Capítulo 90
ELLIE
- O que tá acontecendo? - Ellie perguntou, assustada, olhando para Daryl. Ela especionou todo seu corpo com os olhos a procura de sangue ou mordidas, e graças a Deus não encontrou nada.
Ela viu um par de pessoas ali, Maggie, alguns homens que ela notou que estavam de vigia nos muros e logo Rosita apareceu.
- Ele bebeu igual a um porco e decidiu que queria te fazer uma visita no meio da noite - Rosita cuspiu - Agora de um jeito nisso, o problema bêbado aí é seu.
Ela saiu andando para a mansão, ignorando a cara de interrogação de Ellie. Quando Ellie deve certeza que se tratava apenas de um Daryl bêbado e não de um ataque ou morte de alguém, ela ficou séria.
- Eu quero falar com você - Daryl avançou, cambaleando, apenas para ser parado por Paul, que colocou a mão em seu peito, impedindo-o de chegar em Ellie.
- Cai fora, babaca - ele deu um empurrão forte em Jesus, que quase perdeu o equilíbrio por um momento.
- Tudo bem, eu assumo daqui - Ellie avisa, e Paul a encara como se perguntasse "tem certeza?". Ela concorda e Maggie está ajudando Daryl a se sentar no chão, tentando entender como ele dirigiu uma moto nesse estado.
Nem em mil anos Ellie imaginaria que veria Daryl nesse estado. Respirando fundo, ela caminhou até onde Daryl estava sentado contra o trailer. Ela suspirou e estendeu a mão para ele. Daryl, que tinha a cabeça inclinada para trás contra as paredes externas do trailer. Qualquer coisa, palavra ou maldição que ele jurou despejar sobre ela quando a visse morreu enquanto ele a olhava, bonita como um anjo.
- Bem, você parece um mendigo - ela disse e Daryl deu de ombros quando Ellie lhe deu um leve sorriso - Agora venha antes que eu congele até a morte de pé aqui e decida te deixar.
- Você já fez isso - Daryl murmurou, esperando que ela não o ouvisse - Estou bem - ele falou enquanto se levantava. Pelo menos então ele se certificou de que suas palavras fossem mais altas.
Ellie o guiou para trás da casa, e eles entraram na sala que Paul e Ellie haviam transformado numa sala de treinamento.
O coração de Ellie engatou na garganta quando Daryl encostou na parede e se ajoelhou pela falta de equilíbrio. Ela engoliu os sentimentos, tentando ser firme.
- Eu não sei o que você estava tentando fazer vindo aqui no meio da noite, mas não vamos ter nenhuma conversa com você nesse estado. Você pode passar a noite aqui, vou trazer um travesseiro e uma coberta, pode usar o colchão de ar - Ellie apontou para o colchão encostado na parede e com isso, virou-se para sair.
Ele pegou Ellie gentilmente pelo pulso e a puxou de volta para onde ele estava de os joelhos, de frente para ela. Daryl passou os braços ao redor da cintura pequena dela e enterrou o rosto em sua camisa. O cheiro da mulher mais jovem tomou conta dele, o que só aumentou os efeitos intoxicantes de toda a merda desagradável que ele bebeu antes.
Ele começou a perder o controle e lágrimas quentes se desenvolveram em seus olhos. Ele tentou afastá-las, mas não adiantou.
- É minha culpa - ele engasgou, o álcool tomando completamente as rédeas.
- Não, Daryl - Ellie murmurou baixinho, e Daryl sentiu uma mão mover-se lentamente para a cabeça, onde dedos começaram a correr pelo cabelo despenteado. Ela plantou um pequeno beijo na cabeça dele antes de balançar em protesto.
- Eu nunca devia ter te deixado ir - cuspiu o homem mais velho, tentando e não conseguindo conter as lágrimas fluindo livremente.
Quando ele finalmente olhou para cima, seus olhos foram imediatamente capturados no feitiço de olhos arrebatadores, impossivelmente azuis e ele não podia desviar o olhar. Ele esperava ser recebido com um olhar de pena, mas ficou agradecido quando encontrou compreensão nos olhos de Ellie. Isso era algo que ele amava muito sobre essa mulher, ela nunca fez Daryl se sentir julgado.
- Isso já passou. Nós temos que seguir em frente - respondeu Ellie, não querendo lhe contar o real motivo de sua partida.
- Porque você me deixou? - ele perguntou a ela antes de se virar para ir pelo corredor.
Ellie parou em seu caminho quando ouviu essa pergunta.
- Eu acho que você sabe - Daryl disse a ela enquanto a observava a garota sem reação - Você não pode mentir para mim e você sabe disso - disse ele antes de caminhar em direção a ela. Ele jurou que quanto mais ele estava na presença dela, mais sóbrio ele ficava - Você estava comigo desde seus vinte anos, Ellie - disse ele enquanto trancava os olhos com ela - Quatro anos juntos e você não acha que eu não posso dizer quando você está mentindo?
Novamente ela desviou o olhar do contato visual dele.
- Por que você acha que eu estou mentindo? - ela perguntou-lhe, a voz vacilante.
- Porque você ainda me ama - Daryl respondeu, soando certo sobre sua resposta.
- É claro que eu te amo, mas isso não quer dizer que temos que seguir juntos - disse ela antes de se virar para sair. Daryl suspirou antes de seguir atrás dela.
