Capítulo 19
Mantenha a calma.
Mantenha a mente no lugar.
Eu falava para mim mesma. O trailer foi ligado e começou a se mover. Voltei para o sofá e sentei de costas para a porta, os braços apoiados no joelho e o rosto entre as mãos.
Se acalme.
Se acalme.
Ouvi a porta deslizar e já sabia quem era.
- Ei - ouvi a voz de Negan, mas não olhei. Eu precisava me acalmar, eu não queria chorar. Mais - Ei - ouvi de novo e senti uma mão quente na parte inferior das minhas costas. Minha voz estava rouca e embargada quando eu respondi.
- Eu só preciso de um tempo.
Eu estava triste e nem sabia por onde começar. Tudo estava errado e não era para ser assim. Reencontrar Rick e minha família - Daryl - era para ser algo bom e reconfortante, mas era o oposto. Só fez ressuscitar a dor que eu vinha enterrando a anos. Eu me sentia tão pressionada que estava sem ar.
- Venha aqui - Negan me puxou contra ele e depois jogou a manta verde e vermelha sobre nós dois - Não fique triste.
Ele não perguntou nada, não quis que eu falasse. Ele não me pressionou, mas porque eu me sentia sufocada?
As quatro horas pareciam dias até que chegamos no Santuário. Eu vi Daryl sendo levado para dentro por Dwight, vi todos se preparando para descarregar o que foi trazido de lá. Eu só queria gritar até ficar sem voz para que toda essa dor saísse de dentro de mim.
- Suba e tome um banho, relaxe. Eu já vou subir - ouvi Negan dizer e só assenti.
Eu entrei no quarto dele e não sei quanto tempo fiquei ali, parada. Entrei embaixo do chuveiro e deixei a água cair, querendo que ela levasse tudo embora. Quando terminei me enrolei na toalha e meus olhos foram para a câmera que estava no bolso do casaco e eu havia colocado em cima da pia do banheiro quando tirei minhas roupas.
Eu a agarrei, esperando que Negan demorasse para voltar. Eu liguei a câmera, passando os vídeos, vendo que Maggie, Glenn, Sasha ainda estavam vivos, mas não vi nenhum dos vídeos. Meu coração travou quando vi Daryl. Cliquei para reproduzir e sentei no chão frio.
O vídeo começou com ele de pé, andando como um tigre na jaula, o mesmo jeito Daryl de sempre.
- Pode se sentar, Daryl, eu não mordo - a voz de uma mulher disse.
- Não se preocupe - ele murmurou com o humor de sempre, olhando a sala ao redor, atento e desconfiado como sempre, com a crossbow nas costas.
-Daryl, você quer ficar aqui? - a mulher perguntou. Ele não se deu ao trabalho de olhá-la para responder.
- O garoto e a bebê merecem um teto.
Carl e Judith.
- E você não? - ela questionou prontamente.
- O que eu acho não importa.
- É claro que importa. Todos vocês perderam muito, viram muita coisa ruim no tempo que estavam fora. Agora é a chance de recuperar o que foi perdido, construir uma nova vida - ela falava isso com tanta certeza, tanta fé que me arrepiou. Daryl pareceu meio desconcertado também, e eu achei que ele fosse dar as costas a ela, mas ele respondeu.
- Eu perdi tudo o que tinha. Nada vai trazê-la de volta - ele murmurou, quase inaudível.
- Ela quem?
- Não importa.
Todo choro começou a me sufocar e eu tive que deixá-lo sair. Ela era eu. Desliguei a câmera, a enfiando em baixo das roupas que estavam em cima da pia. Sentei de novo no chão, querendo que ele me engolisse.
Eu te amo, Daryl.
Se precisar fugir, fuja. Eu encontro você.
Não a procuramos.
Tínhamos certeza que você estava morta.
Você é mulher dele, como consegue?
- Ellie? - ouvi alguém me chamar - vi um par de botas aparecer no chão a minha frente - Querida, você está bem? - eu não consegui olhá-lo nos olhos quando Negan se agachou ao meu lado.
- Eu não consigo, eu não consigo... - as palavras romperam meus lábios assim como rompiam meu peito com a dor.
Daryl não me procurou. Rick não me procurou.
