Capítulo 7
|Flashback|
Era muito cedo e o sol havia acabado de nascer. Haviam poucos caminhantes na cerca, e eu decidi matá-los. O sol iluminava e aquecia o dia, mas ainda assim era frio. Alguns de nós iríamos atrás de comida, revistar alguns lugares aqui perto e eu já estava de pé.
Quando terminei e só havia alguns mais afastados, Daryl apareceu e nós fomos em direção a prisão.
- Gostei do poncho - disse e Daryl ergueu uma sobrancelha - Combinou com você. Ficou sexy.
Apertei sua bunda e puxei a mão antes que ele pudesse agarrar. Daryl me deu um olhar de desaprovação e eu ri.
Caminhamos até perto de onde Rick estava conversando com alguns presidiários. Segurei a mão de Daryl, parando de caminhar e ficando de frente com ele. Na luz do sol a cor de seus olhos era ainda mais deslumbrante.
- Você está muito bonito hoje - passei as palmas da mão sobre o seus ombros, sentindo o tecido da peça.
- É só uma roupa - ele deu os ombros, sem jeito. Sei que é errado, mas eu adorava vê-lo tímido, era fofo. E sexy. Inferno, ele conseguia ser sexy até sem querer.
Quando ele focou seu olhar em algo atrás de mim, não precisei virar para saber o que era.
- Devo me preparar para te segurar? - brinquei. Daryl não gostava desses caras, mas para falar a verdade eles não pareciam ruins, mas eu concordava com Rick por querer longe de nós.
Daryl não desviou o olhar com o meu comentário, e eu olhei para trás, vendo um dos caras olhando de longe para nós, encarando Daryl.
- Se ele olhar de novo desse jeito pra você eu vou arrancar os olhos dele - Daryl resmungou, bravo.
Eu fiz uma cara de nojo. Daryl era bem mais velho que eu, mas aquele cara tinha idade para ser meu pai. Eca.
- Você deve se preocupar mesmo. Eu adoro caras mais velhos - provoquei. Eu adorava empurrá-lo desse jeito, ele tinha um lado ciumento forte. E eu adorava. As mãos de Daryl apertaram mais firmemente minha cintura.
- Estou brincando, baby - dei um beijo molhado no seu maxilar - Você sabe que é o único que pode me tocar - rocei meus lábios nos dele e acariciei sua nuca com as pontas dos dedos - O único que me deixa assim, ansiosa para o dia acabar e eu poder montar em você.
Mordi o lábio, descendo uma das mãos por seu peito.
- Ellie - ele falou meu nome como um aviso, segurando meu pulso antes de eu conseguir chegar a sua calça. Eu ri, mas ele não.
- O que foi? Estou te deixando animado?
- Porque você faz isso? Fica falando essas coisas - ele franziu a testa. Daryl não era muito vocal, mas eu gostava de deixá-lo saber o quanto eu era atraída por ele. Ele gostava e ficava ligado com isso, mas não era fã de demonstrar nada na frente das pessoas.
- Você não gosta? - perguntei do jeito mais inocente que pude, fitando seus olhos. Ele desviou o olhar, olhando ao redor e negando com a cabeça.
- Não devia falar isso na frente dos outros.
Eu fiz uma careta.
- Eles estão longe, nem em sonho vão conseguir ouvir - passei a mão por seus cabelos - E se ouvirem... eu não me importo.
Daryl deu um meio sorriso, o máximo que eu conseguiria arrancar dele, mas logo sua atenção saiu de mim e foi para os caras que falavam com meu irmão.
- Daryl - revirei os olhos, segurando seu rosto e o fazendo me olhar - Nenhum deles nunca se atreveu a falar nada pra mim, e se um dia falarem, eu sei me defender.
- Nem todas sabem - ele comentou e eu estreitei os olhos sem entender.
- Como assim?
- Ouvi ele falando com Beth ontem e corri com o babaca.
Deixei minhas mãos caírem ao lado do meu corpo, e me afastei um pouco de Daryl.
