Capítulo 16
Eu segui Negan para a escada, depois para os fundos. O cheiro era ruim e azedo, os corredores estavam úmidos. Eu fui conduzida a uma sala aleatória que parecia ser um quarto igual ao que eu tinha antes. Negan moveu-se para sentar em uma grande poltrona de couro enquanto eu estava parada, esperando, tentando não fazer meus joelhos cederem.
- Espere lá dentro - Negan apontou para uma porta no fundo do cômodo - Te trago quando chegar a hora.
Pensei em dizer não, mas qual era o ponto? Eu já estava aqui, não ia correr o risco de não poder vê-lo.
Me dirigi até a porta, revelando ser um banheiro. A fechei e sentei no vaso, apoiando os cotovelos no joelho e segurando a cabeça nas mãos.
Acorde desse pesadelo, acorde desse pesadelo...
Ouvi a porta bater e pulei de pé. As paredes finas permitiram de eu ouvir a voz de Negan com perfeição.
- Daryl! Que bom ver você - a voz de Negan se fez presente e eu apertei os olhos.
- Como foi sua estadia lá em baixo? Dwight alimentou bem você? - a voz de Negan martelava contra as paredes.
Em momento nenhum eu ouvi a voz de Daryl.
- Não estamos com vontade de conversar? Ok.
Ouve um silêncio ensurdecedor e eu tive vontade de sair, mas logo Negan falou.
- Tenho uma surpresa para você - quando ouvi passos e vi a sombra de Negan embaixo da porta, sabia que era a hora.
A maçaneta girou e a porta abriu, revelando Negan com um sorriso no rosto. Ele estendeu a mão, fazendo sinal para eu sair.
Forcei meus pés a caminharem. O que vi quando sai fez meu coração partir. Era ele mesmo, era Daryl... ele estava na frente de Dwight, que me olhava com pena.
Ele estava sujo, vestindo moletom encardido, descalço. Seus cabelos escuros cobriam os olhos, e quando ele me viu, seu lábio tremeu. Eu não queria nada além de segurá-lo, depois de tantos anos isso parecia uma miragem. Ele olhou entre eu e Negan como um animal acuado, tentando entender, mas nenhuma palavra saiu da sua boca.
- Uma bela de uma surpresa, hein? - o braço de Negan serpenteou na minha cintura. O toque que até ontem eu me derretia, agora parecia me queimar, assim como o olhar de Daryl.
Daryl avançou na nossa direção, mas Dwight o segurou pela roupa. Negan riu, sem me soltar.
- Calma, cowboy. Isso é jeito de se comportar na frente de uma dama?
A tensão estava me sufocando. Eu não consegui falar, as frases pareciam não se formar, só conseguia olhá-lo, parecia que se eu desviasse, ele sumiria como fumaça.
- Ellie me falou de você. O cara que a abandonou.
Eu queria fugir dali. Não ia suportar ouvir. Esse filme passou na minha cabeça por anos, mas agora, frente a frente com ele a sensação era mil vezes mais dolorosa. O cara que me abandonou.
- Não preciso dizer que isso foi a coisa mais estúpida que um homem pode fazer, não é?
Olhei para Negan com um pedido mudo para que parasse com isso. Ele ignorou, a determinação em quebrar Daryl era maior.
- Na verdade, eu devia te agradecer. Se não fosse pelo seu ato covarde, eu nunca teria encontrado minha esposa.
Daryl não tirou os olhos de mim enquanto eu tentava manter minhas emoções sobre controle. Eu tinha certeza do que passava na cabeça dele, mas tudo o que a gente fazia era se olhar enquanto Negan falava.
- Ops - Negan deu um tapinha na própria testa - Esqueci de dizer que Ellie é minha mulher.
Eu olhei para o chão, não querendo encarar o par de olhos que me fitava. Eu ouvia a respiração acelerada de Daryl, pedindo ao céus para que ele não tentasse bater em Negan.
- Ellie queria ver você, e eu sendo o hospedeiro acolhedor e bom marido que eu sou...
- Deixe-me falar com ele - pedi, encontrando o olhar de Negan.
