Capítulo 13 | PARTE 2
no capítulo anterior...
Tudo o que eu reconstrui ao longo desses anos estava prestes a ruir com a volta do homem que me destruiu. Aquele pesadelo parecia brincadeira agora, a dor e a angústia dentro de mim eram esmagadoras.
- Espero que um dia você entenda - isso foi tudo o que Rick disse antes de sair, me deixando com uma granada nas mãos, e eu não podia fazer nada além de vê-la explodir.
DIAS DEPOIS
- Você pode me avisar quando o grupo que Ben está entrar em contato? - eu pedi a Tara.
- Eles acabaram de fazer contato no rádio - ela disse - Avisaram que não encontraram o que queriam e estão avançando para mais longe.
- Mais longe quanto?
- Alguns quilômetros para o sul.
Isso estouraria o prazo de uma semana e sabe-se lá quando estariam de volta. Daqui uma semana e meia? Duas? Três?
Parecia que tudo estava conspirando contra, tudo dando errado de uma vez só. Eu agradeci a Tara e saí, tentando entender essa volta trezentos e sessenta que minha vida tinha dado de uma hora para outra - e não positivamente.
*
Thomas estava sentado no banco de madeira que ficava próximo a parede da frente da sala da escola, seus cadernos no colo. Eu vi seu rosto só de perfil, ele estava olhando para o lado e eu segui seu olhar.
Havia um homem agachado em frente à um garotinho, e eles sorriam um para o outro enquanto conversavam.
Meu coração apertou. Eu não precisava ver seu rosto para saber o que ele estava sentindo. Essa não era a primeira vez que eu o pegava olhando para um garotinho com o pai, perdi as contas de quantas vezes eu o vi olhando para Glenn e Hershel. Ele podia sentir falta de algo que nunca teve? Eu realmente estava errada por querer protegê-lo?
Quantas vezes ele deve ter sentindo a falta de algo que nunca teve, e por mais que eu me doasse cem por cento para ele, sempre haveria um buraco que eu não poderia preencher. Eu sabia.
Mas eu tinha medo. E se Negan fizesse com Thomas o que fez comigo? Se ele entrasse na sua mente, o usasse para me machucar, como sempre fez? Eu estaria abrindo a porta para o inimigo entrar. E se Negan visse em Thomas uma oportunidade de se vingar? Eu conhecia o homem de sete anos atrás, e ele era capaz de fazer isso.
Eu poderia aceitá-lo na vida de Thomas, mas isso não significava que ele estava de volta na minha. E se ele ousasse fazer algo que pudesse prejudicar Thomas, eu acabaria com ele.
Eu coloquei um sorriso no rosto, o melhor que consegui com o turbilhão na minha mente e coração e o chamei.
- Thomas?
Ele procurou por mim, até que nossos olhos se encontraram e ele acenou, vindo até mim. Eu não tinha ideia de como contaria isso a ele, mas precisava ser feito logo, e apesar do meu medo de que ele perdesse a confiança em mim, a angústia de esconder a verdade de Thomas era mais aguda.
- Oi, querido - eu sorri para ele. Tinha que ser agora enquanto eu estava com coragem e sem a raiva borrando a minha visão. Eu não imaginava como seria a sua reação, mas eu estava prestes a descobrir.
- Thomas! Thomas! - uma garotinha chamou quando ele estava chegando até mim. Thomas virou e ela olhou para mim, sem jeito - Você quer jogar comigo?
Thomas me olhou em interrogação, e eu assenti, orgulhosa e feliz que ele tinha amigos agora.
- Sim, mas me prometam que vão ficar próximos a escola e que assim que cair o sol, vocês vão para casa.
Eles assentiram e eu os vi saindo correndo para longe, onde pegaram uma bola e se juntaram as outras crianças.
Quando virei para seguir com o que tinha planejado fazer, esbarrei em alguém, dando de cara com Daryl, que me segurou pelos ombros. Eu não tive tempo de dizer nada antes que ele me puxasse para entrar na primeira sala que viu, fechando a porta.
- Rick te contou - ele disse, cruzando os braços e parando na frente da porta, bloqueando-a.
Ele devia achar que eu ia chutá-lo ou brigar com ele por concordar com Rick sobre Negan, mas eu não faria isso.
