Capítulo 72
O ar entre as duas facções estava cheio de tensão. Tão espessa que parecia se irradiar em ondas, o tipo de linhas borradas que aconteciam em uma estrada quente no meio do verão, e eu podia sentir a arma tremendo na minha mão, abaixando-a porque eu nunca seria capaz de usá-la em Negan.
Quando ele e eu tínhamos trancado os olhos, tudo ao meu redor parecia desaparecer, o abismo entre nós como um grande buraco, destinado a engolir tudo.
Mas eu tenho que dar crédito a Negan. Ele se recuperou do golpe muito mais rápido do que eu teria se a situação tivesse sido revertida. Ele quebrou o contato visual, voltando sua atenção para Rick, e um sorriso começou a surgir vagarosamente em seus lábios. Na verdade, parecia extremamente forçado aos meus olhos, e era mais parecido com um lobo mostrando os dentes, mas estava lá.
- Bem, bem, bem - ele disse com uma voz forte, embora seus punhos estivessem bem apertados em torno de Lucille como se ele não quisesse nada além de bater na cabeça de Rick - Eu não sabia que você tinha isso com você, Ricky, minha esposa refém.
Estava na ponta da minha língua objetar e dizer-lhe que eu não era tal coisa, mas Rick apertou a mão no meu braço, puxando-me para ele defensivamente.
Negan não reagiu. Ele apenas manteve o seu sorriso, fazendo questão de não olhar para mim, e depois de alguns segundos ele levantou a mão esquerda no ar e gesticulou de volta com um dedo balançando.
- Não faça nada - Rick sussurrou em meu ouvido, avisando-me para não piorar a situação mais do que já era, e eu me esforcei para permanecer em pé, meus joelhos se transformando em macarrão mole.
Todos os outros na parede se levantaram em uníssono, apontando suas armas para os Salvadores que se alinhavam na cerca. Negan ficou alto e orgulhoso, completamente confortável pelo fato de que ele estava na mira de várias armas quando houve uma onda de atividade atrás de mim.
Meu coração caiu nos meus sapatos quando Dwight veio andando até a frente, arrastando uma figura encapuzada com ele, e Rick soltou um gemido baixo quando percebi que era Sasha. Ela lutou contra ser segurada, mas Dwight manteve um aperto firme nela para evitar que ela fugisse.
- Nós temos um pequeno enigma aqui - disse Negan genialmente enquanto balançava o taco para frente e para trás como se estivesse jogando uma tacada de golfe - Você tem dois do meu povo - ele sorriu, fisgando Daryl com os olhos - E eu tenho um dos seus. Então, aqui está como vai ser. Nós vamos fazer um pouco de comércio, e eu quero Ellie de volta, por enquanto, e então vamos esquecer sua pequena tentativa de se revoltar e em troca, eu não vou queimar esse maldito lugar no chão.
Ele pontuou seu discurso com um balanço do taco que passou a um centímetro da cabeça de Sasha. O clique dos Salvadores preparando suas próprias armas enviou uma gota de suor na minha nuca.
Era por isso que não tivemos notícias de Hilltop. Eu tinha quase certeza que Sasha tentou agir por conta própria e por isso eatava nessa situação agora.
Isso foi tudo culpa minha, e com uma explosão de impulsividade, eu passei por Rick, surpreendendo-o. Todos os Salvadores reagiram, segurando suas armas, mas Negan apenas levantou a mão novamente, e nada aconteceu.
Rick me puxou, virando-me para encará-lo.
- Eu vou, e você vai ter Sasha de volta - eu sussurrei quando os olhos de Michonne se arregalaram.
- Não - ele disse com tanta força que achei que as veias de suas têmporas fossem explodir.
- Eu vou consertar isso - prometi, avançando para os degraus - Eu juro que vou.
Ninguém tentou me parar quando desci, mas Daryl estava lá em baixo, com um rifle nas mãos, e ele não me deixou passar.
- Você não vai fazer isso - Daryl rosnou e me deu o olhar mais odioso que eu já vi.
