Capítulo 71

A guerra começou!

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Quando acordei era muito cedo ainda e o sol não havia nascido, mas eu estava tão confortável enroscada a Daryl que cai no sono de novo. Mais tarde eu estava mergulhando em um sono sem sonhos mais uma vez, e me aconcheguei seguramente nos braços de Daryl, quando alguém bateu na porta. Rick.

- Saímos em uma hora. Preciso de vocês para passar o plano para os demais - ele disse do lado de fora.

Resmungamos em resposta e nos enroscamos um no outro, nossos corpos quentes e nus pressionados. Daryl me puxou para cima dele e eu devo ter cochilado de novo, porque acordei com ele me chamando.

Minutos depois Daryl estava fora da cama, vestindo uma camisa limpa e jeans sobre a pele nua. Saí da cama e peguei minhas próprias roupas, sentindo o ar frio em minha pele. Ele me pegou pela cintura antes que eu pudesse colocar a minha camisa e me girou ao redor. Ele estava sombrio, seus olhos de safira macios no pouco de luz que entrava no quarto.

- Eu quero amarrar você na cama - ele disse e eu arqueei uma sobrancelha para ele, mas não deixando de sorrir - Não com esse propósito, mas isso viria depois - ele me beijou e depois sussurrou - Eu não quero deixar você ir, mas eu sei que você vai me odiar se eu fizer.

- Eu não te odiaria - eu corri a mão por sua bochecha - Mas nunca iria te perdoar.

Ele bufou.

- Qual é a diferença? Você ainda reclamaria comigo sobre isso pelo resto de nossas vidas.

- Sim - eu concordei - Mas com razão. Você não está me deixando aqui. Eu não me importo com o quão assustados nós dois estamos de perder um ao outro. Se você morrer... - eu engasguei e engoli - Se qualquer um de nós morrer, eu quero estar junto quando isso acontecer.

Daryl suspirou, fechando os olhos e descansando a testa na minha.

- Isso não vai acontecer.

Era como um mantra que ele estava usando para se convencer. Eu também queria acreditar, mas tinha que ser realista.

- Por favor, fique aqui - ele tentou uma última vez, e eu beijei seus lábios.

- Não.

Eu torci para fora de seus braços e me vesti. Ele fez o mesmo, mal-humorado, amarrando suas botas na beira da cama enquanto eu puxei meu cabelo para cima num rabo de cavalo. Quando finalmente chegamos lá fora, havia uma grande multidão esperando. Rick estava dando instruções e aqueles com quem ele falou fugiram para seus deveres assim que ele terminou.

- Nós perdemos alguma coisa? - perguntei a Rick quando chegamos ao lado dele.

- Não, só repassei o que combinamos ontem - Rick disse e colocou uma mão no meu ombro - Dormiu bem?

Eu olhei para Daryl conversando com Rosita e outra mulher que assumi ser Tara, porque ela beijou a médica loira. Quando ele encontrou meus olhos, eu dei um meio sorriso e voltei a Rick.

- Sim - eu dei um pequeno abraço nele - Nunca estive melhor.

Rick assentiu e suas feições mudaram para algo mais suave.

- Certo - ele concordou - Nós vamos fazer isso rápido e preciso. Não queremos ficar lá fora mais tempo que o necessário - eu concordei e ele chamou Daryl com um aceno - Quero vocês dois junto com Tara. Eu, Michonne e Rosita vamos no outro grupo.

Paul apareceu no nosso campo de visão, junto com seu sobretudo esvoaçante no vento da manhã enquanto ele caminhava até nós.

- Eu não podia ficar de fora dessa expedição - ele disse com um pequeno sorriso e Rick riu, dando um tapinha em seu braço.

- Que bom que veio. Você está com Ellie, ela vai te passar o plano.

Rick e Daryl saíram e eu passei o plano para Paul. Eu estava sentada na escada de uma das casas vendo Daryl fazer os últimos ajustes, com Paul ao meu lado.