- É, ele disse - eu concordei.
- Sei que está brava...
- Não estou - o interrompi. Se eu não estivesse tensa com tudo isso, teria rido da sua expressão.
- Não?
Daryl era o melhor juiz de caráter que eu conhecia e apesar de não concordar com ele, sabia que ele não ia arriscar por Thomas em risco. Rick também não, mas logo eu falaria com ele. Eu respirei fundo e descruzei seus braços da frente do peito, pegando suas mãos nas minhas.
- Você foi quem mais sofreu e conseguiu superar, conseguiu separar as coisas e seguiu em frente depois de tudo o que Negan fez com você - eu disse, me sentindo pequena por não sentir o mesmo. Depois de todos esse anos, eu só tinha maquiado a raiva, não superado - Eu tenho orgulho de você, Daryl.
Ele piscou, completamente desnorteado pelo rumo que a conversa tomou. Ele me puxou aqui para dentro esperando uma Ellie brava, mas eu entendia que parte disso era para o bem do meu filho. O que fosse para acontecer, aconteceria.
- Eu te amo e confio no seu julgamento, por mais que o medo dentro de mim diga o contrário - eu continuei - Eu posso não ser a melhor mãe do mundo...
- Nem pense nisso - Daryl bufou, apertando minhas mãos nas dele - Você é a melhor mãe que Thomas poderia ter.
- Obrigado - eu disse. Ouvir isso acalmava meu coração, principalmente nesse momento, onde eu estava prestes a revelar para Thomas o que eu guardei por anos.
Mas eu pensei muito nesses últimos dias, depois de chorar compulsivamente antes de dormir.
Eu odiava Negan e estava negando ao meu filho algo que ele tinha direito. Eu não podia decidir por ele. Thomas era um garoto inteligente e eu daria a chance para ele decidir se ele queria ter Negan na vida dele ou não.
Eu poderia estar fazendo a escolha certa ou poderia estar fazendo a pior escolha da minha vida, uma da qual eu me arrependeria pelo resto da minha vida.
Foi nesse momento que eu rezei para que Negan tivesse mudado de verdade.
*
- Adam - eu disse vi o loiro alto e magro sentado no sofá da casa onde Negan estava - Vou descer - avisei.
- Espera - ele disse enquanto pulava de pé, cortando minha frente e me impedindo de chegar a porta do porão - Não estou autorizado a deixá-lo receber visitas.
Eu estreitei os olhos para ele, pegando sua mentira.
- Foi Rick quem disse pra não me deixar passar, não é?
- Sim - ele admitiu e coçou a cabeça - Pelo menos não armada.
Eu reverei os olhos e tirei minha arma de trás das costas, entregando para ele. Adam a colocou no cinto da calça.
- Ele também disse que você é bem esperta, então... - ele fez um gesto com o dedo e eu afastei os braços do meu corpo.
Ele ficou vermelho como um pimentão enquanto rapidamente tateava meu corpo, me revisitando.
- Qualquer coisa é só gritar que eu desço - ele disse quando se afastou de mim. Eu ri internamente.
Era mais fácil Negan gritar do que eu.
Eu tirei minha aliança quando desci o primeiro degrau. Eu não sei porque fiz isso, mas de repente aquele pequeno anel pesou uma tonelada no meu dedo, e eu não queria que isso fosse pauta do assunto de hoje - eu conhecia Negan bem o bastante para saber exatamente como ele usava qualquer coisa para desestabilizar as pessoas.
Assim que ouviu meus passos, Negan se levantou. Ele endurece assim que colocou os olhos em mim.
- Está feliz? - eu perguntei quando parei a alguns passos da grade.
- Do que você tá falando?
A rouquidão em sua voz era arrepiante.
- Vai sair da jaula, pelo menos algumas horas por dia.
Ele engoliu, esfregando as mãos nos lados da calça enquanto caminhava para ficar próximo às grades.
- Você vai me deixar vê-lo? - ele perguntou, mas eu não ia fazer isso fácil para ele.
- Você acha que merece?
- Não - ele disse, me pegando de surpresa pela sinceridade.
Não deixe isso te enganar. Ele já fez esse papel antes.
- Eu não estou aqui por você - eu disse suavemente, observando enquanto ele endurecia - Estou aqui por ele. Não vou fazer a escolha por ele. Você é o pai dele, não vou impedi-lo de vê-lo, mas vai ser nos meus termos.