- Aposto que ela sabe dizer não sem precisar de você. Você não é o pai dela para ficar a defendendo.
Essa garota me irritava. Ingênua demais, lenta demais... o tipo que precisava ser defendida a todo momento. Daryl tocou meu braço para que eu ficasse perto dele de novo, mas não falou nada.
- Ou talvez você queira ser o papai dela - ergui as sobrancelhas, esperando resposta.
- Você é louca - ele balançou a cabeça, arrumando a besta nas costas.
- Esse é o argumento usado por noventa e nove por cento dos homens quanto uma mulher diz algo óbvio e eles não tem uma resposta.
- Você imagina as coisas e quem se ferrar sou eu - ele se defendeu.
- Você já percebeu que essa garota tá entrando com frequência na nossa conversa?
- O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que eu não gosto dela nem do jeito que ela te olha - eu passei a mão no rosto, tentando deixar claro pela última vez - Olha só, Daryl... eu não fico tocando nesse assusto, eu não gosto de dar uma de ciumenta, mas isso é algo que me irrita.
- E eu não gosto de desconfiança. Você não pode me pedir para ignorar um cara enchendo o saco da garota só porque não gosta dela.
Ele defendeu ela? Ok. Ele estava defendendo ela agora, na minha frente só porque eu mandei ela se virar sozinha? Não está ok. Balancei a cabeça. Eu não ia discutir a essa hora da manhã.
- Eu não disse isso. Quer saber, esquece. Às vezes acho que você se faz de idiota.
- Vamos, Ellie? - T-Dog gritou para mim, parado próximo de um carro junto com Maggie.
- Estou indo! - gritei de volta, já saindo.
- Vou junto - Daryl avisou, caminhando junto comigo, e eu parei.
- Não. Você tem que ajudar Rick - eu disse, olhando para meu irmão que acenou com a cabeça de longe, se despedindo de mim. Voltei a olhar para Daryl, que me olhava com os olhos semicerrados - Além do mais, você tem uma donzela pra defender.
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- Para com isso, para de ficar me protegendo. Eu fazia isso muito bem antes de te conhecer, e melhor ainda agora.
Eu estava possessa. Eu não gostava de sair para fazer corridas com Daryl. Eu amava sua companhia, mas Daryl sempre teve essa mania de achar que precisava ficar guardando minhas costas sempre. Eu não precisava disso.
- Você devia me agradecer - respondeu pelas minhas costas. Eu me virei com sangue nos olhos, o vendo entrar na cela que dividíamos. Ele deixou a besta encostada na parede, perto de onde colocamos dois colchões de solteiro para formar um de casal.
- Eu não sou uma garotinha indefesa. Acho que está morto confundindo com outra pessoa.
Ele não respondeu nada, só deu aquele olhar típico dele e eu ri pelo nariz, incrédula. Peguei meu casaco em cima do colchão.
- Onde você vai?
- Torre - respondi de costas enquanto colocava o casaco - Não precisa vir comigo. Acho que dou conta de olhar para o nada sem sua ajuda.
Sai sem olhá-lo. Do mesmo jeito que ele era bom com a besta, eu era com uma arma ou faca na mão. Eu não gostava que me defendessem, Rick nem insistia mais, mas Daryl simplesmente ignorava isso.
O céu estava estrelado como eu nunca vi. Talvez fosse porque agora, finalmente seguros, eu conseguia prestar atenção em algo que não fosse não morrer. Estar na torre era como tocar o céu. Mesmo com o vento frio, era agradável ficar aqui em cima.
Já fazia um tempo que eu estava aqui, e Daryl não apareceu. Eu já estava ficando preocupada achando que ele tinha ficado bravo. Eu quem estava brava. Foi ele quem me tratou como uma idiota. Eu não precisava de ninguém me defendendo.
Entrei na torre e chutei as botas em um canto e coloquei minha arma em cima do balcão onde havia alguns papéis, fios e um telefone. Eu já tinha visto tudo isso mil vezes. Tirei o jeans que estava me apertando e minha blusa, me deitando no colchão no chão e me cobrindo. Entrelacei os dedos sobre a barriga e fiquei olhando para o teto, esperando Daryl.