Eu tentei parar, mas não podia - as lágrimas continuavam caindo.
- Shh. Eu sei, querida - disse a voz calmante - Eu sinto muito.
Ele acariciou minhas costas gentilmente até que os soluços se transformassem em lágrimas silenciosas. Negan estava agachado ao meu lado, e eu sabia que estava olhando para mim, mas eu não queria encará-lo.
Eu precisava me levantar e engolir toda essa fraqueza e voltar a ser o que eu era, mas eu não conseguia. Eu não era essa coisa fraca que fica chorando pelos cantos. Talvez eu seja.
- Desculpa, eu não... - eu me levantei, apertando a toalha ao meu redor. Eu fui passar por ele, mas Negan enlaçou minha cintura com seu braço, me puxando de volta. Eu fechei os olhos, tentando não tremer. Ele tocou meu queixo e eu me vi obrigada a abrir os olhos.
- Quer conversar sobre isso? - perguntou, me olhando com atenção. Atenção demais. Desde quando ele gosta de conversar? Talvez seja a forma de mostrar que se importa.
- Não há nada para falar - se eu começasse a falar, desmoronaria. Ele assentiu e eu sai do banheiro em direção ao quarto. Vesti a calcinha e quando terminei de vestir a blusa senti suas mãos na minha cintura.
- Vem cá - Negan me puxou, me fazendo sentar no sofá. Dobrei minhas pernas para cima, sentando de lado para olhá-lo. Pena era o pior sentimento que se pode sentir por alguém, e era esse o sentimento que brilhava em seus olhos agora.
- Eu não quero que tenha raiva do seu irmão - Negan começou, ficando mais confortável no sofá - Mas você tem que parar para pensar que talvez ele não seja mais o homem que você conhecia.
Oh, isso. Ótimo. Como se eu precisasse da confirmação.
- Todos mudaram. Você também mudou - ele continuou. Parecia que queria me consolar ou qualquer merda. Só que Negan não é do tipo que consola alguém.
Mas isso me lembrar de tudo o que ele está fazendo ultimamente - sua mudança. Se é que pode chamar isso de mudança.
- Porque? - perguntei em voz alta o que piscava em neon na minha cabeça. Ele me olhou com as sobrancelhas franzidas em confusão.
- Porque o quê?
- Porque não contou a verdade? Que eu não sou a única.
Ele sorriu, mas não era o típico sorriso de deboche habitual que ele tinha. Ele passou a mão em meus cabelos, os empurrando para trás como sempre fazia.
- Porque isso só diz respeito a nós, querida.
Eu continuei o olhando, quase sem acreditar. Ele não era assim. Ele usava qualquer oportunidade para constranger quem quer que fosse, então porque não fez isso com Rick?
- E porque disse que eu podia ficar lá?
Ele deu os ombros, como se fosse uma pergunta boba.
- Porque eu sabia que você me escolheria. Assim como me escolheu todas as vezes.
Uau. Se a situação não fosse tensa, eu riria, mas de mim. Porque era verdade, tão verdade que era patético.
- E seu eu tivesse escolhido ficar? - perguntei e ele riu, tocando minha coxa nua, seus dedos ásperos arrastando sobre minha pele.
- Você não escolheria. Eu sei e você sabe - e com isso ele se levantou, indo em direção a onde havia algumas garrafas com bebidas. Eu pisquei, sentindo meus olhos queimando, mesmo o choro tendo cessado.
- Eu vou poder ir de novo? - finalmente perguntei - A Alexandria.
- Se você achar que deve - deu os ombros, olhando para mim mas logo em seguida desviando a atenção para encher seu copo com a bebida. Ele bebeu e o encheu novamente.
Mas ao mesmo tempo que eu estava aqui, conversando, Daryl estava sofrendo. Meu irmão também estava sofrendo, mas pelo menos estava com as pessoas que ama. Daryl não. Ele estava sendo mal tratado e por mais magoada que eu esteja, eu não podia aceitar que isso continuasse. Ele tinha que me ouvir e fazer a escolha certa.
- Eu quero falar com Daryl de novo - disse, me endireitando no sofá, colocando uma almofada sobre meu colo para cobrir minhas pernas nuas.
