Capítulo 14 | PARTE 2
Rick havia me dito que seria hoje que Negan estaria fora. Primeiramente eu pensei em não mandar Thomas para a escola para não correr o risco de dar de cara com Negan, mas uma vez que ele estaria trabalhando na construção da nova horta - que era consideravelmente longe da escola - eu arrisquei. Mas me arrependi.
Quando eu estava voltando para casa com Thomas, Negan saiu de trás de uma das casas, juntamente com Adam, eles provavelmente estavam cortando caminho. Eu torci para que ele passasse reto, diminui o passo, mas não aconteceu.
Quando ele virou o rosto e parou, eu pude sentir meu corpo ficar todo tenso como uma vara de aço. Negan parecia ter sido plantado no chão, e a forma como ele olhou para mim e em seguida para Thomas, me deixou sem ar.
Quando ele veio na nossa direção, eu podia sentir a pressão no meu peito apertar, meu coração batendo descontroladamente. Eu tentei acalmar minha luta interna e focar no que fazer, mas foi em vão.
- Ei - ele disse, quando paramos há passos um do outro. Adam me deu um olhar perguntando se estava tudo bem, e eu assenti, afinal, o que eu poderia fazer? Sair correndo, arrastando Thomas?
Esse não era o combinado. Ele devia esperar eu falar com Thomas antes.
- Oi - eu disse, e minha mão que segurava a de Thomas se contraiu. Eu não sabia o que fazer.
- Você era o homem que estava gritando com a minha mãe naquela noite - Thomas analisou, franzindo o cenho.
Bela maneira de ser lembrado.
Isso atingiu Negan em cheio e ele olhou para mim como se pedisse socorro, mas eu não me manifestei. Não foi por maldade, mas eu estava tão em pânico quanto ele.
Ele limpou a garganta e dobrou um pouco os joelhos, olhando Thomas com atenção, seus olhos correndo por cada detalhe.
- Eu e sua mãe só estávamos conversando - sua voz tremeu um pouco, e ele deu um pequeno sorriso para disfarçar.
- Um homem nunca deve gritar com uma mulher - Thomas rebateu na hora, encarando-o de igual para igual.
Meu garoto.
Negan travou. Ele não estava esperando por isso, mas concordou veementemente, engolindo em seco.
- Você tem razão - ele falou, e eu vi como sua mão tremeu um pouco quando ele passou na barba e olhou para mim por um segundo, totalmente perdido.
- Pediu desculpas a ela? - Thomas era incisivo, olhando-o o homem em sua frente como se tivesse avaliando-o. E ele estava.
Eu fui cautelosa para manter meu rosto tão neutro quanto pude, assistindo como Negan travava pela milésima vez em menos de um minuto.
- Eu... - Negan começou, suas sobrancelhas franzindo e sua boca se enrugando enquanto ele tentava encontrar as palavras certas para continuar este tormento. Ele finalmente me olhou, intenso como eu conhecia - Você me desculpa, Ellie?
Nunca.
Em vez disso, eu limpei minha garganta, forcei o sorriso de alegria a se formar e dei a ele.
- É claro - eu mal sinto minha voz quando ela sai da minha boca.
Os segundos pareceram anos quando um silêncio excruciante se formou, piorando ainda mais esse momento até que Thomas esticou a mão para Negan, se apresentando.
- Sou Thomas.
Negan parecia que desmancharia no chão a qualquer momento, mas conseguiu se recompor e apertar a mão de Thomas.
- Eu sou Negan.
- A gente precisa ir - eu disse rapidamente, e Thomas soltou sua mão da dele, e eu o puxei para o meu lado.
Nós saímos, mas eu não olhei em seu rosto, eu só saí dali sentindo seus olhos de laser cravarem buracos nas minhas costas.
Não era pra ser assim.
Não era pra ser assim.
Eu não queria que Thomas o conhecesse como Negan, eu queria apresentá-lo como seu pai. Eu queria que, apesar da bagunça que isso faria em sua mente, diminuir o impacto dessa revelação.
- Tá tudo bem, mãe? - Thomas perguntou assim que passamos a primeira esquina e eu diminuí o passo.