- Confie em mim, eu sei o que estou fazendo - menti. Eu não sabia o que aconteceria quando eu colocasse o pé para fora, e Daryl percebeu.
- Não. Eu não vou deixar você fazer isso - ele disse, mas não estava em discussão.
- Eu sei o que eu estou fazendo - eu disse de novo, dessa vez com mais convicção, e coloquei a mão em seu peito para afastá-lo - Saia da frente.
Daryl não saiu, mas passei por ele mesmo assim, sentido o calor de olhares furiosos nas minhas costas enquanto caminhava com passos trêmulos em direção ao portão.
O padre Gabriel destrancou o portão, abriu-o enquanto se escondia atrás dele e eu atirei-lhe minha arma. Ele acenou com a cabeça uma vez para mim antes de me dar espaço para que eu pudesse me apertar e passar na pequena abertura. Eu senti como se estivesse caminhando para a guilhotina quando cruzei o limiar para o lado de fora, e uma vez que eu estava em segurança lá, Dwight empurrou Sasha para frente. Ela se moveu com passos arrastados, vindo em direção aos portões.
Para ajudá-la, o padre Gabriel chamou-a para levá-la à segurança e seus movimentos aceleraram. Dwight me puxou pelo braço ao seu lado quando comecei a tremer. Quando Sasha chegou à parede interna, o portão se fechou, fechando a minha chance de ser livre.
Dois segundos depois, alguém soltou um grito estridente de dor quando Dwight começou a recuar, e eu olhei para ele em confusão.
- Oops. Eu esqueci de te dizer que ela se transformou - disse Negan - Me desculpe por isso.
A última coisa que vi foi Rick soltando um berro de raiva antes de sacar uma arma e atirar. Eu fui empurrada atrás de um caminhão enquanto as armas começaram a disparar ao meu redor, e eu bati no chão de joelhos.
Ele matou Sasha. Ele a matou e eu apenas o ajudei a matar outra pessoa.
Eu não ouvi os tiros disparados, eu não senti a queda de Dwight quando ele estava em cima de mim. Eu não registrei nada até que senti braços fortes se fechando em volta dos meus braços, me virando. Negan entrou no meu rosto e eu apaguei. Eu gritei e arranhei ele, tentando me libertar.
- Você a matou! Você a matou, seu monstro! - eu gritei quando ele me sacudiu o suficiente para chocalhar meus dentes juntos.
- Eu não a matei! - ele gritou, me sacudindo mais forte a cada palavra - Eu dei a ela uma escolha e ela se matou. Eu a encontrei assim nas celas esta manhã depois de ela tentar invadir o santuário.
Eu olhei em seus olhos, e eu sabia que ele estava me dizendo a verdade. Não vi sinal de que ele estivesse mentindo.
Negan soltou meus braços e moveu as mãos para o meu rosto, segurando-o firme.
- Você precisa se controlar e levantar, temos que sair da linha de tiro, você me ouve?
- Negan, por favor - eu implorei, agarrando sua jaqueta e puxando-o para que fôssemos a centímetros do outro. A luta se desenrolou ao nosso redor, mas eu tinha que tentar mais uma vez - Por favor, não faça isso. Você pode parar com isso agora mesmo. Apenas caminhe até lá e ponha um fim nisso. Faça um acordo com Rick.
Ele começou a sacudir a cabeça, mas eu puxei de volta e continuei, esse ponto crucial em nossas vidas.
- Nós podemos ter uma vida, Negan. Podemos trabalhar com essas outras comunidades e construir algo. Teremos um legado, algo mais do que sangue.
Quando me afastei, pude ver seus olhos amolecerem e senti meu coração começar a vibrar em meu peito.
Eu gostaria de pensar que se seus homens não tivessem chamado ele, ele teria concordado.
- Chefe! Estamos morrendo aqui - chamou um dos homens - O que nós fazemos?
E assim, a esperança se foi. Algo fechou em seu olhar, uma persiana fechando as imagens de um futuro, e ele fez sua escolha. O Santuário e tudo o que representava aos seus olhos sempre significaria mais para ele do que qualquer coisa.