Eu sabia que esse assunto iria fritar o resto de autocontrole que me restava, mas eu não conseguia ficar calada. Daryl não merecia o que estava passando. Foda-se o que aconteceu.
Negan ergueu a cabeça para isso, me encarar e olhar diretamente nos meus olhos. Eu senti uma sacudida, como sempre sentia quando ele me olhava daquela forma, como se lesse minha alma. Mas eu não me retrai, eu precisava tentar isso.
- Eu sei que vou conseguir convencê-lo - completei quando ele não respondeu. Negan bebeu o que tinha no copo, o pousando no balcão com um baque.
- Ele não quer ser convencido. Ele não se importa com você - respondeu, ríspido, enquanto derramava mais bebida no copo.
Suas palavras eram um golpe para meu coração. Respirei, trêmula, sentindo o ambiente pesar cada vez mais. Não havia vestígios da pessoa calma e consoladora de segundos atrás, seu tom era venenoso e acusatório. Isso já era uma constante, era normal ele mudar assim, um ligeiro tique e taque e ele seria uma pessoa diferente, não aquela que eu gostava tanto. Aquela bola de choro ameaçou romper por meus lábios, mas eu me contive.
- Isso não é verdade - eu sussurrei, parecia que eu ia me partir em mil pedaços. Negan me olhou irritado, os olhos estreitos me fitando.
- Acha mesmo que se ele se importasse ele não teria concordado logo quando te viu?
Eu abri a boca para falar, mas não saiu nada. Negan deu um passo em direção a mim, seus olhos nunca se afastando. Ele girou o líquido que estava no copo em suas mãos.
- Ele não se importava com você antes e muito menos agora - ele falou isso sem nenhum filtro ou remorso, me fazendo querer xingar.
- Você não sabe de nada - tentei soar mais calma, mas o desespero na minha voz era difícil de ser escondido. Talvez ele esteja certo, mas eu não queria ouvir mais nada.
- Nós vamos ter essa conversa de novo? - perguntou, gesticulando com o copo antes de tomar outro gole - Bem, talvez eu tenha que atualizar sua memória, que a merda da sua ingratidão insiste em te fazer esquecer.
Eu te dei tudo. Eu te salvei. Eu cuido de você. Você é minha favorita, Ellie. Porque é tão ingrata?
Eu havia decorado essas palavras como um mantra.
- Porque você faz isso? Porque me magoa assim? - o peso em meu peito parecia me destroçar.
- Estou abrindo seus olhos. Eles não se importam com você, porra. Eles nem te procuraram.
De repente, foi mais difícil respirar. Nunca senti um sentimento tão ruim, tão cru e poderoso. É verdade, Ellie, meu cérebro gritava. Sim, é verdade, mas porque ele tem que esfregar isso na sua cara? meu coração dolorido gritava ainda mais alto.
- Você gosta disso. Gosta de me machucar - eu disse, cansada. Eu não queria continuar com isso, mesmo tendo tudo engasgado na minha garganta.
Mas isso pareceu irá-lo. Ele deu dois passos necessários para chegar até onde eu estava, apoiando as mãos uma em cada lado do encosto do sofá, me aprisionando.
- Se eu sou tão ruim pra você, porque não ficou com seu irmão? - as palavras saíram tão agudas e cheias de ódio que eu queria desaparecer no ar - Porque você não ficou lá, Ellie? Porque não vai embora?
O olhar em seus olhos era animosidade. As coisas estavam se movendo em câmera lenta, ou talvez meus pensamentos fossem excessivamente mais rápidos que meu pânico. Eu tremi enquanto tentava me controlar sob seu olhar.
Como chegou a este ponto? Não conseguia nem lembrar. Isso sempre saia do controle.
Seu rosto estava rígido, o estresse esculpindo vincos em sua testa. Meu cérebro latejava tentando assimilar quando uma conversa se transformou nisso. Ele riu, engolindo em seco, os olhos em brasa me queimando. Ele se afastou e eu consegui respirar, achando que tinha acabado, mesmo que ele me olhasse com raiva.
- Nunca é o suficiente, não é? Você nunca tá satisfeita com porra nenhuma! - ele gritou. Eu pressionei mais minhas costas contra o sofá, querendo desaparecer dentro dele - Eu lhe dei a melhor vida que você poderia pedir. O que você faria sem mim? - ele exigiu. Limpei meu rosto quando senti as lágrimas descendo.