Eu engoli a angústia e assenti.
- Claro, meu anjo. Eu só não comi direito e estou um pouco enjoada - menti, mas não aguentei ver aqueles olhinhos preocupados me olhando e parei, agachando a sua frente e segurando seu rosto em minhas mãos.
Ele era tão inocente e especial. Nem nos meus sonhos eu teria sonhado com uma criança tão sensível e especial como ele.
- Eu te amo - eu disse, esfregando meus polegares em suas bochechas - Você é tudo para mim, sabe disso, não sabe?
- Sim - ele concordou, mas eu o sentia confuso. Eu o beijei e o abracei, vendo Michonne vindo.
Eu fiz sinal para que ela viesse até nós, soltei Thomas e arrumei seus cabelos escuros.
- Quando eu chegar em casa, nós vamos conversar - eu disse e ele me olhou sem entender.
- Fiz algo errado? - perguntou assustado e eu ri um pouco, apesar de tudo.
- Não, claro que não - garanti - Eu tenho algo para te contar.
Michonne parou ao nosso lado e sorriu para Thomas.
- Michonne vai te levar para casa, eu vou logo atrás - disse, e ela me deu um olhar de reconhecimento. Não sei se ela tinha visto a cena de minutos atrás, mas pela forma como ela estava me olhando, a resposta era sim.
- Eu tenho uma ideia melhor, por que não vamos para a minha casa, tenho um bolo saindo do forno daqui alguns minutos - ela sugeriu e ele sorriu.
- Só se for de cenoura - ele disse e ela colocou a mão sobre a barriga e piscou.
- Seu primo acabou de concordar.
*
Eu segui para onde sabia que Adam estava levando Negan, e cheguei a tempo de pegá-los subindo os degraus da varanda.
- Adam - eu chamei, e os dois se viraram - Eu assumo daqui - eu disse sem olhar para Negan, mas seus olhos estavam me queimando.
- Eu acho melhor... - Adam começou, mas eu neguei.
- Eu acho que Rick te contou o que está acontecendo, não é? - eu perguntei, e ele assentiu. Me perturbou que minha vida pessoal e a de Thomas estivesse exposta assim, mas eu continuei - Eu preciso conversar com ele e preciso que você me deixe.
A minha cara não devia estar boa, porque ele me olhou com pena antes de assentir e me entregar a chave que era da cela de Negan.
Negan estava assistindo tudo, mas não disse uma palavra, o que não era típico dele, porque Negan sempre tinha algo para falar. Eu passei por ele, mas quando coloquei o pé no primeiro degrau, ele tocou meu braço. Eu o puxei do seu toque tão rapidamente que quase me desequilibrei.
- A gente pode... será que a gente pode conversar na sua casa? - ele perguntou, e eu ainda sentia meu braço formigar onde ele tocou.
- Não - eu neguei.
- Por favor... - ele sussurrou - Eu só quero ficar um pouco mais aqui fora.
Pior do que Negan arrogante e presunçoso era ele implorando. Nada disso fazia parte da construção dele. Eu não disse uma palavra, só virei as costas e comecei a caminhar de volta para minha casa.
Eu não sei porque fiz isso, porque aceitei seu pedido - por pena ou por que estar na minha casa me passava mais segurança - mas fiz. Eu o ouvi me seguir e quando finalmente chegamos e abri a porta da minha casa e entramos, eu não o deixei falar primeiro.
- Nós tínhamos um acordo - eu disse, olhando-o com meus braços cruzados.
- Eu sei, eu só... - ele pressionou os lábios com força. Fechando os olhos, ele começou de novo - Quando eu vi já estava na frente dele.
Deixe a raiva de lado. É de Thomas que estamos falando, repeti mentalmente.
Eu tentei me por no lugar dele por um segundo, tentar acreditar que existia pelo menos um por cento de humanidade dentro dele.
- Tudo bem - eu disse por fim.
- Onde ele está? - Negan perguntou.
- Com Michonne.
- Ele é um menino lindo - Negan disse, e eu senti a verdade e a emoção em sua voz. Eu poderia contar nos dedos as vezes que o vi tomado de uma boa emoção, e essa era uma das vezes.
