Capítulo 10
Acordei com o barulho do chuveiro. Fiquei olhando para a porta do banheiro, e logo Negan saiu secando os cabelos.
- O quê? - ele questionou depois de um tempo quando percebeu que eu olhava. Eu quase não pisquei enquanto observava uma variedade de emoções cruzar seu rosto.
- Só estou me perguntando por que você escolheu as mulheres que escolheu - eu disse enquanto observava sua reação. Ele fez uma carranca, jogando a toalha molhada sobre o sofá de couro.
- Isso importa?
- Eu nunca disse isso - eu respondi de forma constante - Estou curiosa. É um grande segredo?
- Não. Mas quando vejo algo que eu quero, geralmente consigo - disse e pegou a calça e começou a vestir.
Observei enquanto se curvava, seus ombros largos puxando a calça jeans sobre suas pernas, deixando-a atingir a cintura e fechando o cinto.
- E o que você viu em mim?
- Alguém que pudesse se beneficiar com o que tenho para oferecer - disse e vestiu a camisa branca. Eu olhei para ele com uma sobrancelha levantada.
- Só isso?
Ele se sentou na borda da cama e começou a calçar as botas.
- Com licença? - eu agarrei o ombro dele, ficando de joelhos até as dele.
- Eu ja disse, não sou bom com conversas de travesseiro - ele se levantou. Virando-se para me encarar, Negan inclinou-se para baixo, beijando-me rapidamente nos lábios - Eu não sou bom em compartilhar, boneca. Durma mais um pouco se quiser e depois desça.
Meus olhos seguiram sua forma enquanto ele se movia por seu quarto e pegava seu bastão e sua jaqueta. Eu tinha tentado mais uma vez e tinha batido de cara na porta. Mais uma vez. Quando ele chegou à porta, ele parou com a mão na maçaneta.
- Você me intrigou - ele disse em voz baixa - Me surpreendeu o quanto você lutou por sua vida lá fora, sozinha e mesmo sabendo que você passou o inferno, nunca quis me contar sua história triste. Me surpreende ainda mais que você tenha se adaptado tão bem.
Sem esperar uma resposta, ele abriu a porta, fechando-a suavemente atrás dele. Eu caí de novo nos travesseiros, contemplando suas palavras.
Eu era forte, sabia disso. Eu era. Eu fui. Mas agora não era mais.
Eu não ia contar sobre tudo o que passei lá fora, porque isso aumentava o buraco no meu peito. Só em falar os nomes deles... em pensar que Judith não está mais viva... meus Deus. Eu sonhei por muito tempo com choro de bebês. Naquele dia, naquele maldito dia eu não consegui protegê-la. Eu achei que fosse reencontra-los, assim como foi no dia que fugimos da fazenda. Mas eu nunca mais os vi. Naquele maldito dia, uma das pessoas mais importantes que eu tinha me deu as costas. Mais uma vez.
Quando eu perguntei porque, porque ele estava fazendo isso, voltando para um lugar destruído para achar uma pessoa que provavelmente estava morta, ele disse "Você é forte, vai conseguir. Se precisar, fuja, eu encontro você." Bom, ele nunca me achou. Talvez tenha morrido no caminho, talvez eu esteja magoada com uma pessoa que nem viva está.
Fazem anos, mas ainda dói quando lembro. Sempre vai doer. Eu só queria perguntar porque ele fez isso. Porque virar as costas para mim era uma coisa tão fácil, quando eu jamais seria capaz de fazer isso com ele? Sempre me orgulhei de ser forte e não precisar da defesa de ninguém e quando eu precisei, ele não estava lá para mim como eu estive por ele.
Lembrar os longos meses que passei sozinha, sem falar uma palavra com ninguém, sem comer ou dormir porque tudo que eu fazia era fugir. Pensar nas mãos daquele maldito sobre mim... eu escapei por pouco.
Sacudi a cabeça, afastando as lembranças. O passado não vai mais me assombrar. Tudo estava bem agora.
- Você pode escolher, Amber. Ou você segura a barra ou vai embora - ouvi na voz de Sherry e parei no caminho, antes de entrar na sala. Eu tinha acabado de descer do quarto de Negan.
