Capitulo 14

Breno

Depois que viu que Melissa estava satisfeita, Andréia voltou-se para nós, desta vez apelando para mim. — Breno, querido. Eu sei que você e meu filho se tornaram bons amigos, certo? — Eu balancei a cabeça hesitante e isso foi suficiente para fazê-la sorrir. — Então eu não vejo problema com vocês dois se arrumando por uma noite, não é? Mel pode dormir comigo e vocês, meninos, podem dividir o quarto de hóspedes.

Engoli em seco, sem saber ao certo como responder. Dormir com Shane não era o tipo de tentação que eu precisava agora. Já era ruim o suficiente eu estar me forçando a ignorar o quanto eu estava me sentindo atraído por ele, mas a dividir uma cama? Não ... má ideia.

Sérgio estava obviamente concordando comigo. — Mãe, isso é estranho. Não somos duas crianças de dez anos que podem ter uma festa do pijama, Bê e eu somos homens crescidos.

Melissa parecia confusa. — Os adultos não podem ter pijamas? Isso não é justo. — Ela ainda não teve sua primeira festa do pijama, mas não por falta de convites. Várias das meninas da classe dela estavam tentando me convencer a deixá-la passar uma noite.

Sérgio e eu trocamos um longo olhar, como se tentássemos ler os sinais faciais um do outro. Quando percebi que Andréia e Melissa estavam assistindo avidamente, cedi e dei de ombros. — Eu não tenho problema com isso, se você não tiver. Contanto que você não ronque ou monopolize as cobertas, acho que podemos dividir um quarto por uma noite.

Andréia bateu palmas com um sorriso vitorioso para o filho. — Aí está, querido. Você está em menor número e menos votado. Agora, vocês terminam o lanche para poder trazer suas malas. Depois que todos estiverem acomodados, podemos decidir que tipo de coberturas você quer em sua pizza.

— Ooh, nós vamos comer pizza? Oba! Papai só deixa o homem da pizza vir às vezes. — Mel estava fora de si de empolgação porque raramente a deixava comer fast-food ou pizza.

Sérgio esfregou a barriga, já lambendo os lábios quando ele balançou a cabeça em Melissa. — Oh, não, princesa. Não virá o homem da pizza. Sua avó faz tudo por si mesma, com borda e tudo.

A cabeça de Mel girou em direção a mãe de Sérgio. — Você, vovó? Sério? Posso ajudar?

Andréia riu e se inclinou para abraçar Mel, sorrindo largamente enquanto descansava a bochecha no topo da cabeça dela. — Eu realmente gosto e adoraria ter um ajudante. — Ela sentou-se novamente e inclinou a cabeça para trás para cheirar o ar. — O molho está fervendo desde o início desta manhã. Você não pode sentir o cheiro? Ou o cheiro dos biscoitos ficou mais forte?

Agora que ela mencionou ... fechei os olhos e respirei quando o doce cheiro de alho e tomate atingiu meu nariz. Quando abri meus olhos novamente, a encontrei sorrindo indulgentemente. — Apenas espere até provar. Se você acha que está cheirando bem, espere até você dar uma primeira mordida no produto acabado. Você nunca mais vai querer pedir comida para viagem.

Sérgio drenou sua limonada e se levantou. —Tudo bem, já que eu sei que nunca tiraremos Bê desta cozinha até que você diga a ele o que tem no molho, vou descarregar o carro e deixar vocês falarem.

Antes que eu pudesse discutir, Andréia já estava me distraindo quando ele saiu. — Você gosta de cozinhar, Breno?

Sérgio olhou para trás com uma risada. — Se ele gosta de cozinhar? Pfft. Eu tive que começar a correr novamente quando ficou difícil fechar minhas calças. Esse cara é sobre essas combinações de sabor, mãe. Confie em mim, você terá muito o que conversar com ele.

— Oh, isso é maravilhoso. Você viu meu jardim de ervas quando subiu? Todos os meus vasinhos ao longo da grade têm ervas diferentes que eu uso. — Ela parecia animada por encontrar alguém que falasse a língua da culinária.

Eu me senti relaxando e peguei um biscoito. — Com certeza sim, e todas as suas outras plantas e flores também. Eu amo os vasos em que estão, você os fez? Sérgio mencionou que você faz aula de cerâmica recentemente.