- Ele é, sim - concordei e me sentei. Ele ficou de pé, e eu fiz um gesto para ele se sentar. Sua companhia por si já era desagradável, eu não tinha por que ter essa conversa em pé.
Ele estava sujo de terra, mas mesmo assim se sentou, quase ao meu lado, e eu engoli, nervosa, com meus braços cruzados, meu polegar esfregando a aliança no meu dedo. Se alguém me falasse que eu estaria sentada com Negan no sofá da minha casa, conversando sobre Thomas, eu diria que estava louco.
Mas aqui estávamos nós, juntos pela única coisa que nos ligava: Thomas.
- Eu quero participar da vida dele, Ellie - ele disse, seus olhos queimando. E era isso que Negan era, como fogo que queimavam nos incêndios florestais, que devoravam tudo em seu caminho e deixavam a terra plana e sem vida.
- E você vai - eu garanti, e não era mentira - Se ele quiser, você vai.
- Ele tem seus olhos - ele continuou, e se aproximou de mim.
- Ele tem muito de você também, mas só as partes boas - falei, e só depois me dei conta do elogio implícito. Ele sorriu.
- Que bom que você não esqueceu as minhas partes boas.
Eu continuei quieta, fingindo estar relaxada quando todos os músculos do meu corpo queriam pular nele e chutá-lo para fora da minha casa. Ele percebeu que não haveria espaço para nenhum tipo de brincadeira, e seu sorriso caiu lentamente.
- Eu vou contar sobre você hoje, quando ele chegar - revelei, e ele travou. Ele abriu a boca, mas a fechou novamente
- A gente não podia esperar mais um pouco?
- Porque?
- Porque eu queria conhecer ele antes - ele disse - E porque... porque se ele sabe a verdade sobre mim, não vai me aceitar.
Isso machucou. Doeu como cacos de gelo perfurando o coração, como uma chuva de agulhas enterrando-se na pele e ossos. Ele estava sangrando por dentro, mas vivo o suficiente para sentir a dor que era ser rejeitado. Rejeitado pelo próprio filho.
- Ele tem um coração enorme - eu disse, apesar de não quisesse que parecesse que eu queria consolá-lo.
Eu com certeza passei a impressão errada, porque ele se aproximou e puxou meu braço para segurar minha mão.
Seus olhos se estreitaram quando ele olhou para a aliança no meu dedo. Eu desviei o olhar quando puxei minha mão.
- Você está namorando? - sua voz era irritada, e eu olhei para cima para vê-lo carrancudo, os músculos ao longo de seus ombros definidos a partir de sua tensão.
- Minha vida não te fiz respeito, mas sim, estou noiva - eu levantei e fui para a cozinha, mas ele veio atrás.
Ele assumiu uma postura totalmente diferente, quase como raiva. Eu peguei um copo no armário e o enchi com um pouco de agora.
- E quem é o sortudo? - ele perguntou com deboche - Não é Daryl, a não ser que ele passou a se vestir com roupas sociais e limpas - ele disse e eu vi que ele estava segurando uma das camisas de Ben que estava pendurada sobre a cadeira. Eu bati o copo sobre a pia e fui até ele.
- Você precisa ir embora - eu avisei, arrancando a peça de suas mãos.
- Porque, seu marido tem ciúmes? - ele debochou - Bom, ele devia ter mesmo, se sabe o que tivemos.
- O que você pensa que está fazendo? - eu o enfrentei - Se você pretende agir como um moleque, sugiro que vá embora. Thomas não precisa lidar com isso.
- Até porque você já o envenenou contra mim, não é, Ellie? - ele aumentou a voz, gesticulando - Com isso ele pode lidar?
- Tudo o que eu fiz foi seguir minha vida e cuidar do meu filho, a criança que você tanto evitou ter e que quando soube que eu era estéril, ficou aliviado.
Seu rosto caiu.
- Isso não é verdade.
- Não é verdade? - eu debochei, erguendo as sobrancelhas - Realmente? O que você teria feito se soubesse que eu estava grávida antes de eu fugir do Santuário? Teria me feito tirar o bebê?