- Eu não quero ir - ela disse em voz baixa - Não é ruim, e se não fosse por Mark eu não ligava.
- Não é ruim - ouvi a voz estridente de Sherry - Então aceite e siga.
- Realmente não é ruim - ouvi Frankie rir - Mas sabe o que ele diz quando me escolhe? Se toque enquanto eu tomo banho, quero você molhada quando voltar - ela imitou a voz Negan - Ele é um porco egoísta que não quer perder tempo nem com preliminares.
O quê? Eu franzi a testa. Negan não era assim.
- Não é ruim, mas com Mark era diferente - Amber lamenta.
- Você ama Mark e estava acostumada a fazer por amor, não só por tesão - Frankie fala e eu percebo a irritação na voz dela. Nem ela não aguentava mais Amber.
- Você não? - Amber perguntou parecendo surpresa.
- Não. Eu não me importo, para falar a verdade. É só sexo e ele não me obriga a fazer o que não quero.
O silêncio pairou entre elas, mas logo Frankie continuou.
- Eu amava meu marido, mas a partir do momento que ele concordou quando eu disse que achava uma boa ideia vir para cá, acho que nossa relação já não era a mesma. O mundo não é mais o mesmo. Eu só quero facilitar as coisas o máximo que posso.
Facilitar as coisas? Que tipo de pessoa abandona alguém que ama só para facilitar as coisas?
- Você quer ir embora? - Sherry perguntou e Frankie fez um murmúrio de negação.
- E voltar para aquele inferno que é trabalhar por pontos? Inferno, não.
A verdade era que as três eram hipócritas. Elas estavam aqui para que - em primeiro lugar - não precisassem ralar no trabalho e também porque queriam estar. Elas podem até odiá-lo, mas não dão as costas para ele por que aqui é mais confortável.
Se eu tivesse um homem que se importasse comigo, alguém que eu amasse, não há nada que eu não faria para estar com ele, não importa quão maldita seja a situação. Amber estava jogando tudo fora porque ela era fraca. Tanto faz. Na verdade, não era meu problema. O problema dela era o ressentimento de Negan e a forma como ele a tratava. Foi ela quem pisou fora da linha, e ela podia ir quando quisesse.
A lembrança da briga de mais cedo com Negan me veio a cabeça. A porta está aberta. Nada te empede de sair. Bem, foda-se. Cada um que cuide do seu problema.
Eu não ia entrar e dar de cara com elas, então comecei a andar pelos corredores. Eu subi até o último andar e em vez de pegar o corredor que leva ao quarto de Negan, eu fui para o oposto. Cheguei fim e virei a direita, abrindo a grande porta de ferro que tinha ali, a claridade invadiu meus olhos, revelando o terraço da fábrica. Eu sempre vinha aqui para ficar sozinha. Mais sozinha.
O vento frio chicoteou na minha pele e eu apertei mais o casaco contra o corpo enquanto caminhava por ali.
Logo que vim para o Santuário, sempre que eu vinha aqui em cima e olhava para o horizonte, eu agradecia por estar aqui dentro em segurança.
Mentiria se dissesse que o sistema daqui não me assustou e eu pensei em sair Santuário, mas qual era o ponto? Eu poderia encontrar pessoas piores do que os Salvadores. Eu já enfrentei pessoas piores que os Salvadores. Eu lhe devia lealdade. O próprio Negan havia ordenado ao médico para me tratar com tudo disponível. Mesmo que fosse só porque ele me queria para como esposa, bem, era melhor do que nada.
Ouvi um tropeço e olhei pelo canto do olho quando alguém parou o meu lado. Era um cara, mas eu não o olhei no rosto.
- Sou Jace - ele se apresentou depois de alguns segundos, uma voz grave e séria, e eu assenti, sem olhar.
- Ellie.
- Uma das esposas? - ele perguntou, e eu percebi que agora ele me olhava, mesmo sem eu ter olhado para ele desde que parou aqui.
- Como adivinhou? - revirei os olhos, e fiz uma careta. Ou ele era idiota ou estava querendo puxar assunto. Das duas formas ele era idiota. A maioria dos caras mal olhavam por medo de Negan.