Ele murmurou algo, mas eu não consegui entender.
- O quê? - eu perguntei bruscamente, mas ele não olhou para mim.
- Obrigado.
Eu não consegui impedir o murmúrio de descrença e desdém que saiu dos meus lábios.
- Eu vou prepará-lo antes, sua chegada na vida dele vai ser o menos tumultuante possível e você sequer vai olhar na direção dele até lá - eu avisei, e ele assentiu várias vezes - A única coisa que ele sabe sobre você é a verdade, então, se quer chance de fazer parte da vida dele, vai fazer do meu jeito.
- O que ele sabe sobre mim? - ele perguntou com a voz levemente embargada.
- A verdade. Que você machuca pessoas e que você foi banido por isso.
- Porque está fazendo isso? - ele perguntou, olhando para mim. Ele sabia que não merecia, eu sabia que ele não merecia nada de bom, muito menos Thomas.
- Porque eu não sou como você. Eu não controlo a vida das pessoas e mesmo que eu deteste a ideia de ter você na vida dele, vou deixar para que ele decida - eu disse em uma voz cansada, indo para os degraus.
- Qual é o nome dele? - Negan perguntou e eu o olhei por cima do ombro para vê-lo segurando as barras.
- Thomas.
Ele não respondeu, e eu não fiquei por perto para ver o porquê. Agradeci a Adam quando cheguei ao topo dos degraus e ele me devolveu minha arma.
***
Já era noite e eu tinha colocado Thomas na cama. Eu ensaiei um milhão de vezes a forma como ia falar sobre Negan com ele, mas na hora eu só consegui dar boa noite. E se ele me odiasse? E se o meu pesadelo virasse realidade?
Eu estava sentada na sala, um dvd de um filme ruim rodando e uma taça de vinho na mão, enrolada na manta do sofá.
Geralmente Ben estaria aqui comigo. Eu estava com saudades dele, mas estava pensando principalmente como eu ia contar sobre Negan para ele também. Se eu estivesse no lugar dele, me sentiria mal por ele ter omitido essa parte, mas eu contava com a sua compreensão e amor.
Duas leves batidas na porta me tiraram do meus pensamentos e quando abri, Rick estava ali. Eu dei espaço para ele passar e voltei a me sentar no sofá enquanto ele fechava a porta e vinha para se sentar ao meu lado.
Eu não estava mais brava com ele, mas era uma situação chata. Eu odiava brigar com Rick. Eu sentia como se tivesse um pedaço meu faltando, e todas aquelas farpas que trocamos na ultima discussão - principalmente eu ter falado sobre Shane - foram horríveis.
Não sei se por instinto ou por medo de eu começar uma discussão, ele não falou nada, então eu finalmente virei minha cabeça para encontrá-lo olhando para mim docemente.
- Você me desculpa?
- É claro que sim.
Eu dei um sorriso cansado me aproximei dele, descansando minha cabeça em seu ombro e Rick passou o braço pela minha cintura. Eu sempre pensei em como seria se aquele bebê que eu perdi tivesse nascido. Thomas teria um irmão e talvez um elo tão grande quanto eu e Rick temos.
Ele não disse mais nada, nenhum comentário sobre eu ter visitado Negan, ou sobre o que falamos, e de certa forma eu sentia que ele sabia.
- Estou com medo que ele me odeie quando descobrir - confessei, e ele virou o rosto para o meu, colocando os lábios contra a minha testa, e eu senti sua respiração quente no meu cabelo enquanto ele respirava longo e forte.
- Thomas te ama - ele sussurrou contra minha pele - Ele vai entender.
Minha garganta se contraiu com emoções misturadas. Eu respirei tremendo, enterrando minha cabeça em seu peito quando senti meus olhos começarem a lacrimejar, querendo acreditar nele tanto que fez minha pele doer.
Mas eu sabia que isso teria a chance de tudo, menos de dar certo.
Desculpa a demora, sem querer eu apaguei um capítulo de dez mil palavras e estou refazendo, esse capítulo que vcs acabaram de ler era só o comecinho do que era para ser um capítulo gigante, mas postei assim para dar uma atualização para vcs. XoXooo
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