ──── Começando pelo caratê. Vocês vão ver como vai ser bom ficar longe daquilo. Aquilo já estava mexendo com a cabeça de vocês.
Aquilo foi o auge para seus filhos.
──── Foi por isso que não nos deixou ficar com a tia Kyoko! ──── Brian bateu levemente na mesa, dizendo de forma indignada. Alexia havia pensado em tudo, afastando seus filhos da cunhada, já que era a mesma quem ensinava os golpes de caratê para eles. ──── Porra, é claro que sim!
──── Olha a boca!
──── Você afastou eles do que eles mais gostam de fazer porque isso não te agradava? ──── Hyeon perguntou levemente decepcionado com sua esposa, já que ele também amava o caratê e já foi campeão de muitos campeonatos quando mais jovem.
──── Não é bem assim. ──── Alexia murmurou, mentindo, não olhando na cara dos filhos e nem do marido. ──── Nós viemos por causa do meu trabalho. Para não ficarmos afastados um do outro.
A cozinha ficou em silêncio, ninguém ali ousava dizer alguma coisa, mesmo que soubessem que Alexia estava mentindo. Ela sempre odiou que seus filhos seguissem no caratê, já que queria coisas totalmente diferentes para eles. Por exemplo, queria que Brian fosse pianista e, Maya, uma modelo. Mas com o caratê, nada seguia de acordo com seus planos.
──── Perdi a fome. ──── Maya murmurou levemente irritada, se levantando da mesa antes mesmo de colocar no prato o que iria comer.
──── Às oito da noite teremos um jantar com os LaRusso, uns amigos. Não se atrasem e muito menos faltem, ou então estão de castigo. ──── a mais velha disse e Maya revirou os olhos, logo saindo da cozinha enquanto ouvia protestos de seu irmão.
Sabendo que estaria livre até a hora que sua mãe havia marcado o jantar com os Larusso, Maya não tardou em sair de casa. Faziam exatamente dois dias que estavam no país novo, na cidade nova, e desde então os Hammond não haviam saído de casa, procurando primeiro organizar tudo por ali. Claro, Brian ficou apenas porque foi forçado, mas Alexia não se importava.
Igualmente frustrado com a conversa que teve com a mãe no café da manhã, Brian procurou sair o mais rápido possível também, alcançando Maya em poucos minutos com sua velocidade admirável.
──── É claro que tinha que ser um truque dela nós virmos pra cá. ──── Brian riu com escárnio. ──── Longe de Kyoko ou Kim, fica mais fácil de seguirmos o futuro que ela quer pra nós.
──── Você sabe que ela não vai conseguir o que quer. ──── Maya deu de ombros. ──── E estar longe de Kim é uma dádiva.
A mãe deles tentava fazer com que eles largassem o caratê há muito tempo, mas a paixão que eles tinham pela luta era muito maior do que qualquer outra coisa.
──── Eu já odiei a cidade. ──── a Hammond mais baixa suspirou. ──── Sinto falta da Coréia.
──── É. Não vejo a hora de voltar. ──── Brian disse enquanto chutava uma pedra no caminho. ──── Mas veja pelo lado bom, pelo menos aqui não estamos indo à escola.
──── Idiota. ──── sua irmã riu. ──── Mas você sabe que é por pouco tempo, certo? A mãe já fez nossa matrícula, as férias de verão acabam daqui algumas semanas. ──── Brian bufou assim que a ouviu dizer isso.
──── Estraga prazeres. ──── disse, se referindo à mãe deles.
──── Acha que vai demorar muito até que q mamãe organize tudo na empresa dela? ──── ela perguntou, não escondendo a ansiedade que sentia para voltar para a Coréia.
E Brian não era burro, ele sabia exatamente o motivo pelo qual ela queria tanto voltar. Ele revirou os olhos.
──── Você só quer voltar por causa do seu namoradinho idiota. ──── ele murmurou com desgosto.
──── Você só o odeia porque apanhou pra ele durante o treino. ──── Maya zombou e Brian a empurrou levemente com o ombro.
──── Eu não apanhei! Eu deixei ele ganhar, e só pra constar, se eu realmente quisesse vencer aquela luta, eu tinha arrebentado a cara daquele mimadinho do caralho. ──── apertou os punhos só de lembrar do rosto do garoto. ──── E então ele ficaria tão mais feio do que já é que você teria medo e nunca mais iria querer nada com ele.