Uma pequena lamparina era a única coisa que quebrava a escuridão. Eu não gostava de ficar no escuro, não era medo, eu não sabia explicar, só não suportava. Sempre fui assim e perdi a conta de quantas vezes Daryl brigou comigo por eu querer deixar alguma luz, seja vela ou lanterna ligadas até eu dormir. Você está desperdiçando pilhas com besteira. Nada de ruim vai acontecer.
Ele entrou com a crossbow na mão, sem dizer nenhuma palavra. Eu estava brava, mas não queria estar. Odiava brigar com Daryl. Eu peguei pesado, sabia que devia desculpas a ele. Eu faria o mesmo se achasse que ele estava em perigo.
- Ei - eu me apoiei nos cotovelos, e ele deixou a besta ao lado da minha arma.
- Ei - Daryl respondeu, mal me olhando.
Eu tive certeza que ele estava puto comigo quando ele se encostou na bancada que ficava ao lado da janela da torre, cruzando os braços e olhando para fora sem falar nada.
- Você demorou. Estava quase dormindo - tentei quebrar a tensão, mas ele só resmungou alguma coisa que eu não entendi. Ele fazia isso com frequência. Você merece, Ellie.
- Estava te esperando - me sentei no colchão, cobrindo minhas cintura com a coberta.
- Não era você quem não me queria aqui? - Daryl indagou, sem me olhar. Eu suspirei, vendo que seria trabalhoso fazer as pazes.
Empurrei a coberta com os pés, ficando de pé. O ar frio fez minha pele se arrepiar dolorosamente. Daryl não me olhou quando eu parei ao seu lado.
- A gente pode conversar?
- Pra você me dar as costas de novo? - respondeu com amargura.
Eu não ia vencer essa sem me desculpar. Eu o puxei devagar pelo colete, para que ficasse de frente para mim.
- Me desculpa? - passei as mãos para cima e para baixo no seu braço, sentindo seus músculos enrijecer - Baby, olha pra mim - segurei seu rosto para que me olhasse.
- Tem ideia do que eu sinto só de pensar em perder você? - Daryl indagou, seus olhos correndo por todo meu rosto, sem desviar.
Eu não sabia o que falar. Isso era algo novo, Daryl não era do tipo aberto. Eu nunca esperei que ele falasse dos seus sentimentos, mesmo sabendo que ele os sentia.
- Toda vez que um de nós sai por aqueles portões, temos chance de não voltar. Eu vou fazer tudo que eu puder pra te proteger, sempre vou cobrir suas costas, você queira ou não.
- Baby... - eu não sabia o que falar. Ele olhou para baixo, os braços ainda ao lado do corpo, como para se proteger. Passei a mão em seu rosto, afastando os cabelos que começavam a cair sobre seu rosto - Eu não quero perder você também. Por isso que não gosto que se arrisque por mim.
- Isso não está em discussão - ele praticamente rosnou. E não estava, não depois de hoje. Ele ia me proteger assim como eu protegia ele. Um pelo outro.
- Sim. Não está.
Eu não consegui evitar de sorrir. Daryl finalmente colocou as mãos na minha cintura. Suas mãos quentes e ásperas me arrepiaram inteira. Passei os braços por trás do seu pescoço, grudando meu corpo no seu.
- Então estamos bem? Você me perdoou? - sussurrei contra seus lábios, sem beijá-lo.
- Vocês planejou pedir desculpas usando só isso? - ele levantou uma sobrancelha. Dei um beijinho no canto da sua boca, roçando meus lábios por seu maxilar até seu ouvido.
- Talvez. Mas eu vou me desculpar totalmente sem isso.
|Flashback|
Eu não acreditava no que estava vendo, não acreditava no que estava sentindo. Alguém sabotou os alarmes da prisão, muitos caminhantes, Lori morta... não conseguia acreditar nisso, ver meu irmão daquele jeito...