- Dwight, coloque-a no caminhão e leve-a para casa - ele ordenou, soltando-me quando comecei a lutar.
Eu o chutei quando ele saiu, seguindo seus homens enquanto eles se espalhavam com suas armas, e eu lutei com Dwight a cada passo do caminho. As pessoas correram em torno de nós enquanto Dwight me mantinha marchando na frente dele até o último caminhão na fila.
- Eu não sabia de nada - Dwight disse em voz baixa enquanto olhava ao redor e me empurrava para trás do caminhão - Gregory apareceu no Santuário noite passada e contou tudo. Acho que Sasha pensou que fosse conseguir impedi-lo e invadiu, mas foi pega.
Eu não duvidava que ele estivesse falando a verdade. Eu pisquei, assintindo rapidamente, trazendo minha mente de volta para a situação atual.
- Eu preciso voltar lá pra dentro - eu disse, já saindo mas Dwight me puxou de volta.
- Isso não vai acabar bem - ele alertou, não me soltando quando forcei meu braço para fora do seu aperto - Eu tentei contato com Hilltop, mas não tive resposta, não sei se eles sabem o que está acontecendo aqui.
- E você espera que eu fique aqui vendo tudo queimar? - com uma sacudida eu me soltei dele, que só me olhou com os olhos perdidos.
Eu sabia que ele não podia me deixar ir por que Negan ia desconfiar, e só precisava de uma desconfiança para matar Dwight.
- Vem comigo - eu pedi e segurei seu pulso, mas ele negou.
- Eu não posso. Como vou ajudar vocês se não estiver lá dentro?
- Foda-se isso. Está tudo na sua mente, você pode ajudar a gente daqui. Sua segurança vale mais que isso - eu disse, meu tom muito mais baixo agora - Eu não quero que você morra.
- Podemos entrar pela parte de trás - Dwight disse antes de espiar pelo lado do caminhão - São uns vinte metros até o lado do muro, com sorte conseguimos passar sem levar um tiro.
Eu concordei, tendo mais a perder ficando aqui do que arriscando voltar para dentro dos muros. Dwight tirou uma arma da parte de trás das costas e me deu antes de pegar a dele.
Um. Dois.
Nós corremos por entre as balas ricocheteando no chão perto de nós, atirando como dois malucos até que chegamos do outro lado e encostamos com as costas nas paredes, respirando exaustivamente. Teríamos que dar a volta pelo lado de fora para poder entrar pelo portão de trás. Os tiros cessaram um pouco, mas isso só me preocupou mais, porque significava que um dos lados estava em desvantagem. E eu não sabia qual.
Correndo cautelosamente, nós paramos bruscamente quando vimos o que estava saindo da mata, vindo em direção a estrada de terra. Um grupo enorme de pessoas estava sendo liderado por Maggiee Glenn, juntamente com o Rei Ezekiel. Eu acenei quando os vi, mais com medo de levar um tiro do que outra coisa e Glenn acenou de volta. Dwight estava branco, talvez pelo fato de estar olhando fixamente para Shiva.
Entre os muitos que caminhavam na estrada, o Rei Ezekiel se sobressaía em suas vestes e com seu gato gigante e cruel ao seu lado. Ele não parecia exatamente a parte de um Rei ir para a batalha, mas o fuzil de assalto amarrado às costas dele afirmava o contrário. Seu rosto estava duro com um vinco vertical de ansiedade entre as sobrancelhas quando ele se aproximou de nós.
- Eles invadiram. Nós vamos ter entrar pelo portão de trás - eu avisei, guardando a pistola sem munição nas costas e pegando o rifle que Maggie me entregou - Dwight está lutando com a gente a partir de agora.
Maggie deu um aceno agradecido a ele e Dwight respondeu da mesma forma.
- Shiva está sedenta de vingança, meus guerreiros. Lidere o caminho e nós obedientemente seguiremos - o Rei proclamou.
Paul saiu do meio dos demais e me deu um aceno firme antes de colocar sua touca preta e ele seguiu ao meu lado quando Dwight e eu começamos a andar com cuidado para não sermos surpreendidos, mas rápido. Cada segundo era precioso.