- A gente pode concertar isso, por favor, a gente pode dar um jeito, eu faço qualquer coisa.
Ellie fechou os olhos ao pedido dele, mas antes que pudesse se conter, virou-se para encará-lo enquanto assentia.
- A gente conversa quando você estiver sóbrio.
- Estou sóbrio - ele meio que cambaleia quando ela se afasta, mas consegue se manter firme - Meu corpo não, mas minha mente está.
Quando ela suspira, ele continua.
- Eu sei que se afastou por causa de Negan. Ele fodeu sua cabeça, mas se lutarmos juntos, a gente pode passar por isso. Juntos, juntos, Ellie - ele implorou, e realmente não ligava. Ele faria o que fosse preciso para tê-la de novo.
E ela queria.
Ellie queria tanto isso, queria tanto ele, mas não podia condenar Daryl a ficar preso com alguém tão incompleta como ela estava.
- A gente conversa amanhã de manhã - ela pediu, porque sua mente agora era confusa demais para uma sentença final.
Daryl assentiu, segurando sua mão.
- Você pode ficar comigo esta noite? - ele perguntou quando se sentiu um pouco menos tonto.
- Só dormindo. Nada mais - disse ela, querendo deixar claro que não faria sexo com ele.
Dormir com ele não faria bem, porque isso apenas a deixaria vulnerável, como deixá-lo saber a verdade, e no final ela se machucaria de novo também quando o tempo mostrasse que ela não poderia amá-lo tanto quanto ele a amava.
Mas, acima da dúvida, o amor prevaleceu, e ela se deitou lado a lado com o primeiro amor de sua vida.
*
Horas depois, Ellie acordou e ela pôde sentir o braço de Daryl em volta da cintura dela, a respiração dele batendo na parte de trás do pescoço, o que a fez tremer um pouco.
Ela se desprendeu dele, que estava nocauteado e ficou de pé quando Paul entrou pela porta com um travesseiro e um cobertor azul.
- Ele apagou - ela disse enquanto pegava o cobertor e cobria Daryl.
Paul se sentou no banco que estava encostado contra a parede, as mãos entrelaçadas em seu colo enquanto observava Ellie levantar a cabeça de Daryl e por o travesseiro.
Dentro dele, não havia uma gota de dúvida sobre o sentimento que ela tinha pelo caipira resmungão, muito menos de Daryl por ela.
- Ainda acha que vocês dois podem dar certo? - ele perguntou quando ela ainda estava agachada.
Ellie deu aquele olhar que Paul conhecia bem, ela não era uma pessoa difícil de se ler.
- Porque está perguntando isso?
- Porque se ainda há uma gota de amor, você deve lutar.
Isso esmagou o coração de Ellie. Se Paul sequer soubesse o quanto ela amava esse homem...
Ela se sentou ao lado dele, ambos olhando Daryl apagado no colchão de ar.
- Uma vez, quando tinha dezesseis anos, eu estava voltando para casa depois de uma aula de piano - Paul começou, e Ellie virou a cabeça para ele - Eu peguei o metrô, e havia um garoto loiro, mais baixo que eu, sentado a alguns acentos de frente para mim. Nós nos encaramos o caminho inteiro, quer dizer, eu o olhava e quando ele percebia, eu desviava, e vice-versa. Nós fizemos isso durante o trajeto inteiro.
Ele sorriu, tão genuíno, mas tão triste, que Ellie instintivamente agarrou a mão dele na sua.
- Ele saltou uma parada antes da minha, e então, já lá fora, ele olhou para trás e me deu o sorriso mais lindo do mundo. Eu corri até a porta, mas o trem já estava se movendo. Eu voltei lá todos os dias no mesmo horário, durante um mês inteiro, mas eu nunca mais o vi. Eu ainda penso nele todos os dias. Acredite, você não vai querer viver com o peso de ter perdido alguém só porque hesitou.
*
Ellie não dormiu a noite. Ela pensou no que Paul disse e ele tinha razão. Havia uma faísca de esperança e uma fogueira de amor queimando dentro dela. O amor por Daryl foi algo que Negan não conseguiu arrancar de dentro dela.
- A gente pode tentar fazer funcionar, mas não agora. Eu preciso de um tempo, por a cabeça no lugar... - Ellie disse, esperando uma explosão de Daryl, mas tudo o que ela ganhou foi um olhar azul marejado.
- Claro... claro - ele concordou. Daryl sabia que estava mendigando, mas ele não se importava. Agora ele tinha uma chance, algo que não havia antes.
Ele tinha certeza que aos poucos ele reconstruiria Ellie, nem que tivesse que dar o próprio coração para ela.
- Eu vou continuar em Hilltop, vou até Alexandria na semana que vem, ver as crianças - ela disse, e Daryl pensou que esse era um passo de volta para casa.
Apesar de que sua vontade fosse jogá-la sobre o ombro e arrastá-la de volta com ele, Daryl faria isso nos termos dela e não a pressionaria. Ele contaria os dias para vê-la novamente.
- Eu vou te esperar - ele disse, e a declaração fez algo dentro de Ellie se contorcer. Daryl não era um homem de promessas vazias.
Ela o abraçou antes de observá-lo acelerar portão afora com sua moto atrás do carro de Rosita.
Teremos uma notícia BOMBÁSTICA no próximo capítulo!! O que vcs acham que é?
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