- Fale, querida. Ninguém está te impedindo.
Eu queria falar com Daryl sozinha, e não podia fazer com Negan aqui. Minha mente dava voltas, me deixando tonta enquanto procurava o que fazer. Fiquei de frente para Negan e coloquei uma mão em sei peito.
- Negan, por favor. Você prometeu - pedi, em voz baixa, olhando seus olhos, tentando me intimidar com seu rosto relaxado.
Ele estreitou os olhos para mim antes de rir, olhando para Daryl.
- Tá vendo isso? É só ela piscar esses belos olhos e consegue tudo o que quer.
Eu teria relaxado se não estivesse tão tensa. Negan tocou meu rosto com a mão enluvada. Eu não me movi quando seus lábios tocaram os meus, antes de se afastar.
- Dois minutos. Estou contando - disse e fez sinal para Dwight. Os dois saíram, fechando a porta.
- Daryl - eu respirei seu nome e meus olhos se encheram de lágrimas quando eu tomei seu rosto entre as mãos.
- Você... como? Achei que estivesse... - sua voz arranhada quebrou as palavras. Ele me segurava com tanta força que chegava a ser doloroso.
Ele estava igual quando nos vimos pela última vez, só seus cabelos que estavam mais compridos. Ele me olhava como se eu fosse um fantasma; seus lábios tremiam e o azul de seus olhos estava manchado de vermelho. Olhamos um para o outro sem falar. Eu sentia tanta dor dentro de mim...
- Você tem que sair daqui - disse ele - Você tem que fugir...
- Eu não posso - eu balancei a cabeça e meu olhar caiu, mas Daryl me forçou a olhar de volta. Ele recuou um pouco, seu rosto confuso.
- Ele está te ameaçando para... - sua voz morreu, mas ele continuou - Ele está te forçando a...
- Não - minha respiração saia em jatos enquanto eu tentava terminar a frase - Nós... nós estamos juntos.
Meu coração cedeu enquanto observava seu rosto esfumerar-se de desgosto.
- Juntos? - ele cuspiu a palavra, então literalmente cuspiu e começou a tossir, segurando o ombro.
Puxei a gola do seu moletom e vi um ferimento de bala em seu ombro. O sangue estava velho e seco, criando uma crosta, mas estava voltando a sangrar, já começando a manchar o tecido. Ele estava preso e ferido. Um machucado desses poderia criar muitos problemas....
Não havia tempo para conversar sobre Negan e eu ou sobre o passado.
- Daryl, ouça-me. Você tem que obedece-lo. Por favor, Daryl, é o único caminho - eu estava implorando, mas ele virou as costas para mim.
Eu caminhei atrás dele, pressionando as mãos e a testa levemente contra suas costas, sussurando.
- Eles estão ouvindo, Daryl... se você concordar com isso, vai ter alguma vantagem. Rick vai encontrar um caminho... - eu parei quando ele se virou e me tomou em seus braços.
- Eu não vou me ajoelhar - sua voz era um grunhido baixo, mal audível. Eu peguei o rosto dele, empurrando o cabelo para trás.
Ainda era o mesmo Daryl, teimoso e inabalável. Ele nunca cederia, mas ele tinha que ceder.
- Nós não estamos em posição de lutar agora - eu disse, com a boca colada em sua orelha. Eu não fazia ideia se havia escutas aqui, não duvidava nada quando se tratava de Negan - Aceite. Vamos encontrar uma forma de sair daqui.
- Não - rosnado de Daryl era selvagem e animal. Meus olhos se encheram de lágrimas quando eu olhei para ele.
- Por favor - eu engasguei as palavras - Ele vai te torturar. Ele vai quebrá-lo! Ele vai te machucar - implorei, afastando o cabelo de seu rosto. Ele empurrou minhas mãos.
- Você é mulher dele - ele rosnou, afundando meu coração - Como consegue?
Como eu consigo? Ele realmente estava me condenando? Eu passei o inferno sozinha, tudo porque ele me virou as costas. Se eu estava com Negan, era culpa dele.