Ele virou de costas passando a mão no rosto, totalmente louco. Negan se virou para mim então e olhou enquanto continuava, rindo entre as palavras.
- Eu adoraria ver você tentar sobreviver lá fora sem mim - ele resmungou violentamente, sua voz escura e ameaçadora - O que espera lá por você, hein, Ellie? Pessoas que estão pouco se fodendo se você estava viva ou morta.
Eu queria parar de chorar, queria fazer qualquer coisa para sair disso, mas eu não conseguia nada além de olhar para ele com os olhos arregalados.
- Eu te dei e te dou tudo, cuido de você e mesmo assim você trepou com outro - seu sorriso sumiu como se nunca tivesse aparecido em seu rosto.
Um grito ficou preso em minha garganta quando o copo atingiu a parede atrás de mim. Eu dei um pulo, sentindo o corpo inteiro formigar pelo susto, mas não consegui sair do lugar.
- Você tem tudo o que precisa e mesmo assim fica me cobrando - ele continuava a gritar, trovejando as palavras dentro do cômodo.
- Para! - eu gritei, a voz rouca e embargada - Por favor... eu não quero ouvir mais nada.
- Por favor, o quê, Ellie? Por favor não grite comigo por eu ser uma ingrata? - ele zombou - Egoísta. Sempre pensando em você mesma.
Eu estava tão imóvel quanto uma estátua, meus olhos observando seu rosto em descrença.
- Eu te levei pra ver o bosta do seu irmão e o pequeno serial killer, mas mesmo assim você não está satisfeita. Do que mais você precisa?
Minha garganta queimava e eu não continha as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, muito menos os soluços que me sacudiam. Eu limpei as lágrimas, querendo que isso tudo acabasse. Ele não se importava se eu respondia ou não, ele nunca se importava. Tudo que ele fazia era falar e falar, me quebrando em mil pedaços.
- Talvez eu devesse ter te deixado naquele depósito - as palavras, ditas sem remorso ou arrependimento, me fazem arregalar os olhos - O que você acha, Ellie? - ele abriu os braços, gritando - Hein? Aquele lugar era melhor que isso? - apontou para o quarto.
Eu nunca teria pensado que ouvir isso me machucaria tanto. Tudo o que senti foi angústia e agonia emocional. Queria gritar para ele, mas não conseguia fazer minha voz funcionar.
- Você me deve. Nada que você faça vai pagar tudo o que eu fiz pra você - cuspiu, respirando pesado enquanto tirava a jaqueta e a jogava perto de onde eu estava sentada.
Ele caminhou de novo até o bar, pegando um copo e enchendo novamente. Sequei meus olhos embaçados pelas lágrimas. Como ele conseguia ser assim? Se transformar nisso, me dizer tudo isso sabendo que eu gostava dele?
Ele ainda respirava pesado enquanto bebia. O tempo em silêncio me permitiu acalmar meus batimentos.
- O que você disse quando ele perguntou se eu te forço? - sua voz estava baixa e escura, assim como sua fisionomia dura. Ele não olhou para mim a princípio, só quando eu não respondi - O que você disse quando Rick perguntou se eu te estupro? - ele perguntou mais alto, quase gritando.
Eu arregalei os olhos. Ele não estava comigo quando Rick perguntou isso, mas alguém ouviu e contou a ele.
- Eu disse a verdade - respondi o melhor que pude, secando meus olhos embaçados com as costas das mãos.
- Eu devia matar ele só por pensar isso - ele bateu o copo no balcão, um eco seco se espalhou no cômodo silencioso. Eu desviei o olhar para o chão. Tudo o que ele me disse passou como um filme mental de terror na minha mente entorpecida.
- Você se arrepende? - perguntei, sem olhá-lo, segurando toda dor dentro de mim - Se arrepende de ter me salvado?
A rejeição dele me atingia como balas percorrendo o músculo. Era doloroso e só parava de doer quando ele me dava a certeza que não. Quando eu tomei coragem de olhar seu rosto, ele parecia mais calmo e arrependido. Ele passou a mão sobre a boca, um gesto que eu já conhecia bem. Frustração.