Ele se virou para mim abruptamente e olhou diretamente nos meus olhos com tanta ferocidade que eu poderia ter encolhido um pouco se fossem outros tempos. Havia tantas tempestades rodopiantes dentro de seus olhos, tanta emoção e feroz agonia, que teriam derretido o pólo norte. Foi quando eu vi exatamente como teria sido se eu me olhasse no espelho agora.
- Você acha que eu seria capaz de machucar meu próprio sangue? - ele perguntou próximo ao meu rosto, a voz incrédula.
Havia tanta dor dentro de mim, muita angústia e trauma. Ele olhou para mim uma vez antes de eu o afastar. Eu pensei que tinha esmagado ele o suficiente, mas ele voltou e finalmente ganhou a luta.
Eu o observei em silêncio enquanto ele começou a andar e se recompor, mas ele estava lutando. Pela primeira vez, eu testemunhei sua quebra de personagem. Todas as suas paredes, todas as suas máscaras, todos os seus roteiros, tudo o protegendo caiu, e o homem por baixo pareceu vulnerável e perdido. Eu senti pena dele quando ele parou e agarrou sua testa parecendo exausto e angustiado.
- Eu não sei - eu disse, e virei de costas, cortando a visão lamentável que eu via. Eu não o ouvi se mexer, só sua voz rouca e baixa quando ele falou.
- Eu amei Thomas no momento que soube da sua existência. Você pode me odiar por nunca ter te amado, mas o meu filho, ele eu amo e vou lutar por ele.
Não que eu precisasse de uma comprovação verbal do seu não-amor por mim, mas ouvi-lo dizer assim, tão secamente, foi um chute no estômago. Ele ainda conseguia me ferir como há anos atrás, tão facilmente.
- Ele é a única coisa que eu tenho, Ellie. Não tira isso de mim também - ele implorou, e eu estava tão dormente que não consegui me balançar para fora do seu toque quando uma mão quente pousou no meu ombro.
- Eu não vou fazer isso - eu me vi dizendo, com mais convicção do que coragem, ele estava tão perto de mim que eu podia sentir o calor de sua respiração no meu pescoço.
Eu virei e ele estava olhando para o meu rosto como eu esperava que ele fosse. Sua mão subiu e a palma quente pousou contra meu rosto, e mais uma vez eu não o detive.
- Olha pra mim diz que você nunca vai fazer Thomas sofrer - eu pedi, minha palma da mão em seu peito, agarrando sua camisa - Eu preciso que você me prometa isso, Negan.
- Eu juro... - ele engasgou, pressionando a testa contra a minha, sem ousar me olhar nos olhos - Eu morro antes de deixar qualquer coisa machucar nosso filho.
Eu fechei meus olhos e era como voltar a sete anos atrás. Foram incontáveis vezes que ele me feriu e em seguida me consolou, e aqui estava acontecendo mais uma vez, só que dessa vez, eu não era a única ferida.
Quando fui me afastar, ele me segurou pelos braços, me aproximando de seu corpo novamente, abaixando seu rosto, sua barba arranhando minha pele.
- Espera - ele pediu, mas eu neguei.
- Não - eu disse, meu coração parecia que estava prestes a explodir do meu peito. Eu odiava sentir isso por ele.
- Ellie... - ele sussurrou antes de tentar me beijar.
Ele sempre seria assim. Ele não tinha respeito, não se importava com nada. Ele sabia que eu tinha outra pessoa, mas mesmo assim estava aqui, tentando me beijar. Eu afastei meu rosto do dele, olhando-o nos olhos.
- Eu não sou mais a garota que você deixou para trás - eu disse, mas ele não deu um passo para trás - Eu tenho uma vida e você não faz parte dela. Eu amo Benjamin e eu jamais vou ter qualquer coisa com você novamente.
Com isso ele se afastou de mim, me dando espaço para respirar. Ouvimos a porta da frente se abrir e eu aproveitei para sair de perto dele totalmente.
Quando voltei para a sala, vi Thomas juntamente com Rick, que estava fechando a porta.
