Capítulo 37
Dwight às vezes vinha juntamente com Marie trazer as refeições e ele nunca mais falou comigo a menos que fosse extremamente necessário, e ele sempre usava uma máscara de desdém quando olhava para mim.
Eu acho que o lado sensível dele comigo se foi para sempre, mas eu não podia dizer que me importava. Eu não estaria aqui por muito mais tempo. Só seria um problema se eu fosse pega e não estava planejando deixar isso acontecer.
Esperei até que todos estivessem acomodados e dormindo. Fiquei de olho nos Salvadores que patrulhavam quando me levantei e escapei para fora, fechando gentilmente a grande porta do quarto de Negan atrás de mim.
Enquanto eu caminhava pela fábrica escura, estava bastante silencioso e assustador; os corredores vazios e escuros. Pequenas sombras dançavam ao longo das paredes aqui e ali, a lua era uma iluminação prateada através das janelas que ajudavam a mostrar o chão de concreto à minha frente. A escuridão era um auxiliar natural na minha ocultação.
Não havia muitas pessoas vagando pela fábrica a essa hora, mas as que estavam eram muito mais fáceis de evitar com a obscuridade do meu lado. Eu precisava pegar balas para a arma que Negan escondia. Ela já tinha quinze balas no pente, mas isso acabaria em segundos se eu estivesse em apuros - tanto de caminhantes quando Salvadores. Eu precisava de mais.
Eu ia iniciar algo; algo perigoso e arriscado. Eu só tinha que ter cuidado para que meu plano não voltasse contra mim, mas parecia que eu já havia tido um bom começo. Ninguém estava desconfiando.
Cheguei até o corredor da primeira sala que Negan arranjou para que eu encontrasse com Daryl. Uma varredura rápida encontrei uma faca e um rádio extra, que eram usados por todos os Salvadores. Ouvi um barulho de vozes do lado de fora e me pressionei contra a parede de trás da porta, a faca em punho, pronta para ser enviada em quem entrasse.
O murmúrio se foi, mas eu não relaxei. Guardei a faca nas costas e o rádio no bolso do cacaco e apertei a orelha contra a madeira. Eu não podia ouvir nada. Ajoelhei no chão, espiando pelo peitoril, também não podia ver nada. Lentamente, em silêncio, eu virei a maçaneta e abri a porta. O corredor estava vazio. Com meu coração batendo, sem pausar para pensar, eu voei pelo corredor, quieta como um sussurro. Desci as escadas quase que flutuando, com cuidado, lentamente, mergulhando em cada esquina de corredores cinzas.
Mas então, como era inevitável, alguém me pegou quando estava rastejando no corredor. Dwight. Eu quase gritei, mas conseguiu conter minha voz num um sussurro alto.
- O que diabos você está fazendo aqui? - Dwight questionou. Eu ainda sentia o frio da lâmina da faca nas minhas costas, presa entre meu jeans e meu corpo.
- Você deve me deixar ir - eu disse em vez disso - ele parou, rindo, mas o sorriso deslizou de seu rosto enquanto ele me olhava - Se você quiser libertar-se dele, você deve me ajudar a ir embora daqui.
Eu não sei porque falei isso, apenas saiu. Eu não era do tipo que falava demais quando estava com medo e minha reação me assustou. Mas agora não havia como voltar atrás.
- Você não sabe o que você está falando - ele agarrou meu braço, puxando-me e forçando para a escada.
- Eu sei exatamente do que estou falando. Eu ajudei Sherry e Daryl a fugir - quando disse isso, Dwight parou bruscamente.
- Você não sabe de nada - ele me empurrou para os degraus, mas eu me virei, com cuidado para manter a faca fora de sua visão.
- Você me deve isso - eu disse incisivamente. Não era uma boa ideia pressioná-lo, mas eu tinha mais coisas para usar contra ele do que o oposto.
Ele rosnou de raiva e e senti suas mãos agarrarem seus ombros.
- Nenhum de vocês parecem entender merda nenhuma.
- Não, Dwight. Você é que não sabe nenhuma merda sobre nós - eu disse friamente, inclinando seu corpo contra ele um pouco. Ele afastou-se de mim como se estivesse levado um choque.
Um barulho de vozes e sombras se aproximou e Dwight se desesperou. Ele me puxou pelo corredor onde haviam quartos dos Salvadores e me enfiou em um. No dele.
Ele trancou a porta e me mandou ficar calada, depois ligou a tv num volume alto o suficiente para ecoar pelas paredes do quarto.
- Você gosta de viver desse jeito? - eu avancei na sua direção, minha voz estável e não alta - Você gosta de ser um maldito escravo? Tudo bem. Tudo o que precisamos é um pequeno impulso. Deixe-me ir e será o primeiro passo para a sua liberdade.
Ele soltou uma onda de indignação e partiu novamente, desta vez apontando o dedo para mim.
- Eu já caí nessa conversa sua uma vez e fiquei na merda de uma cela.
- Eu fiz o que precisava ser feito.