Ele veio caminhando devagar até minha frente, e mesmo sem querer, me encolhi um pouco. Ele se agachou no sofá a minha frente, seus olhos na altura dos meus. Ele segurou minha mão, a cobrindo com a outra antes que eu pudesse puxá-la. Ele estava tão quente e não disse nada no início, seus olhos me estudaram cuidadosamente. Ficamos assim por alguns instantes e engoli em seco, esperado mais uma enxurrada de palavras duras.
- Eu não quero te magoar quando digo essas coisas. Eu quero que entenda - seus olhos escuros e profundos cintilaram no instante em que ele disse isso. Aquela montanha russa emocional que eu conhecia bem.
Desviei o olhar e um soluço escapou da minha boca. Sua mão deixou a minha se inclinou para enxugar minhas lágrimas.
- Olhe para mim, boneca - pediu, deixando a mão ao lado do meu rosto.
Fiz o que ele pediu e encará-lo. Senti as lágrimas se formando, mas eu quis não chorar mais.
- Eu perdi o controle, tem muita merda acontecendo - justificou. Eu estava tão tensa e encolhida que sentia todo meu corpo doer.
- Sinto muito - eu senti minha voz rachar um pouco - Eu não quero que você pense que eu não sou grata. Você me assustou e eu pensei que...
- Vem aqui, não chore - ele me puxou para que eu ficasse de pé, e me abraçou - Eu nunca vou te machucar.
Eu o abracei se volta, assimilando essas palavras como se fosse todo ar que eu precisava.
- Tudo o que eu estou fazendo é para manter todos seguros. Principalmente você - ele sussurrou, passando a mão em meus cabelos, em seguida me fazendo olhar para cima - O pensamento de que alguém te deixou para trás me enlouquece - sua maxilar travou quando disse isso.
- Eu não me importo com isso - menti, mesmo sabendo que ele sabia que era mentira. Sua mão parou na minha nuca, não me permitindo desviar o olhar.
- Eles não te merecem, querida. Eles podem ser sua família, mas eles não merecem você - essas palavras eram difíceis de serem ouvidas depois de hoje. Eles deram as costas para mim.
Seus dedos traçaram meus lábios, meu queixo e desceram até meu pescoço.
- Eles não sabem o que nós somos, eles vão querer te colocar contra mim - sua mão se fechou em torno da minha garganta, pressionando sutilmente - Você vai deixá-los nos afastar?
- O quê? - eu gaguejei só com a ideia - Não.
- Eu sei que não - ele deu um pequeno sorriso, passando a sua mão delicadamente pelo meu cabelo, puxando-o para trás, para depois
encostar o seu rosto no meu - Porque você me ama.
- Você sabe que sim - eu sussurrei, fechando os olhos, sentindo o calor reconfortante da sua pele. Negan nunca se mudou de posição, mantendo-se assim até eu olhar para cima, minhas lágrimas brotando sem parar.
- Shh, baby. Está tudo bem. Shh. Estou aqui - continuou a falar. Engoli os soluços, sentindo o coração doente por isso me acalmar.
Suspirei quando o resto da tristeza foi sugado. Foi um sentimento inebriante finalmente estar livre dessa sensação de afundamento.
- Eu sou uma bagunça - eu disse, mais para mim mesma do que para ele.
- Sim, você é - Negan riu e beijou minha testa - Mas uma bela bagunça.
Eu estava prestes a falar quando Negan me beijou. A ternura de seus lábios contrastava fortemente com o aperto que ele tinha em minha cintura.
- Eu quero fazer você se sentir bem - então, novamente, sua língua tocou a minha, esfregando, me fazendo gemer. O beijo ficou mais profundo e mais firme, e uma mão subiu para minha nuca.
Era isso, um ciclo vicioso que eu não conseguia romper. A vida com ele era uma montanha russa e eu parecia viciada nessa adrenalina. Viciada nele, em suas palavras, seu conforto. Eu sempre voltava, sempre o aceitava.
- Eu estava com tanta saudade disso - ele grunhiu contra meus lábios, me puxando mais contra ele - Eu tinha que dar ordens e me concentrar em um monte de merda, mas você estava na minha cabeça o tempo todo.
Suas mãos desceram para meus quadris, acariciando minha bunda, esfregando sua ereção contra minha barriga. Eu gemi com a expectativa, não resistindo mais.