- Ele quis vir te trazer ainda quente - Rick disse, com um prato nas mãos, coberto por um pano de prato.
- Ela adora bolo quente - Thomas disse, tirando os sapatos perto da porta, mas sua atenção saiu de mim quando alguém chegou ao meu lado.
Negan.
Rick o olhou como se o escaneasse, mas ele não percebeu, porque estava olhando para Thomas.
- Precisa de alguma coisa? - Rick perguntou baixo, perto de mim quando me entregou o prato.
- Tudo sob controle - eu garanti e sorri quando Thomas veio até mim, mas sem tirar os olhos de Negan.
- Oi, Negan. Quer uma fatia de bolo?
Eu me surpreendi quando Thomas perguntou isso. Geralmente ele não era muito receptivo com as pessoas, ele levava tempo para se sentir confortável com desconhecidos, mas de certa forma ele parecia não estar desconfortável com a presença de Negan aqui.
Negan tossiu de leve, limpando a garganta antes de responder surpreso.
- Sim... sim, claro.
- Você pode levar ele até a cozinha e mostrar onde ficam os pratos, Thomas? - eu sugeri, e ele assentiu, liderando o caminho depois que eu entreguei o prato a Negan.
- Você está bem? - Rick apertou meu ombro, preocupado. Eu respirei fundo e assenti.
- Sim, já resolvemos tudo, só falta Thomas saber - falei.
- Quer que eu fique aqui? - ele ofereceu e eu neguei.
- Não se preocupe, eu levo ele de volta daqui a pouco - garanti.
Rick me deu um abraço apertado antes de sair e eu andei de volta até a cozinha, parando quando ouvi vozes.
- Você não vai comer? - ouvi Negan perguntar, e logo Thomas responder.
- Eu vou jantar antes.
- Não tem problema comer a sobremesa antes do jantar, só por um dia - Negan respondeu e mesmo sem ver seu rosto, eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
- Eu prefiro jantar antes - Thomas respondeu casualmente.
Eu queria entrar na cozinha, mas decidi esperar ver onde essa conversa ia chegar e como Negan ia se comportar.
- Eu nunca vi você por aqui - Thomas falou, e eu fiquei tensa, esperando o que Negan responderia.
- É porque eu morava no Santuário - Negan respondeu depois de uns segundos.
- Meu tio Daryl morou lá por um tempo. Conhece ele? - Thomas perguntou em seguida.
É claro que ele conhece Daryl.
- Sim, eu conheço ele.
Eu me fiz presente, entrando na cozinha. Negan estava encostado na ilha e Thomas estava sentado na banqueta, suas pernas balançando.
- Quer que eu esquente seu jantar, querido? - eu perguntei a Thomas, e ele assentiu - Então suba, troque de roupa e leve as mãos.
Thomas pulou da banqueta para fazer o que eu disse.
- Você quer que eu vá embora? - Negan perguntou quando teve certeza que Thomas havia subido.
- Você vai ficar para o jantar - eu comuniquei. Toda essa situação era tensa e séria, mas ver Negan assim, perdido, era irreal. Thomas o desestabilizava de uma forma que eu não sabia que algo nesse mundo fizesse.
- Olha só, Ellie... - ele começou, mas eu o cortei com um olhar.
- Você mal falou com ele e não está aguentando a pressão? Você já foi mais corajoso, Negan - eu debochei, pegando da geladeira duas bandejas com as sobras do almoço e coloquei sobre a ilha da cozinha.
- Ele é tão... - ele começou, e passou a mão na barba - Eu não sei dizer. Parece que ele já sabe.
- Thomas não é um garoto comum. Ele já percebeu que há algo no ar - eu disse, e ele também já sabia. Eu apoiei minhas mãos na ilha, olhando-o com atenção - Você tem até ele descer para decidir: você fica e age como um homem ou você vai embora e esquece ele.
Não havia meio termo. Eu não deixaria ele pensar que ia entrar na vida de Thomas e quando enjoasse de brincar de ser pai, o abandonasse.
- Eu vou ficar.
- Ótimo. Coloque os pratos na mesa - eu disse, tentando ser o mais casual possível e levar tudo isso naturalmente. Mas era praticamente impossível.