- É a primeira vez que vejo Daryl sorrir. Achei que ele não tivesse essa capacidade - ele comentou quando Daryl sorriu para mim, de longe. Eu fiz uma careta, corando - Vocês estão felizes, apesar de tudo.

- Eu estou... não teria motivos para não estar, não é? - falei e ele concordou.

- Não é todo mundo que ainda tem uma parte da família - ele lembrou nostalgicamente quando olhei para seus olhos claros - Eu nunca me senti a vontade, nunca pensei que pudesse pertencer a algum lugar, mas agora... agora vejo que estamos lutando por um propósito a mais do que sobreviver. Estamos lutando para...

- Viver - nós dois dissemos juntos. Ele riu e ficou de pé, estendendo a mão e eu peguei.

- Alguma chance dos Salvadores estarem lá fora ainda? - um homem que acompanhou nosso passo perguntou. Daryl se juntou a nós também e paramos ao lado do trailer.

- Vamos rezar para que não - eu respondi honestamente - Mas sim, há uma chance, e é por isso que estamos indo escondidos - eu olhei para Daryl - Talvez devêssemos mandar um caminhão na frente, examinar as estradas para ter certeza de que ninguém armou nenhuma emboscada.

- É uma boa ideia - concordou Daryl.

Eu olhei de volta para o homem ao nosso lado.

- Você estaria disposto a tomar conta disso?

- Bem... sim - ele concordou - Alguém tem que fazer isso.

- Ótimo. Leve dois homens com você e use a rota do mapa. Essas estradas são menos percorridas, então você pode ter problemas com caminhantes ao longo do caminho, mas mantenha seu objetivo em mente. Se tudo parecer claro, pare depois de uma milha e nos avise pelo rádio. Nós nos encontraremos lá em breve.

- Sim, senhora - o homem baixou a cabeça e avançou, concentrado em sua missão.

- Você ainda é boa nisso - elogiou Daryl.

- Só estou tentando pensar logicamente, mas obrigado mesmo assim.

Daryl se inclinou e sussurrou em meu ouvido.

- Isso é o que te faz boa nisso.

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- Está todo mundo preparado para sair? Não há perguntas não formuladas ou palpites? - eu perguntei quando estávamos reunidos, virando-me para encontrar cada olho. Quando o silêncio permaneceu, eu acenei para Rick - Acho que estamos prontos para ir.

Eu pisquei para Daryl e ele sorriu para mim antes de acenar com o braço, indicando para eles nos seguirem para os carros.

Depois do aviso que estava tudo ok do lado de fora, nós entramos em um carro, Daryl ao volante e eu ao lado dele no banco do passageiro. Jesus e Tara sentaram-se atrás de nós.

Eu estava ocupada examinando a arma que Daryl me entregou, mantendo-a apontada para longe de todos e meu dedo longe do gatilho.

- Você aponta e atira - Jesus me disse da parte de trás do carro.

- Ha ha - eu zombei por cima do meu ombro, mas mostrei um sorriso - Eu sei como usar, Rick me mostrou há muito tempo - eu olhei para ele com gratidão e ele retornou o gesto - Mas essa é diferente das outras automáticas.

- É muito fácil, para ser honesto - Paul sentou-se na beira do seu assento e se inclinou mais para frente.

Ele pegou a arma e virou o lado esquerdo para cima.

- A coisa mais importante a saber sobre essa arma é a ação dupla-simples, que afeta a facilidade com que o gatilho é puxado. Esse pequeno interruptor aqui libera o pente. Esta arma em particular só tem 15 disparos mais um na câmara, e eles vão rápido se você não prestar atenção. Você tem balas extras com você, correto?

Eu dei um tapinha na pequena mochila ao meu lado. Seu braço roçou o meu quando ele virou o lado da mochila para cima, permitindo um acesso mais fácil ao conteúdo interno.

- Acho bom você não estar flertando com ela, Jesus - Daryl disse provocativamente, olhando entre a estrada e nós, e eu me surpreendi pela brincadeira. Não era sempre que Daryl era aberto assim.