Dwight me puxou bruscamente e me bateu contra a parede, seus dedos cravando na minha pele. Ele empurrou seu rosto cicatrizado para o meu, seus olhos um par de brasas enquanto ele olhava para os meus.
- Você fez. Agora lide com isso, lide com sua escolha - ele rugiu a última palavra, sua voz forte e penetrante em meus ouvidos. Eu estremeci.
- Certo - eu sussurrei - Me desculpe. Eu não quis que você se machucasse com isso.
- Sim, você quis - ele murmurou com raiva - Eu sei exatamente o que você está tentando fazer e não vai funcionar. Então cale a boca e faça o que você deveria estar fazendo.
- Você não precisa ser um covarde para sempre - eu balancei a cabeça lamentavelmente e pressionei meus lábios juntos. Ele recuou e eu olhei para ele, com o rosto tenso e enfurecido. Senti pena do que disse, mas sabia que voltaria a dizer se fosse necessário.
Ele virou e passou a mão no cabelo, nervoso. Eu estava do mesmo jeito, sentindo a chance escorrer por entre meus dedos.
- Eu vou fugir, estou confiando em você para contar isso, não me pergunte porque.
Estar no meio do fim do mundo era uma avaliação muito tensa do que um ser humano era capaz de fazer. Era uma exibição do puro instinto de que todas as pessoas neste mundo são programadas desde o nascimento para sobreviver, e junto com isso vem a manipulação calculada que se adota para garantir sua sobrevivência.
Eu podia estar jogando tudo no lixo, ele podia simplesmente avisar Negan e tudo estaria acabado. Mas eu tinha que usar essa carta.
- Você vai se machucar se tentar fugir - ele murmurou em voz baixa e se virou para mim, seus olhos agora subitamente condescendentes - Não tem como lutar contra ele.
Eu franzi a testa para ele, confusa.
- Qual é o seu negócio?- eu perguntei irritada. Dwight me deu uma olhada de confusão - Um minuto você está frio, e então no próximo você age como se estivesse se importando comigo - eu dei um passo em direção a ele, olhando para cima, em seus olhos.
O olhar enquanto eu falava foi substituído por um olhar de aborrecimento. Eu vi sua garganta balançar para cima e para baixo quando ele engoliu e ele quebrou o olhar do meu. Ele deu um passo para trás e olhou para a porta atrás dele.
- Você precisa ir. Vou ver se não tem ninguém no corredor e aviso - ele ia para a porta, mas eu o puxei.
- Me ajuda. Por favor - eu implorei - Isso não é uma forma de se viver.
- Acha que já não tentei? - ele cuspiu e apontou para o rosto - Esse foi o resultado. Você quer ficar assim?
- Estou disposta a correr o risco - eu disse firmemente - Escute. Só me coloque para fora daqui, se eu for pega não conto que foi você quem me ajudou.
Ele balançou a cabeça e se afastou.
- Você é louca.
Eu suspirei, fracassada. Ele não ia me ajudar. Seu medo era maior. Eu não o culpava.
- Você ainda pode fazer alguma coisa, Dwight. Sherry não está mais aqui - eu disse antes de caminhar para a porta, mas ele me puxou pelo braço.
- Você não pode sair assim. Tenho que ver se tem alguém vindo ou...
- Se alguém me ver, vou dizer que vim pedir para você me deixar falar com Negan pelo rádio e você disse não para não incomodá-lo - avisei. Aquela euforia toda de que eu iria sair daqui havia sido soterrada. Eu estava presa aqui e a remota ideia de que alguém se arriscaria a me ajudar era ridícula.
- Caso consiga fugir, tenho uma moto a quatro quilômetros daqui - Dwight disse e eu parei com a mão na maçaneta - Ela está quarenta passos para o sul dentro da mata onde há uma placa de proibido ultrapassar na estrada. A chave está escondida embaixo.
Eu assenti e não disse nada, mas ele me chamou para olhá-lo.
- Me dê a faca e o rádio - ele estendeu a mão. Eu respirei, derrotada, entregando os itens a ele. O principal eu já tinha: uma arma.
Meu caminho de volta ao quarto se fez sem tropeçar em ninguém. Sentada na mesa da cozinha, eu chorei. Chorei porque estava tão cansada. Tão cansada de me preocupar sobre o que aconteceria a seguir. Cada dia aqui era como um clique de um revólver contra a minha cabeça em um jogo perverso e perpétuo de roleta russa. Acabaria chegando a um final horrível, mas quando? Era um fardo pesado para carregar e eu estava quase perto de ser esmagada pelo peso disso.
Entrei no quarto eu fui em direção da cama para pegar a arma escondida. A sensação de segurar o metal frio nas mãos me acalmava porque me lembrava os velhos tempos. Quem eu era. Eu poderia ser forte novamente.
Eu tateei até achar o buraco atrás da cabeceira e meu coração caiu aos meus pés quando não encontrei nada lá. Ouvi um arrastar e meus olhos alertas correram pelo quarto e Negan emergiu das sombras com a arma na mão.
- Está procurando por isso?
O que vai acontecer com a Ellie agora??
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