- Você não precisa se preocupar com nada - disse com a boca na minha orelha, suas mãos subindo para a barra da minha blusa - Eu vou cuidar de você. Vamos tirar isso.
Devagar, Negan levantou minha blusa, apertando tirando e a jogando no chão. Estava frio, mas suas mãos me deixavam aquecida.
- Você é tão linda - ele murmurou, pegando os meus seios nas duas mãos.
Seus polegares acariciavam os meus mamilos, brincando com eles, deixando-os duros.
Gemi baixinho, acariciando seus cabelos quando ele abaixou a cabeça e tomou um mamilo na boca, em seguida outro. Sua boca subiu pelo meu colo, enterrando o rosto em meu pescoço, sua barba me arranhando e me fazendo contorcer enquanto eu o puxava para mim.
Seus dedos correram ao longo do elástico da minha calcinha e eu enterrei as unhas atrás do pescoço dele, ansiando por seu toque. Negan esfregou dois dedos por cima do tecido e grunhiu quando colocou a boca no meu ouvido e sussurrou, com a voz baixa e grosseira.
- Você me deixa louco.
- Negan - empurrei meu quadril para ele, precisando de mais pressão. Grunhi quando sua mão saiu dali. Ele enganchou os dedos na minha calcinha, puxando-a para baixo.
- Ah, Ellie - rosnou ele, correndo os dedos por minhas dobras - Tão molhada e quente.
Minhas pernas tremeram quando Negan dedilhou meu clitóris e dois dedos me penetraram sem aviso. Eu estava de pé, agarrada em seus ombros, com as pernas abertas e os joelhos flexionados, recebendo seus dedos dentro de mim. Tudo era um contraste de poder. Ele ali, completamente vestido e eu nua, deixando-o tomar meu corpo como bem entende.
- Vá para a cama - ordenou ele como um adorador suplicante.
Enquanto eu dava os passos necessários para chegar a cama um filme do que aconteceu a alguns minutos me veio a cabeça. Sentei na beira da cama, o vendo puxar a camisa por cima da cabeça, se desfazendo das botas e começando a abrir seu cinto.
Ele me olhava o tempo todo, quase sem piscar. Os sentimentos eram conflitantes e me mostravam o quanto eu tinha mudado. Em outro momento, eu não tinha dúvidas no que eu faria. Mas agora, tudo me puxava para ele, como um imã.
Agarrei o roupão que estava ali e vesti, o amarrando com as mãos trêmulas. O que eu estava fazendo?
- Ellie? - Negan me chamou, mas eu não o olhei.
- Eu não posso... eu não posso gostar de você. É errado, tá tudo errado - eu ia sair pela porta, mas Negan me segurou antes. Eu me preparei para a enxurrada de gritos e o olhar em brasa em seus olhos, mas nada disso aconteceu.
Em vez disso, ele passou um braço pela minha cintura, me mantendo perto enquanto me olhava meio surpreso.
- Não é errado você gostar de mim - disse, segurando meu queixo entre os dedos.
Minha mente era uma bagunça. Antes era bom, não era? Tudo ia conforme o vento, mas ainda sim era melhor porque eu não sentia era confusão na minha mente, me jogando para lá e para cá. Eu devia estar feliz.
- Me desculpe pelo que aconteceu antes - ele continuou, procurando meus olhos até que eu o olhasse - Você precisa relaxar, tudo o que aconteceu mexeu com sua mente.
- Eu sei, eu só... - eu não conseguia ir em frente. Negan me abraçou, sabendo que mais nada sairia. Isso já era uma constante, a cena se repetindo mil vezes.
- Tudo vai ficar bem - disse, segurando meu rosto para manter o olhar no meu- Ok? - ele perguntou com um pequeno sorriso.
- Ok - eu disse baixinho, umedecendo meus lábios secos. Negan baixou a cabeça e beijou meu rosto, arrastando os lábios até os meus. Eu suspirei e retribui, aplacando toda aquela confusão dentro de mim.
- Tudo bem se continuarmos de onde paramos? - perguntou, me olhando nos olhos. Eu acenei com a cabeça, confirmando.