──── A minha vontade agora é de te jogar no meio desses carros. ──── a morena murmurou, observando a rua movimentada pelos carros ao lado da calçada que eles caminhavam.
──── Você merece coisa melhor. ──── ele colocou a mão nos bolsos, e Maya decidiu que o melhor a se fazer era ignorar o que ele dizia.
Sabia que Brian provavelmente estava certo, mas o que ela poderia fazer? Maya estava apaixonada por aquele garoto que seu irmão tanto odiava. O garoto que, em tão pouco tempo em sua vida, a virou de cabeça pra baixo.
Balançando levemente a cabeça para afastar os pensamentos, a morena avistou um pequeno mercadinho, segurando o pulso de seu irmão e o arrastando até lá, enquanto ele estava confuso. ──── Esquece isso. Vem logo.
Ao entrarem, se separaram para pegarem coisas que eram de seus interesses. O Hammond foi até o refrigerador, pegando ali uma lata de cerveja e uma de refrigerante, porque sabia que sua irmã gostava. Já Maya, foi direto para a seção de doces, colocando todos o que chamavam sua atenção dentro da pequena cesta, não sabia o gosto de quase nenhum doce dali, já que não estava acostumada a comer doces americanos. Se encontraram minutos depois no caixa, encarando o que o outro havia pegado com certo desgosto. Maya odiava cervejas, e Brian, odiava doces. Maya nunca entendeu sua aversão por coisas tão gostosas.
──── Eu pago. ──── Brian disse simples e Maya nem pensou em relutar, apenas dando de ombros e se aproveitando da boa vontade do irmão.
O homem do caixa segurou a lata de cerveja antes de passar pela máquina registradora, intercalando o olhar entre Brian e a lata, vendo que ele claramente era de menor.
──── Identidade. ──── o homem disse, soltando a lata antes de passar na máquina registradora.
──── Não achei que fosse do tipo que se importasse com coisas assim. ──── o moreno arqueou uma sobrancelha.
──── Dá logo a identidade pra ele, babaca. ──── Maya deu um leve tapa na nuca do mais alto, que murmurou um xingamento direcionado a ela. Ainda sim, fez o que ela mandou e entregou a identidade ao homem.
O homem analisou a identidade por exatos cinco segundos, vendo ali que o garoto havia apenas dezesseis. O vendedor, por sua vez, apenas deu de ombros como se não se importasse e devolveu a identidade, logo passando a cerveja.
Maya riu, vendo como seu irmão sempre tinha sorte com isso. Ele nem se sentia mais nervoso em situações assim, de tanto que acontecia. A garota então bateu os olhos na estufa expositora que havia ali no caixa, vendo que dentro havia dois pedaços de pizza que claramente eram do dia anterior.
──── Ah, vamos querer as pizzas também. ──── Maya disse ao homem enquanto apontava para a pequena vitrine.
──── Nós vamos? ──── seu irmão arqueou uma sobrancelha para ela, e ela concordou com a cabeça.
O vendedor apenas acatou e pegou os dois pedaços de pizza com a mão, sem ao menos colocar uma luva. Maya disfarçou sua expressão, mas Brian estava com uma clara expressão de nojo enquanto pegava um dos pedaços e deixava sua irmã pegar o outro. Após pagar tudo, os dois saíam da loja ouvindo o homem atrás deles dizer um "voltem sempre" de uma forma bem desanimada.
──── Isso parece estar horrível. ──── o garoto comentou enquanto caminhavam já foram do estabelecimento.
──── Bem, você lembra daquela pequena lanchonete que tinha perto da nossa antiga casa? ──── Maya perguntou segurando a risada. ──── Era pior e nós comíamos lá mesmo assim. Ao menos nessa pizza não parece ter pernas de baratas.
Brian gargalhou lembrando de todos os lanches horríveis que comiam na pequena lanchonete sempre que queriam sair de casa por um tempo e não podiam ir até o Dojang.
──── Tudo bem, você tem razão. Nesse caso, um brinde. ──── eles brindaram as pizzas antes de morderem ao mesmo tempo, cada um fazendo uma careta diferente. A pizza estava fria, a massa tinha gosto de farinha o frango do recheio estava com um gosto azedo. ──── Porra. ──── disse com a boca cheia, mas logo cuspiu o pedaço de sua boca longe, enquanto Maya achou aquilo antiético e preferiu se forçar a engolir. ──── Essa merda consegue ser pior do que a de onde comíamos.