- Você está limpa. E arrumada - disse como se fosse óbvio. Finalmente virei a cabeça e o olhei.
Ele era louro tinha um olho de cada cor. Uau. O direito era azul e o esquerdo era um castanho claro que eu nunca vi na vida. Nunca tinha visto uma pessoa com heterocromia antes. Seu cabelo louro escuro estava penteado para trás, meio raspado dos lados.
O cara era realmente bonito, do tipo que te faz querer olhar por mais tempo só para achar uma imperfeição. Mas ele não tinha nenhuma, exceto o excesso de confiança que emanava dele. O desgraçado parecia ter saído de uma série de tv.
- Belos olhos - comentei, querendo justificar a demora em olhá-lo. Ele olhou para o chão e riu antes de falar.
- Porque está aqui? - perguntou. Ele tinha lábios carnudos e rosados, e quando ficou de frente para mim, vi um pedaço de uma tatuagem subindo pela garganta.
- Porque eu quero estar? - devolvi a pergunta - É você está aqui porque não tem amor a vida.
- O quê?
- Você está sozinho com a mulher do seu chefe. Se tivesse medo não chegaria nem perto sabendo o que Negan pode fazer com esse rostinho - eu sorri e ele arregalou um pouco os olhos, mas disfarçou no mesmo segundo.
Não que eu me preocupasse com o cara, eu nem o conhecia - e nem precisava conhecer para saber que ele não prestava. Ele estava aqui, ele era um Salvador.
- Ele não deixa você conversar...? - ele não terminou a frase.
Sério, cara? Ele acha que eu sou uma prisioneira? Segurei a vontade de rir. Eu não conversava com os homens daqui porque eles eram uns porcos machistas, mas esse cara era diferente. Ou ele era um dos homens de confiança de Negan ou ele não tinha medo de ser visto conversando sozinho comigo. Eu esfreguei os braços, fiz uma cara triste e me aproximei mais dele.
- Não - eu respirei fundo - Ele me deixa trancada o dia todo, sem comida e sem água para eu não ter forças para fugir. Já fazem semanas e só agora eu consegui escapar para ver a luz do dia.
Sua expressão caiu e seus olhos se arregalaram de surpresa. Ele abriu que boca, mas nada saiu. Eu não consegui me segurar.
- Estou te zoando! - eu ri, emendando numa gargalhada. Sério que ele caiu?
- Nossa, você é bem engraçada - ele murmurou, sem jeito. Homens são muito trouxas mesmo. Ele passou a mão no cabelo, empurrando os fios loiros para trás.
- Você não acharia graça se soubesse que eu posso te matar a qualquer momento - disse com a voz mais séria que consegui.
- Com certeza você pode matar um homem - ele me deu um olhar demorado e eu entendi o sentido da frase. Provavelmente disse isso para me intimidar achando que eu ficaria sem graça. Eu estreitei os olhos, o encarando. Ele não pareceu intimidado.
- Eu não sou uma prisioneira. Mas eu falei sério quando disse que posso te matar.
- Você não faz o tipo - ele riu, mas deu um passo para trás.
- Que tipo?
- Que sabe se defender. Caso contrário...
Dessa vez eu que ri. Caso contrário não estaria com Negan.
Meu irmão sempre me disse que o perigo vem de onde você menos espera. Ele disse isso quando me ensinou a atirar e quando me deu aulas de defesa pessoal. A primeira vez que eu derrubei Rick, eu o joguei de cara no piso emborrachado da sala de treinamento da polícia, onde a gente treinava durante minhas férias. Eu fiquei desesperada quando ele ficou de pé e eu vi sangue por toda sua boca. Rick só riu e assentiu com a cabeça, orgulhoso. Se eu consegui derrubar um cara treinado como ele, eu era relativamente boa - claro que eu era boa, eu tinha o sangue dele.
Minha cara não ajudava muito e eu não o culpava por me achar fraca, qualquer um que olhasse para mim acharia isso, mas eu conseguiria dar uma surra nele se quisesse. Facilmente.
- Sabe qual é o primeiro e grande problema dos homens? - perguntei, olhando em seus olhos e depois focando na sua boca. Vi sua garganta se mover quando ele engoliu em seco. Homens. Tão fácil de distrair.