Seus lábios caíram para os meus de novo, me empurrando gentilmente até que minhas pernas batessem no colchão. Nosso beijo se aprofundou, línguas explorando lentamente em vez de lutar pelo controle. Negan puxou o cinto do roupão, abrindo-o e deslizando até que caísse em um monte aos meus pés. Ele puxou meu corpo nu contra o seu, encostando a testa na minha.
- Deixa eu me desculpar - ele sussurrou com um sentimento em sua voz me arrepiou. Eu assenti, permitindo que me deitasse na cama, me cobrindo com seu corpo quente, afastando minhas pernas com o joelho. Puxo o ar pela boca quando seus lábios deixam os meus, totalmente ofegante.
Negan não desvia o olhar quando sua mão desliza pela minha barriga, chegando a minha carne molhada e latejante. Eu gemi, arqueando as costas enquanto seus dedos me massageiam.
- Isso, baby... esqueça tudo. Somos só nós dois, nada mudou - ele sussurrou enquanto eu me agarravam em seus ombros, sentindo seus dedos me invadirem. Eu ronro com a sensação dele e ele beija meu pescoço.
- Tão bonita... tão apertada... tão quente - sussurrou entre beijos, descendo pela minha barriga.
- Negan - eu me ouvi dizer, mas eu não parecia como eu. Minha voz estava trêmula e baixa. Eu estava implorando.
Ele fechou os olhos e soltou um longo suspiro, saboreando o som de eu choramingando seu nome.
- Você está pingando pra mim - ele gemeu, sua respiração batendo na minha intimidade antes de fechar a boca sobre meu clitóris, rolando sua língua em ondas lentas como o mar. Eu agarro seus cabelos e pressiono-o enquanto ele trabalha.
Eu esperava que fosse rápido e áspero, ele me fodendo como se tivesse algo a provar; pensei que iria acabar com ele prendendo-me no colchão e entrando em mim até que nós mal pudessemos respirar de tanto prazer. Eu esperava qualquer coisa, que ele iria buscar seu próprio prazer em mim enquanto eu me agarrava a ele, mas seu primeiro instinto foi enterrar a cabeça entre minhas coxas até que me deixou numa bagunça trêmula sob ele, apertando seus dedos com minha intimidade, sacudindo como se fosse sair do corpo.
Olhar para baixo é quase demais, observando-o trabalhar com reverência e ferocidade, enquanto eu me agito sob os incansáveis golpes de sua língua, até que eu colapsei, empurrando meu quadril para cima contra sua boca. Com os olhos fechados, senti sua língua subindo pelo meu corpo, até sua boca pairar sobre a minha.
- Você está pronta? - eu me encontrei perdida em seus olhos escuros enquanto eu assenti com a cabeça sim. Ele me deu outro beijo, agarrando firmemente meus quadris.
A cabeça de seu pau provocou minha fenda, deslizando para cima e para baixo, esfregando sobre meu clitóris. Eu fechei os olhos, preparada para recebê-lo.
- Não feche os olhos - pediu, passando os lábios por meu maxilar. Eu abri para encarar seus olhos escuros e pesados - Esses seus olhos...
Um barulho satisfeito escapou de seus lábios quando ele se enterrou em mim com uma estocada lenta. Gemi e apertei os olhos, sentindo-o entrar cada vez mais fundo. Fundo e contido, me permitindo aproveitar cada segundo.
Dessa vez não foi regado a palavras sujas ou sacanagens. Era denso e significativo. Ele puxou seu pau quase completamente para fora antes de bater os quadris e se afundar de volta dentro de mim. Seus movimentos permaneceram intensos e fortes, enquanto olhava em meus olhos a todo o momento com seus lábios roçando nos meus.
Arqueei minhas costas e fechei os olhos quando ele começou a circular minha carne sensível com os dedos. Meus sentidos estavam queimando enquanto eu lentamente era jogada para o orgasmo.
Sua outra mão lentamente deslizou até meu estômago, por entre meus seios antes de segurar minha garganta.
- Ellie - ele sussurrou. Eu olhei para ele e senti que começou a bombear o mais rápido que podia. Eu me contorcia embaixo dele, sentindo meu ventre se expandir aos primeiros sinais do orgasmo que se aproximava.