A porta se abriu, e a voz de Negan murmurou com diversão. Dei um passo para longe de Daryl, tendo plena consciência que nada que eu disse teve efeito. Negan fez um movimento de mão e Dwight agarrou Daryl pela roupa, o puxando.
Ele lutou contra Dwight, que o acertou bruscamente no ombro ferido, empurrando-o violentamente para fora da sala. Eu não tive reação, era como se eu assistisse tudo por um vidro.
- Bem - a voz de Negan me puxou para a realidade e eu viro para ele - Vamos conversar lá em cima. Estou com fome.
- O que vão fazer com ele?
Negan deu os ombros, e eu fiquei com medo da resposta.
- Nada. Dwight só vai deixá-lo sozinho para pensar.
- Só isso? - perguntei, tentando ler seu rosto. Ele mordeu o lábio, chegando perto e inclinando a cabeça um pouco.
- Eu já menti pra você?
Se Daryl está aqui desde que Negan voltou, naquela noite, já fazem alguns dias. Ele não parecia ter sido espancado, o único ferimento que ele tinha era do tiro. A forma de Negan dominar as pessoas era mais pelo psicológico do que por agressão. Eu só assenti, incapaz de falar. Eu me sentia soterrada. Negan tocou minhas costas e saímos dali, subindo para o último andar. Eu não sabia o que falar ou o que fazer. Porque Daryl simplesmente não concordava?
Vi que a mesa tinha sido preparada com uma bandeja de jantar que continha pão, tomate, ovos, alface, picles. Negan sentou-se e apressou-se a fazer um sanduíche, aparentemente ignorando-me quando começou a comer. Eu me afastei dele e fechei os olhos.
O rosto de Daryl não saia da minha cabeça. O jeito assustado, acuado e ferido que ele estava. O destino é um maldito piadista. Depois de tanto tempo eu o reencontrei assim, de uma hora para a outra, e não conseguia fazer nada para mudar sua situação.
- Você deve comer - Negan finalmente murmurou entre as mordidas.
- Eu não estou com fome.
- Você deve comer - era um comando. Eu me sentei na outra cadeira e peguei o pão, mastigando automaticamente.
Comemos em silêncio mútuo. Negan terminou o sanduíche, depois fez outro, enquanto eu olhava novamente enquanto ele tomava uma mordida. Empurrei mais um pouco de pão e suco goela a baixo e Negan terminou o segundo sanduíche, fez um gesto para a bandeja, me interrogando com os olhos se eu queria mais. Neguei e Negan me levou até o sofá.
Então ele se sentou e pegou uma cerveja do balde de água gelada que estava na mesa a frente.
- Então - ele começou com um suspiro, depois de ter feito uma respiração profunda - Pelo que eu ouvi, não foi bem.
Eu olhei para ele, mas as lágrimas encheram meus olhos.
- Ele não concordará... ele não vai ceder. Eu deveria saber que ele não faria.
Claro que não faria. Ele não se importava, nunca se importou. Porque Daryl não podia engolir o orgulho um pouco para parar de sofrer? O silêncio encheu a sala enquanto Negan abria a cerveja e bebia um gole.
- Sim - Negan parecia aborrecido - Você deveria saber. Eu sabia que ele não dobraria o joelho com facilidade. É por isso que eu o quero - ele tomou outro gole e eu limpei os olhos. Ele se arrumou mais perto de mim, o sofá de couro fazendo barulho com seu movimento.
- Escute, baby. Você entende que eu tenho que fazer isso, não é?
Olhei para seus olhos escuros, como topázio sombreado. O que ele esperava que eu respondesse? Sim, entendo você prender Daryl como um animal. Eu sabia que ele estava fazendo isso porque foi atacado primeiro, mas mesmo assim...
- Você mesmo disse que era para eu ensinar uma lição para esses fodidos. É isso que estou fazendo - justificou, apoiando o braço livre no encosto do sofá atrás de mim.
O entorpecimento aumentou, afundando-me num poço de medo e ansiedade desesperadas. Senti minha respiração acelerar instantaneamente. Eu disse isso porque não sabia que eram eles. Eu não ligava para quem Negan era ou fazia, até agora. Até ele estar machucando alguém que eu conheço.