- Você está pronta para usar essas suas luvas de homicídio de novo, Shiva? - Paul perguntou, dando um afago na cabeça do bicho e Rei Ezekiel riu sombriamente.
- Ela está. Temo que o gosto de sangue quente em sua língua seja o único remédio.
Eu olhei para o tigre, sentindo um arrepio de medo sobre mim. Ela olhou ao redor do grupo, com os olhos penetrantes, mas curiosos, mas não senti nenhuma malevolência dela. Não neste momento, pelo menos. Não posso dizer o mesmo de Dwight.
- Eles já estão dentro e na pior das hipóteses, estamos perdendo - eu falei quando paramos na frente do portão - Quando abrirmos o portão, haverá uma casa na direita e uma na esquerda, vamos usá-las para nós proteger e avaliar a situação. Uma vez que eles ouvirem o portão se abrindo, eles vão começar a atirar em nós.
- Devidamente anotado, corajosa mulher - respondeu o Rei Ezekiel com prazer - Eu acredito que tenho a arma para surpreender nossos inimigos por tempo suficiente para recuperar a vantagem - ele acariciou a cabeça de Shiva e um baixo ronronar começou do fundo do peito dela.
Eu olhei para ela, curiosa e maravilhada. Eu estava quase animada para ver como ela reagiria à violência - excitada e aterrorizada - mas a visão de uma poça escura e brilhante de sangue foi um prelúdio vívido para o que eu sabia que estava prestes a acontecer. Eu não estava interessada em pensar em uma pessoa sendo separada ao meio por seus dentes, mas talvez não chegasse a isso. Ou talvez eu estivesse muito ocupada matando para perceber.
Você pode fazer isso? Eu me perguntei. Eu poderia matar alguém a sangue frio de novo? Apontar a arma, puxar o gatilho, sabendo que seria a última coisa que a pessoa experimentou? Eu poderia abrir o meu canivete e mergulhá-lo na carne de alguém como se eu estivesse cortando um peito de frango? Isso seria fácil para mim como um dia foi? Eu talvez diria sim se minha vida estivesse em perigo, se eu não tivesse sido a pessoa a começar a luta. Essa era a nossa chance de ganhar, mas à custa de quê? Mais morte e miséria... valeria a pena no final?
- Tudo bem, então - Jesus respondeu com humor - Vamos começar este show de merda. Cada segundo conta.
- Então não vamos perder mais tempo - eu balancei a cabeça e tomei uma respiração profunda e nervosa. Dwight atirou na fechadura do portão de trás e chutou sem cerimônia.
- Shiva - ouvi a voz profunda e calmante do Rei Ezekiel chamando seu amado animal de estimação - Agora é a hora de reunir a coragem inata que vem tão naturalmente de uma fera brilhante como você. Você é meu escudo, minha arma. Meu espírito guerreiro duela ao seu lado. Seja nossa heroína e forje um caminho em sangue, minha querida. Traga-nos justiça!
Shiva rugiu, sua garganta vibrando poderosamente e seus olhos determinados como se ela soubesse as palavras exatas que seu mestre tinha acabado de falar com ela. Ela virou-se imediatamente e saltou para a entrada de Alexandria, o Rei Ezequiel próximo a seus calcanhares.
Nós invadimos, esquivando-nos do tiroteio que ricocheteou nas ruas de Alexandria. Eu bati com as costas contra a parede do lado de fora da casa à esquerda e Dwight estava ao meu lado segundos depois.
Eu dei a Dwight um olhar perplexo, ele retornou brevemente antes que um grito de terror absoluto quebrasse nossos olhares e nos impelisse através da luta.
Olhei em volta, estupefata, ao ver Shiva rasgando um homem e depois mergulhando em um segundo, o Rei Ezekiel rindo loucamente enquanto ele disparava ruidosamente contra os Salvadores e incitava seu animal de estimação.
Um corpo se chocou ao meu lado na parede e eu apontei o rifle, baixando quando vi ser Paul.