Thomas voltou quando eu tirei a última bandeja de comida que estava esquentando no microondas. Quando Negan pediu para usar o banheiro e saiu, Thomas perguntou.
- Porque esse homem está aqui em casa?
Por que ele é o seu pai.
Porque depois de todos esses anos, eu estou trazendo um completo desconhecido para sua vida, espero que não se importe.
- Nós temos alguns assuntos sobre Alexandria para conversar. Tudo bem se ele jantar com a gente? - eu perguntei, esperando que ele não visse que eu estava mentindo.
Ele deu os ombros, e isso ele puxou de mim.
A coisa não foi muito diferente quando nos sentamos à mesa. Ninguém falou nada, e parecia que nada seria capaz de aliviar a atmosfera que nos cercava.
Pendia como um cadáver do teto, pesado e horrível demais para ser ignorado.
- Quer que eu suba? - Thomas perguntou quando terminou de comer. Eu o olhei confusa.
- Não, porque está perguntando isso?
- Porque você disse que vocês dois precisavam conversar algo sobre Alexandria e não disseram nada ainda, porque eu estou aqui - ele falou, e eu vi Negan arregalar os olhos com o raciocínio dele.
Tinha que ser agora. Esse era o momento, nós três juntos, enquanto eu tinha coragem. Eu olhei para Negan, e ele parecia ter lido meu pensamento. Ele me olhou com desespero, mas eu fui em frente.
- Thomas, nós temos...
- A gente só não quer te encher com esses assuntos chatos de adulto - Negan concluiu na minha frente.
Nós nos encaramos, e foi como se tudo estivesse sendo puxado para um buraco negro. Eu não iria fazer esse momento ainda mais confuso para Thomas, então assenti.
- É isso - eu concordei - Mas se você quiser subir, tudo bem - disse, minha boca se transformando em um sorriso embaraçoso e desajeitado, provavelmente assustador.
Mas Thomas não comprou, ele estreitou os olhos do mesmo jeito que o homem a minha frente estava fazendo. Ver os dois assim, tão perto um do outro me deixava arrepiada pela semelhança.
Quando olhei de novo para Negan, me deparei com uma intensidade que sempre fez a minha confiança recuar.
- Eu vou subir, então - Thomas concordou. Ele se levantou da mesa e encostou a cadeira de volta no lugar antes de olhar para Negan - Boa noite, Negan.
A mão de Negan se moveu para tocá-lo, mas ele a puxou assim que se deu conta.
- Boa noite - ele conseguiu dizer com um sorriso nervoso.
Thomas me abraçou antes de subir e eu vi Negan engolir em seco. Eu não o culpava por seu medo, eu estava assim há dias atrás também. O medo de fazer agora ruim para quem gostamos acaba nos incapacitando.
Eu levantei da mesa a tempo de ver Thomas subir o último degrau e quando voltei, Negan ainda estava sentado à mesa, e ele não falou nada, só ficou sentado ali.
- Negan - eu o chamei.
- Eu sei, já estou indo - ele disse, empurrando a cadeira para trás e se levantou.
Ele foi até a porta da cozinha e a abriu, esperando que eu o seguisse, mas eu não fiz. Eu não sei porque, mas a ideia de colocá-lo em uma cela depois disso tudo que aconteceu acabou me enojando.
Eu estendi a chave para ele, que pegou, mesmo sem entender.
- Eu não vou te pedir para fazer a coisa certa.
Estava em suas mãos agora. Ele podia sair daqui e voltar para sua cela ou ir embora, assim como ele fez quando teve oportunidade.
Ele apenas acenou com a cabeça, dando as costas para mim e saindo. Ele se virou para olhar para mim, seu rosto era o seu habitual eu pensativo.
Em uma voz otimista, ele falou novamente.
- Bom, eu não esperaria que você fizesse isso.
Quando ele sumiu na pouca luz que iluminava a rua, eu desejei que ele escolhesse ficar.
Família reunida! Mas será que vai haver um final feliz? Tem muita gente que shippa Ellie e Negan ainda ou já morreu no esquecimento?
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