Jesus não olhou diretamente para ele, mas virou ligeiramente a cabeça para Daryl.

- Se eu tivesse a opção de ensinar a você a segurança adequada das armas, nós já estaríamos na parte em que eu mostraria a você como se segura uma pistola. Confie em mim.

Risos e risadas saíram do banco de trás enquanto eu segurava a minha. Daryl pareceu surpreso, ainda que confuso, o que me fez segurar ainda mais o riso. Jesus esperou por uma resposta, sorrindo e balançando com o movimento do carro. Ele piscou para mim quando Daryl não disse mais nada.

- A palavra chave é pistola - Paul esclareceu.

- Eu entendi - Daryl respondeu rapidamente, ficando vermelho.

Nós três não conseguíamos aguentar mais enquanto Paul, Tara e eu começávamos a rir. Era estranho sentir-se bem, mas eu deixei o sentimento tomar conta de mim.

Durante o resto do caminho, Jesus me familiarizou com minha arma. Era uma Sig Sauer P229, uma que eu tinha usado antes, mas não me lembrava de tudo. Fiquei um pouco embaraçada com isso, mas Jesus me disse para não me preocupar. "Quando você não usa algo todos os dias, é fácil esquecer como isso funciona" disse ele.

- Qual é o melhor lugar para esfaquear alguém? - Paul me testou.

- Uhm... - eu franzi o rosto - Em qualquer lugar?

Suas sobrancelhas caíram e sua boca ficou plana com a minha resposta. Eu ri.

- Eu estou brincando. Rins, garganta ou no estômago.

- Boa garota - elogiou Jesus. Ele se virou para Daryl - Você a ensinou bem. Eu deveria ter passado mais tempo flertando com você.

- Sente-se - respondeu Daryl uniformemente, mas eu sabia que ele não estava ofendido - Estamos quase lá.

Não vou mentir que não me surpreendi quando encontramos as duas caixas com armas e munição que Dwight enterrou na floresta. Rick estava radiante e eu não era diferente, mas eu também estava preocupada em ter que usá-las. Nós tentamos contato com Hilltop mas pareceu que o rádio estava fora de alcance, apenas a estática zumbindo, então nos despedimos de Paul, que ficou de mandar notícias.

- Você tá bem? - Daryl perguntou quando eu parei no meio do caminho para o carro, sentindo meu estômago revirar o café da manhã.

- Sim, só um pouco enjoada por ter comido e embarcado no carro - eu disse, e foi só isso mesmo que consegui pronunciar, porque no segundo seguinte eu estava derramando minha última refeição no chão da floresta.

Daryl segurou meu rabo de cabelo para trás e me estendeu uma garrafa de água para que eu lavasse a boca.

- Obrigado - eu disse, já bem melhor. Ele continuava me olhando preocupado mas eu só peguei sua mão e voltamos para o carro.

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DIA SEGUINTE

Eu me vesti, indo em direção à frente de Alexandria, onde Rick estava armando os moradores com armas, facas e algumas granadas que conseguimos.

Suas instruções eram simples: todos os moradores vulneráveis ​​deveriam ser protegidos no centro da cidade perto do esgoto, caso precisassem evacuar. Todos os outros deveriam ocupar uma posição ao longo da cerca, prontos para lutar ao sinal de Rick. Nós ficaríamos fora de vista até o último segundo possível, e apenas atirar defensivamente ao sinal dele.

Ele ia tentar negociar com Negan uma última vez e oferecer um acordo comercial. Eu sabia que era uma proposta perdedora, mas o objetivo fundamental era proteger Alexandria.

Rick implorou para que eu não aparecesse, e eu concordei, mas não ia ficar completamente de fora, e assim como Daryl, eu ficaria na contenção caso Negan atacasse. Daryl estava uma pilha, me evitando desde que acordamos e eu o deixei ter seu tempo com ele mesmo.