- Estou bem - disse quando Daryl parou ao meu lado - A única coisa que temos que pensar agora é no bebê e em matar esses caminhantes na cerca - comecei a mexer na pequena dispensa que fizemos em uma das celas. Eu e Daryl tínhamos achado latas de fórmula em uma das corridas para fora, e eu sabia que estava por aqui.
- Isso deve dar para uns dois dias. Não tenho ideia de quanto um bebê come. Eu volto com mais antes de ela sentir fome - avisei, já me virando e pegando uma das mochilas que tinha ali.
- Eu vou com você - Daryl disse, e mesmo sem olhar eu senti que não ia adiantar dizer o contrário.
- Tem duas latas de fórmula, mas precisamos de mais - ignorei o que ele falou.
- Eu vou com você - ele falou de novo.
- Não. Você precisa cuidar das coisas aqui. Não confio em mais ninguém para ficar no comando depois de Rick.
- Você tá muito nervosa pra sair - Daryl tocou meu braço, mas eu me afastei - Ellie - ele me segurou de novo, ficando na minha frente e me impedindo de passar.
- O que é, Daryl? - arranquei meu braço da sua mão. Não havia nada para falar, só agir. Perdemos pessoas, tínhamos um bebê para cuidar. Um bebê sem mãe e sem pai também já que Rick estava totalmente fora de si.
- Você precisa se acalmar - ele disse e eu finalmente o olhei. Nós dois estávamos sujos de sangue, acabados.
- Me acalmar? Eu acabei de matar um homem que tentou matar meu irmão. Lori está morta e o bebê sobreviveu, mas não tem uma mãe. Temos corpos de nossos amigos para enterrar e Rick está louco.
- Vou pedir para alguém ir com você - Daryl disse depois de me olhar por alguns segundos.
- Não. Vou sozinha - o tirei da minha frente mas ele me segurou de novo - Me solta - rosnei, olhando para sua mão no meu braço. Daryl já era blindado contra minha grosseria e se manteve do mesmo jeito.
- Vamos agir com calma. Eu vou com Glenn e você fica de olho no seu irmão e no bebê. Eles precisam de você aqui.
Do jeito perturbado que Rick estava, eu tinha medo de ele fazer alguma besteira.
- Ellie - a voz de Daryl me puxou de volta.
Olhei para ele mais uma vez, sentindo todo o peso do olhar de Daryl e não querendo suportar seu fardo.
- Tudo bem... tudo bem.
Voltamos para o pátio estava Carl estavam com a irmã nos braços. Tudo estava silencioso. O bebê tinha nascido, mas ninguém comemorou. Estava tudo de cabeça para baixo.
Me surpreendi quando Daryl pegou o bebê nos braços e o embalou. Passei o braço pelos ombros de Carl é fiquei assistindo a cena.
- Ele já tem um nome? - Daryl perguntou a Carl, estendendo a mão para mim. Eu entreguei a mamadeira a tinha feito e Daryl começou a alimentá-la.
- Pensei em Shopia - Carl disse, triste - Ou Andrea. Amy. Patrícia. Lori - disse por fim. Eu o abracei conta meu corpo. Ele era só uma criança e estava cercado por morte.
- Gostou? - Daryl perguntou para o bebê - Gostou, Little Ass Kicker? - Daryl sorriu, só um pouquinho, mas foi o suficiente para aquecer meu coração.
Vendo isso, eu não sabia se o fato de eu não poder ter filhos era uma maldição ou uma bênção. Eu nunca poderia dar isso a Daryl. Isso não era algo que me perturbava, nunca tive o sonho de ser mãe, mas essa cena mexeu comigo. Talvez fosse porque todos estavam abalados e os sentimentos distorcidos... ou talvez não.
|Flashback|
Rick estava perturbado. Ele mal segurou a filha nos braços. Meu irmão sempre foi alguém muito controlado, mas a morte de Lori o devastou.