— Recentemente? — Andréia gargalhou, batendo a palma da mão contra a mesa. —Aquele garoto é o mestre do eufemismo. Tomei minha primeira aula de cerâmica quando ele foi para a faculdade. Eu me diverti tanto que nunca olhei para trás.

Quando eu mencionei que eles pareciam bons o suficiente para vender, ela admitiu que realmente tinha alguns à venda em uma loja local. Tivemos uma conversa adorável, e quando Sérgio voltou para se juntar a nós, ficamos lá assistindo enquanto ela ensinava Melissa a abrir uma massa de pizza adequadamente. Mel ficou desapontada quando descobriu que a massa já havia sido feita.

Melissa decidiu que não se importava de perder a mistura quando descobriu que precisava bater a massa e usar um rolo. Ela ficou encantada quando Andréia e Sérgio se revezaram, mostrando-lhe como jogar a massa no ar para formar a pizza perfeita. Quando a massa estava no forno, Mel estava coberta de farinha e molho e só Deus sabe o que mais.

Sérgio e sua mãe passaram um tempo de qualidade enquanto eu dava banho em Mel. Depois do jantar, o resto da noite voou em meio a risadas quase constantes e conversas ansiosas quando todos nos conhecemos melhor. Não foi até Melissa e Andréia irem para a cama e eu me vi sozinho com Sérgio que me lembrei de me sentir estranho.

Ajudou que ele parecesse se sentir da mesma maneira. Ele sorriu aquele meio sorriso dele e esfregou nervosamente a parte de trás do pescoço. — Acho que provavelmente é hora de jogar uma moeda para ver qual o lado da cama que você quer. A menos que ...— Ele fez uma pausa e chamou minha atenção, seus olhos cheios de esperança desesperada. — A menos que você queira sentar nos degraus da frente e tomar uma bebida como fazemos em casa? Mamãe não tem cerveja artesanal, mas essa limonada está muito boa.

Por melhor que pudesse parecer, eu estava realmente muito cansado do dia. Eu tinha me levantado antes do amanhecer para ter certeza de que não havia esquecido nada de Mel ou que eu poderia precisar neste fim de semana e tomar um café da manhã antes de nossa longa viagem. Antes que eu pudesse recusá-lo, um bocejo estalou em mim. — Por melhor que pareça, acho que vou ter que dizer não. Estou exausto, me desculpe.

Sérgio balançou a cabeça e me levou a uma porta no final do pequeno corredor. — Não se preocupe, cara. Estamos aqui. — Ele acendeu a luz e me levou para um pequeno quarto. — Perdoe a decoração, parece um jardim vomitado aqui. Confie em mim, não era assim quando eu morava aqui.

Eu reprimi uma risada quando entrei e olhei em volta. Além dos móveis brancos, todo o resto da sala estava coberto de padrões florais correspondentes. As cortinas, os travesseiros e a colcha, até a saia que corria ao redor da cama - eu não conseguia me lembrar como era chamada - tinha o mesmo tecido. E esse tecido era feito de um fundo rosa suave com um monte flores cobrindo cada centímetro.

Quando notei o papel de parede - uma versão sem som do mesmo design - comecei a rir. Então vi a arte da parede emoldurada e percebi que as fotos das flores que cobriam as paredes e as roupas de cama. Foi quando eu o perdi e comecei a rir tanto que as lágrimas começaram a se escorrer pelo meu rosto.

Ele fechou a porta e levou um dedo à boca enquanto ele ria silenciosamente comigo. — Diga-me que estou errado, um jardim vomitou aqui, certo?

— Não posso, porque você não está errado, é como se ela fizesse o dia de algum vendedor e comprasse a coleção inteira, até o... — Vi um vaso pequeno e cheio de flores artificiais que também combinava e comecei a rir de novo, dobrando para segurar meu estômago enquanto eu ofegava por ar.

Sérgio deve ter visto o que eu estava olhando porque ele terminou a frase para mim. — Querido Deus, você está certo. Toda a coleção, até os acessórios que eles exibem. Pelo menos o tapete é bege, isso ajuda a quebrá-lo. Oh, não. Puta merda, Bê! Olhe para as mesinhas de cabeceira. Tem mais.

Olhei e vi flores de cerâmica do mesmo tipo que tudo o resto e tive que rir um pouco mais. Eu me endireitei, limpando uma lágrima perdida enquanto balancei minha cabeça. — Espero que você saiba que estamos indo direto para o inferno por rir do gosto da sua doce mãe.