Maya gargalhou, ainda sentindo o gosto ruim na boca enquanto jogava o pedaço de pizza fora, assim que passou ao lado de uma lixeira, Brian fez a mesma coisa.
Enquanto se afastavam, a Hammond sentiu algo leve e pequeno atingir sua cabeça. Olhou para trás de canto de olho e ignorou, mas sentiu novamente, e percebeu que seu irmão também sentiu isso assim que viu ele se virando para trás bruscamente, querendo achar o culpado. Maya olhou para o chão, vendo que o que os atingia não era nada mais que pipocas.
──── O que foi, porra?! ──── Brian perguntou.
"Tão gentil." Maya pensou enquanto revirava os olhos. Ela então reparou na mulher que jogava pipoca neles, uma moradora de rua, estava sentada no chão, com roupas velhas e sujas e seu cabelo longo desgrenhado. Assim que percebeu que se tratava de uma moradora de rua, Brian sentiu um pequeno remorso por ter aquela reação, mas sua raiva voltou assim que a mulher lançou mais uma pipoca em direção ao rosto dele.
──── Me dá dinheiro, moleque! ──── ela exigiu enquanto continuava a lançar pipoca contra os dois.
──── Que forma sutil de pedir dinheiro aos outros, viu. ──── Maya disse sarcasticamente enquanto puxava a carteira da bolsa, pegando ali uma nota de dez dólares e se aproximando da mulher. Ainda sim, ela não parava de lançar pipocas, agora mirando só nela por estar mais próxima, e isso a irritou. ──── Para com isso. Aqui, pega. ──── estendeu o dinheiro para a mulher.
A mulher arqueou uma sobrancelha enquanto encarava o dinheiro, logo o puxou bruscamente da mão de Maya.
──── Só dez dólares?! ──── perguntou em um tom alto, indignada. Maya arqueou as sobrancelhas, vendo a exigência da mulher.
──── Você ainda quer exigir?
Brian, que estava catando as pipocas do chão, as lançou uma por uma na direção da mulher, como uma espécie de revanche. Logo foi até lá e puxou a irmã.
──── Vamos, Maya. Deixa a mendiga. Vamos voltar para casa. ──── disse enquanto virava as costas, dizendo em um tom alto e enfatizando a palavra "casa", jogando na cara da mulher que voltou a jogar pipoca nos dois, mas logo se levantou com os dez dólares que ganhou e foi até a pequena loja que os irmãos Hammond estavam anteriormente, dizendo um "pirralhos de merda". ──── A sorte dela é que eu não bato em mulher. ──── Brian murmurou e Maya lhe deu uma cotovelada.
──── Para de ser tão agressivo, idiota. ──── ela deu uma cotovelada na barriga do garoto, que grunhiu e a xingou. Mas Maya não prestou atenção nele, e sim no estabelecimento que haviam parado em frente. Era perto do mercadinho, e logo na fachada havia um símbolo de uma cobra Naja. "Cobra Kai" era como se chamava, a Hammond tinha certeza que já tinha ouvido aquele nome em algum momento de sua vida, mas não se lembrava de onde era. ──── Cobra Kai... ──── ela murmurou um pouco pensativa, tentando se lembrar - uma tentativa em vão -.
──── Cacete, May! ──── Brian disse animadamente, notando que se tratava de um dojô de caratê. ──── Não acredito que existe um dojô de caratê nesse fim de mundo. ──── ele sorriu, a ideia de morar em West Valley não lhe parecia tão ruim.
──── Você não acha que já ouviu falar desse dojô? ──── a Hammond perguntou, ainda intrigada com aquilo.
──── Quem liga? O que importa é que vamos poder continuar no caratê! ──── ele olhou para uma placa escrito "Fechado" na porta, o desanimando levemente. ──── Eu vou procurar na internet alguma coisa sobre isso, nós precisamos voltar aqui outro dia.
Maya decidiu ignorar o fato de achar que já conhecia o dojo, agora se animando junto com seu irmão por não precisar abandonar a arte marcial que tanto amava.
Alexia tentou os afastar do caratê, mas o caratê não poderia se afastar deles.
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