Eu, Maggie e Glenn viemos atrás de coisas para o bebê. Encontramos uma pequena creche conseguimos muitas latas de leite para Judith e algumas roupinhas, fraldas e até uns brinquedos. Eu queria voltar o mais rápido possível, então pegamos tudo na velocidade da luz.
- Esquecemos os lenços - digo quando saímos - Deixa que eu pego.
Eles concordaram e foram para o carro e eu entrei de novo, peguei os lenços e sai. Foi quando ouvi uma voz que eu conhecia bem.
- Onde está meu irmão? - Merle estava com Maggie refém, com uma arma apontada para sua cabeça enquanto Glenn também mantinha a dele apontada para Merle. Como esse filho da puta tá vivo?
- Onde vocês estão ficando? É perto daqui? - ele questionou - Estão limpos e não parecem estar passando nenhuma dificuldade.
Maggie e Glenn não falaram nada. Apontei minha arma e a destravei sem fazer barulho, mirando na cabeça de Merle. Ele podia ser o irmão de Daryl, mas a partir do momento que estava ameaçando a vida de um de nós, ele era inimigo.
Não tive tempo de reagir quando senti alguém atrás de mim. Senti sua mão segurando firme em meus cabelos e uma lâmina na minha garganta.
- Cala a boca ou eu corto seu pescoço - a voz de uma mulher disse, tão baixo quanto podia. Vi os três entrarem no carro e irem embora enquanto a mulher mantinha a faca pressionando minha jugular.
Eu hesitei e deixei Merle os levar. Como eu fui fazer uma merda dessas? Quem era essa mulher? Tentei me defender e acertei uma cabeçada no seu rosto, a derrubando no chão. A faca caiu e ela tentou ajuntar, mas eu pisei no seu pulso enquanto apontava a arma para a mulher negra.
- Um movimento e eu estouro sua cabeça.
Ela me olhava como um animal acuado. Olhei ao redor mas não tinha mais ninguém. Será que ela estava com Merle? Merda, merda, merda...
- Quem é você?
Ela não respondeu nada, só me olhava com aqueles olhos escuros e raivosos.
- Você está com ele? Está com Merle?
Nada. Que filha da puta...
- Levanta - bati com o meu pé nela. Vi um caminhante vindo e peguei minha faca, não desviando minha arma dela, que estava de pé.
Quando eu enfiei a faca na cabeça daquela coisa decomposta, não sei como ela conseguiu puxar a espada que estava em suas costas. Por reflexo - eu nunca pagava para ver se a pessoa ia me ferir - eu atirei na perna dela. Ela colocou a mão onde levou o tiro, mas não soltou a espada.
- Larga essa merda ou o próximo vai ser na sua cabeça - avisei, me afastando um pouco, mas sem abaixar a arma.
Meu coração estava correndo como louco. Ela soltou a espada no chão, segurando a coxa baleada. O sangue manchava a calça.
- Chuta pra mim - disse, olhando para a espada no chão. Ela chutou, rangendo os dentes pela dor na perna. Eu agarrei a espada.
O eu faria agora? Não fazia ideia para onde Merle os levou. Não fazia ideia porque essa mulher me segurou para Merle não me ver... eu teria que voltar a prisão, avisar Rick e descobrir onde Merle está.
- Vou te ajudar a caminhar, mas se você tentar qualquer merda, eu atiro. Você pode ser grande, mas eu sou mais forte - avisei. Nesse estado ela não tentaria nada, estava sangrando demais e andar fazia o ferimento sangrar ainda mais.
Passei seu braço sobre meus ombros e começamos a caminhar. Quando avistamos a prisão, eu a soltei e empurrei para que andasse na minha frente. Havia alguns caminhantes e eu os matava a medida que chegavam perto. Avistei Rick e ele saiu disparado para abrir o portão e a mulher caiu de joelhos, ainda do lado de fora, desacordada. Havia muitos caminhantes vindo em nossa direção por causa do cheiro do sangue dela, mas eu consegui arrastá-la para dentro.
- Quem é ela? - Rick perguntou assim que fechou o portão. A mulher estava caída no chão onde eu a joguei, ainda desacordada.
