Capítulo 59
Depois que Negan saiu eu consegui cochilar um pouco sabendo que hoje poderia ser a última vez que eu estaria neste lugar. Eu estava ansiosa por essa à noite, principalmente para sair daqui, mas também havia uma grande parte de mim que esperava algo dar errado e de uma maneira grande. Muito grande.
Os últimos meses não foram nada mais do que cruéis para mim, com pouco alívio, então não era uma suposição irrealista. No entanto, empurrei o pessimismo de lado, assim como as cobertas, e saí da cama.
Eu não posso fazer isso. Eu não posso fazer isso.
Eu andei de um lado para o outro em passos curtos, voltando novamente quando não pude ir mais longe no quarto. Eu estava doente de angústia, duvidosa do que deveria fazer. Fique aqui e sofra? Ou saia com a chance de ser pega e sofrer um destino pior do que antes?
Eu me senti meio idiota; como se eu não pudesse tomar uma decisão simples quando em toda a realidade, não era tão simples assim. Eu tinha repassado os prós e contras em minha cabeça várias vezes, dizendo a mim mesma que Dwight tinha planejado isso e que eu não seria pega, mas eu era uma medrosa.
Tudo que Negan falou encheu minha mente, mas eu não ia desistir por um devaneio bêbado de um homem louco. Se eu bem o conhecia, depois que saiu daqui ele foi transar com alguém e agora estava em seu quarto, dormindo. Nem um pouco ciente que eu estava prestes a dar o fora daqui.
Eu gritei em frustração, correndo meus dedos pelo meu cabelo. Eu chequei o relógio pela milésima vez e o pânico me atingiu.
Eu tinha menos de vinte minutos para descer na garagem ou eles poderiam ir embora sem mim. Dwight disse que era a troca de aguardas e que eu teria menos de dois minutos para descer todas essas escadas sem ser pega, entrar na carroceria da caminhonete branca e me cobrir com a lona.
Corri até a porta na ponta dos pés, ouvindo sons ou passos do lado de fora. Nada. Eu estava nervosa e com Negan na minha cabeça. Vi as paredes começando a rachar; como se ele pudesse vir vindo correndo pelos corredores a qualquer momento e elas caíssem para me deixar exposta, e ele saberia. Saberia que eu estava saindo.
Eu estava saindo.
Tirando uma folha meio amassada da gaveta e uma caneta, eu comecei a escrever uma carta, me sentindo patética, tendo certeza que Negan limparia a bunda com ela. Mas eu estava fazendo por mim, não por ele.
Negan,
Naquele dia que você me salvou, eu me senti tão afortunada de estar viva e em segurança em seus braços. Você me disse que tudo ficaria bem e que você estava lá. Eu acreditei em você.
No início, o que você disse aconteceu; você estava lá para mim, confortando-me quando tive pesadelos. Mas agora, olhando tudo pelo outro lado do vidro, eu vejo o quanto eu fui fraca. Eu não queria mais lutar, queria alguém que cuidasse de mim do jeito que eu nunca permiti. Você fez isso, me ajudou a juntar meus pedaços quebrados, mas você me cortou com eles.
Eu sei que você passou por muito. Eu sei que você perdeu quem você amava. Ela devia ser uma grande mulher, a única pessoa que você amou para estar tão quebrado agora. Quatro mulheres para tentar tampar o buraco da falta de uma soa doloroso. Você deve estar se perguntando como eu sei disso, não é? Se alguém olhasse além do que você mostra, saberia. Mas ninguém olhava, só eu. O maldito cliché feminino de achar que pode concertar um homem e fazê-lo bom. Eu devia ter aprendido na primeira vez, mas não.
Você cuidou de mim, você me deu tudo o que eu perdi e estava a seu alcance. Não me arrependo de ter te conhecido, não me arrependo de ter estado com você. Você me salvou da morte e eu consegui reencontrar minha família. Mas entre eles e você, eu escolho eles. Sempre.
Espero que entenda, e se não entender - eu sei que essa é a opção mais provável - pergunte a si mesmo: entre Lucille e a mim, quem você escolheria? Eu sei a resposta, Negan.
No fim de tudo, a gente se prende ao amor. Você luta por quem você ama, você protege. Minha família sempre virá primeiro. Sei que isso não vai fazer você parar com essa guerra, mas eu espero que você reconsidere. Eu não quero que você morra, só o pensamento me assusta, mas é isso que vai acontecer, alguém vai ter que morrer para por um fim nisso.
Eu te amei e quis seu bem apesar de você mesmo só trazer sombras para sua vida. Talvez esse seja o nosso fim, sozinhos. Espero que você seja feliz. Até nunca mais.
Ellie Grimes.
Depois de deixar a carta sobre o travesseiro, eu voei para o banheiro, arrancando a camiseta que estava usando e tirando meu short. Eu abri as gavetas do armário e tirei as roupas que escondi lá, rapidamente mudando para um traje mais adequado para o que eu estava prestes a fazer.