- Eles são minha família. Você não pode fazer isso comigo - eu estava implorando, como sempre fazia.
Ele encolheu os ombros e sorriu para mim, tomando outro gole.
- Você sabe que eu não tenho outra opção - sua voz era nítida, cortante - Não foi eu quem puxou essa merda. Foram eles.
Ele tinha um ponto. Ele só estava revidando o ataque, Rick não faria diferente. Matamos quem nos ataca. Mas eu estava sentindo como era estar do outro lado agora. Forcei minha mente a se acalmar. Eu queria ver Rick, mas a prioridade era Daryl. Rick estava bem por não estar aqui, mas Daryl...
- Deixe Daryl ir. Por favor.
- Porque você se importa com ele?
Porque eu me importava? Depois de tanto tempo, de ter sofrido tanto sozinha lá fora, porque eu me importava? Eu tive muita raiva de Daryl, por muito tempo. A imagem dele me dando as costas era uma ferida que nunca curava, mas eu não queria que ele sofresse.
Ele continuou olhando para mim com aquele olhar intenso que sempre me faz sentir desconfortável, sentindo uma bola no estômago toda vez, me forçando a limpar a garganta antes de responder.
- Eu não sei.
- Você o ama? Isso seria uma vergonha, Ellie, depois do que ele fez - Negan estalou, correndo os dedos por meu ombro - Seria uma vergonha maior ainda porque você disse que me amava.
Eu o amo. Eu amo Negan por tudo que ele fez para mim, mas eu também amo Rick... Daryl. Eu não podia fechar os olhos e os deixar sofrendo.
- Eu só... eu não quero que ninguém se machuque - eu disse, mantendo a voz firme e neutra, mesmo que eu ainda pudesse sentir a dor roendo as entranhas.
- É só por isso? Não é o que parece.
Isso não ia funcionar. Eu precisava manter a calma. Ele não deixaria Daryl ir, não importa o quanto eu pedisse. Então eu precisava ver Rick.
- Eu quero ver Rick - disse, firme. Ele não ia me negar isso. Negan deixou a cerveja sobre a mesa antes de falar.
- Não.
Meus olhos se arregalaram enquanto eu levantava a cabeça. Eu jurei que ia levar isso com calma, sabia que se eu me alterasse só ia dificultar ainda mais, mas eu não podia aceitar isso.
- O quê!? - perguntei com descrença. Ele não podia me negar isso. Negan me olhou com os olhos brilhantes, mas respondeu calmamente.
- Eu não posso deixar você vê-lo. Pelo menos não ainda. Não até ter certeza de que tudo está sob controle.
- Você não pode estar falando sério. Ele é meu irmão! - me levantei, andando pelo chão enquanto lutava para compreender o absurdo da conversa.
- Você não está colocando o pé para fora desse lugar até eu dizer isso.
- Você não pode fazer isso! - eu gritei, plantada em sua frente, a garganta doendo de tanto chorar - Você não pode me negar isso, não quando eu encontrei minha família.
Quando ele levantou andou na minha direção, eu instintivamente dei alguns passos para trás. Em vez de rir ou dar uma resposta sarcástica, Negan olhou sério, dando alguns passos mais perto, e parou bem na minha frente.
- Então é isso? - perguntou, estreitando os olhos para mim - Agora que você tem eles você vai virar as costas para quem te salvou?
Quando ouvi essas palavras, todo o ar que eu tinha em meus pulmões foi sugado para fora deles. Ingrata. Era isso que eu era. Eu não podia virar as costas para Negan, não depois de tudo. Foi ele quem esteve comigo. Mas eu também não podia virar as costas para minha família. Eu me sentia desestabilizada em todos os sentidos, sem saber o que fazer.
- Você vai? Vai ficar contra mim? - perguntou novamente. O jeito como ele me olha faz meu peito pesar uma tonelada. Eu balanço a cabeça, negando, não conseguindo desviar de seus olhos.
- Eu nunca faria isso. Eu só preciso vê-los.