Sérgio bufou, levantando uma sobrancelha com uma expressão 'você está brincando' — Gosto? Não, receio que minha mãe tenha abandonado isso quando ela sacou seu cartão de crédito em qualquer loja de departamento responsável por essa abominação —. Ele olhou em volta mais um pouco, balançando a cabeça em descrença. — Eu me pergunto se vale a pena perguntar o que ela fez com meus pôsteres de Britney Spears e Green Day —. Ele considerou isso por um momento e depois balançou a cabeça. —Na verdade, acho que vou deixar isso pra lá. Melhor não saber.

Minha mala estava ao lado da cama mais próximo da porta, o que era exatamente perfeito na minha opinião. Fui até lá e abri, tirando a calça de moletom e a camiseta que levei quando o plano era dividir um quarto de hotel com Melissa. Agarrando o kit de higiene, coloquei-o debaixo do braço antes de virar para Sérgio. — Eu sei que você mencionou jogar uma moeda, mas eu prefiro o lado mais próximo da porta. Está tudo bem? Se não, podemos seguir com a ideia do sorteio.

Ele sorriu aquele meio sorriso dele e se afastou para me deixar passar no meu caminho para o banheiro. — Não tem problema, eu gosto do outro lado da cama de qualquer maneira. E para constar? Eu não ronco e nunca fui acusado de ser um ladrão de cobertas —. Eu ri baixinho com a resposta dele ao meu comentário de horas antes e fui me arrumar para dormir.

Quando voltei, Sérgio já havia apagado as luzes e estava abraçando a ponta do seu lado. A luz do corredor mostrava que minha mala estava bem arrumada em cima da cômoda, as flores afastadas para acomodá-la. Havia luz suficiente entrando pelas cortinas parcialmente abertas que me senti seguro o suficiente para fechar a porta e não me preocupar em encontrar meu caminho através da escuridão em um lugar estranho. Coloquei tudo na minha mala e cuidadosamente subi na cama, seguindo sua liderança e ficando perto da borda do meu lado também.

Eu estava preocupado com isso ser constrangedor, e era, mas estava cansado o suficiente para poder desligar meu cérebro e rapidamente começar a adormecer. Logo antes de eu me afundar completamente, ouvi Sérgio murmurar suavemente um 'boa noite'.

O que pareceu minutos depois - mas na verdade eram horas, de acordo com o relógio na minha mesa de cabeceira - meus olhos se arregalaram. Eu estava encolhido em uma bola trêmula, piscando quando me lembrei de onde estava. Depois que minha cabeça clareou, percebi duas coisas. Três, na verdade. Primeiro, Sérgio era um mentiroso maldito. Quanto aos outros dois? Aquele homem estava roncando alto o suficiente para acordar os mortos e ele era definitivamente um ladrão de coberta.

Sentei-me e balancei as pernas para o lado da cama, acordado o suficiente para saber que estava com sede. Estiquei meus braços e levantei, rindo para mim mesmo quando olhei para trás e vi que Sérgio estava enrolado como uma linguiça recheada nos cobertores. Fiquei ali, observando-o por alguns minutos, tentando entender como era bom acordar ao lado dele – mesmo com os roncos e a coberta roubada. Quando percebi que estava olhando para ele como um perseguidor assustador, bufei uma risada envergonhada e saí silenciosamente do quarto.

A luz do corredor estava apagada agora, mas havia uma luz brilhando da cozinha. Eu a segui e parei quando virei e encontrei Andréia sentada à mesa, pensando profundamente, com um bule de chá e um pequeno prato de biscoitos na frente dela. Eu senti como se estivesse invadindo um momento privado e comecei a dar um passo para trás quando ela olhou para cima e sorriu.

Ela apontou para a fileira de xícaras penduradas embaixo de um armário. — Sirva-se de uma xícara e junte-se a mim, Breno. Quando não consigo dormir, encontro um pouco de chá e um lanche leve. O que te acordou? Diga a verdade, foi o ronco da serra elétrica de Sérgio, não foi?

Ela riu gentilmente, balançando a cabeça como se desejasse ouvir o ronco com mais frequência. — Ele teve suas adenoides removidas aos quinze anos, acredite ou não. Eu até o testei para apneia do sono, mas fisicamente o garoto está bem. O pai dele e eu finalmente decidimos que era apenas o sono que era a única vez em que ele realmente relaxava e deixava de lado todas as suas preocupações. E dormir tão duro só faz um homem roncar, suponho.