- Eles estão em desvantagem - ele acenou com a mão no ar enquanto continuava - Temos que ir para a parte da frente, mais precisamente perto da enfermaria. Eles estão concentrados lá - Jesus não disse mais nada, e foi embora da mesma forma que ele veio até nós. Ele era rápido e ágil, e eu estava profundamente invejosa com o seu atletismo.
Glenn apareceu atirando e gesticulando para irmos em frente e essa foi nossa deixa. Nós saímos nos esgueirando por entre os jardins das casas, e eu cobri Dwight enquanto ele atirava em seus ex-companheiros.
Fui surpreendida quando Daryl apareceu e me puxou para o lado e atrás de um veículo estacionado. Ele me empurrou para baixo, quase em posição sentada enquanto pairava sobre mim. Balas passaram zunindo e eu me perguntei quantos homens Negan havia trazido para a luta continuar por tanto tempo, mas logo percebi que devia ter sido apenas alguns minutos desde o começo;
parecia uma eternidade até agora.
- Você tá bem? - ele perguntou e eu concordei rapidamente - Tem balas na sua ainda? - ele apontou para meu rifle e eu mais uma vez assenti - Beleza, fica atrás de mim.
Daryl manteve a mão no meu peito, segurando-me para trás e ele correu pela grade do caminhão para espiar além de sua borda. Ele observou momentaneamente antes de balançar seu rifle, mirando e atirando. Estando tão perto, o barulho rasgava meus ouvidos, mas um completo sentimento de inutilidade superou. Eu agachei-me aqui como uma covarde, fazendo nada além de observar. Isso não nos ajudaria a ganhar nada.
Enquanto Daryl continuava preocupado, decidi ir para a direita e cobrir o outro lado do veículo. Segurei o rifle com as duas mãos, meu dedo pairando sobre o gatilho, mas minhas palmas estavam escorregadias e a arma parecia tão pesada agora. A qualquer momento, eu levaria um susto e o objetivo perfeito com o qual eu me imaginei atirando não seria nada além de total erro de cálculo.
Pare de ser uma covarde, eu me repreendi, mas temi a minha reação. É fácil fantasiar como você pode reagir em uma situação como essa, mas ser empurrada para uma é totalmente diferente - mesmo eu sabendo que era inevitável.
Eu respirei fundo, fechando os olhos brevemente para me centrar e espiei em torno do farol do caminhão. No começo eu não vi nada. A parede de aço escura de Alexandria destacava-se com explosões aleatórias de tiros que brilhavam no metal, mas depois eu o vi; um homem magro e jovem, com cabelos longos e escuros, mergulhando atrás da extremidade direita do caminhão e disparando sua arma. Eu apontei a minha para ele, pronta para atirar, mas me encontrando sem vontade de puxar o gatilho.
Você consegue fazer isso! Eu gritei por dentro.
Ele nem sabe que estou aqui! Eu argumentei comigo mesma.
Foda-se isso! Ele atiraria em você sem hesitação. Puxe. O. Maldito. Gatilho.
Eu não sou ele. Eu respirei profundamente, resoluta. Eu não sou uma covarde que atira pelas costas!
Não, mas você é burra.
- Largue isso ou eu vou atirar! - eu gritei.
O homem magro congelou, mas, em seguida, instantaneamente virou-se para me encarar, o cano de sua arma apontando para a minha cabeça. Eu me abaixei quando ele puxou o gatilho e ouviu o zumbido da bala passar. Eu me amaldiçoei com uma força bruta.
Isso é o que você ganha por ter um maldito coração, sua idiota.
- Largue a arma e eu não vou matar
você... Ellie - foi sua resposta.
Eu lutei por uma resposta. Eu olhei de relance para Daryl, que ainda estava atirando do seu lado do caminhão, aparentemente surdo para o que estava acontecendo atrás dele. Apenas um momento se passou, mas eu já tinha me metido em tantos problemas.
- Seu namorado deve estar com você também, hein? - o homem provocou - Eu posso imaginar que ele não esteja muito longe. Eu deveria procurar por ele? Talvez se você se render eu o mate rapidamente.