Negan enterrou a cabeça no meu ombro, soltando um gemido rouco e masculino, gozando com um esguicho quente e forte dentro de mim. Me agarrei a ele, deixando o prazer me levar, tremendo com os olhos apertados. Os lábios dele estavam junto a minha orelha, sua respiração quente e acelerada. Minhas mãos agarravam suas costas molhadas de suor.
Estremeci quando ele deslizou seu membro para fora do meu corpo, se jogando ao meu lado. Ficamos em silêncio por algum tempo, antes de ele virar para mim. Eu estava tentando não pensar no que vinha a seguir.
- Você está bem?
- Sim - disse, movendo minha cabeça para o lado, para ele.
Ele levantou seu rosto para mim, se sustentando em um de seus braços. Meus olhos correm por todo seu rosto. Ele me deu um beijo carinhoso, tirando os cabelos grudados do meu rosto, em seguida traçando o desenho dos meus lábios com o dedo. Seus olhos me encaravam daquele jeito profundo que eu vi poucas vezes. Sem deboche. Sem sarcasmos ou comentários engraçados. Ele só ele ali.
- O que aconteceu hoje... eu não devia ter gritado com você - começou, evitando meus olhos. Eu continuei o olhando, praticamente mortificada pelo rumo da conversa - Isso não vai se repetir.
- Você grita com todos, não há diferença - dei os ombros, não querendo mergulhar na profundidade de suas palavras ou de seus olhos quando ele me olhou. O arrependimento estava desenhado em todo seu rosto.
- Você não é como os outros - sua voz era um sussurro suave como seda - Você nunca foi como as outras mulheres daqui, você era minha desde o início. Elas pertenciam a outra pessoa que queriam manter a salvo, mas você sempre foi minha.
Insegurança. Essa era a palavra que brilhava na minha cabeça. Então isso era tudo medo de eu dar as costas? Medo de eu deixá-lo agora que encontrei minha família?
Eu o amava, não importava o que. Negan podia ser louco, mas nessas horas eu podia ver que ainda havia um pouco de humanidade dentro dele. Eu não queria deixá-lo, mas eu não estava virando as costas para minha família, de jeito nenhum. Talvez eu pudesse usar isso - essa insegurança - para conseguir tirar Daryl daqui e conseguir um acordo para a comunidade de Rick... eu tinha que tentar.
- O que te diferencia dele? - meu cérebro gritou - Você está na cama dele e pensando em usá-lo.
Talvez, no fim, eu seja como ele. Acaricio seu rosto, correndo os dedos pela barba.
- Eu não estou indo a lugar nenhum. Eu sempre vou estar aqui pra você - eu disse. Ele se inclinou, escovando seus lábios contra os meus.
- Eu sei - sussurrou antes de me beijar. Fechei os olhos e ele me puxou contra seu corpo, minha cabeça em seu peito, os braços me envolvendo - Eu só quero seu bem, querida.
Afundei mais meu rosto em seu peito, deixando essas palavras me invadirem, ignorando todos os meus instintos sensatos que me diziam para ir embora. Ele enterrou a mão no meu cabelo, deslizando os dedos no meu couro cabeludo.
Negan me fazia sentir que era só eu e ele, mesmo que não fosse. Era ele quem me empurrava para o precipício, mas também quem me puxava de volta em segurança. Talvez eu não tenha mais senso nenhum.
Você perdeu o senso desde aceitou estar com um homem assim, meu cérebro zombou.
Diferente das outras vezes, eu não sentia toda aquela leveza por estar com ele. Tudo estava errado. Enquanto eu estava aqui, Daryl estava sabe-se lá onde. Eu não tinha culpa do que aconteceu, mas eu ia ajudá-lo, de uma forma ou de outra. É isso que se faz pela família.
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Meu coração dói escrever esses capítulos com o Negan malvado, quem lê Depois do Recomeço sabe que lá ele é um amorzinho. Mas não vou mentir que também adoro o Negan mais fiel que tô tentando mostrar aqui (espero que esteja dando certo hehe)
E vcs, o que estão achando da história? (amo ler os comentários de vcs, melhores comentários ever)
Essa capa maravilhosa foi feita pela ela é demais!!! MUITO obrigado, querida ❤❤❤
Beijos e até o próximo xoxo 💋
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