Quando eu estava pronta, eu rapidamente penteei meu cabelo antes de trancá-lo num rabo de cavalo. Eu segurei a ponta e coloquei um gorro preto sobre a cabeça, sentindo-me tão pronta quanto eu estaria.
Com um último olhar no espelho, caminhei até a porta o mais silenciosamente que pude e escutei de novo. Nem um som passou e a coragem era uma maré alta que se chocou contra mim, então eu virei a maçaneta, o suor escorregando minhas mãos, e respirei fundo antes de espreitar lá fora.
Eu olhei para os dois lados, observando a falta de ruído distante. Isso significava que ninguém estava por perto nem se aproximando. Tomei isso como um bom sinal e saí para o corredor, fechando lentamente a porta atrás de mim.
Eu precisava descer até o térreo sem ser notada. Isso poderia ser um pouco difícil, mas não impossível. Eu sabia que mesmo com a troca de turnos os Salvadores patrulhavam todos os níveis do Santuário, mas considerando quão grande era este lugar, não seria difícil passar por eles. A cautela seria minha amiga e eu a segurei ao meu lado enquanto deslizava pelo corredor até a escada.
Até agora, tudo bem, eu disse a mim mesma enquanto tentava descer as escadas, parando para observar cada canto e ouvir antes de seguir em frente.
Eu estava começando a sentir que a sorte era uma amiga distante e arbitrária que só visitava no momento mais desesperado e mais raro. Minha primeira tentativa de fuga não chegou tão longe, mas aqui estava eu, quase lá. Mais alguns passos e eu estaria livre. E quanto mais eu me aproximava da liberdade, mais confiante me tornava que eu estava saindo daqui.
Mas o rosto decepcionado de Negan apareceu na borda sombria da minha convicção. Eu sabia que ele estava escondido lá, pronto para atacar e me descobrir como da última vez.
No fundo da escada, parei atrás da porta e escutei. Ouvi vozes distantes e levei um momento para julgar a que distância estavam e se estavam se movendo. A conversa se aproximou e recuei da porta em direção à alcova sob as escadas. Quando as vozes pararam do lado de fora da porta, eu me abaixei nas sombras e me agachei, prendendo a respiração.
- Ele disse por que precisávamos nos preparar ou não?
A porta da escada se abriu e dois corpos entraram, suas vozes profundas reverberando contra a estrutura de concreto. Eu mantive meus olhos na ponta dos degraus, observando e esperando por rostos e mãos aparecerem com garras para arrancar e me agarrar, mas elas não apareceram.
- Não sei. Eu nem tenho certeza se estamos indo a algum lugar. Dwight apenas disse para fazermos as malas e o encontrá-lo na garagem.
- Vá se foder - primeira voz suspirou em aborrecimento - Eu não quero passar mais uma noite limpando a bagunça de outro babaca.
Eu ouvi os passos deles subindo as escadas em que me escondi, vibrando acima de mim.
- O posto avançado precisa de abastecimento de comida, deve ser isso - a segunda voz argumentou.
- No meio da noite? Essa merda não deveria ser cuidada pela manhã?
- Eu não sei, cara. Eu só estou jogando com possibilidades. Somos novos aqui, é obedecer ou morrer.
Suas vozes ecoantes diminuíram e desapareceram. Eu levei alguns minutos adicionais para reunir a ousadia e segurança que eu estava sentindo, mas era difícil de segurar.
Era como se meus dedos mal tocassem a superfície e eu não conseguisse enrolar em torno dela. Algo não parecia certo, mas eu ignorei a pontada no meu intestino e me esgueirei por debaixo das escadas.
É melhor eu ter sorte dessa vez.
Eu olhei para cima, procurando por quaisquer sinais de movimento acima de mim, mas não vi nenhum. Movendo-me para a porta, observei os ruídos do lado de fora mais uma vez, e quando determinei que o caminho estava limpo, saí e rapidamente pelo corredor até o ponto de encontro ao qual Dwight havia me instruído a ir.
Eu andei com determinação, tentando não sair correndo. Eu continuei lançando olhares nervosos por cima do meu ombro, uma sensação de presságio lentamente subindo pela minha espinha, mas vi que estava sozinha.
O vazio dos corredores estava começando a parecer estranho. Achei que teria mais problemas do que isso, mas tinha sido quase sem esforço.
Não era exatamente tarde, mas era possível que muitos trabalhadores do Santuário estivessem na cama ou encontrassem consolo em algum outro formato. Eu esperava que isso fosse verdade. Quanto mais pessoas estivessem distraídas e fora do meu caminho, melhor, porque isso significava que teria uma fuga mais limpa.
Eu estava quase lá, olhando para o canto com cuidado quando vi um homem corpulento e loiro que eu já tinha visto com Negan antes.
- Senhor.
O homem loiro cumprimentou Negan quando, e eu balancei de volta, batendo-me contra a parede da esquina para fora de vista. Meu coração estava martelando debaixo do meu peito, pronto para explodir de medo.
