Livre-se do estorvo

O sol banhou o cômodo como uma paisagem digna de contos de fadas, havia esquecido a janela aberta e com isso algumas folhas das árvores do jardim invadiram seu quarto, deixando o chão com algumas folhas secas caídas e algumas pétalas de flores soltas, o ambiente poderia ser perfeito para uma filmagem de Tinker Bell, aquele lugar era perfeito.

Seus olhos piscaram lentos, observando o raio de sol banhar cada uma das folhinhas de forma sutil, não para queima-las, mas sim para ilumina-las. Era tão bonito de olhar, poderia ficar a manhã inteira olhando, se não fosse algumas batidas na porta o chamando para o café, inclusive foi exatamente por isso que acordou e sequer sabia.

Felix lentamente seguiu em direção a porta, sonolento e cansado, mesmo que tivesse acabado de acordar.
A porta lentamente se abriu graças ao Lee, mostrando a imagem do rapaz alto de fios negros, vestindo uma blusa branca larga e uma bermuda leve até os joelhos. Ele estava simplesmente confortável na própria mansão.

– Oh, céus! Avisarei a governanta que limpe seu quarto enquanto está na escola. – Hyunjin comentou expontaneo, pois a primeira coisa que nota quando vê algum cômodo, sempre é a limpeza, talvez fosse um pouco fanático por isso. – Enfim, o café está pronto, pequeno.

O mais alto sorriu, acariciando os fios do Lee, que franziu as sobrancelhas, não estava acostumado a receber carinho, Hyunjin não era alguém que lhe dava essa atenção, isso estava estranho ou o mais alto era acanhado e tinha vergonha de tentar o acariciar?
Felix não sabia, apenas fechou os olhos e suspirou, apreciando um dos poucos momentos que receberia isso.

Espera... Escola?

– Escola? Eu tenho aula hoje? – Felix questionou confuso, não se lembrava disso, se bem que no fundo da sua memória, estava uma breve sensação de Minho comentar sobre o assunto, apenas não sabia quando – Certo...

Hyunjin arregalou os olhos, a voz de Felix ao acordar era tão grave que arrepiaria qualquer um, além de que Felix raramente conversava, inclusive, tanto Hyunjin quanto Minho já pensaram e chegaram a discutir se precisariam pagar algum psicólogo pois talvez Felix estivesse com traumas do acidente, talvez perdido parte da fala, mas não sabiam que tudo só se tratava de desconforto.

Os dois seguiram para a sala de jantar, mesmo que Felix tivesse acabado de acordar e não deu tempo de se banhar, porém iria comer primeiro e depois tomaria banho.
Se perguntava ao quão cedo Minho acordava para preparar o café da manhã todos os dias, era plena 6:00 e Minho estava de banho tomado, cabelo lavado, vestido pronto para o trabalho e cozinhando panquecas.
E... Hyunjin? Hyunjin estava vestido como se jamais ousasse sair de casa, talvez ele não trabalhasse... Ou talvez estava de férias... E se ele pegava mais tarde no trabalho? Não conseguia imaginar uma única possibilidade, sua cabeça pregava peças.

– Amor, trouxe o Lixie para comer. Eu vou tomar meu banho para ir na biblioteca. – Hyunjin comentou chamando a atenção do marido.

Felix quis sumir do mapa naquele instante.
Ver Minho largando tudo o que fazia, apenas para se aproximar do mais alto e deixar um selar carinhoso e doce nos lábios do mesmo... Sorrindo como um... Um bobo apaixonado.
O Lee mais velho suspirou, acariciando as bochechas do marido antes de dar um último selar na boca carnuda do homem.

– Tenha um bom trabalho, meu bem... – Minho sussurrou, Felix ouviu perfeitamente, aquilo embrulhava seu estômago.

Se sentia um intruso, um estorvo, algo que queriam se desfazer apenas para terem seus segundos de paz. Deveria sair? Deveria coçar a garganta? Ir a mesa comer? Estava se sentindo constrangido, era um ser desnecessário naquele ambiente.

– Obrigado, Lino... Eu te amo muito. Tenha um trabalho perfeito também. – Hyunjin por sua vez falou mais alto do que Minho, não temendo que Felix ou alguém a mais ouvisse, eles apenas estavam se amando, afinal.

O de fios negros deu um beijo discreto na testa do Lee, saindo da cozinha após roubar uma panqueca e ouvir uma gargalhada de Minho.
Minho ainda ficou longos minutos olhando para a porta com cara de panaca, até finalmente entender que se atrasaria e correu para se sentar a mesa e aproveitar a refeição matutina.

– Você estudará no mesmo colégio que um amigo meu dá aulas. Christopher Bang Chan vai te buscar em uma hora, então aproveite para comer e se ajeitar. – Minho informou enquanto se servia da comida, olhando nos olhos de Felix, era tão estranho, ele não derramava nada mesmo sem olhar para o próprio prato – Seu uniforme a essa hora já está em sua cama e alguém vai cuidar da organização e limpeza do cômodo, na saída da escola me ligue.

– Eu... Obrigado mas... Eu não tenho celular. – Felix murmurou, estava tímido, como diria que não possui algo tão banal e comum como um celular, para um homem beirando a bilionário? – Mas posso pedir para a escola te ligar?

– Não há necessidades, Christopher já deve ter feito o que pedi, ele vai te levar para a escola e te entregar algo. Quando sair, me ligue. Vá com Christopher ao shopping e compre as roupas necessárias para ao menos uma semana. Semana que vêm você começa o Jovem Aprendiz e passarei a lhe dar também uma mesada o suficiente para completar seu guarda-roupa e ter suas economias enquanto não recebe o salário. – Minho disse sério e frio, não parecia a mesma pessoa de quando Hyunjin estava perto.

Se Felix lembrasse bem, iria saber que quando chegou, a única pessoa que sequer se importou com a sua saúde ou sua presença, foi justamente Minho.
Isso trouxe um aperto no coração do mais novo, pois sabia que ele sim, Minho o via como um estorvo.
Porém mesmo o vendo como algo que lhe atrapalhava, ele o cuidava tão bem, estava lhe dando um lar, comida e até um emprego decente.
Deveria reclamar por ser visto como um bibelô desnecessário? Ou agradecer por não ter sido jogado fora?

– Obrigado... – sussurrou Felix, vendo o Lee sorrir finalmente, um sorriso fraco e quase imperceptível, Felix acreditava que aquele homem não possuía movimentações na face, pois perto de si, a feição era fria e séria, como um patrão em uma empresa rígida.

– Me agradeça tirando boas notas e não faltando no trabalho. Haverá as aulas iniciais do jovem aprendiz, na hora te explico como vai funcionar, mas isso vai te ensinar as leis trabalhistas, então se estiver passando mal, não ouse esquecer de me falar. Você é tão humano quanto eu. – Minho complementou, finalmente terminando o desejum, se retirando da mesa – Temos alguém que lava as louças, não ouse mexer na minha cozinha.

Felix engoliu seco, sorrindo para o mais velho, mesmo que estivesse tentando ser simpático, sabia que aquele sorriso não saiu como esperado, pois a cara de desgosto do mais velho mostrou isso por pequenos segundos.

– Estou me retirando.

Felix suspirou, sozinho naquele lugar, a feição falsa lentamente se quebrando, as lágrimas queriam encher seus olhos outra vez, a cabeça baixa trêmula com os soluços que soltava em sussurro.
Estava sozinho, em paz, agora poderia chorar? Alguém iria o julgar?

– Eu realmente... Sou um estorvo...

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