Peguei uma xícara e me juntei a ela, decidindo aceitar sua oferta. — Honestamente? Eu não sei o que me acordou. Poderia ter sido o ronco, ou talvez o fato de ele ter roubado todas as cobertas e se enrolado nelas? Mas também pode ser que eu não esteja acostumado a isso. — Dormindo num lugar novo, sentindo falta da minha própria cama.

— Eu imagino que também é diferente dormir com outro corpo na cama depois de ficar sozinho por tanto tempo. — Ela falou com naturalidade, não revestindo nada de açúcar. — Quando perdi meu marido, acho que não dormi direito nos primeiros meses. É tão estranho aprender a dormir sozinha quanto a dividir uma cama, não é?

— Isso é certo. Se eu não fosse responsável por Melissa, não tenho certeza de que teria sobrevivido ao choque de perder Tina. — Eu dei um sorriso tenso e peguei o bule de chá. — Desculpe, eu não estou acostumado a falar sobre isso. Até recentemente, não havia ninguém com quem Tina tivesse se relacionado. Exceto Mel e eu tenho medo de ter contornado o assunto.

Ela fez um zumbido quando levantou a xícara para tomar um gole. —Tenho certeza de que não foi fácil explicar a uma criança que sua mãe não estava voltando para casa. Foi isso que fez você começar a andar na ponta dos pés sobre o assunto?

— Sim, foi exatamente isso. Eu tive que explicar todos os dias durante semanas que mamãe tinha ido morar com os anjos e Mel não entendeu por que ela não nos levou com ela. — Estremeci com a lembrança; aqueles foram dias difíceis.

— Só posso imaginar. Por que mamãe escolheria morar em algum lugar sem você? A morte não tem significado para alguém tão jovem. Sinto muito que você tenha passado por isso, querido. Tina não era minha pessoa favorita depois do que ela fez com meu filho, mas eu não teria desejado nada a ela, além de bem. Falando em meu filho, quero agradecer por abrir seu coração e sua casa para ele. Ele nunca seria capaz de ficar longe depois que ele soube dela, mas ele também não queria se intrometer na sua família. A maneira como você lidou com isso foi brilhante e parece que vocês três se tornaram sua própria versão de uma família moderna.

Tomando um momento para reunir meus pensamentos, eu me servi de um biscoito e mastiguei lentamente enquanto decidia quanto compartilhar. — Sérgio te disse por que eu fui procurá-lo? Ou como eu descobri que Melissa não era minha filha biológica?

Ela balançou a cabeça, recostando-se na cadeira com seu próprio biscoito. — Não, ele não disse. Tudo o que ele disse foi que você achou a coisa certa a fazer e como vocês se deram bem e se tornaram amigos mais fortes enquanto conversavam online e por telefone enquanto ele encerrava sua vida no Rio de Janeiro.

Minhas narinas se alargaram quando eu respirei fundo. — Primeiro, deixe-me explicar que Tina e eu não tínhamos motivos para suspeitar que algo estava errado. Embora ela não tenha mencionado ter passado a noite com o ex-namorado na semana anterior ao nosso encontro, ela estava menstruada na semana que passamos em uma conferência de negócios. Fomos os únicos enviados de nosso escritório e não conhecíamos mais ninguém lá, então nos aproximamos enquanto estávamos naquela bolha e ... bem, uma coisa levou a outra. Normalmente, eu não sou o tipo de pessoa que age impulsivamente, mas me senti bem.

Andréia assentiu sabiamente. — Quando você sabe, você sabe. Às vezes acontece tão rápido. Foi assim comigo e meu marido. Nós nos casamos três meses depois que nos conhecemos. E fizemos o mesmo quando Sérgio entrou em nossas vidas. As crianças não eram em nossos planos, mas me apaixonei por esse menino à primeira vista. Fiz Enrique vir à escola um dia e depois que ele passou cinco minutos com Sérgio, ele concordou que era para ser nosso filho.

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Olá querides,

mais um capítulo com o ponto de vista de Breno. e assim tb conhecemos um pouco mais da personalidade e história de cada um dos personagens. fiquei com vontade de fazer pizza caseira. hahahahaha.

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bjokas e até a próxima att.