Eu contornei a esquina do caminhão novamente, com raiva e mantendo minha arma estocada na minha frente. O homem me seguiu, seus olhos me avisando que ele não queria atirar em mim, mas ele iria.
- Coloque a porra da arma no chão - ele disse uniformemente.
- Foda-se você - eu estreitei meus olhos - Estamos em guerra, mas não precisamos nos matar. Podemos encontrar algo em comum aqui.
Ele riu.
- Você diz isso enquanto seus amigos massacram os meus. Eu não penso assim, patroa. Negan quer você de volta e quando eu entregar você para ele, ele vai me dar muito mais do que qualquer outro.
- Ele não está te dando um futuro. Nós podemos - eu lambi meus lábios, tentando molhar minha boca seca.
Senti o suor começando a umedecer minha testa, mas me recusei a piscar.
- Eu peço desculpas, mas não concordo - ele inclinou a cabeça para minha arma e riu de novo, o som de tiros e gritos validando seu descrédito - Sem ele, não há futuro.
Ele começou a avançar, mas eu projetei minha arma para ele, colocando meu dedo no gatilho.
- Não faça isso! - eu avisei - Não dê outro passo ou eu vou atirar.
Mas ele não ouviu e não disse outra palavra. Seus olhos eram orbes escuras, sugando tudo ao seu redor.
Ele pulou para mim e eu ouvi um som estridente, senti o metal em minhas mãos quando meu dedo puxou o gatilho.
Fiquei atordoada no início, pensando que eu tinha sido a única que tinha sido baleada, mas quando nós dois olhamos um para o outro, vi sangue escorrer de sua boca e pelo queixo. Seus braços caíram do choque inicial, mas assim que ele percebeu o que tinha sido feito, seus olhos de repente vazios e assustados, ele ergueu a arma novamente e apontou para mim.
Sem pestanejar, um rifle de assalto apareceu acima da minha cabeça e me ensurdeceu. Eu observei com os olhos apertados enquanto o homem, uma vez vivo, mas agora morto, caiu para trás, cravejado com buracos.
Daryl me arrancou do chão, me prendendo contra o lado do caminhão grande com o peito enquanto ele olhava furiosamente para mim. Eu retornei seu olhar, incapaz de dizer ou fazer qualquer coisa, mas então a raiva foi superada pelo alívio quando ele me puxou em seus braços.
- Você está bem? - ele demandou.
- Sim... sim estou - eu gaguejei.
- Da próxima vez, não pare de atirar até que o filho da puta esteja morto. Ele poderia ter matado você - ele advertiu e prontamente olhou em volta. Neste momento não era hora de se distrair - Vamos - ele agarrou meu braço e se agachou, passando por cima do cadáver do Salvador e me puxando para o final do caminhão.
Ele observou, atirando de vez em quando, mas depois de um momento ele se levantou e eu segui seus movimentos. Eu poderia dizer que ele queria manobrar ao redor, mas eu estava segurando-o como uma âncora; mantendo-o no lugar. Eu não queria isso, mas não havia sentido em distraí-lo para discutir.
- Matamos a maioria deles - disse ele, sem olhar para mim - Alguns ainda estão aqui, mas não por muito tempo. Eles estão em menor número agora.
Eu não respondi, sentindo-me muito estúpida para. Eu estava com vergonha, vou admitir. Como uma criança que faz algo errado quando sabia que poderia ter feito uma escolha melhor antes de agir em primeiro lugar. Mas eu tomei a decisão errada? Seja moral ou justamente? Era a minha vida ou a dele, mas dei àquele homem a chance de viver. Isso era o que importava para mim, mas para Daryl tinha sido imprudente, e suponho que não poderia culpá-lo. Isso foi. Isso não era o que ele esperava da Ellie que ele conhecia.
Eu vi Negan entrando em um dos caminhões junto com o restante de seus homens, e uma chuva de balas caiu sobre o veículo negro, ricocheteando na lataria até passar pelos portões de Alexandria.