Eu baixei a cabeça, não querendo encará-lo. A mão de Negan tocou meu rosto, seus dedos segurando meu queixo e levantando meu rosto. Sua respiração batia contra meu rosto quando ele encostou o dele no meu.
- Tudo o que eu faço é para te manter segura - ele sussurrou com a voz grave no meu ouvido. Suspirei profundamente, tentando com todas as forças não me deixar atingir pelas suas palavras - Eu só quero te manter segura.
Eu não sabia se essas palavras eram verdadeiras ou não, mas eu me sentia bem ouvindo. Eu queria que fossem verdadeiras, queria poder conseguir mudar sua mente. Ele não era um homem ruim por completo. Alguns momentos eu conseguia puxar seu lado bom e traze-lo a tona, mesmo que fosse por segundos. Ele ainda tinha algo bom dentro dele. Só precisava ser encontrado.
Ele estava se sentindo ameaçado, porque antes ele era a única coisa que eu tinha, mas agora eu tinha minha família de novo. Ele nunca assumiria, mas eu sentia a insegurança em seus poros. Movi meu rosto para que ficasse de frente ao seu.
- Me deixe ver meu irmão - pedi, meus dedos agarrando-se ao tecido de sua camisa para ajudar a me ancorar antes que as emoções em meu peito me derrubassem - É só isso que eu te peço. Nada vai acontecer. Você vai estar lá, comigo.
Ele continuou me olhando, e meu peito ardia. Eu nunca viraria as costas para ele. Eu só queria resolver isso de uma vez.
- Isso vai me fazer feliz e não vai trazer mal para nenhum lado - com as mãos em concha, segurei seu rosto - Você pode fazer isso por mim?
Eu não queria que ele achasse que eu o estava manipulando, porque se ele sequer pensasse nisso, tudo estava perdido. Mas alguma coisa ele sentia por mim, algum sentimento, por menor que fosse. Se não o que explicaria ele ser tão incisivo quando se tratava de mim? Ele me tratar diferente das outras pessoas? Eu não viraria as costas para ele, mas eu precisava ver Rick.
Sem uma palavra, Negan deu um passo para trás, virando de costas e pegou a garrafa de cerveja em cima da mesa, bebendo. Me senti quebrar em um milhão de pedaços. Ele nem ia se dar ao trabalho de dizer não? O desespero tomou conta de mim novamente, mas dessa vez eu não sabia mais o que fazer para tentar convencê-lo...
- Partimos amanhã cedo - ele disse, ainda de costas, deixando a garrafa em cima da mesa novamente.
Eu arregalei os olhos, não acreditando. Respirei fundo, passando as mãos trêmulas nos cabelos.
- Ver você vai servir de incentivo para Rick não tentar mais nenhuma merda - disse e se virou para mim, tirando a jaqueta e a jogando no sofá.
Eu não gostava da forma como ele falava de Rick, como se ele fosse algo que tivesse de ser controlado. Negan me olhava, avaliando minha reação as suas palavras. Eu não ia surtar, não agora que consegui o que queria, então só assenti.
- Obrigada - disse, secando meu rosto molhado. Negan veio até mim e sua mão acariciou meu rosto, entrando por entre meus cabelos e segurando delicadamente minha nuca.
- Está feliz?
- Estou com medo - respondi o que sentia. Ele fez uma cara de confusão.
- Medo? Não vou machucar ninguém, contando que obedeçam as regras.
Contando que obedeçam. Rick não era do tipo que se dobrava, e esse era meu medo.
- Ok - respondi suavemente, mas Negan continuou me segurando, me olhando atentamente.
- Espero que você não deixe nada disso interferir no que nós temos - disse, de forma lenta e clara, e mesmo que quisesse, não conseguia olhar nada que não fosse seus olhos escuros - Você sabe o quanto eu gosto de você, não é?
Essas palavras me atingiram em cheio. Eu sempre quis ouvi-las, sempre quis a confirmação verbal do que eu sentia, e agora eu tinha.
Seus lábios tocaram os meus e ficaram pousados lá por um longo segundo. Sua língua passou suavemente por meu lábio inferior antes de ele sussurrar, já me puxando.