Eu não tinha certeza se Negan tinha me visto, mas eu notei que seus olhos estavam abatidos antes de eu voltar para trás. Os meus estavam procurando freneticamente por um lugar para se esconder enquanto eu deslizava pelo corredor, minhas costas ainda pressionadas contra a parede.
A maioria dos cômodos no térreo eram de armários, onde os suprimentos eram mantidos ou empregados de alguma outra maneira e muitos deles ficavam trancados. Esse corredor não era exatamente curto também.
Corre! Minha mente gritou, mas não consegui. Se eu fizesse isso, seria óbvio demais. O som era transportado facilmente através dessas paredes, como era evidente pelo baque rítmico das botas de sola de borracha de Negan, que se aproximavam a cada segundo.
O tempo acabou, e eu comecei a forçar as maçanetas, amaldiçoando cada uma que não se movia contra o meu aperto. Mas era tarde demais. Negan ia entrar meu corredor e então tudo estaria acabada.
A menos que...
Apressadamente, eu joguei meu capuz para cima, cobrindo minha cabeça e puxando meu gorro para baixo e rezei para que ele não me pagasse.
As roupas que eu usava eram discretas o suficiente para que eu pudesse evitar mostrar meu rosto, mas se ele falasse comigo, eu seria pega. Eu só precisava ficar calma e agir como se eu fosse uma trabalhadora.
Quando ouvi Negan entrar no corredor às minhas costas, eu notei meu longo rabo de cavalo escapando e o agarrei rapidamente colocando-o debaixo do meu casaco com capuz.
As botas de Negan começaram a desacelerar quando ele se aproximou e eu segurei a bile que ameaçava subir na minha garganta.
Ele viu. Ele viu, porra!
Eu engoli em seco e me concentrei em respirar em silêncio, tentando me impedir de tremer enquanto continuava a andar. Parecia que seus olhos estavam queimando com lasers nas minhas costas e eu queria olhar por cima do ombro para verificar se ele estava focado em mim ou se era minha imaginação.
Quando suas botas desaceleraram para um rastejar próximo a mim, eu sabia que estava acabada, e fechei meus olhos em desamparo. Este era o lugar onde eu estaria rastejando, implorando pela minha vida e prometendo-lhe qualquer coisa se ele me permitisse mantê-la.
Mas uma voz feminina me impediu disso.
- Negan! Eu estive procurando por você!
Meus olhos dispararam, não conseguindo mais ficar treinados no chão malhado a minha frente. Era a voz de Rachel, irritante como seus saltos fazendo barulho no chão.
- Rachel, eu tenho muita merda pra cuidar. Podemos nos ver mais tarde - eu o ouvi dizer, a voz monótona e irritada, não tão maleável como quando veio me ver mais cedo.
Continuei andando no mesmo ritmo calmo de antes.
- Eu sei, mas eu achei que você poderia querer alguma companhia - Rachel praticamente choramingou e eu resisti à vontade de vomitar com desgosto.
- Agora não - disse Negan e ouvi o raspar das botas, e o corredor parecia ficar ainda maior enquanto eu me segurava para não correr.
- Porque? - eu podia ouvir a inocência fingida em sua voz.
Quando eu desapareci no final do segundo corredor, uma respiração gigante correu para fora de mim e eu parei um momento, colocando minhas mãos sobre o meu rosto.
- Quase - eu sussurrei e caminhei pelo corredor antes que eu pudesse ser vista novamente.
A garagem estava iluminada e eu só tive tempo de me esconder ao lado de um dos carros quando os mesmos homens que vi na escada entraram.
- Tá tudo na carroceria. Nós dois vamos juntos e Dwight vai sozinho - um deles avisou.
O carro onde eu estava agachada ficava de frente para a porta e se alguém entrasse, me veria na hora. Foi aí que Dwight apareceu e parou de súbito quando me viu.
- Deixei os rádios no arsenal. Vão pegar - Dwight mandou e passos rápidos ecoaram, logo sumindo.
- Você tá atrasada - ele disse quando passou a mão no rosto, angustiado. Eu me levantei, tremendo de adrenalina.
- Tive um imprevisto, Negan quase me pegou - eu disse e vi seus olhos quase saltarem.
- Ele te viu?
- Não - neguei e ele assentiu antes de checar outra vez antes de levantar a lona da carroceria. Havia comidas, verduras e outras coisas, e uma mochila.
- Preste atenção - Dwight avisou - Tem uma arma na mochila. Vamos chegar o mais longe possível antes de fazermos uma parada e quando eu levantar a lona, você vai apontar a arma para eles. O resto você deixa comigo.
Eu não questionei, entendendo seu raciocínio. Ele queria que eu os rendesse, ou pelo menos fingisse.
Dwight levantou a lona e eu entrei na carroceria da caminhonete, me encolhendo e abraçando a mochila. Ele cobriu novamente e vozes foram ouvidas, e logo os homens voltaram e Dwight os instruiu a entrar no outro carro e deu a partida.
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