Ele não respondeu nada, mas estava rígido da cabeça aos pés, e quando eu estava perto o suficiente para que meu corpo escovasse contra o seu, ele não se moveu um centímetro.
- O grande problema - eu sussurrei, olhando para ele - É que eles subestimam as mulheres.
Com um movimento rápido e leve eu puxei a arma da sua cintura e dei dois passos para trás, apontando para ele.
- Que porra... - ele xingou, travando o maxilar e me olhando com os olhos em chama.
- O que aconteceria se Negan te visse agora? - perguntei, andando lentamente ao seu redor - Um dos Salvadores sendo desarmado por uma mulher? Que vergonha, Jace.
Ele riu pelo nariz, maneando a cabeça e aceitando a derrota, dando um passo na minha direção. Eu ergui as sobrancelhas pela sua coragem.
- Você já pode me devolver - ele pediu e eu tinha certeza que se não fosse por saber quem eu era, ele já teria partido para cima de mim.
- Você acha que merece? É uma boa arma - eu perguntei, olhando a arma, mas sem abaixa-la - Uma Glock 17c 9mm automática. Está bem cuidada, provavelmente era de alguém mal a usava.
A cara surpresa dele era a melhor parte. Aposto que ele nem sabia o nome da arma. Ele tinha muita confiança, mas agora ele a tinha perdido.
- Ok. Devolva - ele estendeu a mão e eu inclinei a cabeça para o lado.
- Porque? Talvez eu fique com ela. Você não merece uma arma assim quando não é bom o bastante para sequer evitar ser desarmado.
- Você não devia brincar com isso - ele alertou, algo como um aviso em sua voz. Eu não queria mais uma pessoa me odiando, então decidi parar de brincar. Eu abaixei a arma e cheguei mais perto.
- Não vou dizer ao Negan que te desarmei. Ia pegar mal, você sabe - eu pisquei e entreguei a arma para ele.
- Certo - ele colocou a arma na cintura, ainda desconcertado. Não culpe as pessoas por te odiarem, Ellie.
- Então, o que você faz aqui? - perguntei. Não que me interessasse, mas eu não ia ficar calada como uma múmia.
- Cuido da segurança ao redor do Santuário - disse, olhando para o horizonte e depois para mim.
Pelo que eu ouvia, os arredores eram muito protegidos. Negan tinha muito controle de tudo e de todos.
- Então não seria o caso de estar lá fora ao em vez de aqui?
- Não - ele respondeu simplesmente. Ok.
- Entendi.
Eu nunca o tinha visto aqui, e com certeza se tivesse visto esse par de olhos eu jamais esqueceria. Ele ia falar algo quando alguém o chamou no rádio. Pareceu a voz de Simon e falavam em código.
- Tenho que ir - ele disse brevemente, mudando completamente de postura, estreitando os olhos com cílios claros para mim - Mantenha os olhos abertos. Nem todos vão deixar suas brincadeiras passar em branco.
- Isso foi uma ameaça? - perguntei tentando esconder o espanto na minha voz.
Qual era o problema desse cara?
- Não, foi um aviso - ele disse com um sorriso descarado. Ele realmente achava que estava me assustando?
- Foi legal te conhecer, Jace - eu acenei de leve e ele deu um acenou de cabeça, indo em direção a porta do terraço. Eu não ia deixar ele sair com a sensação que tinha me intimidado.
- Ah, e Jace - eu o chamei ele se virou - Mantenha sua arma segura. De nada vale ter uma boa arma se não souber usar.
Ele mordeu o lábio e assentiu antes de sair e fechar a porta. Eu fiquei olhando a porta de ferro por alguns segundos, achando esse cara aleatório totalmente estranho. Estranho demais.
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O que acharam da escolha do Dominic Sherwood? Eu precisava de um cara com algo diferente pq isso vai ser importante no final da fic.
Eu amo ele desde que vi Vampire Academy (Christian Ozera meu bb) e eu achei ele mt legal em Shadowhunters (alguém mata aquela garota que faz a Clary pf, Lily Collins é a primeira e única Clary)
Beijo e até o próximo ❤
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