- Vamos lá - Daryl pegou minha mão. Seu aperto era forte, mais forte do que como ele costumava segurá-la, mas eu sabia que ele estava apenas com medo. Assustado e chateado comigo.
Nós saímos de perto do caminhão e meus olhos foram de um corpo para o outro. A maioria deles eu não conhecia, realmente não reconhecia nenhum deles.
Eu estava totalmente ciente que poderia perder as pessoas que eu me importava e amava. As baixas eram um dado na guerra, mas ainda doía. Era uma ferida aberta sendo rasgada antes de começar a cicatrizar, e meus olhos nublaram, uma névoa espessa borrando minha visão. Eu os pisquei, colocando meu rosto de pedra no lugar.
- Pegamos todos eles - Maggie ofegou quando se aproximou, coberta de sujeira e sangue - Aqueles que não estão mortos estão sendo presos.
Houve um tiro solitário e nós apontamos nossas armas, então Michonne saiu de trás de uma das casas.
- Um dos Salvador remanescente - Michonne esclareceu, caminhando até nosso pequeno grupo. Jesus sorriu para ela.
- Ele não tem uma pontaria muito boa, hein?
Ela levantou a espada, exibindo o metal revestido de vermelho e observando-o quase amorosamente.
- Difícil atirar direto quando você não tem mais a cabeça - seu sorriso era pequeno e cansado, mas quente quando ela olhou para mim - Eu quase não acreditei quando vi que você tinha escapado, mas eu deveria saber que ninguém poderia manter uma Grimes trancada por muito tempo.
Ela deu um tapinha no meu braço, apreciativamente.
- Você pode prender uma fera, mas isso não a torna leal - Daryl respondeu. Meus lábios levantaram brevemente quando Michonne olhou para mim e pegou minhas mãos.
- Obrigado pelo que você fez por Sasha, apesar de... - ela parou, engolindo a espessura que sufocava sua voz.
- Eu faria de novo em um piscar de olhos.
Ela me puxou para um abraço, me esmagando contra o peito. Engoli em seco quando o ar esvaziou meus pulmões, mas a abracei o mais forte que pude.
- Está todo mundo bem? - nós nos viramos para o som da voz de Dwight. Ele estava sem fôlego parando a corrida quando chegou na nossa frente.
- A maioria. Perdemos alguns dos nossos... - Jesus respondeu e olhou em volta, com uma expressão melancólica - Quanto aos Salvadores...
- Eles se foderam! - Carl exclamou.
Olhei para a esquerda, observando o garoto magro com um rifle nas costas. Rick, Tara, Rosita, Aaron e alguns outros alexandrinos estavam logo atrás.
Todas as lutas de hoje e de ontem desapareceram quando vi todos vivos e ilesos. As lágrimas que eu tinha tentado dispensar antes desceram pelo meu rosto. Carl sorriu quando me abraçou.
- Eu sabia que era tudo um plano seu - ele sussurrou no meu ouvido.
Eu o abracei com força e Daryl passou um braço ao redor de Carl depois, sacudindo seu corpo com um forte abraço. Ao me aproximar de Rick, vi cortes ensanguentados em suas mãos e senti uma profunda dor física no peito.
Eu fui atraída a abraçá-lo, mas eu sabia que ele estava bravo comigo, então não me manifestei. A decisão foi tomada por mim, no entanto, quando ele colocou um braço em volta do meu ombro e me puxou contra ele.
- Nunca mais faça isso - ele me disse, sua voz brava.
- Estou bem, obrigada - eu retruquei, segurando-o com cuidado antes de me dar um beijo no rosto e me soltar. Ele olhou para Daryl.
Os dois não trocaram palavras enquanto se abraçavam. Foi um longo abraço fraternal que provavelmente significava mais para os dois do que qualquer quantidade de troca verbal teria.
Eu assisti com calor no meu coração, muito agradecida por este momento.
Estávamos cercados pela morte, mas o que mais contava era permanecer juntos. Nós tínhamos passado pelo inferno e agora estávamos marchando de volta, lado a lado.
A parte difícil seria ficar vivo.
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