- Aconteceu uma coisa. Precisamos conversar - disse com a respiração entrecortada e vi Hershel se aproximar junto com Beth - Leve ela e cuide do ferimento e depois a tranque em uma das celas - disse a eles, rezando para Daryl ter saído para caçar assim como disse que iria antes de eu sair.
Eles arrastaram a mulher e Rick continuou parado, me olhando sem entender.
- Onde Daryl está? - perguntei. Vim o caminho interio pensando no que Daryl faria se soubesse sobre Merle.
- Caçando.
Disse a Rick o que aconteceu e contei que Merle estava vivo. Decidimos não contar a Daryl porque precisávamos dele, e se soubesse que Merle estava vivo ele iria atrás dele mesmo sem saber onde. Decidimos que ele só saberia que Maggie e Glenn foram levados por alguém e fomos interrogar a mulher.
- Eu a ajudei e ela atirou na minha perna. Não me fale sobre ser confiável - ela rosnou do outro lado das grades quando Rick tentou usar o argumento nos conte o que sabe para podermos confiar em você.
A desgraçada era dura. Essa vaca nunca contaria nada.
- Onde fica esse lugar? - perguntei tentando segurar a raiva - Basta falar. Só queremos resgatar nossos amigos.
- Encontrem vocês mesmos - ela cuspiu e não respondeu mais nada depois disso.
*
Finalmente Michonne - era esse seu nome - abriu o bico e contou sobre o lugar. Nós fomos até lá e conseguimos entrar, pegar Maggie e Glenn, mas Daryl deu de cara com Merle e acabamos nos separando. Daryl não quis deixá-lo.
- Daryl ainda está lá. Eu não vou sem ele - eu disse quando estávamos já do lado de fora.
Daryl viu Merle e não quis vir com a gente. Eu implorei, mas ele simplesmente ignorou. Mas eu não o deixaria para trás. Nós entramos de novo, jogamos algumas bombas e conseguimos tirar Daryl e Merle de lá.
- Você sabia? - Daryl gritou para mim - Você sabia que meu irmão estava vivo e não falou!
Eu arregalei os olhos. Nos estávamos do lado de fora, um pouco afastados de Woodbury. Eu tinha errado em não contar à Daryl, mas essa era a reação que eu temia.
- Eu ia...
- Você não me contou - ele repetiu, a raiva palpável em cada palavra. Ele andava de um lado para o outro como um tigre na gaiola.
- O que fazemos agora? - Glenn perguntou. Houve uma pequena discussão porque ninguém queria aceitar Merle.
- Eu vou com Merle - Daryl disse, já começando a sair de perto de nós.
- O quê? - minha voz saiu gritada - Como assim?
- Se não querem meu irmão lá, eu vou com ele - disse sem me olhar. Eu não consegui me mexer quando ouvi isso, apenas fiquei olhando para ele. Daryl não faria isso.
- Pera aí, vocês estão juntos? - Merle perguntou com uma careta. Eu o ignorei, assim como todos.
- Você não pode fazer isso - segurei a mão de Daryl. Ele não poderia ir embora assim. E o que nós tínhamos? Ele sequer me olhava direito e puxou a mão da minha.
- Puta merda, vocês estão juntos! - Merle exclamou, gargalhando, e deu um tapa nas costas de Daryl - Se deu bem, irmãozinho.
- Temos que ir, Ellie. Não podemos ficar por perto - Rick alertou, mas eu não olhei. Eu não conseguia desviar os olhos de Daryl. Porque ele estava fazendo isso comigo? Ele murmurou alguma coisa e eu agarrei seu braço antes que ele pudesse sair.
- Daryl - eu o chamei, sentindo os olhos embaçados, mas não me permiti chorar. Eu não queria acreditar que isso estava acontecendo.
- Me esqueça - sussurrou, puxando seu braço de mim. Ele me olhou por menos de um segundo e desviou para o chão, saindo de perto em seguida.
Essa foi a primeira vez que Daryl me deixou. E não foi a única. Nem a última.
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