Michonne queria que eu ficasse com os moradores mais atrás, mas eu recusei.

- Tem certeza? - ela perguntou enquanto eu a seguia até a cerca, enfiando a espada nas costas e pegando uma arma em vez disso.

- Se parece impossível, eu vou aparecer. Negan não vai atirar em mim - eu disse com um ar de confiança que eu não sentia muito. Quer dizer, eu sabia que ele provavelmente não iria atirar em mim, mas ele também poderia ficar tão irado em me ver que ele ordenaria um ataque, tornando meu plano discutível - Eu posso ser capaz de convencê-lo - menti.

Michonne se inclinou com uma expressão séria, falando tão baixinho que mal consegui ouvi-la.

- Você sabe que isso não vai funcionar, Ellie.

Engolindo o nó na garganta, eu consegui apenas uma palavra.

- Veremos.

Michonne não disse mais uma palavra, ela apenas me deu um aceno curto antes de tomar seu lugar do outro lado de Rick. Eu caí contra a parede, dobrando meus joelhos enquanto eles observavam o horizonte. Eles deram as mãos quase o tempo todo, e eu evitei ativamente tentar encarar.

Quando os minutos se transformaram em horas, começamos a nos trocar para conseguir pausas curtas. Eu não entendi o porque, mas Daryl estava me evitando desde que abriu os olhos, e quando eu fui falar com ele, simplesmente me cortou e saiu para o outro lado da passarela.

Não conseguimos contato com Hilltop e isso estava me perturbando. O que podia ter acontecido para eles não terem entrado em contato?

O sol estava se afundando no céu quando uma chama explodiu acima de nossas cabeças, fazendo-me saltar de pé. Rick levantou a mão para lembrar a todos para ficarmos fora de vista, e Michonne afundou abaixo da linha de visão, segurando sua arma com as mãos tensas.

Eu não conseguia enxergar, mas pude ouvir os caminhões se aproximando, um deles parando perto o suficiente para que eu pudesse sentir o cheiro da fumaça, enrugando meu nariz em repulsa. O som das portas abrindo e fechando fez meu coração começar a bater descontroladamente, minhas palmas começando a suar.

Rick, não sei como, apenas manteve sua postura perfeita, sua respiração profunda mesmo quando o som de passos, muitos passos, se aproximaram. Ele estava muito mais acostumado a esse tipo de situação do que eu, infelizmente para ele.

E então eu ouvi ele.

- Bem, bem, bem, se não é o Rick, vigiando lá como um bom e pequeno soldado.

- Negan - Rick disse calmamente, inclinando-se para descansar as mãos na borda da parede. Eu chupei meus lábios entre os dentes para não gritar ou vomitar, e ouvi Negan rir.

- Você sabe, eu não estou feliz, Rick - ele suspirou - Você pode adivinhar porque estou perturbado?

- Não há fibra suficiente em sua dieta?

Negan riu com vontade, um som de tapa enchendo o ar quando fechei os olhos, meu rosto se fechando em si mesmo. Eu conhecia aquela risada e ela cobria uma raiva vulcânica.

- Estou impressionado, Rick - ele riu - Eu não achei que você tivesse senso de humor. Mas não, não é por isso que estou irritado hoje. Veja, eu poderia estar em casa fodendo minhas esposas, aproveitando um raro dia de preguiça, mas em vez disso...

Ele parou por minha causa. Porque eu arruinei o plano de Rick. No segundo em que ele mencionou suas esposas, meus olhos se abriram e eu vi vermelho. Eu não fiz isso de propósito. Porque ele tinha que ser um idiota a todo custo?

Assim que eu me levantei, ouvi Rick xingar em voz alta, mas eu o ignorei, todo o meu foco em Negan, que estava olhando para mim como se eu tivesse ressuscitado dos mortos.

- É mesmo? - eu perguntei, levantando minha arma e apontando-a para seu rosto chocado.

Sim, meu orgulho e eu acabamos de nos ferrar.

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