- Vamos para a cama.
Me agarrei a sua camisa, não saindo do lugar, o olhando.
- É melhor eu ir para meu quarto. Estou com dor de cabeça, não vou ser uma boa companhia - dei um sorriso fraco, o máximo que consegui.
Eu não tinha cabeça para transar com ele com Daryl preso em algum lugar. Eu esperava que ele só estivesse preso, que ninguém o machucasse ou torturasse.
Eu consegui fazê-lo me levar até Rick, conseguiria fazer libertar Daryl também.
- Quero que fique mesmo assim - disse, me segurando pela cintura - Vai ser uma madrugada fria, o aquecimento daqui é melhor do que o do seu quarto.
- Tudo bem - concordei e ele sorriu, me puxando até colar nossos corpos. Eu me afastei delicadamente - Eu... eu quero te pedir algo, mas não quero que fique louco - avisei antecipadamente, não tendo certeza se tocar no assunto de novo ia resultar em um furacão, mas eu não podia ignorar. Negan coçou a barba, um sorriso tomando seu rosto.
- Eu sou louco, querida.
Eu sei.
Negan levantou as sobrancelhas para eu ir em frente.
- Daryl está ferido, você poderia...
- Dwight já o levou até Carson - ele me interrompeu, a voz fria como gelo - Se eu quisesse ele morto, não esperaria por uma infecção.
Isso não me relaxou completamente - só estaria relaxada quando Daryl estivesse fora daqui - mas saber que ele estava sendo tratado me aliviou um pouco. Amanhã eu o veria e veria Rick também, e logo conseguiria fazer Negan libertar Daryl. Um passo por vez.
- Vá para a cama, pegue mais cobertas no armário se precisar - disse e me beijou de leve nos lábios - Tenho algo para fazer antes de dormir.
- O que você vai fazer?
- Só alguns últimos ajustes antes de partirmos amanhã - garantiu, pegando o bastão que estava encostado ao lado do sofá. Negan voltou para mim, me dando um beijo na testa - Durma. Vamos partir cedo.
Assenti e Negan foi em direção a porta, saindo. Me joguei no sofá, cobrindo o rosto com as mãos, tentando processar tudo o que aconteceu. Daryl está aqui. Preso.
Eu não tinha mais nada para chorar, mesmo estando machucada por dentro. Depois de todos esses anos, tudo que eu não queria era sentir raiva de Daryl, mas as lembranças batiam forte, me cortando mais a cada golpe. Se ele não tivesse feito, se não tivesse voltado para aquela maldita prisão, nós ainda estaríamos juntos. Teríamos reencontrado Rick, talvez todos os outros... teria sido diferente.
Mas eu tive que recomeçar, e no meio disso, encontrei Negan. Talvez Daryl também tenha recomeçado com outra pessoa, talvez com Beth... esfreguei as mãos no rosto, querendo afastar esse pensamento que não fazia sentido agora, onde tudo que eu pensava era liberta-lo, independente do que ele fez, independente do nosso passado.
Como será que meu irmão estava? Será que Judith estava bem? Deus, tudo o que eu queria era abraça-los.
E Carl? Ele já devia ser um adolescente agora, lindo com aquele par de olhos azuis. Não via a hora de reve-los... meu coração estava cheio de felicidade, mas também de tristeza. Eles se reencontraram depois da fuga da prisão, como eu não os achei também? Eles devem ter procurado por mim, assim como eu os procurei até antes de adoecer. Meu foco sempre foi achá-los, mas não tive sorte.
Mas agora eu tive. Eu os encontrei, mesmo não sendo na melhor situação, mas saber que estavam vivos bastava. Eu tinha minha família de novo. Não estava mais sozinha.
××××××××××××××
O Rick vai infartar quando ver a Ellie!!! Vcs imaginam como vai ser esse reencontro?
Porque será que o Negan permitiu que a Ellie vá até Alexandria? Hmmmm.... será que essas declarações dele são verdadeiras??
Bjsssss até o próximo ❤
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top